Not Gay but Queer, como e obvio!

Há uns tempos eram as "Top Models". No meio de milhentas, lá estavam as eleitas, as mais cobiçadas. A Linda, a Christie, a Cindy, a Elle, a Naomi, a Helena, a Cláudia, a Carla, a Karen e poucas mais. Apareciam em todo o lado, eram imagens de marca de tudo e mais alguma coisa, escreviam-se artigos sobre as moças, davam entrevistas, conheciam-se-lhes as medidas, os looks, uma panóplia de curiosidades bombardeadas aos cérebros até de quem nenhum interesse tinha no assunto mas que acabavam por ir sabendo umas coisas, quase para seu próprio ódio interno. Afinal, porquê o interesse em tais futilidades?
A verdade é que, muito por culpa da comunicação social, não eram "simples" modelos, eram "Top". E isso fazia toda a diferença. Chegaram a camuflar a aura das actrizes do cinema.
Depois, como seria de esperar, numa sociedade faminta de novidades, as ditas "Top" já eram tantas (parecia que surgiam a cada esquina, debaixo de cada pedra) que alguém se lembrou de criar o conceito de "Uber-Models" para distinguir o topo mais que topo da pirâmide. Uma moça escanzelada, pálida com olheiras e ar decadente de look londrino em riste, a tal Moss de que ainda tanto se fala a cada suspiro que a criatura dá, seguida de uma Gisele latina, esguia, esbelta com ar opostamente saudável. Mas o dito termo "Uber" não entrou no dialecto dos simples mortais. A coisa não pegou. As models passaram um bocado de moda e o conceito maravilha atribuído às moças não chegou a aquecer. A populaça cansou-se. Fala-se, e ainda muito, de umas 2 ou 3 e pouco mais. A era das "Top" esfumou-se. Chamar-lhes "Uber" só alguns o fizeram. Fala-se de algumas mas não apelando a tal terminologia.
Há uns anitos surge o misterioso, estranho, curioso e complexo termo "Metrossexual". Revistas, jornais e tv começaram a explorar o dito cujo. Viam-se reportagens sobre o tema, entrevistas, casos tipicos de sujeitos conotados com tal terminologia. O senhor Beckham era o rei da categoria. Um termo que se estranhou mas que se entranhou ao ponto de ser já pouco estranho para a maioria. O simples cidadão refere o termo com uma naturalidade de quem sempre o teve no seu dicionário mental. Chega a utilizá-lo também para mostrar que é culto e moderno usando um tom carregado e sublinhado quando diz "Metrossexual".
E quando um termo se torna banal, o que é que se faz? Cria-se outro, pois então!
E foi assim, no avião a caminho de Berlim, que me foi apresentado, via reportagem de várias páginas, numa das revistas da praça, o termo "Uberssexual". O que é? Quem é? Como é? Vantagens e desvantagens em relação à Metrossexualidade, entrevistas, opiniões, enfim. Tudo ali a explicar a coisa.
A que ponto chegámos, pensei. O que mais irão inventar!?
Ainda não estava minimamente preparado para mais novidades terminológicas actuais, quando, 3 semanas depois, num jantar de supostos amigos, fico a saber que o Festival de Cinema Gay de Lisboa (onde nunca fui nem sei se irei, para grande estranheza de muita gente que para mim olha de forma indignada quando o digo), este ano se passará a chamar Festival de Cinema Queer ou Queer Cinema Festival (que soa sempre a internacional e mais chique. Sim, porque é em Portugal, em Lisboa, mas convém sempre uma inglesada para se tornar muito mais apelativo), ou algo que o valha.
Já há tempos que havia percebido que o termo Queer deixou de ser prejurativo, como em tempos o foi e muito. Mas porquê mudar de Gay para Queer? Indaguei.
Olharam-me quase como se minha questão fosse a coisa mais absurda alguma vez ouvida.
Porque os cinemas internacionais do género são, há anos, denominados de "Queer", portanto o "nosso" convém que também seja. Assim, o mundo sabe do que se fala, explicaram-me. É mais internacional, disseram-me. Chama mais gente da comunidade. É algo mais intelectual e elitista. Uau, que bom. Fiquei não só esclarecidíssimo como contente com o exposto, de facto.
E gay não é um termo internacional? Mais uma vez a ousadia de uma pergunta estúpida seguida de olhares a mostrar isso mesmo. A mostar uma espécie de "coitadinho, ele está tão atrás."
Gay já é muito banal, toda a gente usa. Vulgarizou-se. Gay já não cria impacte, passa ao lado. Queer é muito mais fashion. É intelectual e chique. Em Inglaterra, há muito que o termo é usado até como um certo estatuto, foi-me explicado de forma sorridente por um sujeito de tal nacionalidade, ao meu lado sentado.
Pronto, assim sendo está explicado e com toda a lógica. A lógica de alguém, ao que parece de muitos.
Meus queridos queers, obrigado pelos ensinamentos. Qual aluno do ensino especial lá aprendi mais umas coisas, aparentemente, tão fáceis de entender para a maioria de uma dita comunidade onde tenho, cada vez mais vejo isso, real dificuldade em me integrar.
Pelo menos vou aprendendo umas coisas super fashion. Peço desculpa, acho que fashion também não se usa muito, agora é super "Trend".
Por este andar, um dia, ainda vou ver aí nos escaparates alguma personalidade que é "Uberqueersexual" com o "Trend" no início, no meio ou no fim, quiçá.

7 comentários:

Anónimo disse...

Uberssexual? Fiquei curioso. Bem, mas pelos vistos não ha-de faltar muito para toda a gente saber o que raio é isso. Quando se começa a divulgar pronto.

Queer? Então mas isso não é amaricado, abixanado, paneleiro, coisa do género? Pois eu prefiro ser gay do que isso. Soa-me mal.

O orgulho gay já me irrita quanto mais isso de orgulho queer.

Adorei o termo que inventaste e sim já não deve faltar muito para aparecer algo do género.

Anónimo disse...

Não sabias do Queer? Em que mundo é que o menino vive?

Anónimo disse...

Pois eu também não sabia do queer e estou mais que farto de paneleiragem, sim, porque para mim o que é altamente amaricado é esta invenção de termos para chamar as atenções, estas coisas que já me desgastam e calcinam o cérebro de super chiques e merdas tais. Esses termos são para mim uma cagança mais que desnecessária, não interessam para nada e, seguindo a própria ideia do teu texto, são absolutamente descartáveis, hoje o máximo, amanhã ninguém se lembra.Como diz o rui, se a ideia de orgulho gay já é irritante e até uma ideia descabida de qualquer sentido, então orgulho queer, por favor, que tristeza tamanha. Sabes que conclusão retiro, estou mesmo a cansar-me deste universo de coisas, depois não admira que os heteros vejam os gays, digo, os queers, sempre com alguma estranheza e gente a precisar de ajuda rápida.É normal que pensem porque isto revela bem a capacidade humana de se perder tempo util com assuntos estéreis.Nunca pensei que a simples condição de uma pessoa ter esta ou aquela orientação sexual, permitisse tão avultados malabarismos mentais e depois dizem que eu é que sou complicado. Lamento a alteração na designação do festival de cinema.Lamento imenso o ar desse grupinho com que estavas a olhar para ti como um ET, até parece que isso é assunto de Estado. Lamento cada vez mais o total desinteresse que observo nas pessoas à minha volta. Só gostei da primeira parte, pelo menos recordou-me aquelas ninfas de rara beleza na passerelle.

Anónimo disse...

Assino por baixo do brama tirando a parte em que ele diz q só gostou da 1ª parte. Eu gostei do post porque desconhecia os termos uber e n sabia que queer agora era uma coisa boa.

Anónimo disse...

O que é isso de uberssexual? Acima de sexual? Inventam-se coisas...

Eu sou gay, homossexual e chega. Esses cognomes infelizes não os aceito e fiquei muito irritado quando soube que tinham mudado o nome do festival, ainda por mais por motivos desses.

Anónimo disse...

Pois o menino é super trend, super fashion, super o que quiser e ainda mais se ignorar essas coisas de gente desocupada que se preocupa com terminologias para uma comunidade homossexual que se critica a ela mesma e quase faz questão de se afastar e enfiar num gheto porque acham que são superiores. Não, não são.

Anónimo disse...

E que tal Uberparvo?