Esplanada... musica para os ouvidos.

Pegou no computador e foi para uma esplanada. Queria explorar o photoshop e não lhe apetecia estar em casa. Por muito ocupado que andasse, nem sempre era bom passar horas e horas a fio fechado entre quatro paredes. E a casa estava quente. Queria ar, céu azul, gente à sua volta.
Estava ali bem. Aquela brisa sabia-lhe tão bem. Adorava aquele local, aquela paisagem. Não quis ouvir música. Quis ouvir o som de vozes à sua volta.
Enquanto o computador ligava, inspirou e recostou-se na cadeira a olhar o Tejo. Levantou os braços, esticou-os e espreguiçou-se. Queria lá saber de educações e falta delas.
Na mesa ao lado estavam duas mulheres, talvez mãe e filha. Uma significativamente mais velha do que outra.

- A sério, não entendo...
- Não? Eu entendo. O que ele quer sei eu.
- Mas vocês sempre se amaram tanto...
- Sim, mas eu não estou para isto. O que o gajo quer sei eu.
- Mas que te disse ele, concretamente?
- Já sabes. Quer dedicar-se ao trabalho, sair com os amigos, agora tem lá uns novos no emprego, conhecer gente, organizar a sua vida e depois logo vê o que fazer connosco.
- As pessoas, por vezes, precisam de organizar as suas cabeças com tempo...
- Sim, mas ele que sempre falou do amor, sempre dissertou sobre o amor, agora está-se a borrifar para o amor. O amor não é assim tão importante para ele, é o que é.
- Será que está? Será que se está a borrifar?
- O que é que achas? Quando o amor é a coisa mais importante da nossa vida, não se faz isto, ou faz? Quer dizer, passa o tempo a enganar-me, faz um grande choradinho e depois agora vem com isto e ainda diz que eu não me preocupo, que não quero saber dos problemas dele, que sou egoísta... Egoísta? E não tenho de ser? E ele foi o quê?
- Mas tu não tens de querer saber dos problemas dele. Já devias era ter sido egoísta há muito tempo.
- Eu sei, mas preocupo-me muito com aquele estúpido e chateia-me muito que ele ainda reaja assim. Preocupo-me e ainda levo por tabela.
- Está confuso e tu também.
- Confuso? Eu digo-lhe o confuso. Confuso? Então se está, não parece. Segundo ele, ele sabe muito bem o que quer. Os amigos, o trabalho, a compra do novo carro e conhecer pessoas novas. Isto é confuso? Ele tem tudo bem delineado na cabeça.
- Tem as suas prioridades, como todos nós...
- Isso mesmo, estás a ver? Prioridades. E eu, o amor não somos prioridade. E será que alguma vez fomos? É absurdo tudo o que ele já me disse sobre o amor. Tudo para inglês ver e para se enganar a si mesmo. O amor isto, o amor aquilo. Fez-me recuar, fez-me balançar, porque sabe o quanto o amo, e depois “toma lá com as minhas prioridades”. Isto é o quê? Ele brinca com o amor, isso é o que é. Brinca comigo como quer e lhe dá jeito.
- Ele sabe que o amas e, de repente, viu-se sem ti. Sente-se perdido, de certeza. Ele ama-te, não duvides disso.
- Mas ama mais o carro novo, o trabalho, os amigos e as amiguinhas novas. Sim, o que ele quer sei eu. Andar por aí a conhecer amiguinhas novas, dar umas quecas e depois se lhe apetecer logo pensa em mim e em nós. Ele não me engana. Só nas últimas semanas foram, de certeza, umas duas ou três.
Anda a experimentar. Vê se gosta desta vida que leva e se gostar caga de vez para mim. Até pode ser que lhe apareça uma gaja melhor que eu e caga para mim. Se isso não acontecer, se se fartar, logo pensa se me quer de volta e eu não sou substituta, não sou segunda escolha. Só se lembra de mim quando se sente sozinho. Mas depois... e eu sou estúpida, é o que sou.
- Pois, entendo.
- Ele quer andar por aí a brincar e logo se vê. E enquanto isso brinca com os meus sentimentos. Ele quis-me quando se viu sozinho e infeliz. Depois foi-se habituando a estar sozinho, viu que não era nada mau, que até lhe dava jeito e afinal já não quis outra vez.
- E já lhe disseste isso? Que diz ele?
- Diz que eu não o entendo e que precisa de tempo.
- Que não o entendes?
- Sim, quando não se tem argumentos diz-se que não nos entendem.
- Não sei se será bem assim.
- É. Quando se sente triste lembra-se aqui da parva. E eu lá vou armada em cadelinha.
Porque é que tenho de amar aquele filho da puta? Se ele fosse mulher era uma puta. Bem, nem era porque essas fazem o que fazem mas não gozam com os sentimentos alheios. Eu na merda e ele a conhecer outras gajas. Liga-me muito armado em sincero, muito querido, muito incompreendido, cheio de explicações mas ao mesmo tempo anda com outras. Que ande! Não sei é como é que tem cabeça para as duas coisas. Até sei. Porque ele sabe é muito bem o que quer. Custa-lhe é a ele mesmo admitir isso, claro. Ele próprio, lá no fundo, acha que é o cúmulo, que é demais.
- Ele sofre.
- Sofre ou obriga-se a sofrer porque se sente mal em saber que eu sofro, porque se sente mal em já se sentir tão bem.
- Meu Deus, ele ama-te, tu sabes...
- Ele ama-me? Não me ama nada. De vez em quando tem é saudades, sente a minha falta, isso sim. Isso não é amor.
- Ele ama-te, sabes que sim. Mas está confuso, baralhado, precisa de tempo e agora está livre e aproveita ao máximo. Vocês estão separados, ele pode fazer isso e tu devias fazer o mesmo.
- Sim, eu sei. Ele que faça o que ele quiser. Rode as gajas que quiser. Não é por isso que digo que ele não me ama. Sexo não é amor.
- Então?
- Não é por andar aí com outras que eu acho ou deixo de achar que ele me ama ou não.
- Mas...
- Por favor, claro que não é nada por isso. Quem ama não pôe em segundo plano. Quem ama não brinca assim com quem ama. Quem ama não diz e desdiz desta forma. Quem ama não lança o isco e depois tira-o vezes em conta. Pega em mim, atira-me ao mar, pega em mim volta a atirar-me. Quem ama cuida, preocupa-se, evita fazer sofrer. E ele não faz nada disso.
- Ele tem de pensar também nele, na vida dele, no que quer fazer com ela.
- Sim, e depois? Uma coisa é pensar nele acima de tudo, outra coisa é que para ele não pensar só nele é pensar no seu umbigo.
- E os miúdos, achas que ele lhes liga alguma? Eu devia era ir para tribunal e ficar-lhe com uma mensalidade para as crianças, isso sim. Há meses que não lhes põe a vista em cima, diz que anda cheio de trabalho, que as coisas na empresa estão complicadas... e ainda me liga e diz, todo muito queridinho:“os nossos meninos”. Nossos? Belo pai que me tem saído, aquele. Nem um tostão para ajudar. É saídas à noite, copos, jantares, cafés com outras... Para isso tem ele dinheiro. Para pegar na merda do carro e visitar os filhos já não tem dinheiro. O Victor tem ido às consultas, continua com o problema dos ouvidos e achas que ele lá apareceu? Achas que deu ajuda para pagar as consultas, para os medicamentos? Não tem tempo, não tem dinheiro uma merda! Para outras coisas já tem.
- O que acho é que vocês estão a complicar tudo. Vocês amam-se e estão a entrar num circulo que destrói tudo isso. E isso sim é de lamentar, mais do que tudo.
- E quem criou este círculo? Hã, quem foi? A sério, estou farta. Já não aguento mais isto. Olha a figura que ando a fazer! Disse-lhe que estava de baixa e sabes o que ele fez? Nesses mesmo dias foi tomar café com uma gaja. Eu sei, contaram-me. Fornicou com uma e dias depois conheceu outra com quem fornicou também, claro. Porra, eu estava de baixa. Ele sabe o quanto estou mal e nesses mesmos dias faz isto? E logo com duas? O que é isto? A sério, o que é isto? Que frieza é esta? Que pessoa é esta? Isto é amor? Eu na merda, atolhada em comprimidos para dormir, para descansar, para tudo e ele, na maior, a marcar encontros com uma tipa qualquer. Sim, está sozinho mas o que é isto numa altura destas? Numa altura em que ele diz que quer tentar? Isto não é nada. Amor é que não é. A Rute é que tem razão quando diz: “Ele sempre fez de ti o que quis e continua a fazer. Quando é que páras de deixar que o Carlos te faça mal? Ele não presta. As pessoas tem visto isso. Tu não vês porquê?”
- As pessoas não sabem do que falam. As pessoas são parvas. As coisas não são bem assim.

“Por que raio tinha saído sem o ipod!?” Pensou. Era tão melhor ter estado na esplanada a ouvir música.
Pediu a conta, fechou o computador e dirigiu-se ao carro para voltar para casa.

9 comentários:

Hydrargirum disse...

Por mais desconcertante e "desconcentrante", que tenha sido assistir a esta conversa...aquela que eu presenciei um destes dias deixou-me semi-catatonico...

2 amigas (uma da outra, e nao minhas!) que iam a minha frente no passeio falavam bem alto...ao que se ouve:

"-Mas e claro que tive de engolir...com aquilo a bater-me na parte de tras da garganta!"

O que seria, pergunto-me eu....o que seria...!!!!!

Anónimo disse...

O texto é demasiado grande mas li-o todo apesar do sono.

Esse tipo é um grande filho da mãe, sem dúvida e essa tipa é muito parva.

Não disseste nada? Eu acho que não aguentava e dizia qualquer coisa do genero: Desculpe interromper mas não pude deixar de ouvir. Esse senhor ( se é que se pode chamar disso) que fique lá com as gajas todas que ele quiser. Ele não tem nenhum respeito por si e você parece que também não tem por si mesma. Mande-o para um certo sitio porque esse gajo não vale a bosta do cão que encontramos na rua. Vá para tribunal e tire-lhe tudo o que puder, é o que ele merece.

Anónimo disse...

A Rute tem toda a razão, toda. Essa mulher é um fantoche nas mãos desse homem e ela deixa.
Estas coisas tiram-me do sério. Esse homem é um monstro interesseiro e mediocre e mais nada. Amor? Ele não sabe o que isso é.

TheTalesMaker disse...

Julgo que também não foi mau de todo teres ficado sem Ipod. Ao menos se calhar deu para relembrar coisas que se passam no dia a dia de muitas pessoas, coisas que muitas vezes se passam ou já passaram connosco. Permite-nos assim lembrar que infelizmente há pessoas más, oportunistas, que tratam outros como lixo ou autênticos pets, e se o fazem é porque sabem que estas pessoas ainda sentem amor. Tratam mal, abandonam, mas quando mais precisam ou querem, lá vêm muito doces ou cheios de artimanhas para convencer o outro que ainda existe, que quer fazer parte da sua vida, que supostamente amam. Mas o melhor castigo acontece quando estas pessoas tentam dar uma vez mais uma de santinhos e a pessoa que já tanto sofreu, manda dar uma curva bem grande.

Anónimo disse...

Olha ... sabes que mais há pouca paciência já para comentar este tipo de diálogos, são situações que se repetem ... as pessoas são muitas vezes o resultado daquilo que escolheram para si e ...talvez do que querem mesmo. Esse tipo de fulanos, que abundam são os que se safam. Isto pode ser mau de se dizer, mas as mulheres de um modo geral apreciam fulanos que lhes dão tanga, armam-se em galãs, são putanheiros e papam as gajas todas. os certinhos que andam atrás delas não são apreciados, porque segundo elas, são assim para o meio parvinhos. A coisa serve também para os gays, talvez ... no fundo só muda a orientação sexual, muitas vezes a conduta é idêntica ...

Ps: aposto que fizeste imensas coisas no computador ;-)

Anónimo disse...

Lol para o comentário da ana. lol

Infelizmente é o que há mais por aí, gajos que não prestam para nada, nada, nada. E os gays, nem comento esses.

Anónimo disse...

:(

Anónimo disse...

Gente dessa é mesmo para esquecer e colocar os auscultadores.
Distancia de tipos desses.

Anónimo disse...

Filho de uma grande p.....