Haverá coisa mais libertadora do que lides domésticas? HÁ!
Limpa-se o pó que se levanta e se acumula noutro lugar qualquer ou, como que a provocar, no mesmo lugar.
Aspiram-se tapetes, chão, sofás cheios de pêlos felinos, brancos e cinzentos, que teimam em não obedecer à ventania do aparelho aspiratório e ali ficam agarradinhos como se tivessem vontade própria. Eu, que este ano não pus um pé na praia, ali me vejo qual tuga a sacar lapas das rochas. Quanta paciência terá de haver para tirar, um por um, cada pilosidade teimosa presa a um tapete?
Lavam-se mosaicos que ficam sempre marcados se uma malvada gota de detergente for a mais do que aquilo que se pretende. Lindas nuances ao bater da luz do sol.
Passar a ferro, sim, passar a ferro, essa maravilhosa actividade caseira que em vez de relaxar só serve para nos encher de camadas e camadas de nervos. Não me venham cá dizer que estar duas horas a passar a ferro é uma coisa que relaxa. Não, não relaxa, seja qual for a banda sonora que acompanhe a tarefa. É a água que falta no ferro, é o fio que é curto, é a camisa que se estica de um lado e se enrodilha do outro. Tudo muito calmante.
E estender a roupa num 8º andar, numa zona a que chamo o monte dos vendavais é o mesmo que despedir-me de alguma ou outra peça que voará para outras paragens. Molas atrás de molas, tudo muito compostinho, mas conto pelos meus dedos e pelos de outros as roupinhas que já tudo o vento levou. Ainda o estendal vai a meio e já um lençol se enrolou numas camisas, já uma meia voou ao sabor do vento. E lá vou eu a correr, prédio abaixo, para dar a volta ao dito, na esperança de reaver a peúguinha preta com as caveirinhas desenhadas.
Sorte, muita sorte tenho se, ao voltar ao complexo domiciliário, não tiver de descer novamente porque uma t-shirt já está a enfeitar as ramagens de uma árvore qulaquer ou nas mãos de um teenager que saía da escola e por ali passava.
E tudo isto e muito mais para quê? Para que dias depois tudo volte ao mesmo, ora pois. Há coisas que é sempre bom repetir de tão agradáveis que são.
Emendo... dias depois não. Porque com dois bichos peludos em casa posso, sem qualquer dúvida possível, arriscar e afirmar que são horas, até minutos depois.
Aspira-se o tapete, lava-se a capa do edredon e o menino branco estende-se num deles, senão mesmo nos dois, num espaço de meia hora. Resultado: Mancha branca de pêlos aqui e ali. O desgraçado chega a deitar-se quase ao lado do aspirador. A máquina passa, afasta-se um pouco e o miúdo estende o corpinho. Muito bem.
Lava-se a cobertura do sofá e a menina cinza resolve, logo de seguida, nela bater uma sorna. Sofázinho preto com nuances de cinza fica sempre bem. Quem me manda a mim ter tanta coisa preta em casa? Até a parede preta é pautada com apontamentos de pó, pois então.
Toma-se um belo banho para relaxar, ainda se está apenas com um pé fora da banheira e o puto branco lá vai, com toda a calma deste mundo, sentar a bunda no quentinho. Escusado será dizer que quando de lá sai deixa um rasto altamente artístico por todos os mosaicos escuros do corredor e sala. Um belíssimo chão tatuado com patinhas de gatinho muito querido e sempre solidário com o seu dono.
Bem, ainda não é noite e já uns lindíssimos rolinhos de pêlos se deambulam pelo hall de entrada, como resultado de um qualquer tornado caseiro.
Depois de tarde tão profícua, estendo-me finalmente no sofá e, boa... um delicioso pêlo cinzento na boca.
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10 comentários:
Vê o lado positivo da coisa. A minha mãe diz que isso emagrece. Subir e descer escadas, limpar as casas, passar a ferro, portanto, trabalhar nas lides domésticas. O engraçado é que não noto nada, mas enfim. Quanto aos teus bichanos, os meus têm mais azar, pelam-se de medo do aspirador, mais ela que ele.
Quanto ao puto branco... ele não vai para o wc para o quentinho: o gajo é sabido. Vai mas é ver o dono bonzão acabadinho de sair da banheira, tal e qual como veio ao mundo. O que é bom é para se ver. E ainda dizem que os gatos não são animais inteligentes.
Deve ser por isso que por exemplo o meu nunca vai ter comigo quando saio do banho, lol.
:P
Pois ... essa é a outra face da questão de ter animais, mas não é a pior ... a pior é mesmo o facto de me limitar nos meus movimentos ... quando uma pessoa vive sozinha estas questões tomam outra dimensão ... não se pode sair para lado nenhum deixando os animais sozinhos em casa, uma tristeza ... e como não me imagino a ter animais para depois os abandonar no verão como lamentavelmente faz muita gentinha por este país fora , prefiro não os ter.
E eu tb perco a paciência para as limpezas, mas irrita-me ver as coisas desorganizadas ... o pior do mundo é mesmo cozinhar e sujar tacharia para depois ter de limpar tudo, com o cheiro de comidas à mistura entranhado na roupa, aqui ou ali já salpicada por gotas de gordura com a pressão da água durante a lavagem ... grrrr, é uma iritação ... e depois é a comichão na cara que não se pode coçar por as mãos estarem sujas ou engorduradas ... depois são os salpicos no chão já espalhados pelos pés, sujando todo o chão da cozinha , que entretanto passa para os tapetes da sala, misturando desorganizadamente gordura e água com os ácaros espalhados pelos tapetes, mais os pêlos nossos e dos animais e células mortas dos corpos ... e depois o colchão da cama, a mesma desgraça, o edredão que amarelece, etc, etc ...as dedadas nos vidros é outra tortura e o pó que se acumula em gavetas, mesmo quando as evitamos abrir exactamente para evitar isso ... e a quantidade de coisas para reciclagem que acumulamos logo quando chegamos das compras, parece que os sacos com papeis, cartões, vidros e plasticos ficam logo mais cheios do que antes ...ali ficam tirando a estética do espaço ... é tudo uma irritação pegada ...e quando já acabámos de tudo limpar e a casa parece imaculada, mas estamos nojentos e transpirados, precisamos de um banho rápido voltando a salpicar toda a casa de banho que já havia antes ficado imaculada ... segue-se uma limpeza irritada da casa de banho, mas ninguém nos livra da roupa q entretanto já deixámos para lavar mas não o vamos fazer, porque são apenas duas ou três peças e seria um crime gastar tanta água ... ali fica a roupa a ganhar cheiros desagradáveis à espera de mais que justifique uma máquina ... às tantas com tanto gasto calórico já teremos outra vez de comer porque a fome começa a apertar e vimos a nossa vida a andar para trás porque mais alguns minutos e lá teremos de sujar novamente a cozinha ... pois .... limpezas é um processo doentio mesmo
Credo, Brama! Que exagero. Essa descrição é que é mesmo doentia, homem. Relax. Até fiquei zonzo.
Quem se iria lembrar de tal coisa pormenorizada.
Uma coisa é não gostar de lides domésticas e gostar de ter a casa limpa e arrumada, outra coisa é esse exagero... gordura com roupa, tapetes, ácaros, dedadas nos vidros, edredão e por aí fora. Calma.
Ser maniaco das limpezas não é nada saudável.
Vá, não exageres.
Eu não gosto de lavar loiça mas essa até é talvez a tarefa de que menos desgosto e isso da água a salpicar, muitas vezes até acho graça, confesso. Chateia-me pouco.
E quando cá vieres atreve-te a implicar com os pêlos dos meus meninos!!!
See you next weekend já com saudades.
Eu sei o que isso é!! Tenho uma felina peluda em casa e um canino mijão no quintal!! Os gatos ainda são asseados, agora os cães é uma loucura!!
Lololololololol
Se precisares de uma ajudinha é só dizer. ;)
Mas olha não te livres desses gatinhos pq eles não têm a culpa. São lindos!
Também odeio passar a ferro.
E um homem como tu não fica nada bem de vassoura na mão.
Fartei-me de rir com o post.
Cá para mim o thetalesmaker deve ter razão. O gato é esperto. lol
Mas para ter uma casa fantástica como a tua é necessário essas actividades.
Empregada sem remuneração é que é complicado. Se calhar tens de pagar com o corpinho... eh eh eh
Se a Ana deu me razão, agora dou-lhe eu. A ideia de pagar com o corpinho (diga-se de passagem, corpanzão) é aliciante, lol.
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