Tao bem que se estava ali.

É certo e sabido que, desde há muito, a zona ribeirinha da Área Metropolitana de Lisboa está algo abandonada. Fábricas, contentores, armazéns e campos vazios fazem parte da paisagem muito deixada ao acaso. Em ambas as margens, quilómetro após quilómetro, a paisagem chega a ser desoladora. Quase como que uma barreira de edifícios, lixo, depósitos que separam os cidadãos do Tejo.
“Lisboa está virada de costas para o Tejo” é uma frase que sempre saltitou na sua cabeça.
Na última década a situação tem mudado. A Expo 98 serviu de impulso a que várias janelas se abrissem ao rio. Lisboa, bem como várias localidades limitrofes, começou a ver os seus habitantes a vivenciar o Tejo.
Hoje à tarde, vindo do trabalho, um sol esplendoroso chamou-o a fazer parte desses lisboetas.
Tinha uma consulta marcada, tinha de correr um ou dois stands de automóveis, tinha de ir ao supermercado para rechear um pouco o frigorífico vazio mas não, não ia recusar o chamamento.
Fez um desvio e dirigiu-se à esplanada do Piazza di Mare. Apesar dos preços exorbitantes e da lentidão extrema do funcionamento, é um espaço que sempre o agradou. Tantos momentos bons, outros menos, ali já havia vivido.
Antes de se sentar foi chamado a um passeio. Queria ar, céu azul, gente à sua volta. Mas, sobretudo, queria estar ali junto ao Tejo.
Ainda pegou no ipod mas voltou a guardá-lo. Não quis ouvir música. Queria ouvir o som de vozes à sua volta, dos carros a passar a ponte, da água. Todos os sons que caracterizam aquela margem.
Andou uns dois quilómentos, sem dúvida. Depois lá se sentou na esplanada com umas poucas mesas ocupadas. Inspirou e recostou-se na cadeira a olhar o rio e toda aquela ambiência.
Dois velhotes sentados mais ao longe, aqui e ali um ou outro pescador insistente, uma rapariga que passa a correr, dois adolescentes de bicicleta, um casalinho enamorado, duas senhoras de passo lento em conversa preocupada, um homem a brincar com o filho e o cão... o costume. O costume dos fins-de-semana, em menor quantidade durante a semana. Um costume tão bom que o fazia sentir-se numa cidade bonita, civilizada, agradável.
Há uns anos seria assim? Não era, certamente. Quanto muito aos fins-de-semana por ali andava alguém, uns ou outros. Agora também o rio era vivido a uma terça-feira.
Pediu o que tinha a pedir a uma simpática empregada e apeteceu-lhe ainda dizer: “Traga-me também uma bicicleta, um cão, um filho, um amigo para aqui conversar comigo e já agora, se não der muito trabalho, tudo mais baratinho, ok? É que vocês aproveitam-se do Tejo para encher os bolsos porque sabem que ainda não há muitos espaços assim nesta velha cidade. Sacanas! Ah, e se arranjarem lá nos fundos um namorado que não me saia caro, também pode vir. Obrigado.”
Ficou com uma vontade tal de rir que não conseguiu suster uma gargalhada que fez com que uns estudantes, da mesa ao lado, desviassem os olhos dos papeis e do computador. Olharam-no com certo desdém, quase como se ele fosse um palerma ali sentado a rir sozinho sem motivo algum. Uma atitude que em nada o incomodou.
Estava ali sozinho, apetecia-lhe ter alguém com quem conversar, mas tinha um sol e um rio maravilhosos para apreciar.

8 comentários:

TheTalesMaker disse...

You just call out my name
And you know wherever I am
I'll come running to see you again
Winter, spring, summer or fall
All you have to do is call
And I'll be there, And I'll be there
You've got a friend


Se me tivesses dito algo, teria o maior prazer de ter partilhado aquele bocadinho contigo.
Beijos

Anónimo disse...

A essa hora talvez não pudesse mas quando for assim e se quiseres companhia diz qualquer coisa pode ser que dê.
Adorava uma esplanadinha contigo.

Anónimo disse...

E fizeste muito bem ... por vezes também é bom apreciar esses pequenos e simples momentos sozinho ... percepciona-se certos detalhes com uma outra atenção, transmitindo-nos uma beleza de imagens, ritmos, sons, cores, cheiros para os quais não estaríamos porventura tão atentos, se estivéssemos ocupados de conversa com outra(s) pessoa(s). Sim, nessa ligação ao Tejo, do que me parece, também concordo que houve um reforço, neste caso positivo, intensificando o conceito do espaço vivido naquilo que melhor o caracteriza ... Lisboa e Tejo não são dissociáveis, caminham juntos ...

Anónimo disse...

Eu nem tenho tido tempo para isso mas gosto muito. :)

Anónimo disse...

é de aproveitar enquanto o outono a sério n chega.
E isso do Lisboa estar de costas para o rio é bem verdade mas tb é verdade que começa a mudar e ainda bem.
Gosto muito de passear na zona da Expo e ver que mtas pessoas fazem o mm.

Anónimo disse...

Tantos pedidos os teus. Olha que o Natal ainda tarda. lol
Tu gostavas mesmo muito de ter um filho, não gostavas? Parece que sim... Eu felizmente nunca tive esse desejo mas deve ser difícil para quem quer e não pode ter neste país q continua a tratar as pessoas com tantas diferenças.
Deve ser o pedido mais difícil infelizmente, porque os outros parece-me facil de conseguir. A biciclete, o cão, amigos para conversar nao te devem faltar (quando eu for a lisboa já sabes que quero estar contigo e pode ser nessa esplanada e vou aí em breve) e o namorado só não tens pq não queres. Ou andam todos ceguinhos ou então andas tu. lolololol

p.s -aquele meu amigo de lisboa está sempre a perguntar por ti e ainda está furibundo comigo porque eu não vos apresentei.

Anónimo disse...

Eu acho que tu és uma pessoa muito interessante para conversar de certeza.

Anónimo disse...

Ohhhh brama escreveste quase um poema, q lindo.

Achas mm ana?

Um filho? Para quê? Devias ser um bom pai devias. Pobre criança.
É por isso que os gays não deviam adoptar. Olha um paizinho como tu...