Aula de substituiçao

Calhou-me hoje uma daquelas coisas lindas que o Ministério da Educação inventou. Como os alunos não podem ter "furos", os professores têm de ir ter com os meninos à sala de aula, caso um colega seu falte justificadamente. Alguém nos paga por isso? Não, claro que não. Aula de substituição, pois então.
Lá fui. Como não sabia, não tinha nada preparado. Mas pronto, entre tantas outras coisas, os professores também têm de ter a capacidade e inventar em segundos o que fazer com quase 30 alunos em 90 minutos. Pronto, não inventar em segundos, que exagerados são os professores sempre a queixar-se, inventar em minutos. Afinal a escola é grandita e desde a sala de professores até à sala onde esperavam as criaturas ainda vão uns 2 minutos.
E lá resolvi inventar enquanto subia as escadas para me encontrar com o famoso 9ºC, turminha já divulgada por toda a comunidade docente do estabelecimento como sendo insuportável. Miúdos que vão constatemente para a rua com faltas disciplinares, armados em bons, respondões e sem educação (curiosamente os piores são uma menina e um menino filhos de professores, ainda por cima, na mesma escola).
Mal cheguei apeteceu-me espancar uns quantos logo ali. Uns entravam a ouvir música, outros a falar muito alto, uma dá um berro a outro, um passa por cima de uma mesa, etc... "Já tomara isto passar e ir ter com os meus 9ºA e 9ºD, esses sim", pensei.
Sentei-me, escrevi o sumário e fiz cara feia a olhar para eles. Foram-se calando mas como o quase silêncio não me chegava, dei um murro na mesa para que todos se calassem. E calaram mesmo. Não eram infantis, via-se pelo ar arrogante que eram mesmo estúpidos e com a mania.
Não vale sequer a pena referir o que tentaram fazer, como tentaram provocar-me. Tentaram com uma "boquinha" aqui ou ali. Mas não durou muito porque para cáustico estou cá eu e eles perceberam logo isso. Mandei-lhes duas ou três mais fortes e baixaram as cristas emproadas.
"Como, supostamente, supostameeeeente, não estou numa turma de criancinhas e sendo aula de substituição, acho que seria interessante, por exemplo, vocês lançarem um ou mais temas para podermos debater na aula. Mas temas bem polémicos para que o debate se torne interessante. Temas daqueles que vocês ouvem falar mas acerca dos quais têm dúvidas, por exemplo." Pronto, como pude eu ousar em propôr tal coisa? Dar-lhes a hipótese de conversar sobre coisas interessantes? Que abuso meu! As criaturas queriam era ouvir música, jogar na playstation, pintar as unhas, usar os telemóveis ou, quanto muito, jogar aos "Países". Pois, lá tive de explicar aquelas almas que mesmo sendo de substituição, era uma aula, não o bar da escola e quem queisesse sair estava à vontade. Levava falta e pronto.
Lá lhes fui dando a volta e lá foram escolhendo temas para debater. Avisei logo de o caso "Maddie" e futebol estavam fora de questão, porque começaram logo a propôr isso mesmo.
Escolheram a liberalização do aborto, o casamento entre homossexuais e adopção por parte dos mesmos, a eutanásia e as touradas. O que iria sair dali? Ainda por cima temas que me são caros.
Começaram a interessar-se, não todos, mas bastantes. Como já conheço este tipo de miúdos, vi que não ia ser fácil. O que me apetecia mesmo era nem deixá-los falar, apenas meter-lhes um mínimo de neurónios naqueles cérebros vazios. Mas lá estabeleci regras e me assumi como moderador.
Estas aulas poderiam ser muito interessantes (quem me dera a mim ter tido professores que as promovessem) mas raramente o são porque os miúdos, mesmo com 15, 16 e 17 anos não sabem debater, não sabem argumentar, nem estão muito interessados. Acham que é assim ou assado porque é e pronto, passa à frente.
Pois, mas não, era o que faltava. Obriguei-os a pensar, a argumentar, a puxar pelas cabecinhas ocas. Argumentavam e eu contrapunha, mesmo que concordasse com esta ou aquela opinião.
Eutanásia. Depois de uma aluna (a mais interessada e participativa, a dita "marrona" da turma) ter explicado a todos o que é (era a única que sabia), quase todos se mostraram a favor.
Liberalização do aborto. Mais uma vez, apenas 2 ou 3 alunos não concordam.
Casamento entre homossexuais. Quase todos contra, claro.
Adopção por parte de homossexuais. Os argumentos do costume. "Coitadinho do miúdo, os pais obrigam-no a ser gay", "E depois a vergonha que é", "Ai que nojo ele ver dois homens a dar um beijo, ainda se fossem duas mulheres até é fixe", etc, etc, etc... Naquele momento voltei a pensar naquilo que há anos penso: "Ainda temos muito que evoluir. Os miúdos podem aceitar melhor a homossexualidade, do que o faziam há alguns anos, mas continuam a achar que é anti-natura, que é uma escolha, que entre dois homens mete nojo, que é uma vergonha ter um filho homossexual, ter um familiar homossexual, que casando um ia vestido de noiva para a igreja, que fugiam de um amigo que soubessem que é gay, etc...
Pediram a minha opinião e eu dei. Foram os momentos em que ficavam todos absolutamente calados a ouvir. E eu, disse-lhes exactamente o que penso sobre os assuntos, sem paninhos quentes. Subtilmente, ou não, tentei dar-lhes a volta à mioleira.
De repente pego na caneta preta e escrevo no quadro: "10% da população mundial é homossexual. Se esta escola tem cerca de 950 alunos, é provável que existam cá cerca de 95 colegas vossos homossexuais". Ficaram estupefactos, tal como eu supunha. "E vocês conhecem algum? Sabem de alguém que seja? Pensem nisso. Já pensaram que a maioria deles se esconde de vocês, dos amigos, do melhor amigo, da familia?" E se uma aluna exclamou "Xiiii, que horror, deve ser horrível mesmo", outro há que vomita algo como "É bem feito, ainda bem que se escondem, agora cá para o meu lado a chatear. Têm mesmo é que ter vergonha e não dizer nada. Para o meu lado escusam de vir esses gajos... quer dizer, gajas" E riu-se. E muitos outros riram também, claro. "Eram precisos semanas e semanas de trabalho com estas criaturinhas para chegarem a algum lado, talvez meses", pensei. Lá voltei a argumentar mas enfim...
Tourada. 3 alunos a favor. Uma delas achei estranho sê-lo porque era indiana, pelo menos de descendência e tinha um look de gótica, na turma assim a chamavam. Um ar atento, interessado e adulto. Enganei-me. A figurinha, dando um ar de grande maturidade a falar, sai-se com a maravilhosa frase: "Os animais, tal como as pessoas, têm que morrer ou na natureza, ou nas nossas casas, ou para nós comermos, ou numa praça de touros. Uns sofrem mais do que outros, pronto, faz parte da vida. Só porque se vê sangue já às pessoas lhes faz impressão? E nem é assim muito sangue. Pelo menos como os touros são pretos nem se vê muito..."
Nem a deixei acabar. Acho que devo ter mudado de cor ou fiz uma careta teatral de tal ordem que ficaram todos a olhar para mim à espera de uma reacção oral. E, claro, que não tardou. Olhei para aquela árida criatura e disse calmamente: "Pois, a menina supostamente é gótica, certo? Acho bem e acho muito interessante o seu visual. (Uns sussurraram, ela sorriu contente pelo elogio). Pois, mas sabe, a sua gotiquice não deve passar da roupa porque se soubesse o mínimo sobre os verdadeiros góticos, a sua filosofia de vida... Sabe o que é filosofia? Não, pois claro que não sabe. Saberia que estes, entre outras coisas, pensam muito, lamentam o sofrimento e são grandes defensores dos direitos dos animais. Pelos vistos a menina não perde muito tempo a pensar, nem dá grande importância aos animais. Acha graça andar assim vestida, pronto, está no seu direito. Mas de gótica não tem grande coisa. E já agora, se algum colega seu primitivo a espancar e aparecer cheia de sangue na escola, não chore, não se enerve, não sofra, é que uns sofrem mais do que outros, faz parte da vida, e sangue por cima do preto nem se vê muito e num gótico fica sempre bem".
A turma silenciou ao ponto de quase se ouvirem as moscas.
Sei que exagerei. Sei que me passei. Sei que a resposta poderia ter dado para o muito, muito torto. Mas após 90 minutos de debate enervante, stressante, desgastante e até triste, não aguentei. Não foi uma "boca", uma ligeira ironia, como as que fui atirando durante o debate, perante argumentos estapafúrdios ou respostas de "sim, porque sim, acho porque acho". Foi forte, sei que foi e ali mesmo senti-me mal por isso. Mas pronto, estava feito.
Deu o toque e lá foram saindo. uns como entraram, outros mais calmos, outros para me acompanhar até à saída da sala. Esses eu sei que gostaram de mim, é a atitude típica que conheço há anos.
A dita aluna pseudo-gótica já tinha saído mas... estava à porta a fingir que procurava algo na sua mala preta. Saí sem saber o que lhe dizer, se deveria dizer alguma coisa. Mas ela disse. "Stôr, curti bué do stôr. Desculpe, quer dizer... gostei da aula. Acho que tem razão. Eu tenho esse problema... é que não penso muito nas cenas mas até gosto de falar delas. E ainda por cima o meu pai curte bué touradas e eu nunca pensei muito nisso, sempre me habituei a existirem e pronto. Mas acho que tem razão. Há formas e formas de morrer, eu até sei. Mas se calhar acho sempre melhor não pensar nas coisas para não me incomodarem."
Respondi: "Entendo, mas pensar faz bem mesmo às crianças pequenas e você e os seus colegas já o não são há anos, não é? Deviam pensar mais, mas pensar mesmo, não é pensar um bocadinho e tirar logo uma conclusão. Mas peço-lhe desculpas porque exagerei e nem sequer a conheço, nem sequer é minha aluna. Exagerei e em frente aos seus colegas."
Ela: "Pois, arrumou-me stôr (riu-se). Mas fez bem, pode crer. E não se preocupe com eles porque eles já acham que eu sou maluca porque me visto assim. O stôr não gosta da minha maneira de vestir?"
Eu: "Gosto, gosto muito mesmo. Mas acho que mais do que a roupa, essa cabecinha é que devia importar-lhe mais".
Ela: "Pois, tem razão. Mas eu não sei muito dos góticos, gosto é de umas músicas e das roupas. O stôr sabe? Pode dizer-me onde procurar cenas?"
Eu: "Pode procurar na net, pesquisar, por exemplo. Sim, mas amanhã estou na biblioteca a dar apoio a alunos à hora de almoço e se quiser pode aparecer".
Ela: "Ah, fixe. Vou lá".
Eu: "Mas olhe, mesmo que depois não se identifique com os ideiais e valores góticos, não tem de mudar de visual. Se gosta de se vestir assim, veste-se e pronto".
Ela: "Pois, mas pelo menos quero informar-me. Bem, xau stôr, até amanhã".
Afastei-me e pensei que, afinal, às vezes, ainda vale a pena.

19 comentários:

TheTalesMaker disse...

Em primeiro lugar, de facto estas invenções do Ministério não lembram a ninguém, ainda mais, sem sequer vos pagarem mais por isso.
Em segundo lugar, mas isso já sabes, és o meu herói. Digo-te eu jamais teria paciência para aturar pirralhos como esses e mais. Além de o fazeres, consegues dar-lhes a volta e vá que não vá aprendem alguma coisa contigo. Mas isso é normal, qualquer um adora-te ouvir. Eu aprendo imenso e tanto e imenso contigo. E a ver se ajudas a mocinha pseudo-gótica já que ela mostrou interesse.
Beijos e boa sorte na tua demanda para formar algumas destas cabecinhas e mentalidades do nosso país.

Anónimo disse...

Que paciência a tua, não sei como aguentas.
Os adolescentes são cada vez mais desinteressados e desinteressantes. Eu vejo pela minha sobrinha, tem a mania que sabe tudo, faz birras de miúda, grita com a mãe algo que acho inadmissível. E não pára para ouvir ninguém.
Agora imagino uns 20 e tal como ela, deve ser desesperante.
Mas acho que respondeste bem a essa mocinha e acho que eu ainda fazia pior. E gostei depois da atitude dela, afinal valeu a pena a aula, não foi?
De qualquer forma não era profissão para mim, não era mesmo. Com o feitio que tenho passava-me logo ainda por cima com temas desses.
Estes adolescentes precisavam de conversas em particular, não em grupo porque ninguém se deve entender e eles não querem ouvir nada.
Ainda por cima já são crescidinhos, quase a ser adultos e comportam-se como crianças de 6 ou 7 anos. Mas ao menos essas não sabem mas querem aprender, ouvir, estes não.
Só mais uma coisa, quem me dera ter tido um professor como tu também para regalar a vista. lol

Anónimo disse...

Pois ... sei bem o suplício que são as aulas de substituição. Se queres que te diga, já vou desistindo de abordar esses temas polémicos e achar que vou conseguir alfo. A trama de pensamento e raciocínio é muito sempre igual e não varia consoante o espaço, região, etc. As pessoas são limitadas porque são ou querem ser, pensar chateia, dá muito trabalho. Os miúdos têm ideias feitas e aqui então, nem te digo nada, não vale a pena, eu ando sei lá ao tempo a explicar-lhes o que se pressupõe em área de projecto e eles continuam na deles, acham que escolhem um tema, fazem um trabalho escrito qualquer e já está, sem grandes confusões. O que é lá isso de interessarem os processos?! que grande confusão naquelas cabeças e planificar para quê?! é ua revolta imensa ...nem levam a sério, acham que planificar é perder tempo. Essa estatística dos 10% ainda não percebi em que basei mas pronto, 10% serem homossexuais. Corresponde a quem assume ser? é que se assim for, a percentagem dispara já para valores muito mais elevados ... 10% serão aqueles que já pensaram, reflectiram ,ganharam grande força interior para abertamente tomar essa atitude, a de assumir sem qualquer problema ... nesse caso, tendo em conta a fragilidade e cobardia humana, serão muitos, muitos mais ... certo?! evidentemente.

Anónimo disse...

Eu acho que deve haver mais gente a dizer as coisas assim: de forma directa e crua. É de se meterem tantos paninhos quentes e não se discutirem os assuntos, que as coisas chegaram ao que chegaram. O papel principal na formação dos jovens deve ser das famílias. Dos pais. Quando eles se demitem, os professores não se devem evitar de dizer certas coisas porque a isso chama-se... educar! Fizeste bem.

peter_pina disse...

ADOREI o teu texto, olha k a tua vida é emocionante, chegas ao fim do dia vivo e construíste coisas, ....e tens uma grd responsabilidade...poix essas criaturas insuportaveis serao os homens de amanha!....

kto a homossexualidade....ainda vai demorar!.....

hug dos GRDS

Graduated Fool disse...

Brama:

Eu não acredito que tu me mandaste este comentário às 7 e tal da manhã. Ou não dormiste ou andaste a ver blogs mal te levantaste. Oh, rapaz!

Bem, em relação aos 10%. Sim, podem ser mais, podem ser menos, acredito que sejam mais, sim. Mas foi o valor que lancei com base no que sempre tenho ouvido e já estava tão cansado da aula que nem valia a pena discutir e argumentar tal valor percentual.
Para eles 10% já é um valor muito significativo e pensar que cerca de 95 colegas deles são gays já, talvez, os tenha posto a pensar, porque eles apenas conhecem, desconfiam, de um ou outro colega, não mais.
No fundo, não peço mais, apenas que pensem um bocadinho. E se assim for, já não é mau.
Como diz a Madonna: "Se de cada um dos meus espectáculos sair uma pessoa a pensar, já atingi o objectivo".

Anónimo disse...

Cansativo... o dia-a-dia do professor é cansativo. Felizmente, no ano que corre, não tenho aulas de substituição mas, como todos nós, conheço a experiência que na maioria das vezes é desgastante pouco proveitosa. És um ganda maluco por ainda teres força para entrares em diálogos "sérios" com putos do ensino básico. É como atirar pérolas a porcos, jamais terão a capacidade de apreciar as jóias que lhes atiramos. E mudar mentalidades é muito difícil. Eu começo a pensar, com cada vez mais certeza, que tenho tanto dever de aceitar a opinião dos demais como os demais têm de aceitar a minha. Não posso, não podemos promover a tolerância sendo intolerantes, mesmo que os nossos pontos de vista nos pareçam os mais correctos.
Ainda vai passar muito tempo até a homossexualidade ser aceite na sociedade (se é que chegará algum dia a ser) da mesma forma que ainda vai passar muito tempo até aprendermos a discutir os assuntos de forma desapaixonada e sem tentar moldar o pensamento dos outros ao nosso... Quanto muito podemos despertar novos pontos de vista...

Anónimo disse...

Pois ... tens razão. Não te preocupes, dormi pouco mas dormi e de manhã, tive de ligar o computador ... tive um curto circuito em casa e achei que tinha ficado sem sistema eléctrico ... detesto este tipo de coisas. Eu também acho que fizeste bem, em agir dessa forma dura ... alguém tem de ter tomates porra ... tou mesmo farto de falinhas mansas e conversas limadas o mais possível para não ferir susceptibilidades. Na realidade, tenho absoluta certeza que são bem mais, mas bem mais que os tais 10% que dizem ser, como é lógico e não vale a pena sermos ingénuos ... mas pronto, percebi a tua ideia na aula.digo-te mais, tenho a absoluta certeza que a grande maioria da população mundial é mesmo bissexual e só não o põe mais em prática pelas tais convenções sociais, religiosas, whatever ...
Mas os miúdos não são os grandes culpados das ideias que têm ... sem dúvida que são os pais, que lhes incutem esses preconceitos naquelas cabecinhas já pouco pensantes. O que me espanta é que eles vivam a sua adolescência numa sociedade diferente da da nossa adolescência ( são sujeitos a mil mudanças diariamente, de um dia para o outro as coisas transfiguram-se totalmente) e mesmo assim, ainda tenham ideias rígidas e pré concebidas sobre determinadas áreas ... fico espantado.
Se fosse adolescente agora, não ficaria, com toda a informação já ao nosso dispor, muito incomodado se tivesse sido criado por duas mães ou dois pais ... já ficava muito mal disposto se o meu pai fosse um aficionado por crimes tauromáquicos ou a minha mãe participasse em lutas caninas ... isso sim, era totalmente incomodativo. Seja como for, acredito que um dia as coisas poderão melhorar, só que, espero que não demore já muito ( como diz o pedropina)... é que já ultrapassei os trinta e se continuamos a sustentar este discurso, de que é algo que ainda fere as pessoas, a sociedade não está preparada ( claro não está preparada para ver as coisas de frente, mas já está para ver os maridos de muitos mulheres a engatar gajos à calada, para isso está)... corro o risco de morrer e não chegar a viver numa sociedade saudável e que finalmente respeite os outros. Em Portugal vai demorar, não porque as pessoas não vejam a realidade, apenas porque os portugueses são muito hipócritas e preferem não ver o que está aos olhos de todos. Infelizmente, parece-me que e especificamente em Portugal, só à chapada, mas que doa mesmo, é que alguma coisa muda e avança.Como em tudo neste país, ainda não vi nada que mudasse só com boas intenções.

Anónimo disse...

:)

Graduated Fool disse...

Corrosivo:

Posso concordar com a frase que referes de que não podemos promover a tolerância sendo intolerantes, mas, neste caso sinto-me totalmente no direito de ser completamente intolerante. Há coisas que não se podem tolerar, desde que se argumente com lógica. Neste e noutros casos não sou minimamente tolerante. Uma coisa são pessoas velhotas que não aceitam, não entendem, não querem ver a realidade. Essas mentes são difíceis de mudar. Agora miúdos novos, jovens que ainda têm décadas pela frente já com opiniões destas e não se faz nada? Nem pensar. Como professor também tenho esse papel e tu, como professor também, bem sabes que não se pode nem deve tolerar tudo.
Se os argumentos forem válidos, por muito que venham contra a minha opinião, é uma coisa. Agora argumentos estapafúrdios que nem argumentos são... não vejo porque ser tolerante. Não tolero má educação, não tolero que os alunos se comportem mal, não tolero uma série de coisas. mesmo que os nossos pontos de vista nos pareçam os mais correctos.
E sim, em várias situações faço questão e luto por moldar o pensamento dos miúdos ao meu. Se não for assim, então o que é que ando a fazer nesta profissão?
Sim, ainda vai passar muito tempo até a homossexualidade ser aceite na sociedade (se é que chegará algum dia a ser), mas não tenho paciência para comodismos. Se posso fazer alguma coisa, faço! Se tenho a possibildade de pôr os adolescentes a pensar, faço-o. Não me vou encostar à ideia de que vai demorar a mudar, portanto não vale a pena.
E se é um assunto que me é caro, que mexe comigo, que leva a argumentos que me ofendem como homossexual, que não tenho qualquer culpa de ser,, então discuto-o e nunca será desapaixonadamente.

TheTalesMaker disse...

E depois achas que sou um exagerado e não te chamo de herói. Com um discurso destes e com a tua maneira de pensar és. Os heróis lutam contra adversidades muito complicadas como as cabeças destes putos e não desistem.
Vá não desistas
Beijos

paulo disse...

Que engraçado, Graduated Fool, eu nunca dei aulas de substituição, mas este ano os alunos também me entram assim na sala. Esmurrá-los é o mínimo que me apetece. Acho que tiveste coragem a lidar com os leões e a manobrar-lhes os tiques. Os temas também me são caros e é bom debatê-los, mas com cabeças menos ocas, confesso.
Anyway, conseguiste surpreendê-los e, pelo menos, conquistar uma alma no deserto. Espero que ela volte. Já tive vári@s alun@s gótic@s e são os mais interessantes do marasmo geral. Abraços e melhor sorte para próximas substituições!

Anónimo disse...

Fizeste muito bem, mas eu ainda seria pior para eles. Não tolero adolescentes com postura de crianças de infantário e muito menos quando para agravar têm opiniões completamente estúpidas de quem não usa a cabeça para pensar.
E o incrível é que a maioria dos jovens é assim e estamos a falar de milhares e milhares que serão o futuro do nosso país.
Ora se isto está mal agora, imagino daqui a uns anos. Qual o futuro deste país.
Neste tipo de coisas os professores são fundamentais, são a base de um país, são aqueles que regam as plantas que estão a crescer, deviam muitos ser pagos a peso de ouro e em vez disso são a chacota nacional. É uma vergonha tal como vergonha é a adolescência que nos rodeia.
Não pensam e quando pensam, pensam mal.

Anónimo disse...

Detesto a palavra "tolerante" ... abomino, vá lá eu tolero-te, coitadinho (passa-se a mãozinha pela cabeça ao mesmo), mas, chega-te para lá, não me mascarres. Ninguém tem de tolerar coisa alguma, as pessoas têm de compreender os demais e ponto. Também não têm de aceitar ou deixar de aceitar. Eu não reconheço a ninguém, ninguém mesmo, o direito ou não de me aceitar, porque estou ao nível de todos os outros e ... sinceramente considero que, relativamente a muitos, estou num patamar superior ( por exemplo, sei que sou um ser superior a quem chacina animais, quem abandona um animal na rua, quem atira um filho para um contentor do lixo, quem está na arena a espetar farpas num touro ...). Sou superior a esses infeiores todos, logo não admito sequer que alguém ouse exercer a opinião de aceitar ou deixar de aceitar. Não preciso da aceitação de ninguém, preciso sim de respeito e de ter todos os mesmos direitos de que goza o resto da população e, só isso é que me revolta as entranhas ... e isso não aceito. Que é lá isso de ser intolerante ou tolerante. Se deixar de falar das coisas apaixonadamente, corro sérios riscos de despersonalizar-me, deixar de ser eu ... e depois o que resta?! faço questão de gritar e barafustar e cada vez mais ... cansei de me render. Apetece-me cada vez mais levar as coisas ás ultimas consequências ... se é para viver, quero senti-lo plenamente. Ás vezes perco a força e apago-me temporariamente, é um facto ... mas sinto-me como numa câmara magmática ... capaz de explodir a qq momento, qual Krakatoa ...

Anónimo disse...

Por isto mesmo é que fazes tanta falta na escola. Os miúdos adoram-te, és como um modelo para eles. Eles absorvem as tuas opiniões, és como um ídolo para muitos.
Um dia vais ver a importância que tiveste na vida de muitos deles e olha que são mesmo muitos.
Mudaste de escola mas continua a batalha e força, meu querido.

Anónimo disse...

Aiiiiiiiiiii, quero um professor assim.

Esses alunos deviam dar graças a deus por essa aula com temas tão interessantes e ouvir as tuas opiniões, isso é que era.

Ficas contente só por uma? Deviam ser pelo menos metade deles a mudar de opinião. Se não mudam é porque isto está mesmo muito mal e a sociedade não tem noção disso, o que é muito preocupante.

Anónimo disse...

Talvez tenhas exagerado na resposta que deste e não tenhas sido muito pedagógico mas às vezes é a melhor forma de acordar os adormecidos e parece que resultou com a rapariga. Portanto o que é afinal isso da pedagogia? Se neste caso resultou então isso é pedagogia.

Anónimo disse...

Ganda resposta... lol
Bem feito. Estes putos não existem. Comem, dormem, vestem-se, mexem no telemovel, jogam no computador, ouvem musica e pouco mais. E pensar...nada.
Isso é inadmissível, ainda por cima porque não são velhos em fim de vida, são jovens e já taõ cedo com interesses e pensamentos tão limitados.

Corrosivo, desculpa lá mas o que tu dizes não faz muito sentido. Um professor e mesmo um cidadão que não tenha essa profissão ou outra em que lide com pessoas, não pode tolerar o intolerável.
Se um professor tolerar tudo então onde vai parar a educação? Se há quem não deva ser muito tolerante é um professor.

João Roque disse...

Caro amigo
de passagem pelo teu blog, deparei-me com este teu extenso (porque é necessário que o seja) texto sobre as aulas de substituição, mas, penso eu, sobre muito mais que isso.
Nele focas muitos aspectos, todos eles relevantes e que dariam, como se diz, "pano para mangas".
Vou apenas referir-me ao papel do professor hoje em dia e aos problemas que se lhe deparam, a toda a hora, ao lidarem com as "criancinhas", superprotegidas pelas instâncias, quer da sociedade, quer do poder instituído. Fui professor durante muitos anos, "passaram-me pela mão", muitos e muitos alunos e tive que resolver problemas bicudos, e sempre os venci com atitudes do género daquelas que aqui relatas. apesar de tudo acho que tive sorte, porque os tempos eram outros, as criancinhas eram menos insuportáveis e nunce estive em escolas de zonas consideradas dificeis.
dou-te os parabéns, e acho que este teu texto deveria ser lido e pensado por muitos professores que frequentam a blogosfera, alguns dos quais tenho o maior prazer em ter como amigos, no meu blog.
Um abraço.