Go away/Come back

PERHAPS SOME, OR MOST, PEOPLE'S BRAIN WORK LIKE THIS:

Go away
Give me a chance to miss you
Say goodbye
It'll make me want to kiss you
I love you so
Much more when you're not here
Watchin' all the bad shows
Drinking all of my beer

I don't believe Adam and Eve
Spent every goddamn day together
If you give me some room there will be room enough for two

Tonight
Leave me alone I'm lonely
Alone I'm lonely
I'm tired
Leave me alone I'm lonely
Alone I'm lonely tonight

I don't wanna wake up with another
But I don't wanna always wake up with you either
No you can't hop into my shower
All I ask for is one fuckin' hour
You taste so sweet
But I can't eat the same thing every day
Cuttin off the phone
Leave me the fuck alone
Tomorrow I'll be beggin' you to come home

Tonight
Leave me alone I'm lonely
Alone I'm lonely
I'm tired
Leave me alone I'm lonely
Alone I'm lonely tonight

Go away
Come back
Go away
Come back
Why can't I just have it both ways
Go away
Come back
Go away
Come back
I wish you knew the difference
Go away
Come back

Go away
Give me a chance to miss you
Say goodbye
It'll make me want to kiss you
Go away
Give me a chance to miss you
Say goodbye
It'll make me want to kiss you
Go away
Give me a chance to miss you
Say goodbye
It'll make me want to kiss you

Tonight
Go away
Give me a chance to miss you
Leave me alone I'm lonely
Alone I'm lonely
Say goodbye
It'll make me want to kiss you
I'm tired
Go away
Give me a chance to miss you
Leave me alone I'm lonely
Alone I'm lonely
Say goodbye
It'll make me want to kiss you
Tonight
Go away
Give me a chance to miss you
Say goodbye
It'll make me want to kiss you

Pink
Leave Me Alone (I'm Lonely)
I'm not Dead

Rain


Há anos e anos que não usa chapéu-de-chuva. Começou por não usar porque os perdia em todo o lado. Fartou-se e deixou de comprar tal objecto. O último que comprou foi há quase 2 anos quando foi passar uns dias a Londres. Londres - chuva - dito objecto. Uma questão de lógica, pronto. Mas claro, mal chegou, ainda antes de sair do aeroporto, já não o tinha. Uma ventania imensa, quando esperavam pelo autocarro, destruiu a coisa. Lixo e pronto. "Porque é que continuo a insistir?" pensou.
Ainda por cima tinha-se habituado a andar à chuva. A chuva já tinha sido sua amiga, aliada, confidente. Já se tinha misturado com as suas lágrimas de tristeza e alegria. Tinha sido ouvinte das suas melodias assobiadas, sussurradas ou cantadas em alta voz. Adorava cantar à chuva, andar calmamente à chuva, dançar à chuva. Há anos que era assim. Tinha tantas histórias com esta sua companheira. Talvez as mais belas, até.
Enquanto os outros corriam em busca de um abrigo, enquanto outros colocavam sacos, malas, casacos por cima da cabeça, enquanto uns abriam o chapéu aos primeiros pingos, ele pensava "Aí vem ela!". Raramente corria. Muitas vezes continuava a caminhar normalmente, outras vezes abria os braços e olhava para cima de olhos fechados. "Rain, feel it on my finger tips, hear it on my window pane, your love's coming down like rain, wash away my sorrow, take away my pain, your love's coming down like rain". Era a música que mais vezes o acompanhava nestas ocasiões. Madonna, claro.
Já tinha ouvido de tudo. "Corre, despacha-te, está a chover", "deixa-te de parvoíces, sai da chuva", "Lá está ele com a chuva, não é pachorra para lirismos, entra no carro." Ele não se importava. "As pessoas são tão parvas! Até parece que a chuva é uma praga", pensava. Gostava tanto de estar em casa a ouvir e a ver a chuva a cair, quanto de estar na rua, mais perto dela.
Ultimamente, aparte as estranhas vicicitudes climatéricas já tão pouco características, não tem chovido, afinal, o solstício de Junho já nos abriu as portas para o Verão. Já o anticiclone dos Açores nos impede de sentir as gotas de água caídas dos céus. Não se importa. A chuva há-de voltar e também gosta do Verão, dos dias de calor e sol. Afinal, foi no Verão que nasceu e histórias com o sol também as tem. Outro amigo, talvez.
Nada tinha contra chapéus-de-chuva. Simplesmente não os usava. Eram-lhe desnecessários. Há uns dias recordou um chapéu-de-chuva. Depois uma amiga falou-lhe de uma música de uma cantora, da qual não gosta, e lá ouviu. Ficou curioso. "Umbrella". Ouviu e até gostou. "Sou tão preconceituoso", pensou. Gostou da música e da letra. Depois da recordação e da música, uma imagem que conhecia bem. E apeteceu-lhe escrever isto e colocá-las aqui. A letra da música e a imagem.

When the sun shines
We’ll shine together
Told you I'll be here forever
That I'll always be your friend
Took an oath
I' mma stick it out 'till the end
Now that it's raining more than ever
Know that we still have each other
You can stand under my Umbrella

These fancy things,
will never come in between
You're part of my entity
Here for Infinity
When the war has took it's part
When the world has dealt it's cards
If the hand is hard
Together we'll mend your heart
Because ...

You can run into my Arms
It's okay don't be alarmed
(Come into Me)
(There's no distance in between our love)
So gonna let the rain pour
I'll be all you need and more
Because ...

It's raining (raining)
Ooo baby it's raining
baby come into me
Come into me
It's raining (raining)
Ooo baby it's raining
You can always come into me
Come into me......

Capitulos

Um dia alguém lhe disse:

A vida é como um livro, feita de capítulos. Quando um termina, há outro a seguir. E é esse que interessa ler. O resto ficou para trás.

E ele ficou a pensar naquilo. É uma frase bonita, daquelas frases feitas bonitas, sim. Daquelas frases que servem para nos fazerem sentir bem, até esboçar um sorriso. É para isso que foram feitas. Para isso e para nos encher as caixas de correio electrónico. Mas seria uma boa metáfora?

Mesmo que o final do capítulo seja triste, mesmo que seja doloroso, mesmo que seja estranho, mesmo que seja confuso... depois da última frase, da última linha, da última palavra, da última letra, do último ponto, do último restício de tinta impressa, há sempre um outro capítulo a seguir, uma nova esperança, um novo olhar, um novo ar, e é isso que importa, pronto. É a mensagem base, a mensagem a retirar.

Contudo, pensou:

Há livros, em que, de capítulo para capítulo, a história muda, os ambientes mudam, os sentimentos mudam, as realidades mudam, as vidas mudam. Os capítulos distinguem-se na total perfeição. Há quem lhes atribua adjectivos como criatividade, originalidade, intelectualidade... Mas serão, esses, livros ou apenas conjuntos de textos? Onde fica a conceito de livro, todo o conjunto de palavras que, no fim, lhe dão consistência e unidade? Mesmo que os capitulos mudem, para ser um livro, terão de fazer sentido no fim. Um livro, tal como a vida, não é um conjuntos de páginas escritas e encadernadas, umas a seguir às outras. Mesmo que os capítulos não tenham uma aparente sequência lógica, no fim, quando as letras encerram a última página, tem de haver uma ligação, uma lógica, um significado. Se assim não for, então não será um bom livro, nem um livro será. Comparando com a vida, não será viver.

E percebeu que, tal como na vida, as livrarias têm livros e folhas escritas encadernadas a que chamam livros. E desses últimos ele não gostava. Esses últimos ele não queria para si. Podiam valer muito, mas valiam como textos singulares, uns por cima dos outros, dentro de uma encadernação. Ele gostava da vida cheias de fases, não gostava de fases soltas a que muitos talvez chamem de vida.

E percebeu que não, que o que alguém, um dia, lhe disse não é uma boa metáfora.

...the End.

Everything is well in the end.
If it's not well...
then it's not the end.

A rua, o chapeu, o cigarro e o post.

Ultimamente, cada vez que subia aquela rua, lembrava-se de algo. Um conjunto de imagens, flashes, ondas que na sua cabeça se transfiguravam em algo passado que, parecia tão recente. E esta noite não era diferente. Comprou tabaco nos Armazéns do Chiado. Deambulou pela sua Fnac e saiu. O centro comercial estava cheio, a entrada também. Os habituais grupos de pessoas que ali faziam os seus pontos de encontro para o início de uma noite. Não ouvia ninguém. Não ouvia as miúdas com cores coloridas e brilhantes, já aquela hora histéricas, porque hoje, longe da alçada dos pais, tinham vindo à cidade para a “night”, quase transparecendo orgamos de euforia. Não ouvia os loiros velhotes turistas que esperavam orientações de um qualquer guia. Não ouvia o trio pseudo-intelectual com óculos de massa que fingia ignorar as miúdas com ganchos de borboletas na cabeça e sandálias douradas que falavam alto neste dia de festa. Não ouvia os dois rapazes que se tinham acabado de aproximar um do outro com um sorriso nervoso, deixando perceber que apenas se conheciam das andanças do messenger e que ali estavam, numa sexta-feira à noite, para a prova de fogo. Não ouvia o grupo de rapazes e raparigas que, aquela hora, ainda cedo, já empunhavam garrafas de plástico, cheias de litro e meio de vinho e que, certamente, faziam questão de proferir, bem alto e audível, um grande número de asneiras. Não ouvia os góticos que muito erectos, de pele alva e vestes negras se iam juntando como se noutra dimensão vivessem. Sempre gostou de observá-los. Havia algo de gótico em si, sempre o sentiu desde muito novo.
Só ouvia a música que saía do seu ipod. “Rent” era a banda sonora.
Adorava aquilo. Andar pelas ruas de Lisboa, no meio das pessoas, sem ouvi-las.
Olhou para a rua de calçada que se estendia entre lojas, por ali acima, até à esplanada da Brasileira. A rua estava mesmo cheia. Uns desciam, uns subiam, uns conversavam parados, outros ali estavam sentados a pedir. Para alguns aquela rua era a sua casa.
À porta dos Armazéns não parou. Abrandou apenas. Inspirou e tentou não lembrar-se daquele “algo”. Mas lembrava-se. Ultimamente era assim. E aquela música não ajudava em nada. Mas não a tirou.
O cenário era idêntico ao de anos atrás. E as duas realidades misturaram-se no mesmo espaço. Algo nervoso mas descansado por não ser real, lá subiu a rua. Esperavam por ele algures. Mas isso também não importava ali. Importavam duas figuras passadas que lá mais acima esperavam por ele. Um baixo, sorridente, divertido e muito mexido e outro alto, com um casaco dos ombros aos pés a tapar as cores que estavam por baixo, com um chapéu-de-chuva que ligava a sua mão direita ao chão de pedras quadradas. Tinha um ar aristocrático, tinha. Mas era, sobretudo, um ar snob, convencido, de quem se acha melhor do que todos.
Era esta imagem que, ultimamente, o acompanhava cada vez que subia aquela rua. Os dois lá em cima à sua espera. Este flash e a do rapaz baixo e do rapaz alto, após as apresentações, a andar, uns dois ou três metros à sua frente, em direcção ao Bairro Alto. Um andava, sim. Mas o outro desfilava. Era tão irritante aquela postura. Porquê aquele chapéu-de-chuva? Aquilo é para usar ou para transportar na mão, não é para ser acessório de desfile. Quem é que ele pensa que é!?
Ele ia atrás a observar aquilo. Não estava desiludido, após algumas conversas de horas no messenger, até às tantas da manhã. Estava irritado...mas algo fascinado. Em que é que aquilo iria dar? Pensava. A verdade é que, no fundo, também sabia que se estava a comportar como outro, o outro também alto como ele. Só lhe faltava o chapéu-de-chuva. Tinha um cigarro. Um cigarro que, aos olhos do outro, era igualmente irritante. Eram ambos irritantes.
Agora, estava ali sozinho naquela rua, já tão perto da Brasileira. Acompanhado apenas pelo seu ipod, pelo “Rent”. Acompanhado pelas imagens de um passado que quase ali conseguia cheirar.
Enquanto a sua mente visualizava estas imagens, outras a elas se misturavam. As imagens de uma página de fundo branco, cheia de letras escritas muitas horas depois daquela noite.
Era assim. Ultimamente era assim, cada vez que subia aquela rua. Parecia tudo tão presente em si.
Chegou junto dos que o esperavam. Cumprimentou quem estava de forma nada educada porque só ouvia a música enquanto via bocas sorridentes a mexer. Mas tinha de acabar de ouvir aquela música que não terminou mesmo quando abrandou o passo ao aproximar-se do local de encontro. Cumprimentou-os e, segundos depois, a música terminou. Aí sim, tirou o ipod do bolso, deligou-o, enrolou o fio e guardou-o na sua mala. Sorriu, pediu desculpas porque não ouviu o que disseram e sentou-se. Ali não se podia fumar. É o mal daquela gelataria. Não se viam cigarros mas também não se viam chapéus-de-chuva.
A noite passou. Mais uma. Falaram da semana mas, claro, os principais assuntos rondavam a nova música de uma miúda qualquer giríssima com um corpo fabuloso, os “dates” de cada um, as tricas, as conversas do messenger com este e aquele, as visualizações dos profiles de não sei quem, as viagens imensas que se fizeram, as dietas de quem se acha sempre gordíssimo, as decorações, uma nova parede pintada que fica o máximo, os ginásios, os ténis fantásticos de não sei quem que são da marca tal, a praia habitual, o não sei quem que acabou de entrar, que é amigo de não sei quem e ex-namorado de outro que trabalha não sei onde, conhecido do que tem o profile whatever e que até viveu com um namorado dez meses, imagine-se o escândalo.
Ele participava, entrava no jogo. Entendia que, depois de uma semana de trabalho, as pessoas querem é descontrair, conversar sobre banalidades, deixar as profundezas de parte, apelar a um certo snobismo que barra toda a parte sentimental que, esporadicamente, espreita aqui e ali, numa frase, num olhar mais genuino, num silêncio, num sorriso, num toque. Há toda uma postura gay instaurada e ele não podia fugir disso. Ou podia? Já lhe tinha acontecido sair dali e ir para casa, ir ver o mar à noite ou, simplesmente, ficar no carro sentado. De qualquer forma tinha a capacidade de ficar, conversar, comentar, sorrir e rir e de se abstrair, de se resguardar em si, sempre que lhe apetecesse.
Quando chegou a casa não tinha sono algum. Ia ver um filme acompanhado de um chá quente. Estava decidido. Estava a habituar-se a estar sozinho no sofá, a apagar sozinho os cigarros, ter apenas uma caneca por perto, a olhar para a tv apenas com os seus olhos.
Antes, desligou o ipod e sentou-se em frente ao computador. Seria rápido. Não o foi. Leu um post num blog que lhe era mais do que familiar. Do outro lado escorriam palavras que ele, naquela noite e noutras antes, sentia aflorar na sua mente sempre que subia aquela rua de calçada. Parecia de propósito. Que ligação era aquela!? Estavam em hemisférios diferentes, separados por um oceano imenso e ainda assim pensavam no mesmo, na mesma altura.
Não conseguiu deixar de comentar. Não conseguiu deixar de escrever, da forma como naquele momento, as palavras se soltavam. Não conseguiu deixar de visualizar uma página branca cheia de escritos daqueles dois e tentou transpô-los.

...
C - Sabes, eu já te amava antes de nos termos encontrado pessoalmente.
B - Não digas isso.
C - É verdade. E tu eras tão diferente daquilo que o ...... me tinha dito no CCB. É verdade.
B - Sim... eu acredito. Eu sinto o mesmo.
C - :)
B - E é tão estranho. Não sei explicar.
C - Não é estranho, sente-se. E os sentimentos não se explicam.
B - Mas quando nos conhecemos odiámo-nos.
C - Lol. Sim, eu achei-te insuportável.
B - Pois, eu também te achei. Com aquele casaco preto comprido e o chapéu-de-chuva. A desfilar muito snob na rua. Irritou-me.
C - Mas depois...
B - Depois havia ali qualquer coisa, não era?
C – Era.
B - Olhei-te de uma ponta à outra. Aquela pulseira do Marlboro, a camisa às riscas, e a tua voz. Granda vozeirão. E não queria que te fosses embora. Mas sabia que ias olhar para trás quando entrasses no comboio, olhei mas não te vi olhar.
C - Mas eu olhei e fiquei com raiva porque não te vi olhar a ti.
B – Lol. E sabia que ias mandar uma mensagem ainda no comboio e que seria para mim. Os outros dois acharam estranho e sem lógica mas para mim tinha toda.
C - E mandei. Sabes, eu senti que a minha vida ali ia mudar.
B - Eu também. Fiquei tão feliz, nem imaginas. E o sonho da varanda...
C - Por isso já te amava.
B - Eu também.
...

Odiaram-se talvez porque se comportavam da mesma forma. Odiaram-se talvez porque até eram tão parecidos aos olhos de quem observa as atitudes. Odiaram-se porque talvez preferissem odiar para não amar. Para não sentir o que já de antes estavam a sentir (afinal, não podia ser assim tão bom). E talvez antes das pernas se tocarem já soubessem que as suas energias, as suas vidas estariam ligadas para sempre.
Hoje, milhares de quilómetros de mar os separam, cruzam-se nos ecrãs informáticos, não se falam. Mas as energias, o amor, entrelaçam-lhes as mentes, juntam-lhes as almas como se as pernas se estivessem a tocar...naquele bar... naquela varanda de mármore branca.

Já não foi à sala. Já não foi ver nenhum filme. Já não bebeu nenhum chá. A sua alma estava cheia. Foi-se deitar e sentiu um cheiro que queria sentir. E era tão fácil senti-lo.

Ele e Ela, com "E" maiúsculo.

Há dias em que saímos de casa e nos sentimos maravilhosos. Mesmo que o dia tenha corrido mal, menos mal, bem ou muito bem. Há um clique qualquer que nos faz sentir assim. E, por vezes é numa questão de segundos. Ou porque vemos ou ouvimos algo na rua, ou porque uma música nos faz vibrar, ou simplesmente porque sim, preferimos pensar. Era uma dia assim. Ou melhor, um início de noite assim. Vestiu-se com prazer, olhou-se ao espelho do quarto com prazer. Dirigiu-se à casa-de-banho para os últimos preparos visuais. Cantava com prazer e cada vez que se olhava ao espelho era com prazer. Fosse para pôr o gel no cabelo cortado há pouco tempo, fosse para lavar os dentes, fosse simplesmente para se olhar. Até o perfume foi vaporizado como se num videoclip estivesse. Olhava-se e fazia poses como se estivesse numa sessão fotográfica para a Vogue, ou coisa que o valha. A música que se ouvia não interessava propriamente porque sentia-se Madonna, sim Madonna. Sim, talvez fosse esse o clique. Ia estrear no Trumps um espectáculo inteiramente dedicado a Ela. Ela com “E” maiúsculo, claro. Há as ditas divas e, lá em cima, há Ela! Nunca ninguém saberia o que aquela mulher significava para si. Aquela mulher mexia com ele, revirava-lhe as entranhas físicas e psicológicas. Já o tinha ajudado tanto ao logo dos anos. E ele queria ir ver o que aquela gente tinha feito para elogiá-La. Ia para se divertir, para apreciar, para observar tudo de ponta a ponta e para criticar. Já estava a imaginar a censura viperina que lhe ia sair do cérebro directamente para a boca e para os ouvidos dos que o iriam ouvir. Ele estava estraordinário e não iria admitir mediocridades. Era o que mais faltava! É Ela, haja respeito!
Começou a rir ao fazer, na sua cabeça, um filme do género: Se aquilo for mau, ele liga-lhe para Londres e Ela manda imediatamente fechar aquela choldra. Ali já ninguém terá mais possibilidade de correr para a pista para se abanar ao som d' Ela. Está feito. Ah pois! Se é para elogiá-La, é para fazer com a máxima qualidade possível, tendo em conta as várias limitações inultrapassáveis. Mas façam o melhor possível. Que músicas escolherão? Que coreografias farão? Que roupas usarão? Ele, mal viu, semanas antes, o cartaz a anunciar o evento, já imaginava como deveria ser. Se fosse ele, como é que iria criar o espectáculo. As possibilidades eram mais do que muitas. Afinal, são 25 anos de trabalho, de imagens, de mensagens, de sonoridades, de gestos, de maravilhas. Toda a estética já estava bem definida na sua mente. Ai deles que não fizessem melhor!
Atravessou o corredor com passadas larga, decididas, como se o mundo fosse dele. Hoje estava deslumbrante!
Tinha dois sacos de lixo para despejar. Mas não os ia levar, obviamente. Estava demasiado fabuloso para descer o elevador com sacos de plástico do lixo nas mãos. Os gatos dormiam na sala. Acendeu a luz, fez-lhes uma pose à porta e, claro, era mais forte do que ele, teve de fazer umas poses à “voguer”. “Strike a pose!” Estava sublime! “This fella is in the mood”. Os gatos até se levantaram. Até a Camila foi reduzida à sua dimensão física. "Hoje sou eu, menina. Contenha a sua altivez, ouviu!" Lançou-lhes beijinhos para o ar e saiu de casa. Hoje ele era vento e provocava vento. Hoje era um zefiro.
Queria o elevador só para ele. De novo um espelho. Era para isso que ali estava, para reflecti-lo. A caixa pára no 4º andar e entra uma senhora com uma menina pequenina. Nunca um “boa noite” se tinha ouvido com tanto estilo. A pequenota olhava-o de cima abaixo. Ele estava enconstado com as mãos nos bolsos. Xiiiii....tanto estilo que até dói! Posava para ela, para a senhora, para o resto que ali não estava. E não se sentia absurdo por aquilo, nada mesmo. Hoje ele era lindo e maravilhoso. Hoje ele sentia-se Ela. Ridículo era quem não visse isso. Mas esses, hoje, não interessavam mesmo nada. Até aqueles que vivem nesta postura constante que sempre o irritou, seriam anulados. Hoje era ele embrenhado em Madonna.
A porta abre-se e todo um estilo se solta de dentro daquela caixa. A luz do hall era mínima comparada com a luz que ele emanava. Só lhe faltavam os óculos escuros. Mas nem esses importavam. Pormenores, só isso. Em vez de um hall vazio aquela hora, no rés-do-chão estavam umas 20 raparigas. Coisa estranha. Percebeu automaticamente, pelas roupas e acessórios cheios de corações rosa e pénis de peluche e plástico, que se preparavam para uma despedida de solteira. Estavam ali à espera talvez da noiva. Era indiferente. O que não foi de todo indiferente foi a forma como ele por elas passou, a forma como o olharam. Faz-se silêncio. Aquela figura fantástica estava a passar e elas ali estavam a admirá-lo. Os seus olhos transmitiam um "Uau!" “Queriam melhor despedida de solteira, meninas? Sim, vá olhem, olhem imenso. Eu deixo. Digam lá se eu não sou um arraso!?”
Conduziu de forma sublime, estacionou de forma decidida num lugar que estava mesmo ali para ele. Durante cerca de duas horas as ruas daquele bairro alto velho foram dele. Entrava e olhavam. Passava e olhavam. Dirigia-se a um qualquer balcão e era logo atendido. Até se desviavam para Ele passar. Até deu consigo a ter vontade de rir. Não o faz, claro. A pose não o permitia e havia que mantê-la. Hoje era assim.
Pouco depois da hora prevista o dito show começou. Estava estarrecido. O que era aquilo? O que é que Lhe tinham feito. A sua menina não merecia nada assim. Que roupagem era aquela? Ela dita moda, isso diz-vos alguma coisa? Que arranjos musicais eram aqueles? Ela inova a cada álbum, sabiam? Que sequências eram aquelas? Seria uma homenagem ou um atentado? Mas ele já queria lá saber. Nem se deu a grandes comentários, enquanto os amigos o faziam. Sabia que a intenção era boa, muito boa. Mas, acima de tudo, sabia que seu show, aquele que guardava em si, era melhor, muito melhor. Desse Ela iria gostar, certamente, e muito.
Não, não lhe ia ligar para casa. Ela estava a dormir. Não iria incomodá-la com coisinhas menores. Além disso, na pista ao lado, estava a começar o “Hung Up” e ele lá foi, claro. Passou por aquela gente toda como se praticamente não existissem. Hoje, os snobs que adoravam dar nas vistas não eram nada, eram menos do que meros insectos rastejantes. Hoje não existiam. Se olhavam ou não para ele, era indiferente. Se o consideravam snob, convencido, execrável, pedante, era indiferente. Hoje ele não era tímido. Hoje ele era lindo e absolutamente maravilhoso. Hoje ele era grande. Naquela noite ia à frente e os amigos seguiam-no. Passou as duas portas sem desviar o olhar. Aquele show que tinha visto já não existia. Escusavam de vir meter-se com ele, de olhar ou não. Era Ela esperava por Ele para dançarem juntos. E eram só Eles no meio dos outros. E dançaram, dançaram toda a noite. Só deixavam de mexer os corpos para fazer pose. “Strike a pose!”
Ninguém iria entender aquilo. Ele entendia e isso era tão mais do que suficiente. Era grande, muito grande. E hoje ele era assim.

7 Maravilhas da Blogosfera




O Multi-Blogger Pedro Pina teve a curiosa ideia de criar um "concurso" para a eleição das 7 maravilhas da blogosfera, cujo regulamento se encontra no link ao lado (um link para um dos seus blogs).
Fiquei absolutamente estupefacto quando, depois de um dia muito agradável mas muito cansativo, chego a casa e me deparo com uma mensagem sua dizendo que me havia nomeado. Eu? A mim? Ao meu blog? O quê? Porquê? O que é que se passa? Fui a um dos seus blogs e lá estava a nomeação. Fiquei a olhar para o ecrã uns 2 minutos. Depois, com algum nervosismo, li o regulamento, a ideia interessante que teve. Mas não estava a acreditar que o meu blog estava ali, ali na sua lista de preferências.
Eu apenas tenho "postado" algumas coisas que me vão assolando a mente e o espírito, pensamentos, momentos, divagações, músicas que me enchem a alma de adjectivos e vibrações, coisas que mexem comigo, que me fazem sentir, coisas que me movem, coisas minhas, coisas que não pensei serem, de algum modo, importantes para alguém ao ponto de me nomearem. Fiquei estupefacto, é o termo.
Estupefacto porque sou um novato nestas andanças, porque nunca tal coisa me passou pela cabeça, porque criei o meu blog um pouco por brincadeira, para experiência, sem objectivo definido, porque o criador da "eleição", ao que me parece, é assíduo leitor de muitos e excelentes blogs (e de entre tantos fabulosos, o meu é um dos escolhidos!?), porque não creio, sinceramente, que o meu blog mereça tal distinção.
Muito honestamento, sinto-me, além de meio aparvalhado, até bastante constrangido.
De qualquer forma, não posso deixar aqui de dar uma palavrinha ao Pedro Pina. Apoiá-lo na sua ideia, incentivar a participação de quem o quiser fazer (votem nos vossos 7 blogs favoritos) e de agradecer muito a sua votação. Muito, muito obrigado. Um obrigado tão grande quão grande é o não saber mesmo o que dizer.

Forgiven

E porque alguém o referiu... aqui fica.

Sanvean (i am your shadow)

Give me your hand...
Let me take you in my arms
Let's fly...

Sacrifice

You Made Me The Thief Of Your Heart

This used to be my playground

A caminho de casa, depois do mar, apeteceu-me ir para um certo cantinho... precisei chorar e ouvi:

But I wish that you
Were here with me
Well then there's hope yet
I can see your face
In our secret place
You're not just a memory
Say goodbye to yesterday
Those are words I'll never say

This used to be my playground
This used to be our pride and joy
This used to be the place we ran to
That no one in the world could dare destroy

This used to be our playground
This used to be our childhood dream
This used to be the place we ran to
I wish you were standing here with me

This used to be our playground
This used to be our great escape
This used to be the place we ran to
This used to be our secret hiding place

This used to be our playground
This used to be our childhood dream
This used to be the place we ran to
The best things in life are always free
Wishing you were here with me

She Lives To Tell

E foi isto que a Igreja (mais uma vez) considerou ser uma heresia.
E que tal perceber a mensagem?
...e mais de 2000 anos depois da crucificação pela humanidade, é neste mundo que vivemos. Serão tantas assim as diferenças?
Get the message, will you!

Frozen

Quando se acha que já se viu tudo d'Ela... e há tanto mais.

Bluebells

This genious boy.

Everybody Hurts

A simple "Love song"

I will always love you...

Sugar

Isn't she ab fab?

U + Ur hand

Para os melgas que não sabem quando parar de melgar. Vão ali à esquina ver se a vossa avozinha está a pegar fogo, ok?
Leave me alone!!!

"I'm not here for your entertainment,
you don't really want to mess with me tonight.
Just stop and take a second,
i was fine before you walked into my life.
'Cause you know it's over,
before it began.
Keep your drink just give me the money.
It's just you and your hand tonight."

O Pastor

"O meu sonho acaba tarde... acordar é que eu não queria."

O Labirinto Parado

Nas minhas agora habituais visitas solitárias ao mar ouvi Madredeus. Há tanto que não os sentia.
Queria postar aqui o belíssimo "Ao longe o mar" mas o video está com problemas. Procurei "As cores do sol", mas não encontrei. Pena!
Aqui ficam algumas das que ouvi.

"Mas sem ti, no céu da paisagem perdi a noção da viagem..."

Fácil de Entender

Não é a minha versão preferida desta música...prefiro a original do álbum, mas eu estava lá nesta noite e na seguinte, quando gravaram o dvd.

Sabe Deus o que quero dizer.

My Immortal

I still love this song.

Memories

Sejam eles pseudo-góticos, sejam eles o que forem... eu adoro esta música.

Hey You

Do something about it.

Kissing You

I still believe in love, how couldn't i?(Des'ree)

Live Together

"EVERY TIME WE LIVE TOGETHER, WE DIE A LITTLE BIT MORE"

(Hooverphonic)

Is it true? I need to believe it's not.

A simple conversation.

C - Olá!
J - Como está a miss?
C - Tenho uma amiga que está apaixonada por ti!!
J - Desculpa?
C - Viu as tuas fotos no hi5.
J – Por amor de Deus! Estou farto de gente apaixonada por mim. lol
C – Viu e gostou do que viu.
J – Oh, que parvinha! Não quero ninguém apaixonado, ora essa!
C - lol
J – Mas pronto, claro que gostou, então eu sou maravilhoso! lol
C - lol
J - Mas diz-lhe q só tenho sexo com ela se ela me der um filho. lol
C - Ela está aqui a dizer que concorda, mas têm de partilhar a criança. Se não quiseres partilhar a criança...eu posso ser a tua barriga de aluguer. Tens é que arranjar o material! eheh
J – Olha, que não digas essas coisas porque o meu maior sonho é ter um filho.
Uma amiga minha lésbica quer ser mãe e então fez uma lista dos possíveis candidatos e adivinha quem ela escolheu?
C - Tu!
J – Pois, imagina! E eu raramente a vejo. Mas ela achou que sim. Quer mesmo que seja eu.
C - E que vais fazer?
J - Fui apanhado de surpresa. Emocionei-me e tudo, mas não aceitei.
Porque ela quer a guarda total da criança. Diz que eu sou a pessoa ideal para ser o pai da criança mas que a guarda total seria dela. Eu posso vê-la quando quiser, claro, mas a educação e tudo o resto será por conta dela. Eu não terei quaisquer direitos. E assim, não quero. Eu quero um filho, não o produto do meu esperma.
C - E se tivesses a hipótese de uma barriga de aluguer?
J - Estás a gozar? Claro q aceitava.
C – A sério?
J – Claro que aceitava.
C - E como é que esse processo funciona? Sabes?
J – Acredita, o meu maior sonho sempre foi ter um filho. Já sofri muito com isso.
C – Mas é legal?
J – Não sei, não faço a mínima ideia, mas acho que nem é possível em Portugal, não sei.
Gostava de adoptar uma criança mas também já sei que não dá. Teoricamente daria, mas na prática não dá. Se nem os casais conseguem, só problemas, só burocracias, quanto mais um homem solteiro!
Sinceramente não sei se é legal em Portugal. :( Vocês gajas não sabem a sorte que têm. Mesmo que não queiram ter filhos, pelo menos têm essa possibilidade.
C - Sabes que outro dia falei nessa questão da barriga de aluguer, e disse que não me importava de o fazer por alguém em quem confiasse mesmo, alguém próximo...
J - Estás a falar a sério? Tu... nunca pensei.
C - Estou... falei nisso com o meu marido e com a minha mãe.
J - Aliás, eu sempre pensei que qualquer mulher nunca o faria, só mesmo em último caso, por questões financeiras, etc...
Mas espera lá, porque sentes isso? Não queres ter filhos teus?
C – Quero ter filhos meus, sim. Se o fizesse não era por dinheiro mas por haver cada vez mais gente com dificuldade em engravidar, há que pensar noutras hipóteses.
Eu não sei se posso ter filhos ou se tenho que adoptar e penso no que será a frustração para aqueles que querem e nunca hão-de conseguir, como é o teu caso. Acho que darias um bom pai. :) E além disso ser barriga de aluguer, não é ser mãe.
J - Eu também acho que sim, que daria um bom pai. É engraçado pensares assim, tu de facto estás mesmo muito à frente! lol
Acho que é num episódio do Nip/Tuck ou da Ally McBeal que há um caso assim. Uma fulana nova que tem filhos mas que resolve ser barriga de aluguer e nem é pelo dinheiro porque ela é rica. Era exactamente pelos motivos que tu apresentas.
C – Eu penso desta maneira.
J – E que dizem o teu marido e a tua mãe? Caíram para o lado não?
C – Não. A minha mãe é que perguntou se eu não considerava a criança um filho.
J - Sabes qual é o problema? É que depois as chamadas barrigas de aluguer podem chegar à hora H e já não quererem entregar o filho.
C - Mas os óvulos não são de uma segunda mulher?
J – Sim, o conceito é esse, sim. Óvulos de uma segunda mulher. E não sei se isso existe em Portugal.
C – Então...o filho não é de quem faz de barriga de aluguer.
J – Pois, entendo o teu ponto de vista.
C – É de terceiros.
J – Sabes, acho isso muito bonito da tua parte, muito bonito. Não há muita gente a pensar assim. Mas, infelizmente, acho que isso não funciona em Portugal. :( Penso que a única hipótese é a mulher engravidar e depois então quando o bebé nasce entregá-lo a quem quiser, neste caso à outra pessoa, o pai.
C – Eu digo-te uma coisa... depois de eu ter um filho (porque não deve dar para mais), eu era capaz de pensar muito a sério numa situação dessas... por ti, por exemplo.
J – A sério? Mesmo? Estás mesmo a falar a sério? Se tu soubesses como me sinto agora mesmo neste momento.
C - Olha... eu nunca fui mãe.
J – Pois, quando fores é muito provável que vejas as coisas de outra forma.
C – Não sei qual a sensação de ter um bebé nos braços e senti-lo a crescer cá dentro.
J – Pois, e isso deve mudar tudo.
C - Mas, neste momento, penso assim.
J – Porque dizes que não deve dar para teres mais do que um filho?
C - Money, money, money!!
J – Pois, sempre a mesma cena.
C – Um filho é um grande investimento.
J - Claro que é... a todos os níveis.
C – E eu não quero passar o resto da minha vida a trabalhar só para a filharada!
J - É talvez a maior responsabilidade de um ser humano.
C – Sim, para além disso.
J – E andas a pensar engravidar?
C – Sim, lá para o fim do ano. Depois de ser mãe, voltamos a ter esta conversa. Pode ser?
J – Claro que pode. E acredita, não me deixaste com esperanças de nada porque já há muito que perdi a esperança de ter um filho. Mas deixaste-me muito feliz, feliz por saber que há pessoas que veem as coisas assim. Feliz por saber que alguém faria tal coisa por mim. A sério, já para aqui chorei e tudo.
Diz a essa tua colega que está apaixonada por um homem chorão.
C - Acredita q é sincero... não te sei explicar bem o porquê, mas acho mesmo que faria isso por ti...até porque haverá pessoas com quem tenho mais convivência diária...
J – Sim, eu sei.
C - Mas acho que tu és sincero, genuíno e darias um bom pai!
J - Faria tudo por isso.
C - :) Tenho a certeza.
J – Porra... bem, estou aqui num estado.
C – Opá...não chores mais, por favor.
J – A sério, não consigo parar as lágrimas. Sou mesmo maricas. lol
C – lol Não és nada.
J – Por amor de Deus, quem é o homem que chora por uma coisa destas?
C - É estranho ter este tipo de conversas pelo messenger... mas se fosse cara a cara, eu diria o mesmo.
J – Ainda bem que é no messenger porque senão estava agora eu aí, com quase 2 metros e uma barba cerrada, lavado em lágrimas.
Obrigado, eu sei que dirias. :)
C - É engraçado como esta conversa surgiu agora, pouco tempo depois de eu estar a falar disto em casa.
J - Pois é. A vida tem destas coisas.
C - Bom... tenho de ir acabar ainda umas coisas. Recompõe-te!! Jinhos grandes.
J - Ok, vou continuar aqui a fazer um teste para os putos. Jokas, miúda.
C - :)
J - :)

You're...

"I will always love you.
You're my gold, my Justin, my holy grail."

(C)

Os Patos

O oportunismo, os ganhos financeiros e a luta desenfreada pelos titulos não os enobrece, não os cultiva, não acrescenta nada de interessante a dois seres insensiveis e pobres de espirito.
Os bens que apreciam e os fazem sentir vivos são os mediocres.
Se a Terra é o planeta deles, não é o nosso, certamente.
São prisioneiros insustentaveis dos vicios menores.
Vicios que podem dar estatuto às suas mentes pequenas mas não lhes dão grandiosidade.
Essa que norteia e pontilha o topo da pirâmide.
Topo ao qual nunca chegarão por mais que trepem.
A superfície é lisa e escorregadia para eles.
Tão inclinada e vertiginosa que assusta.
E só lhes deixa o solo como destino.
Solo do qual não se conseguem descolar.
Eles não são seres de encanto.
Não são cisnes emplumados e elegantes.
Não se deslocam pelo lago.
São meros patos domésticos que não saem da borda da água porque têm medo de a ela não voltar.
Os olhos podem brilhar mas falta-lhes a beleza do olhar.
Falta-lhes a sensibilidade.
Falta-lhes a arte.
Falta-lhes a luz.
Eles estão na borda porque querem ter os pés na terra e convém estar próximo da casota, não vá ela encher-se de pó e eles não a limpem em tempo record.
Eles vivem na mediocridade dos sentidos.

(EF)

Chasing Cars

If i lay here,
if i just lay here...
would you lie with me
and just forget the world?!

12 Patas

Ela tem 6 anos. Ele 2. Ela é cinza (os veterinários dizem que azul). Ele é branco como a neve mais branca. Ela é Europeu Comum (os veterinários dividem opiniões). Ele é Europeu Comum (sim, porque os gatos têm sempre raça). Quando se conheceram o convívio não foi fácil, nada mesmo. Ela passava com altivez, snobismo, raiva, por ele como que afrontada pela presença de um novo membro da família. “Quem é este? Que coisa é esta mínima que agora aqui chegou? Ponha-se no seu lugar, ora! Era o que faltava! Aqui quem é a senhora da casa sou eu!” Ele, tão pequenino, ainda com 3 manchinha negras no topo da cabeçita, encolhia-se todo perante tal sublime ser longilíneo e poderoso que o olhava de soslaio ou, por ele passava, demonstrando completa indiferença. Ela despertava-lhe a atenção e, de quando em vez, lá ele arriscava uma ou outra brincadeira. Brincadeiras que lhe valeram um urgente e nervoso voo ao Hospital Veterinário do Restelo e, dias depois, um corte pequeno numa orelha que ainda o tem.
Agora são crescidos. Não só se toleram, como se adoram. Ela continua com a sua postura superior. Ele retribui com uns carinhos, uns beijinhos umas patadinhas. Claro que apenas se ela permitir. Às vezes ele olha-a como que dizendo: “És mesmo tonta. Tanta pose para quê? Essa mania de ser a princesa do castelo e arredores.” Sim, é assim que ela se comporta. Qual princesa mimada que quer os mimos todos só para si.
Ele já é maior que ela. Ela já foi mãe por duas vezes. Ele não foi ainda pai. Ela não foi ainda esterilizada porque o senhor doutor dos bichos diz que, como já foi mãe, pode continuar a tomar a pílula. O dono tem dúvidas disso. Ele ainda não foi castrado. Será, um dia, quando as finanças o permitirem e a situação mudar. E que situação? Algo estranho, dizem todos.
Ele não se interessa por ela. Interessa-se para dormirem, por vezes, lado a lado, em cima da mesa da sala, ao fim da tarde, com o sol quentinho a entrar pelas grandes janelas. Interessa-se para, quando se cruzam, lhe dar uns beijinhos se ela o permitir. Interessa-se para imitá-la sempre que o dono chega a casa, sempre que ela pede comidinha, sempre que ela mia em redor do dono, sempre que ela tenta entrar para dentro da cama, mal a luz se apaga e o dono procura dormir. Interessa-lhe imitá-la, observá-la, conviver com ela, ver o que ela faz e porquê. Não se interessa por ela como um gato se interessa por uma gata. A sua gata é outra. A sua gata é uma doninha. Uma doninha de peluche comprada no Ikea. Uma doninha que ignorava nos primeiros tempos de habituação a um novo ambiente. Um lar aconchegante, humanos aconchegantes, brincadeiras aconchegantes. Um mundo que começava a ser o seu. Uma doninha que passou a amar. Sim, a amar. Dorme com a doninha. Dorme ao lado dela. Dorme abraçado à doninha. Sim, literalmente abraçado como dois humanos que se amam se abraçam. Quando se lava também a lava. Quando se deita em cima da cama, no espaço vazio, leva-a consigo. Quando a doninha fica fechada, por engano, noutra divisão, ele desespera, mia com tristeza e dor. Quando a doninha não está junto de si, sofre. Quando o dono, por graça, a atira ao ar, os seus olhos arregalam de pânico e raiva pelo humano. Vai imediatamente ter com a doninha, caia ela onde cair. Toca-lhe, cheira-a, lambe-a, agarra-a com os dentes, como que a dizer: “Estou aqui, não te preocupes, estás salva”. Se o dono teima em não se afastar, afasta-se ele levando-a consigo, soltando uns sons que soam a “Parvo! Não faças isto. És mesmo estúpido. Olha que a magoas!”
A doninha está desgastada, os olhos já mal se notam, o pêlo está um caos, mas é a sua doninha e ele não desiste dela por nada. Valerá a pena o dono procurar uma nova? Procurar uma que a substitua? Não. Nem pensar. Aquela é a sua doninha. É dele, de mais ninguém. Ela é que tem as marcas, o cheiro, o toque que ele conhece. Nunca outra significaria tanto para ele, nunca.
Quando a outra ela de 6 anos, em tempos de cio, se roça em tudo, se roça no dono, no sofá, nos tapetes, nos móveis, na cama, nas portas, em tudo aquilo onde se pode roçar, quando essa ela mia, mia desalmadamente, a culpa é do dono que, por vezes, se esquece da dita pílula. A culpa é do dono que teima em não dar-lhe o pequenino objecto branco de 15 em 15 dias. A culpa é do banco como a neve que a observa meio atarantado, a circunda meio fascinado, a toca meio espantado, a cheira meio curioso, mas disso não passa. Ela quer, ela faz tudo para o cativar, para o envolver, para o seduzir mas ele, minutos depois, afasta-se e lá vai, lá vai ter com o seu amor que está no exacto local onde ele o deixou. É para o amor que ele volta. É para a sua doninha adorada.
É um animal. É um felino. É, supostamente, irracional. A cinza oferece-se da forma mais apetecível imaginável. E ele? Ele escolhe um boneco de peluche.
Ele também tem as suas necessidades. Com quem as satisfaz? Com a sua doninha. Cheira-a, morde-lhe o pescoço com carinho e faz aquilo que os instintos o incutem a fazer, literalmente, sublinhe-se. O dono, muitas vezes já a dormir, sente os movimentos na cama e sorri. Outras vezes, empurra o casal de pêlos para o chão. Ele não se resigna, não desiste e volta a subir, sempre, 2, 3, 4, 5 vezes, as que forem preciso, sem largar, por um segundo que seja, o corpo de peluche que está a amar de forma mais ou menos “selvagem”, de forma mais ou menos dita “animal”.
Satisfeita a necessidade animal, lava o corpo branco qual neve, de ponta a ponta. Mas primeiro lava o outro corpo já de cor pouco definida. Ajeita-se, coloca a patinha branca sobre a doninha, coloca a cabeçita, já sem manchas pretas de bebé, junta à cabecita já meio disforme da doninha e, exausto, deixa-se adormecer. Tantas vezes nem os olhos já consegue abrir quando a amiga cinza se aproxima. Tantas vezes já nem os olhos abre quando o dono lhe passa a mão pela cabeça, pelo macio pêlo branco. Nem um ronronar sai. Apenas um respirar calmo. Tantas vezes ali fica, simplesmente ali fica, sereno, cansado, a dormir juntinho do seu amor. Isso chega-lhe. Isso é tanto. Isso fá-lo feliz. E ai de quem os separar. Ai de quem tocar na sua adorada doninha. Ela é dele. Ele é dela. O dono é o dono. A cinza é a cinza; aquela que o arranha ainda de quando em vez por ciúme, para mostrar soberania; aquela de quem ele vai atrás quando esta entra para um roupeiro, quando o dono, de manhã, se veste e prepara para sair; aquela que come na tigela ao lado da sua; aquela com quem adora meter-se; aquela com quem apanha sol.
Aquela que se roça em tudo e ele não entende porquê. Não entende nem lhe interessa muito entender. É a sua amiga de sempre. A sua amiga desde que ela o permitiu. A sua companhia felina desde que chegou, muito encolhido e silencioso, dentro de uma mala azul, à nova casa, provocando, de imediato, sorrisos de grande alegria. Mas a doninha, essa, é o seu amor.

Paciencia

A vida é tão rara.

(Lenine)

Rock 'n' Roll Kids

Até hoje, talvez a mais bonita das vencedoras.

"I was yours and you were mine,
but that was once upon a time...
Now we never seem to rock'n roll anymore."

(ESC 1994 Ireland)

Shara Barechovot

Chamem-me lamechas, o que quiserem, mas isto pregou-me ao sofá em 1990, numa noite de Eurofestival.

Ainda hoje espero pelo final e sei que me vou arrepiar.

(Rita - Israel)

Justify that

Poor is the man
whose pleasures depend
on the permission
of another

(Madonna)

Irlandês

- Quero dizer-te uma coisa.
- Diz.
- Se as coisas não funcionarem entre nós... tens de ser tu a deixar-me.
- O quê?
- Sim, tens de ser tu a partir. Eu sou irlandês, consigo viver com um erro toda a vida.
- Isso é uma parvoíce!
- Não, não é. Tens de ser tu, eu não vou conseguir. Sou irlandês...teimoso, orgulhoso, acima de tudo acho que sou fraco.
- Ou forte!

O Bofe

"O DESAFIO DE CONTRARIAR A DESILUSÃO É FASCINANTE"
Ricardo M. says.

My angel... 04-06

Há uns anos era assim. Cantava, chorava, sentia...vivia esta música.
Depois percebeu que a realidade é, afinal, bem outra.
Foi-lhe dedicada, depois...oops...era engano. (Lamb)

Sleeping With Ghosts

Soulmates never die...really!?

Tic tac, tic tac, tic tic...tic

Samson

Regina Spektor

Habitos

Tinha perdido o hábito de ir à praia. No Verão, a praia irritava-o pelo emaranhado de gentes, de chapéus-de-sol, de toalhas, de barulhos. Não era ali que gostava de estar envolto na multidão. Uns deitados ao sol, outros a correr, uns a jogar, bolas por todo o lado, crianças a chorar, velhotes a ouvir rádio… Quase sentia que a praia, na sua beleza natural, era invadida. Já para não falar do trânsito caótico à chegada e à partida. Os tão falados ambientes de engates de praia, de que alguns conhecidos falavam, nunca o fascinaram. Achava deprimente e triste homens casados que deixavam mulher e filhos na areia ao longe e lá caminhavam para a sua actividade predatória a algumas centenas de metros. Depois voltavam para assumir o papel de chefe de familia perfeito. Estas eram realidades que não o moviam.
Mas ali estava, na praia. Queria aproveitá-la enquanto o Verão não chegava, e com ele a amálgama de humanos no seu ritual de uma quase procissão.
Entardecia, o sol ainda estava por se esconder. Sentia uma brisa algo fria que o agradava. Ali sim, um cenário perfeito. Assim sim, gostava da praia. Tinha voltado a este hábito. A praia fazia-lhe bem. Sentia-se quase noutra dimensão da realidade diária em que vivia. Este hábito voltava a fazer parte de si. A praia já havia sido tão, mas tão importante para ele. Já o tinha aninhado em tantos momentos.
Desta vez não tinha levado o ipod. Não queria música. Se a quisesse, ele mesmo cantaria uma melodia qualquer. Adorava olhar o mar, olhar o horizonte e deixar correr na sua cabeça uma música qualquer apropriada ao momento. Já o estava a fazer. Olhava o horizonte e já, na sua mente e entre dentes sussurrava o “Blower's Daughter”.
Estava sentado, calças enroladas acima dos tornozelos, pés semi-enterrados na areia fria. Sabia bem. Estava ali sozinho. Era bom estar ali sozinho na praia deserta.
De repente, a uma velocidade extrema, quase a da luz, sentiu-se catapultado para a frente. Atravessou a linha de água, a plataforma continental, voltou a ver terra, a América, novamente água, a Ásia, a Europa, Espanha, campo, estradas, casas, carros, prédios, estrada, areia e sentou-se. Novamente o azul do mar. Mas entre ele e esse azul, estava ele. Sentou-se atrás dele mesmo. A observar-se a si mesmo. Ele mesmo atrás dele e ele mesmo à sua frente. Tinha percorrido, em segundos, uma linha paralela ao equador. Uma linha localizada no hemisfério norte. Ali ficou a olhar para as suas costas, para o que trazia vestido. Só por um minuto. Sublimou-se. Era só ele, novamente ele na praia. Aquele que já lá estava há uns 20 minutos.
Ao longe viu um casal. Uma mulher e um homem. Duas pessoas e dois cães. Foram andando pela praia, na sua direcção, sem dar por ele. Tentou desviar a atenção daqueles quatro, mas um dos cães desatou a correr na sua direcção, quando já estavam mais perto de si. Correu que nem louco, com aquela alegria com que os cachorrinhos correm. Ele chamou-o, produzindo um som com os lábios apertados. Mesmo que não chamasse, percebeu que o bicho a ele se dirigia.
O cão atirou-se literalmente para cima dele. Fez-lhe uma festa, e outra, e outra…o cachorro estava eufórico, divertido. Patas em cima das pernas, cauda a abanar, lambidelas na cara, areia já por todo o lado. Riu com aquilo.
- Flopi, chamou a rapariga. Quem é que põe um nome destes ao que quer que seja, pensou ele. Flopi!?
Agora, mais perto, dava para ver que era um casal novo. O outro cão, preto, porte médio, raça indefinida (vulgo rafeiro), vinha ao lado dos dois, com orelhas espetadas, alerta para o que se passava ali.
Aproximaram-se. Ficaram parados, em pé, a uns três metros. O cão preto a rondar o cenário das festas.
Rapariga: Flopi, larga o senhor. (é engraçado como, em situações destas, usa-se sempre o “senhor” quer o alvo tenha 16 ou 80 anos)
Rapaz: Flopi, anda para aqui. Este cão!!!
Ele: Não faz mal. Está só a brincar. É cachorrinho…é natural. Não faz mal, pois não, seu maluco!?
Rapariga: É que ele ainda é bebé. Tem 4 meses. Quer é brincadeira.
Rapaz: Incomoda toda a gente. O Teodoro é mais sossegado.
Rapariga: Tá bem, mas ele já é adulto, o Flopinho é pequenito.
Ele: Teodoro! Que engraçado, dois nomes tão diferentes.
Rapariga: É que o Teo já é do André há 6 anos e foi ele que pôs o nome. O nome Flopi fui eu que pus a este doido. O André ofereceu-me quando fizemos um mês de namoro. Era tão pequenino com 2 mesitos.
“O que?” pensou ele, “mas o cão tem 4 meses! Eles namoram há 3 meses e o gajo já lhe ofereceu um cão?”
A rapariga deve ter percebido a sua cara de espanto e aprontou-se logo a explicar, sorridente.
Rapariga: Foi muito giro! Começámos a namorar há 3 meses. Foi amor à primeira vista, como nos filmes. Quando fizemos um mês o André apareceu-me com o Flopi. O Flopi é um labrador creme e o Teo é preto, rafeirito (como se ele não visse isso, logo ele que adorava conhecer as raças de cães). E agora vai ser nosso para sempre. Nós passeamos com ele e com o Teo para que eles se habituem mais um ao outro. Mas eles já se adoram, claro. Para quando formos viver juntos. Os pais dele estão na casa do norte e ele está a viver sozinho desde que entrou para a faculdade. Agora já acabou o curso e já trabalha. Está sozinho por enquanto, não é, “mor”?
Rapaz: Sim, mas deixa lá o senhor. Tu também...quando começas a falar nunca mais te calas. Ela conta isto a toda a gente. Vá, vamos!
Via-se que a rapariga adorava contar aquilo, a sua linda história. Via-se que, por ela, contava tudo ao pormenor, dia após dia, desde que se conheceram.
Rapariga: Oh, parvo. A minha mãe não acha lá muito bem, mas nós já decidimos. Vamos viver juntos. É que ela não percebe que, eu e o André, parece que nos conhecemos há anos. Diz que eu sou nova, que o André já trabalha mas eu não, que nos conhecemos há pouco tempo. Até diz que o Flopi vai estragar o apartamento todo. Desculpas!
Ele: Mas ele quando crescer porta-se bem, não portas, menino? Aí já não vai destruir nada (fez mais uma festa ao cachorro, que não o largava)
Rapariga: Sim, porta, claro. É como o Teo, que é um santinho em casa. O Flopi é que está habituado ao jardim da casa dos meus pais, onde vivo ainda. Mas habitua-se que é um instante.
Ele: Mas vão viver juntos…quando?
Rapariga: Para o mês que vem, quando fizermos 4 meses de namoro. Já combinámos. Vai ser nesse dia. A casa é pequena mas dá. Já mudei algumas coisas para lá. Vai ser a nossa casa. O André trabalha e se for preciso eu vou trabalhar também.
“Meu Deus, 4 meses e já dois animais!”, pensou ele.
Rapaz: Não vais nada sair da faculdade para ires trabalhar. Era o que faltava! Já te disse! Flopi, larga o senhor, anda, vamos embora.
Rapariga: Logo se vê depois isso do dinheiro! Se eu quiser deixar de trabalhar, deixo, ora! Tu não mandas em mim.
Rapaz: Vá, vamos lá mas é embora que já é quase de noite.
Voltou a sentir-se catapultado à velocidade da luz, desta vez no sentido contrário. Areia, estrada, prédios, carros, árvores, estradas, Espanha, Europa, Ásia, azul, América, oceano, linha de água, areia e, novamente sentado. Agora era só ele. Não ele atrás dele, não ele à sua frente. Ele.
Os dois jovens já não estavam ali. Já iam ao longe, de mãos dadas, com os cães ao pé. O Teodoro a trotar, o Flopi aos pinotes entre este e os jovens.
Levantou-se. Na esperança de que o ouvissem, gritou: Não façam isso! Estão loucos? Ingénuos, é o que vocês são. Tu és parva, rapariga? Qual história de filme, qual quê? Pensas que a vida é assim? Vais viver com um rapaz que conheces há tão pouco tempo? Achas mesmo que se conhecem há anos? Conheces o quê? Não conheces nada! Burra, até pensas em largar os estudos, se for preciso? Se fizeres isso vais-te arrepender tanto. Acorda! E tu, rapaz, és estúpido ou quê? Começas a namorar e ofereces logo um cão? Não vês o que isso acarreta? Um cão não é um ramo de flores, um cd ou um livro. E quando se separarem, como é que vai ser? Lembraste-te, por acaso dos animais? Ela adorará o preto, tu adorarás o creme. Eles vão viver juntos, criar hábitos juntos, serão uma família, não percebem isso? E depois vocês vão separá-los? Estão a fazer tudo à pressa. Que anormais! Os animais sofrem, sabiam? Idiotas! São mesmo idiotas, vocês! Têm cérebro para quê? Para substituí-lo pelo coração? 3 meses e já estão a entrelaçar-se assim, levando outros seres atrás? Vocês é que são os irracionais, não eles.
O cachorro creme, que o tinha enchido de areia, foi o único que parou e olhou para trás, para ele. Apeteceu-lhe chamá-lo, pegar nele, correr para o carro, levá-lo dali, daqueles dois. Salvá-lo daquele futuro.
Voltou a sentar-se. Apercebeu-se que não tinha dito nada daquilo, afinal. Só havia pensado. Ainda bem. Não lhes quis destruir o sonho. Voltou a olhar. Lá iam eles. Só o Flopi, de segundos em segundos, parava, esticava a cauda e olhava para ele, atento por segundos. Parecia hesitar entre o que fazer. Ia ou ficava?
Ele virou a cara para o lado oposto, na esperança de que o cão não corresse para si.
“Que estúpidos aqueles dois. Não têm mesmo noção”. Baixou a cabeça, fechou os olhos e quando, dois minutos depois, a levantou, já a direcção da mesma era outra, a do mar. Manteve os olhos fechados. “Que estúpidos, não têm mesmo noção”. Mas sorriu. Sorriu, fez pressão novamente para enterrar os pés na areia fria e desejou-lhes sorte. “Sejam felizes e façam esses marotos felizes”.
Abriu os olhos. Já não olhou para ver se ainda se avistavam os 4. E ali ficou mais um tempo a olhar para o mar, para o céu já borrado de laranjas. Ali ficou a cantar para si o “Blower's Daughter”, até o o sol se esconder de vez.

Happy Ending