Ovelhas

Detesto o termo: "Ovelha Negra".
Hoje olhei para a t-shirt de uma colega de trabalho e apercebi-me que, por muito gira que seja, e é, não faz muito sentido o desenho nela estampado. Nos dias de hoje não faz. Umas quantas ovelhas brancas alinhadas, muito sorridentes e divertidas... e no meio das mesmas, uma outra negra. Como se essa fosse uma no meio do rebanho. A negra, a ronhosa.
O mundo está cada vez mais cheio de ovelhas negras e são as brancas a excepção. As brancas constituem a excepção. São essas as mal vistas. Essas geram o ódio, essas que teimam em ir com o rebanho. Quanto muito são arrastadas porque dele fazem parte. Um rebanho sujo, escuro, negro, cada vez mais feio. Um rebanho de ovelhas que seguem a onda, as pisadas, os caminhos umas das outras sem respeito por nada. Caminha, pisam, passam por cima e pronto. Sem respeito por esses mesmos caminhos. O que interessa é caminhar. A vida é curta. O caminho é para percorrer, doa a quem doer.
As negras, cada vez mais negras, cada vez em maior quantidade, vão com as outras e acham-se até melhores por isso, com o argumento absurdo de que o mundo e o rebanho evolui e pobres, desgraçadas e infelizes são as brancas que não se apercebem disso.
As negras vão com o rebanho, cada vez mais negro, mas ainda ousam criticá-lo, quando fazem exactamente o mesmo que as ovelhas do lado. Simplesmente estão tão auto-centradas que nem se aperecebem do mal que propagam dia após dia. E quando se apercebem fingem que não. Não interessa, já passou, ficou para trás. Talvez se tornem mais negras assim. Mas fingem que não. Preferem nem perder muito tempo a pensar nisso. Vão com as outras mas é a sua lã, sobretudo essa, cada vez mais só essa que importa.
As poucas brancas, as cada vez menos brancas, por ali andam no meio do rebanho, no meio da caminhada. Umas vezes espreitam, outras mal se conseguem ver, nem convém. O rebanho rejeita-as, anula-as, faz que nem as vê. Quanto mais pisadas, enlameadas, sujas, forem, melhor. São elas que podem chamar mais a atenção e isso o rebanho não quer, não permite, não admite. As negras, cada uma delas, olham para a própria pelagem, desde que outra não seja considerado melhor, mais apelativo, mais desejado. As brancas que se sujem, que vejam a sua lã tornar-se mais negra, cada vez mais negra, é isso que pretende o rebanho no seu todo, cada ovelha negra em particular. Assim deixam de incomodar.
E, visto de longe, os tufos brancos são cada vez menos... É a vida, pensarão as negras. Está pensado. Toca a caminhar.

8 comentários:

Anónimo disse...

Confesso que me perdi a meio deste post... acho que estás a escrever sobre alguma situação ou alguém em particular, utilizando para tal esta metáfora da ovelha negra ou branca...mas não percebi ao certo onde querias chegar. Sou eu que não estou nos meus dias, talvez!

Mas, para mim, qualquer cor de ovelha pode ser boa ou má, depende do contexto e depende de quem analisa... pode ser bom ser desalinhado, reivindicativo, e aí é encarado como a ovelha negra ou pode ser, de facto, a ovelha negra porque se destacou pela negativa...

Graduated Fool disse...

Suspeitinha, não, não estou a escrever sobre uma situação ou alguém em particular.
Compreendo o teu ponto de vista e concordo com ele, mas aqui o negro é mesmo sinónimo de mau, não é bem a cor em si. É o negro enquanto metáfora.
Mas deixa lá, são generalidades escritas numa noite de insónias. É apenas some ridiculous thought, just it!

Anónimo disse...

Associei logo a Portugal, à situação negra do nosso país. Um rebanho cada vez mais negro com o branco a desaparecer.

TheTalesMaker disse...

Sim, cada vez mais na sociedade de hoje as pessoas estão numa de "se não os vences, junta-te a eles". E é mesmo isso que tem acontecido, as pessoas com maus exemplos têm se evidênciado e outros começam a ver isso como o único caminho também para se evidenciarem, para fazer parte e serem aceites num grupo.
Também por exemplo no mundo gay e mesmo hetero isso acontece. Se não és ou não estás dentro da norma que eles mais consideram normal (não é que supostamente seja), excluem-te. Ou seja, actualmente usam-se todos os meios para atingir os fins, numa total alienação de valores, moral e ética.

Anónimo disse...

Pronto, desconstruíste todo a ideia associada à ovelha negra e deste-lhe uma nova roupagem, neste caso, uma lã própria.
Eu por acaso tenho a ideia da ovelha negra como a que não segue tudo o que vê os outros fazer, argumenta, pensa, reflecte sobre o conjunto, a irreverente, a que cria polémica, faz perguntas melindrosas, ... mas aqui quiseste dar a ideia exactamente oposta, está interessante de qualquer forma e percebi o sentido do texto.
Seguindo a ideia do texto, quando as ovelhas negras, estiverem de tal forma atoladas na sua escuridão, na merda que fizeram e quiserem respirar um pouco e dar uma demão de brancura à sua sufocante e nojenta escuridão, talvez seja tarde e já não haja espaço para repôr o mal que entretanto grassou e contaminou tudo em seu redor. Nessa altura talvez já não haja nenhuma branca a quem recorrer para dar alguma aragem ao rebanho.Elas caminham sempre, caminham até ao abismo ...

Anónimo disse...

A imagem que tenho de ti é vestido de preto com umas calças camufladas que te ficam vai lá vai. Mas é só a roupa pq o resto é branquinho e lindo e não deixes de ser assim, por favor. Deixa lá o rebanho. Desses temos à nossa volta todos os dias, não são especiais, são todos iguais.
Eu não sou mto de vestir preto e acho q devias vestir mais roupas claras e coloridas mas é contigo. De qq forma o preto dá-te um ar mto chique e as calças camufladas (lá estou eu, mas é que ai, ai, ai,aiiiiiiii).

Anónimo disse...

Tantas leituras. Original, criativo, mto, mto bom!

Anónimo disse...

Começo uma rapariga que tem um t-shirt dessas. Agora já não vou olhar para ela da mm forma. Grrrrrr........