O Leitor



O Leitor é daqueles filmes que se adora logo à primeira, que se começa a adorar depois de ver uma segunda vez ou, pura e simplesmente, não nos entra nos gostos. A isso já nos havia habituado o realizador Stephen Daldry com "As Horas".
O argumento começa, logo de início, a ser previsível, até porque acontece na Alemanha pós-Holocausto, o que não levará muita gente ao cinema. Está tudo farto da dita Alemanha Nazi. Mas aqui a história é outra e retratada de uma outra forma também. O filme é lento sem ser, é calmo sem ser, é parado sem ser. O Leitor não se reporta às atrocidades dos campos de concentração, mas sim como uma pessoa pode mudar a vida de outra, como há coisas que nos marcam para sempre, dê a vida a voltas que der.
É um filme competente, respeitável e com uma fabulosa ambientação. É frio e, ao mesmo tempo acolhedor. A fotografia é exímia, as cores notáveis, a estética a rondar a perfeição.
O actor principal está muito bem mas, quer se queira, quer não, é impreterível destacar Kate Winslet, merecidíssima vencedora dos prémios já atribuídos este ano. É perfeita nos olhares, nos gestos duros masculinizados, no sotaque, na subtileza, no mistério que a rodeia. É perfeita nas técnicas de representação. Não se sabe bem o que pensar da sua personagem. Queremos gostar dela e não gostamos. Queremos não gostar e gostamos. Nem o protagonista consegue lidar com seu sentimentos por ela. E essa dicotomia, nada fácil de fazer, é encarnada na perfeição.
Os diálogos curtos e frios, sobretudo no final, agradarão a muitos, a outros nada mesmo. O Leitor pode parecer um tipo de filme ultrapassado para muita gente e constitui uma peça única nos nomeados para os principais prémios cinematográficos do ano. O filme de Stephen Daldry é quase o oposto dos restantes nomeados aos Oscares, por exemplo. Mas isso não lhe tira qualquer mérito, não mesmo.
Palmas Stephen, palmas Kate.

Magical Stockholm

Capital da Escandinávia. Cidade feita de ilhas, de reentrâncias de água, de barcos, de espaços verdes, de modernidade misturada com o passado. Perto do Equinócio de Março já os dias não são curtos. Um frio, muito frio mas suportável e, por vezes, até agradável. Habituei-me bem às temperaturas. Neve, muita neve. Uma cidade pintada de branco com as múltiplas cores dos edifícios a contrastar. Água gelada entre as várias ilhas. Cidade estilizada, sofisticada, limpa, arrumada, organizada, cheia de classe. As gentes diversas com etnias a surgir aqui ou ali, não tão pouco como o esperado. Brancos, pretos, orientais, altos, baixos, magros, gordos. Não tantos louros quanto isso. Não tantas pessoas muito altas quanto isso. Acima de tudo bom aspecto, a maioria das pessoas tem bom aspecto, cuidado com a imagem. Os centros comerciais são de um requinte imenso. As lojas pelas ruas convidam a entrar. Os cafés, os bares, os restaurantes chamam por nós, são puro acolhimento, apetece entrar e fotograr quase todos. As mesas, os copos, as velas, os candeeiros, os candelabros, as pessoas ali sentadas no quentinho. Poucos, muito poucos os espaços gay, o que muito traduz o à vontade com que os homossexuais estão na cidade que rejeita guetos. O hotel, mesmo no centro, primou pelo bom aspecto e pelo pequeno-almoço num pátio interior muito apetecível. As árvores despidas de folhas e vestidas de mantos brancos. Pessoas a passear os cães, a correr, a andar de bicicleta, a cavalo. Pessoas, hetero ou homo, que, mesmo com frio e neve, andam com os seus bebés por todo o lado. O elegantíssimo mercado, um autêntico bazar de iguarias. O bar feito de gelo com as suas bebidas coloridas servidas em copos também de gelo. Os sorrisos felizes das crianças divertidas em brincadeiras com a neve, a patinarem, a escorregarem equipadas nos seus mini-trenós, a fazerem bonecos de neve. As casas apalaçadas dentro de jardins e parques. Os 70 museus. O extraordinário museu Vasa. As originalíssimas estações de metro. Os preços não elevados como se diz, a rondar preços portugueses, um pouco mais e, várias vezes, até menos. Os 7 eleven abertos 24 horas. Os gorros diversificados, os cachecóis de vários tamanhos e texturas. Os patos, as galinhas de água, as gaivotas, os corvos, os cisnes. As pontes. A imensidão. O que ainda falta e se quer visitar nesta mágica cidade.
Por tudo isto e mais, pela companhia, foi muito, muito bom. Por muitos momentos senti-me como que num sonho, num daqueles cenários cinematográficos. Não me apetecia voltar para cá. Num destes finais de Primavera ou Verão quero regressar. Quero então percepcionar a cidade com dias enormes, a cidade colorida com o azul da água pintalgado pelas velas brancas dos barcos, os jardins verdes das ilhas, a cidade com outras cores. Agora esteve branca, tão branca e tão bela. Quero vivenciá-la em dois tão distintos momentos.























That's good.

- Is everything ok?
- Yes... well... no one's dead, so...
- Well, that´s good.
- Yeah, i guess that's good.
- Everything is good, then.
- Yeah... i guess so. Everything is good, you're good, i'm good. We're good. Life's good.
-...
-...
- So, is there a problem?
- My voicemail box is full.
- Delete it, then.

Have you really?

- What about what i said? What about how i feel? About what i feel? Have you really considered it?
- I consider your point of view, i just don't always agree with it.
- Right, because you don't even know what it is. Can't you, for a moment, be in my shoes?
- And who would be in mine?

Not going to see the Oscars.

Este ano não vou ver os Oscars. Digo sempre mal, mas acabo sempre por ver. Não que dê mais valor a esta cerimónia do que a outras, para mim, tão ou mais lógicas, e certamente mais justas, no que concerne a prémios de cinema. Vejo pela curiosidade, porque me deito sempre tarde, porque é uma forma agradável de passar a madrugada, porque gosto de ver aquelas gentes, uns que tanto admiro, outros nem por isso, porque gosto de ouvir o que dizem, como o dizem, porque gosto de saber, no momento, o que ganham, como reagem, porque enho sempre esperança numa excelente cerimónia, coisa que muitas vezes não acontece. Acabo sempre por sucumbir ao favoritismo deste ou daquela actriz, deste ou daquele filme. E no fim, antes de me deitar para dormir o pouco que resta, vou sempre com a sensação de alegria e/ou de decepção. Gosto de ver, pronto.
Este ano, contrariamente a anos anteriores, já vi quase todos os ditos grandes nomeados e, até ao fim da semana, verei mais um ou outro.
The Curious Case Of Benjamin Button, Slumdog Millionaire, Milk, Vicky Cristina Barcelona, Changeling, Revolutionary Road e Doubt já foram vistos. The Reader, The Wrestler, Changeling, Rachel Getting Married, estão para ser vistos. Haja tempo!
Este ano, por não estar cá, não vou ver os Oscars, mas espero que a Kate Winslet vença. É uma actriz, à boa maneira inglesa, extraordinária, a mais nomeada de sempre com a sua idade e, este ano, tem duas impressionantes interpretações que já lhe valeram os 2 Globos de Ouro e o Bafta.

Como este ano não vejo os Oscars e acabei de ver a minha Julinha Roberts na Oprah, como soube também que foi eleita a actriz mais bem vestida de sempre na recepção do Oscar (e, de facto, ela está maravilhosa em palco), resolvi ir procurar no Youtube esse mesmo momento, o momento em que ela venceu o prémio de melhor actriz principal pela sua interpretação em Erin Brockovich. Um dos mais divertidos momentos dos Oscars. Foi tão bom rever. Acho hilariante aquela gargalhada e suspiro aos 4 minutos e 20 e tal. Que saudades tenho eu daquele sorriso imenso, daquele riso sonoro, daquele olhar, da forma como ela enche o ecrã. Adoro-a e adoro este momento:

Julia Roberts winnig the Oscar (clicar em cima)

"I have a television... so i'm going to spend here some time to tell you some things"
"And sir, you're doing a great job but you're so quick with that stick so why don't you sit? 'cause i may never be here again!"
"I can't believe... this is quite pretty"
"And turn that clock off... it's making me nervous"
"Hi... there you are"
"I love it up here"

Estocolmo








































E em sequência do anterior post, resta-me a alegria de saber que dentro de dias vou sair deste país cheio de mentes tacanhas a caminho daquele que é talvez o país mais evoluído no que se refere à igualdade de direitos relativos à orientação sexual das pessoas. Suécia, mais concretamente vou a caminho de Estocolmo. Ando há anos com interesse em visitar esta cidade, para muitos, a mais bonita da Europa.
Interessa-me a arquitectura, as 14 ilhas, as pontes, as cores, os monumentos, as ruas, a cultura, o sentir as pessoas da capital escandinava.
Está lá um frio de rachar, com temperaturas máximas na ordem dos 3 graus negativos e com neve a cair diariamente e agora, contrariamente ao que acontece no Verão, as noites são bem maiores que os dias. Mas não faz mal. Até me soa muito interessante vivenciar a cidade como ela é durante meses, como ali se vive no Inverno. A ida no Verão, com dias praticamente de 24 horas, fica para outra altura.

Sociedade tonta

Parece que o senhor Marcelo Rebelo de Sousa é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e ainda disse que é um assunto que interessa apenas cerca de 1% dos portugueses.
Aquele senhor que é Presidente do Governo Regional da Madeira diz que: "Eu não tenho qualquer preconceito em relação às opções sexuais de cada um, é um problema de cada um. Agora, a mim, o que me irrita, é pôr-se os portugueses por tontos e chamar casamento a uma coisa que não é casamento".

Lamento dizer aos dois mas são comentários como os vossos que apelam à tontice dos portugueses. São comentários como esses que fazem o nosso povo ainda mais tonto, desinformado e limitado.

Senhor Marcelo, então acha mesmo que o assunto só interessa a cerca de 1% da população? O senhor tão douto diz uma coisa dessas? Sabe, há bem mais homossexuais no país do que essa mínima parcela percentual. Sabe, há pessoas heterossexuais que são inteligentes, minimamente informadas e pensantes a quem o assunto interessa e se sentem indignados com esta falta de direitos elementares. E sabe, mesmo que fossem os tais 1%, não será um número a ter em conta? Então 1% não interessa? Sabe, a si pagam-lhe, e certamente bem, para divulgar livros mensalmente. Será que esses livros interessam sequer a 1% da população? E o senhor continua, não desiste, acha importante, certo?

E o senhor, senhor presidente madeirense, ainda está na primária fase de achar que a homossexualidade é uma opção? Nem isso ainda sabe? Acha mesmo que as pessoas um dia acordam e optam por gostar de homens ou mulheres? Numa fase básica dessas é óbvio que jamais poderia passar ao estádio seguinte do casamento. E depois os defensores do casamento entre pessoas do mesmo sexo é que querem fazer os portugueses de tontos?

Meus senhores, cada um a seu jeito, os senhores até são pessoas inteligentes. Mas não sejamos inteligentes só para o que queremos, ok?
Vamos lá ver uma coisa. Vá, é simples, fácil de entender. E se aos senhores vos impedissem de casar com a pessoa que amam, com a pessoa com quem queriam casar? Se fossem impossibilitados de casar com as vossas esposas? Pois, é disso que se trata, não de casamentos em igrejas ou de deitar por terra os pilares da sociedade, entendem?
Sabem senhores, todos somos cidadãos e merecemos, pelo menos, direitos básicos, pelo menos esses. Ninguém escolhe sentir-se atraído por mulheres ou homens. O senhores escolheram?
É assim tão difícil de entender?
Muitos homossexuais, a maioria, vivem escondidos, habituaram-se a uma dupla vida, ao esconde esconde diário. Não têm actos carinhosos em público, escondem os seus afectos em público, quando o fazem é a medo e escolhem o local, não podem casar, já para não falar do desejo de ter filhos. E assim passam as suas vidas, sem terem culpa de serem o que são mas penalizados por isso. Penalizados pelos vizinhos, pelas famílias, pelos supostos amigos, no trabalho, pela sociedade e por pessoas influentes como os senhores que, infelizmente, dizendo coisas destas, cimentam as cabeças de muita gente.
Sabem senhores, pessoas que se queiram casar com outras do mesmo sexo não abalam os ditos casamentos tradicionais. É uma questão de direitos elementares de respeito mínimo pelas pessoas. E nem pessoas do mundo político, que se preocupam com os cidadãos, supostamente informadas como os senhores, conseguem ver isso.
Falta de ética, como apregoa o senhor Marcelo, é escolher o dito caminho tradicional só porque pessoas como os senhores o querem, só porque fica bem, só porque sempre foi assim.
Falam da evolução do país, da evolução da sociedade e depois dizem barbaridades destas.
Se acham que ir contra a natureza que não se escolheu ter é o caminho, então estão a fazer bem o vosso papel. Continuemos então com disparidade de direitos primários, com selecção de cidadãos de primeira e cidadãos de segunda. Junte-mo-nos à igreja católica e continuemos assim em defesa dos ditos valores e bons costumes. Homossexuais escondidos, humilhados, que chegam a casar com pessoas do sexo oposto, que chegam, em muitas situações, a pôr as suas vidas em risco, e por aí fora. E, lamentavelmente, são pessoas como os senhores que muita culpa têm nisso. São pessoas como os senhores que muita gente ouve e a quem dá muita importância. Mas claro, daí lavam as vossas mãos.
Sabem senhores, esses vossos valores e opiniões, esse sim minam a sociedade e fazem-na cada vez mais tonta, triste, falsa e lamentável.
Informe-se senhores, informem-se antes de lançar enormidades destas para praça pública.

The Slumdog they talk



É o filme de que se fala! Já venceu e vencerá muitos prémios.
Por isso, para quem o foi ou vai ver, as expectativas são quase sempre muito elevadas. E, claro, muitos decepcionam-se, outros vêem ainda as suas expectativas superadas.
As minhas não eram altas e, talvez também por isso, gostei bastante. O filme vê-se tão bem do princípio ao fim.
Por vários motivos, é um filme que deve ser visto. Muita da realidade do segundo mais populoso país do mundo, do fenómeno da aldeia global, da terrível vida de muitas gentes, está ali retratado. Na Índia está a ser muito polémico, previsivelmente.
Tirando o final (de certo propositadamente muito à Bollywood) de que não gostei, é um filme para se ver mesmo. Hei-de mostrá-lo aos meus alunos, é fundamental.

7 Vidas



Já me tinham dito que este não era mais um filme do Will Smith.
Já me tinham dito que este era muito diferente daqueles que habitualmente faz, sem naves espaciais, sem ovnis, sem monstros, sem tiroteios, explosões, piadinhas fáceis, etc...
Já me tinham dito que era um filme confuso, cheio de "cenas para a frente e para trás", parado, chato, com muita conversa e muitos silêncios, que muitos só o começaram a perceber quase no fim. Enfim, uma seca, para muitos.
É um filme americano, é um filme com algumas coisas lamechas talvez.
Um filme sobre a vida, sobre a morte, a alegria, a tristeza, a felicidade e a infelicidade, sobre os conceitos de bondade e maldade. Acima de tudo, um filme sobre as várias formas do amor.
Contrariamente a muita gente, eu gostei, gostei e muito.
A ver com muita atenção e com todos os sentidos bem apurados.

Post Ultra-Herege!

Aqui vai o link para um post escrito por uma amiga sobre a mania que a igreja católica tem de se meter onde não é chamada, nomeadamente agora sobre a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo. É que não só se metem publicamente como chegam praticamente, e não muito pouco subtilmente, a ameaçar os seus queridos fiéis, a sociedade em geral.
Hoje, na rádio, cheguei a ouvir um bispo qualquer com a sua voz pausado-mariconça a dizer qualquer coisa como isto: "As pessoas são livres de votar em quem quiserem, claro, Deus defende a liberdade e a voz dos seus filhos, mas ao votarem num partido específico tenham atenção aos valores mais altos dos escritos sagrados, os valores do matrimónio e união entre duas pessoas, obviamente entre um homem e a mulher". A forma como isto foi dito foi muito ao jeito de "Ai, ai, ai, vejam lá o que é que fazem... olhem que o caminho para o inferno está ali ao virar na esquina, vejam lááááá...!!!
Mas porque é que esta gente não fica nas suas igrejinhas pomposas a pregar os seus supostos ideais a quem lá os quiser ir ouvir? Porque raio é que lhes dão tempo de antena para dizerem estas idiotices retrogradas? Preocupem-se mas é com o que muitos padres andam a fazer às portas fechadas. Mas nisso já não interessa falar, claro. Ineressa-lhes é meter o bedelho relativamente a quem casa com quem. Uau, que heresia duas pessoas do mesmo sexo quererem ficar juntas! Heresia é perder-se ainda tempo a discutir um direito destes, um direito que qualquer cidadão devia ter já há muito! Se se preocupam tanto com a humanidade, caramba, duas pessoas que querem casar vão prejudicar quem? Ai esses valores senhores padres!


http://suspeitas.blogs.sapo.pt/84030.html

Diplomas sobre avaliação dos professores são ilegais

Especialista em Direito do Trabalho diz que Estatuto da Carreira Docente é inconstitucional.

“Claramente violador” de princípios constitucionais, padece de “inquestionável e incontornável legalidade”, “manifestamente ilegais”. É assim que o especialista em Direito de Trabalho, Garcia Pereira, qualifica os diplomas que nos últimos três anos “incendiaram” as escolas portuguesas - o decreto-lei que alterou a estrutura da carreira docente e os decretos regulamentares sobre o modelo de avaliação de desempenho.

Num parecer preliminar ontem divulgado pelo grupo de professores que o contratou, Garcia Pereira responde também, pela negativa, à questão que nos últimos tempos tem oposto professores, presidentes de Conselhos Executivos e Ministério da Educação: a entrega, pelos docentes, dos chamados Objectivos Individuais, que foi apresentada pelo ME como primeira etapa da avaliação. Para o advogado “nenhuma obrigação existe fixada por norma legalmente válida, da apresentação pelos docentes dos respectivos objectivos individuais”.

No seu parecer, ainda em fase de conclusão, Garcia Pereira faz suas as reservas manifestadas pelo juiz do Tribunal Constitucional, Mário Tavares, sobre o Decreto-Lei que instituiu o novo Estatuto da Carreira Docente. Em vigor há dois anos, esta lei, que está na origem da actual contestação dos professores, dividiu a classe em duas categorias hierárquicas: professor titular e professor, contabilizando para o efeito apenas os últimos sete anos e valorizando nestes o exercício de cargos administrativos.
(in Público)


Aos que querem saber mais, ficar mais descansados, aos que ainda não sabem se devem entregar os seus objectivos individuais, é muito importante ler:

http://www.saladosprofessores.com/a-educacao-do-meu-umbigo.html

Aqui está explicado, por A mais B, toda esta palhaçada e o porquê dos medos não poderem fazer sentido.

Blame it on Rio

Começou com um ensaio fotográfico no Rio de Janeiro e, rapidamente, se passou para um divulgado caso, verdadeiro ou não, de Madonna com um modelo brasileiro de seu nome Jesus Pinto da Luz. Madonna e Jesus, com Luz pelo meio, ora que ligação pseudo-religiosa/herege perfeita para o media lançarem tinta.
Com o título de "Blame it on Rio", Madonna é fotografada por Steven Klein, com visual de Arianne Phillips e direcção artística de Giovanni Bianco. O resultado sai em breve na revista "W" americana.
A história de uma socialite que, em visita ao Rio de Janeiro, durante e após uma festa com belos rapazes brasileiros, se interessa por um deles e o leva para o quarto. Mas, no final, a companhia é a solidão dos seus vícios.

(clicar nas imagens para ampliar)





It's all a ilusion

Não aprecio a voz do moço mas a versão está absolutamente maravilhosa!


(Get Together version)

Miluzinhos e Socretinos

Hoje foi o dia limite para entregar os objectivos individuais na minha escola.
Hoje foi o dia em que muitos lá foram entregar um papel com objectivos que sabem, à partida, estarem atingidos.
Hoje foi o dia em que muitos foram entregar um papel com objectivos que, por lógica, deviam ser estipulados no início do ano lectivo, não a meio do mesmo.
Hoje foi o dia em que muitos lá foram entregar um papel com objectivos que supostamente se propõem a atingir mas que já atingiram há meses atrás.
Hoje foi o dia em que um papel fez a diferença, uma grande, grande diferença.
Hoje foi o dia que separou aqueles que obedecem a uma política educativa completamente absurda daqueles que continuam em pé, sem desistir, sem caminhar num chão que todos sabem tortuoso, pedregoso, medíocre, lamentável, sem sentido, que não premeia quem, efectivamente, merece, mas que talvez venha a prejudicar quem não desiste das suas convicções e sabe que ser professor não é isto. E há tão maus mas também tão bons professores.
Mas hoje a bitola deixou de ser essa. Hoje os bons não se destacam dos maus. Hoje destacam-se os que lutaram e lutam dos que lutaram e desistiram. Por medo, por cobardia, por comodismo, ou mesmo porque se aproveitam da situação para subir com a queda dos outros.
Hoje foi o dia em que os professores deixaram de coser buracos em mantas a que o ministério já os habituou e começaram a ser participantes na construção dessa manta tão defeituosa, cada vez mais desgastada.
Hoje foi o dia em que, num ambiente escolar aparentemente habitual, notei uma grande diferença. Ninguém falou de carreira docente, de política de educação, da ministra, do primeiro ministro, de objectivos individuais. Assunto tabu, hoje, neste dia.
Ninguém mostrou objectivos a ninguém. Ninguém falou de entrega ou não entrega. Ninguém abriu a boca para falar. Quase todos desempenhavam os papéis esperados no palco da sala de professores, à porta da escola no canto do tabaco. Reinou o silêncio constrangedor, o não saber se falar ou não no assunto. Reinaram as conversas de circunstância. Ninguém falou de "escola", da escola que a todos cada vez mais dói, onde cada vez menos gostam de estar.
Ironicamente, ou talvez não, aos que hoje entregaram os objectivos individuais, um muito obrigado.
Obrigado por mostrarem que, na hora "h", são cordeirinhos.
Obrigado por fazerem a ministra e o primeiro ministro sorrir.
Obrigado por mostrarem que, mais uma vez, somos uma classe dividida.
Obrigado por tão bem contribuírem para essa divisão.
Obrigado pelos valores profissionais e de cidadania que demostraram ter.
Obrigado por usufruirem de um venenoso direito que não faz sentido.
Obrigado por aderirem ao clube dos Miluzinhos e Socretinos.
Obrigado por mostrarem que, mais uma vez, os portugueses são portuguesinhos, pequeninos e fracos.
Obrigado por, no limite, apenas se importarem com os vossos umbigos, preterindo a união.
Obrigado por cimentarem mais ainda a opinião que tenho desta classe e deste país. Opinião que também terão mas que nada fazem em contrário.
Espero que hoje durmam bem. Espero que amanhã peguem convictamente num livro de ponto. Espero que amanhã saibam olhar para os colegas. Espero que amanhã entrem de cabeça erguida na escola.
Espero não vê-los em mais nenhuma manifestação.
Espero que não mais façam greve e quando elas existam, façam o favor, comecem a ser coerentes e vão trabalhar. Afinal, é para isso que vos pagam. Para obedecer. Para serem muito bons, excelentes e obedientes professores.
Hoje foi o dia em que alguns, talvez muitos, se sentiram, entre outras coisas, tristes, muito tristes.
Hoje foi o dia em que outros, com um triste papel na mão, se inscreveram no clube dos Miluzinhos e Socretinos.
Hoje já atingiram um grande objectivo individual.

Soulmate

Já não sei o que é isso do "soulmate", se é que alguma vez soube, se é que tal existe. Mas adoro, adoro esta música.



Incompatible, it don't matter though
'cos someone's bound to hear my cry
Speak out if you do
You're not easy to find

Is it possible Mr. Loveable
Is already in my life?
Right in front of me
Or maybe you're in disguise

Who doesn't long for someone to hold
Who knows how to love you without being told
Somebody tell me why I'm on my own
If there's a soulmate for everyone

Here we are again, circles never end
How do I find the perfect fit
There's enough for everyone
But I'm still waiting in line

If there's a soulmate for everyone

Most relationships seem so transitory
They're all good but not the permanent one

Who doesn't long for someone to hold
Who knows how to love you without being told
Somebody tell me why I'm on my own
If there's a soulmate for everyone
If there's a soulmate for everyone

(Natasha Bedingfield)

Cor-de-rosa

Intrigava-o aquilo. Já era a segunda vez que conseguia, por porta entreaberta, perceber que era rosa, a casa da vizinha estava a ser pintada de rosa. Primeiro percebeu que o hall estava todo rosa, dias depois conseguiu perceber que a sala também de rosa tinha pintadas as paredes. Ok, é uma mulher ainda jovem, bonita, atraente e as todas as mulheres gostam de rosa, sobretudo aquelas muito femininas, como ela lhe parecia. Gostava de cor-de-rosa, pensou. Mas intrigava-o. Tanto rosa.
Quando se cruzaram nas escadas, a vizinha tinha uma ou outra mancha rosa na t-shirt de alças branca, nas calças de fato de treino cinzentas. Era uma mulher sexy, sem dúvida. Uns peitos altivos, sem sutien, mamilos bem nítidos, por baixo da t-shirt. Era intrigante, excitante, inquietante. Andava a pintar e andava a pintar, pelo menos, desde o fim-de-semana. Já era quinta-feira e a vizinha andava ainda a pintar. Certamente não ia trabalhar, ouvia barulho de cadeiras a arrastar, de móveis a arrastar a qualquer hora que chegasse ou saísse de casa. Ela estava a pintar a casa. Mas porquê tanto rosa, pensava. Um exagero. As mulheres são exageradas. Mas aquilo era mesmo um exagero.
- Anda nas pinturas... arriscou um dia quando meteu a sua chave à porta e a vizinha saía com a roupa cada vez mais suja de rosa, de dois ou três tons de rosa até. Estava suada, o que a tornava ainda mais sensual.
- Sim, mas tenho de ir comprar mais tinta. Esta não chega.
- Precisa de ajuda?
- Não obrigada, tenho de fazer isto sozinha, só eu.
- Mas é uma trabalheira... e a casa nem é muito pequena. É a casa toda? Vai ser toda?
- Sim, toda. Dá trabalho mas tem de ser. Antes de me ir embora.
- Mas vai-se embora?
- Sim, vou deixar esta casa e vou para outra.
Ela vai-se embora, que pena, pensou ele. Vai-se embora e anda a pintar a casa? Estranho.
- Olhe, eu ando meio desocupado, se quiser ajuda não me importo nada. Até gosto de pintar... e tenho muitas horas livres.
Ela sorriu com ar maroto.
- Não, deixe ‘tar. Eu cá me arranjo. Obrigado, de qualquer forma.
Intrigava-o aquilo. Agora mais do que nunca.
- Boa tarde. Desculpe estar a incomodá-la mas ia aqui a entrar em casa e ouvi um roçar na sua porta. Está tudo bem? Desculpe incomodá-la.
- Sim, tudo bem. Estou a pintar a porta da rua por dentro. Deixe-me abrir melhor. Desculpe lá.
Estava agora mais do que intrigado. Completamente boquiberto. O hall, a sala, o corredor, o pouco que via do quarto, tudo pintado de rosa, tudo. Paredes, tectos, cada móvel que conseguia ver, cada almofada, cada vela, os candeeiros, os bibelots, tudo aquilo que a vista alcançava. Tudo pintado de cor-de-rosa, desde o mais escuro ao mais claro, passado pelos tons mais chocantes.
- Sim, eu sei que é estranho, mas tem de ser - sorriu ela, com certa condescendência, percebendo a indignação esperada do vizinho.
- Tem? Bem, só falta o chão – brincou.
- Ah, isso é no fim. Fica para último. Está quase.
- Bem... estou... gosta mesmo de cor-de-rosa! – continuava ele incrédulo.
- Eu??? Odeio. – Soltou um ligeiro riso.
- Odeia??? Então mas... está tudo cor-de-rosa, tudo mesmo, não é?
- Sim, é esse o objectivo. Ainda não sei bem se pinte o interior dos móveis. Isto cansa.
Até as tomadas estão rosa, pensou ele.
- Mas odeia mesmo ou está a gozar?
- Odeio. É a cor que mais odeio. Não suporto mesmo. Rosa e amarelo. Gosto das outras todas, sobretudo de azul e roxo. Mas desta cor horrível... odeio, acho mesmo um nojo! E agora então ainda mais. Ando nisto há duas semanas.
- Não percebo.
- Deixe lá, eu sou maluca. Estou maluca, melhor dizendo. É o que toda a gente pensará, mas eu cá sei. Cada um com a sua mania, não é?
- Desculpe, é que é estranho pintar todas as divisões da mesma cor, ainda por cima uma cor tão forte. E está tudo, tudo mesmo pintado, não são só as paredes, pois não?
- Não, então não vê que não? Está horrível, não está?
- Bem... fica um bocadinho cansativo.
- Um bocadinho? Isto é de loucos. Quase que dá vómitos. Nem imagina quanto. Já não suporto, dá-me tanto raiva.
- Mas então não entendo, desculpe.
- O objectivo é esse mesmo. É uma estratégia, sabe?
- ...
- Sabe, às vezes gostamos tanto, mas tanto, de uma coisa na nossa vida que temos de pintá-la das piores cores possíveis para deixarmos de sofrer. É simples. É o que eu estou a fazer. Estou a torná-la feia, horrível, percebe? Dá trabalho, muito trabalho, custa, custa muito, mas tem de ser. Só assim consigo deixar esta casa. Só assim. Lembro-me dela assim horrível e pronto, o antes fica camuflado. Está lá por baixo, mas esta cor horrível tapa tudo. É mais fácil assim. Pinta-se para esquecer o que se gostava tanto. Percebe? Não? Deixe lá.
- Mas está lá. A sua casa, como gostava dela, está lá. É a mesma casa. Está aqui, aqui por baixo da tinta, com as cores que tinha antes. Vai deixar de tê-la, vai deixar de vê-la, mas ela está aqui. E por baixo desta cor... No fundo sabe que ela não é assim como está a pintá-la agora, como quer vê-la agora.
- Sim, sim... por isso vou dar mais demãos por cima.
- ...
- Vá, não se preocupe. Isto ainda demora e vou tentar não fazer muito barulho. É o arrastar as coisas, sabe?
- Não, não é isso. Não faz muito barulho.
- Mas já faltou mais, mais uns dias e isto fica. Feio. É assim que tenho de recordar.
- Tem a certeza?
- Os loucos não têm a certeza de nada, nem os outros quanto mais.
- Não a acho louca – estava a ser sincero. Ela parecia-lhe tão normal e... tão apetecível.
- Acha, acha, claro que acha – riu-se - Mas não faz mal. Estou quase de partida.
- Não vá – arriscou.
- Não? Então? Vou, vou. Tem de ser. É pintar isto tudo e sair daqui. Só assim consigo.
- Tem a certeza? Não acha que a casa, como ela era e a viveu, essa sim lhe ficará na memoria? E isso não tem de ser mau. É sinal de que teve uma casa que linda da qual gostava, isso é bom. Vai-se embora mas teve-a e foi feliz aqui, isso é bom. Porquê pintar tudo para lhe parecer feio.
- Olhe, deu-me uma ideia.
- Dei?
- Sim, quer dizer, lembrei-me agora. Vou partir umas coisas aqui – riu-se.
- Partir? Mas... mobílias???
- Sim, é melhor ainda. Recordar algo feio, horrível e cheio de defeitos. Perfeito! Vá, com licença... e desculpe o barulho.
- Mas não está a entender, o que eu quero dizer é que...
- Estou, estou, muito bem até. Mas cada um arranja-se como pode. Vá, não me ponha coisas na cabeça, homem - riu-se.
Intrigava-o aquilo. Intrigava-o tudo aquilo. Intrigava-o ainda mais ter vislumbrado, enquanto a porta se fechava, que aquele rosto, o rosto daquela mulher tão atraente, pensando que ele já não a via, num segundo, deixou de sorrir. Os lábios cerraram, os olhos pesaram e a porta fechou. Por segundos, ele percebeu, ela deixou de sorrir.

Revolutionary Road



11 anos depois do adorado e detestado Titanic, o duo DiCaprio-Winslet é obrigado a interpretar cenas de uma enorme carga emocional. E tanto um como outro são muito, muito bons no filme. Ela continua com ar de mulher madura, ele com ar de miúdo. Só isso não joga tão bem no filme.
Sam Mendes, marido de Kate Winslet, conta a história em função destas personagens e fixa a câmara nos dois protagonistas, quase sempre como se de uma peça de teatro se tratasse.
Este é um filme de actores e “Revolutionary Road” apresenta-nos algumas das melhores interpretações dos últimos anos. Mais uma vez DiCaprio não está nos Oscars. Kate Winslet, mais uma vez soberba, venceu o Globo de Ouro e, estupidamente, só não está nomeada para o Oscar neste filme porque está nomeada por “The Reader”. Nomear a mesma actriz por dois papéis principais é coisa que a academia ainda não interiorizou fazer sentido. Nos Globos ela venceu, como actriz principal, por este filme, e como secundária pelo filme que lhe dá a nomeação como actriz principal nos Oscars. Faz sentido? Não.
A tensão emocional lê-se nos olhos dos actores e, para além disso, Mendes conta a história (para vários críticos banal, aborrecida, pretenciosa) com mestria, serenidade e coragem.
Destaca-se também Michael Shannon que interpreta, extraordianariamente, um homem aparentemente louco, mas que acaba por ser o único a visionar as verdades por trás de uma cadeia de mentiras. Como único a perceber e até desafiar o funcionamento da sociedade, a sua personagem é imediatamente classificada de “louca”. Mas quem é ali louco afinal?
“Revolutionary Road” é um filme que faz pensar e que, de certo modo, transforma o “sonho americano” e o de muitas outras sociedades numa mentira e a “casa dos nossos sonhos” numa autêntica prisão. Só não vê quem não quer ver.

Se estivesses comigo agora

Se estivesses comigo agora
para viver o que não foi possível
para amar o que foi esquecido
e esquecer o que não pôde ser amado.

Se estiveres agora
a viver o imprescindível
a fazer o desnecessário
a sentir o inesperado...

Se o imprescindível for amar-me
o desnecessário esquecer-me
o inesperado encontrar-me...

Se o imprescindível for a carne
o necessário os outros
o inesperado o sentir.

E antes de imaginarmos
o que não será
lembrarmos de que tudo é.

Mas na dor da demora
há sempre uma pressa
a certeza de já ser hora
quando a hora a seguir pode ser essa a nossa hora.

Quero ainda acreditar
Quero viver o impossível
sonhar a realidade
acreditar no amor...

Amar-te
Sentir-te
Viver-te

imprescindivelmente
inesperadamente
necessariamente.

Ainda perco tempo com isto.

- E quem é que vai ver a Beyoncé, quem é? Todos, né?
- Vem cá?
- Claro, não sabias???
- Não.
- Vais, claro. Vamos todos.
- Eu não vou.
- Não??? Então porquê? Ainda há bilhetes.
- Sim, ok, mas não é isso. Não quero ir.
- O quê? Como é que é possível?
- Não aprecio particularmente.
- O quê?
- Sim, não ligo muito.
- Ela é a melhor! As bixas todas vão.
- Pois, eu não vou.
- Mas que mal tem a Beyoncé?
- Mal nenhum, eu é que não ligo.
- Mas ela é o máximo, como é que é possível alguém não querer ir!?
- Pois, são opiniões, não é a minha.
- Pois... já conheço o teu tipo.
- Desculpa??? O meu tipo?
- (risos) Sim, claro, este é daquelas bixas intelectuais que só ouve músicas que ninguém ouve, só porque fica bem.
- Desculpa? Eu ouço música comercial, rapaz.
- Deves, deves. Pior ainda, ouves e não admites que ouves.
- Eu estou a admitir, homem. Simplesmente não vou ver a Beyoncé.
- Olha, esta é daquelas que diz mal das divas.
- Desculpa? Por acaso, tirando uma ou outra, não ligo muito, não. Até me irritam... elas e as músicas. Algum problema com isso?
- Problema tens tu, mulher.
- Desculpa?
- Estas bixas são mesmo engraçadas, não têm dinheiro para ir ver a Beyoncé e depois dizem que não vão porque não gostam.
- Desculpa?
- É não é. Porque é que não admites, vá lá.
- Desculpa?
- A Beyoncé é o máximo, um icon a todos os níveis e quem não vai ao concerto é por estupidez.
- Desculpa? Mas agora eu tenho de ir ao concerto só porque sou gay? Tenho de gostar da Beyoncé ou de quem for? Era o que faltava! Que estupidez, digo eu.
- Olha, a bixa ainda por cima é mal educada, não tem modos, educação. Conheces-me de algum lado para me chamares estúpido?
- E tu conheces-me de algum lado para fazeres uma dissertação sobre mim, com base numa coisa destas?
- Oh filha, bixas como tu cheiro à distância. Muito finas, muito finas mas umas porcas na cama. Umas desesperadas que andam com este e aquele. (risos)
- Desculpa? O que é isso tem a ver? Estás com os copos, só pode.
- Na hora "h" andam todas no gaydar a engatar e aí já deixam de ser finas e intelectuais e já comem tudo o que lhes aparece à frente.
- Pó caralho!
- Pois, é disso que tu gostas. Ainda por cima é mal educada. Haja paciência.
- Exacto, haja paciência.
- Ai é tão fácil meter uma bixa no seu lugar. (risos) Tão finas e depois não sabem argumentar.
- Exacto. E tu sabes argumentar tão bem, não é?
- És muito arrogante, sabias?
- Sim, perfeitamente.
- Não vou queimar os meus neurónios contigo, olha a bixa.
- Exacto, não te canses. Tu estás muito à frente.
- Estou à frente, estou por trás, por onde quiseres, amor.
- Não canses os neurónios. Um deles deve estar mesmo farto dos argumentos do outro.
- Eu não tenho 2 neurónios.
- Pois, bem me parecia. Dá a mãozinha ao único que resta e vão os dois ver o concerto da Beyoncé.

Bent

Bent é uma peça de teatro de 1979 de Martin Sherman (com Ian McKellen na sua produção inicial no West End, em Londres, e Richard Gere, na produção da Broadway, em Nova Iorque, que seria em 1997 adaptada a cinema pelo realizador Sean Mathias). Trata-se da perseguição de homossexuais no Terceiro Reich, na Alemanha, pouco antes da 2ª Guerra Mundial.

Quando a peça estreou não havia praticamente nenhuma pesquisa académica nem informação pública sobre a perseguição aos homossexuais pelos Nazis nem da destruição do Institut für Sexualwissenschaft (Instituto para o Estudo da Sexualidade), em Berlim. De certa forma, a peça estimulou a pesquisa histórica sobre o assunto nos anos 80 e 90.
O título da peça e do filme, Bent, tem que ver com o termo do calão que, em alguns países da Europa, é utilizado para designar os homossexuais.

Max (interpretado por Clive Owen no filme), é um gay promíscuo dos anos 30 em Berlim, cujas relações com a sua família rica são difíceis devido à sua homossexualidade. Uma noite, para desgosto do seu namorado Rudy (Brian Webber), trouxe para casa um soldado das SA. Hitler tinha decidido acabar com a SA, que tinha a má fama de ter demasiada homossexualidade no seu seio. O soldado é descoberto e morto pelas SS no apartamento de Max e Rudy e os dois são obrigados a fugir de Berlim.
Freddie (Richard Gale na produção do West-End, George Hall na da Broadway e Ian McKellen no filme), o tio de Max, também gay, mas que vive uma vida mais discreta com prostitutos, consegue arranjar documentos de identificação falsos para Max, mas Max recusa-se a deixar o seu namorado. Max e Rudy são descobertos e presos pela Gestapo e colocados num comboio para o campo de concentração de Dachau. Pelo meio há o Mick Jagger como drag queen.
No comboio, Rudy é espancado até à morte pelos guardas e, enquanto grita por Max ao ser levado, Max é obrigado a penetrar uma rapariga morta para "provar" que não é homossexual. Max mente aos guardas, identificando-se como Judeu, julgando que as suas hipóteses de sobrevivência serão maiores se não tiver que usar o triângulo rosa indentificativo dos homossexuais nos campos de concentração.
Em Dachau, Max faz amizade com Horst...

Bent tenta mostrar, entre muitas outras coisas, como a homossexualidade existe em todas as classes da sociedade e como nem todos os homossexuais foram vítimas durante a guerra. Se muitos gays que eram pobres (como Horst) ou demasiado inocentes (como Rudy) acabaram nos campos de concentração, outros utilizaram o seu dinheiro (como o tio Freddie) ou o seu poder (como o comandante do campo de concentração e alguns oficiais alemães) para se manterem afastados de problemas.

Esta peça, adaptada ao cinema, foi a primeira obra de cultura popular a apresentar os gays como vítimas do Holocausto, e ajudou à pesquisa histórica e à realização de documentários retratando o destino dos homossexuais na Alemanha Nazi.

Vi o filme, por acaso, inicialmente sem grande atenção e interesse. Desconhecia a história, nunca tinha ouvido falar do mesmo, estava cansado de um dia intenso, sem vontade de olhar para um ecrã de tv e pensando ser mais um daqueles filmes de temática gay de qualidade duvidosa. A certa altura fiquei pregado ao ecrã e assim permaneci até ao fim.

Um retrato doloroso sobre o Holocausto e a homossexualidade, mas sobretudo sobre a união, o amor, o ser humano e a vida.
Há diálogos e cenas absolutamente extraordinários, de uma dor, tristeza e beleza imensas.
Entre outras, tem uma das mais marcantes cenas de amor (sexo, se se quiser) da história do cinema. Entre dois homens que não se tocam, que nem se olham.
Um filme incrível, por tudo e para todos, obrigatório.

"- We dont' have to miss it.
- We can't look at each other, we can't look.
- We can feel.
- What?
- Each other."

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia