"Excelente"
Pois é, quem me manda a mim estar colocado a 50 km de casa, fazer 100 km por dia, acordar às 6 da manhã, demorar mais de uma hora no trânsito, insistir no desgaste do meu carrito velho, gastar dezenas de contos, por mês, em gasolina e portagens?
Quem me manda a mim ter 8 turmas, uma direcção de turma com alunos invisuais em vez de estar perto de casa, a 5 minutos de casa, como tem sido desde há vários anos? Quem me manda a mim estar a preparar aulas, corrigir cerca de 250 testes de avaliação, sair da escola depois das 21 horas, depois de reuniões que de nada servem, enquanto na escola onde deveria estar os meus alunos estão há quase 2 meses sem aulas? Quem me manda a mim ter já umas 30 aulas dos CEF em atraso para dar a duas turmas, num total de 60 de uma disciplina, mais umas 20 aulas de outra? A ser destacado ficarei a dar aulas nas férias do Natal, da Páscoa e, muito provavelmente, em Agosto.
Já para não falar das outras turmas, ditas normais, que têm imensa matéria em atraso. E como não estou lá, levam com as maravilhosas aulas de substituição de que tanto gostam.
E tudo isto porquê? Porque o Senhor Secretário de Estado anda demasiado ocupado e não tem tempo de assinar os destacamentos dos professores que, há anos, integram uma unidade de apoio a alunos surdos. O senhor anda muito ocupado, pronto.
Assim, nesta situação absolutamente extraordinária, lá vou eu todos os dias rumo à margem sul para uma escola onde os professores começarão, daqui a dias, a levar papel higiénico de casa, sim, leram bem. E porquê? Porque é uma escola nova, resultante da junção de duas escolas e o orçamento mantém-se como se ainda de uma se tratasse. Os alunos são em número a dobrar, os professores também, mas o dinheiro é o mesmo que era... e os funcionários também.
Escusado será dizer que as cadeiras do anfiteatro (onde se juntam 3 turmas de cada vez na horas de Educação Física porque o pavilhão desportivo está longe de ser finalizado) já estão partidas, os piaçabas desapareceram e os tampos das sanitas não passam de pedaços. Escusado também será dizer que com a falta de funcionários para o dobro dos alunos, as salas não conseguem ser vigiadas nos intervalos e os meninos tratam de enfiar agrafos nas fechaduras para que não tenham aulas. Já fiquei uma manhã a tomar conta dos meninos no recinto escolar, exactamente por isso. Agora, não há fechaduras para ninguém e andam todos de mochila às costas em todos os intervalos. Sim, porque os cacifos são arrombados, os cadeados partidos... uma animação diária!
E neste ambiente altamente construtivo e lógico, fiquei a saber que, por muito que me esforce, mesmo que faça o pino, mesmo que passe 24 horas na escola, mesmo que todos os meus alunos cheguem ao final do ano lectivo com nota 5 à minha disciplina, já perdi todas as hipóteses de ter uma avaliação de "Excelente". Ah pois é!
Apesar de me levantar com as galinhas e sair de casa ainda muito antes do sol raiar, lá tive o azar de, no outro dia, ficar parado antes da ponte. Eu que tinha apontado para chegar à escola uma meia hora antes do toque de entrada.
E tudo porquê? Porque um camião virou e ocupou, pelo menos, duas faixas de rodagem. A coisa foi noticiada na tv. Soube-se que um pobre coitado que levou com ferros projectados do camião estava em estado muito grave no hospital. Como é possível? Como é possível que aquela criatura tenha virado aquele monstro assim? E aquela hora? Precisamente aquela hora?
Resultado: por causa de tão ousado sujeito, lá cheguei 10 minutos atrasados. Já tinha falta, pois então. Naquele momento, faça o que fizer daqui para a frente, fiquei a saber que já não sou um professor "excelente". A falta é justificada, mas e então? Cheguei 10 minutos atrasado, logo faltei, logo já não posso pertencer ao estatuto dos professores exemplares. Quem manda o camião virar? Quem manda ter ficado tamanho engarrafamento? Quem manda o meu carro não ter asas? Quem manda eu não viver à porta da escola? Bem, melhor mesmo dentro da escola, dentro da sala, não vá ser atropelado na estrada a caminho do trabalho, não vá torcer o pé da sala de professores até à sala. Quem manda?
Pronto, lá terei de me resignar e de me encostar à minha condição de professor que cometeu uma falha gravíssima ao ponto de não poder já sonhar com uma avaliação de "excelente".
E a culpa é de quem? Minha? Do camião? Do camionista? Do trânsito? Da funcionária que me marcou falta? Do Conselho Executivo que não me tirou a falta para não abrir precedentes? Não. A culpa é da Ministra e seus comparsas. A culpa é daquela corja que aparece na tv a exaltar percentagens, sucessos, trabalhos.
Será que ela tem a mínima noção disto? Das centenas de situações completamente ridículas que se passam diariamente nas escolas portuguesas, no real sistema de ensino do país? Não, não tem. Se tivesse não nos brindaria com as novidades constantes, cada vez piores. Ou então tem mas finge que não. E isso ainda é mais grave.
Ambos os casos são reveladores não de um baixo QI, mas de uma perfeita e assustadora falta do mesmo.
Quem me manda a mim ter 8 turmas, uma direcção de turma com alunos invisuais em vez de estar perto de casa, a 5 minutos de casa, como tem sido desde há vários anos? Quem me manda a mim estar a preparar aulas, corrigir cerca de 250 testes de avaliação, sair da escola depois das 21 horas, depois de reuniões que de nada servem, enquanto na escola onde deveria estar os meus alunos estão há quase 2 meses sem aulas? Quem me manda a mim ter já umas 30 aulas dos CEF em atraso para dar a duas turmas, num total de 60 de uma disciplina, mais umas 20 aulas de outra? A ser destacado ficarei a dar aulas nas férias do Natal, da Páscoa e, muito provavelmente, em Agosto.
Já para não falar das outras turmas, ditas normais, que têm imensa matéria em atraso. E como não estou lá, levam com as maravilhosas aulas de substituição de que tanto gostam.
E tudo isto porquê? Porque o Senhor Secretário de Estado anda demasiado ocupado e não tem tempo de assinar os destacamentos dos professores que, há anos, integram uma unidade de apoio a alunos surdos. O senhor anda muito ocupado, pronto.
Assim, nesta situação absolutamente extraordinária, lá vou eu todos os dias rumo à margem sul para uma escola onde os professores começarão, daqui a dias, a levar papel higiénico de casa, sim, leram bem. E porquê? Porque é uma escola nova, resultante da junção de duas escolas e o orçamento mantém-se como se ainda de uma se tratasse. Os alunos são em número a dobrar, os professores também, mas o dinheiro é o mesmo que era... e os funcionários também.
Escusado será dizer que as cadeiras do anfiteatro (onde se juntam 3 turmas de cada vez na horas de Educação Física porque o pavilhão desportivo está longe de ser finalizado) já estão partidas, os piaçabas desapareceram e os tampos das sanitas não passam de pedaços. Escusado também será dizer que com a falta de funcionários para o dobro dos alunos, as salas não conseguem ser vigiadas nos intervalos e os meninos tratam de enfiar agrafos nas fechaduras para que não tenham aulas. Já fiquei uma manhã a tomar conta dos meninos no recinto escolar, exactamente por isso. Agora, não há fechaduras para ninguém e andam todos de mochila às costas em todos os intervalos. Sim, porque os cacifos são arrombados, os cadeados partidos... uma animação diária!
E neste ambiente altamente construtivo e lógico, fiquei a saber que, por muito que me esforce, mesmo que faça o pino, mesmo que passe 24 horas na escola, mesmo que todos os meus alunos cheguem ao final do ano lectivo com nota 5 à minha disciplina, já perdi todas as hipóteses de ter uma avaliação de "Excelente". Ah pois é!
Apesar de me levantar com as galinhas e sair de casa ainda muito antes do sol raiar, lá tive o azar de, no outro dia, ficar parado antes da ponte. Eu que tinha apontado para chegar à escola uma meia hora antes do toque de entrada.
E tudo porquê? Porque um camião virou e ocupou, pelo menos, duas faixas de rodagem. A coisa foi noticiada na tv. Soube-se que um pobre coitado que levou com ferros projectados do camião estava em estado muito grave no hospital. Como é possível? Como é possível que aquela criatura tenha virado aquele monstro assim? E aquela hora? Precisamente aquela hora?
Resultado: por causa de tão ousado sujeito, lá cheguei 10 minutos atrasados. Já tinha falta, pois então. Naquele momento, faça o que fizer daqui para a frente, fiquei a saber que já não sou um professor "excelente". A falta é justificada, mas e então? Cheguei 10 minutos atrasado, logo faltei, logo já não posso pertencer ao estatuto dos professores exemplares. Quem manda o camião virar? Quem manda ter ficado tamanho engarrafamento? Quem manda o meu carro não ter asas? Quem manda eu não viver à porta da escola? Bem, melhor mesmo dentro da escola, dentro da sala, não vá ser atropelado na estrada a caminho do trabalho, não vá torcer o pé da sala de professores até à sala. Quem manda?
Pronto, lá terei de me resignar e de me encostar à minha condição de professor que cometeu uma falha gravíssima ao ponto de não poder já sonhar com uma avaliação de "excelente".
E a culpa é de quem? Minha? Do camião? Do camionista? Do trânsito? Da funcionária que me marcou falta? Do Conselho Executivo que não me tirou a falta para não abrir precedentes? Não. A culpa é da Ministra e seus comparsas. A culpa é daquela corja que aparece na tv a exaltar percentagens, sucessos, trabalhos.
Será que ela tem a mínima noção disto? Das centenas de situações completamente ridículas que se passam diariamente nas escolas portuguesas, no real sistema de ensino do país? Não, não tem. Se tivesse não nos brindaria com as novidades constantes, cada vez piores. Ou então tem mas finge que não. E isso ainda é mais grave.
Ambos os casos são reveladores não de um baixo QI, mas de uma perfeita e assustadora falta do mesmo.
Abzurdo. Xiiiiuuuu...
Não vou aqui falar das maravilhosas e constantes novidades provenientes do extraordinário manicómio denominado de Ministério da Educação. As novidades são mais que muitas, quase diárias. Novidades essas tão bem divulgadas pela comunicação social portuguesa. Dessas falo todos os dias na escola. Era preciso um blog só para escrever tudo o que penso sobre todos os assuntos. Só quem está na escola sabe, efectivamente, o que se passa. Somos mandados por gente acéfala, só pode. Não há outra justificação possível e aceitável.
Limito-me aqui a defender a querida Ministra.
Pois é claro que a senhora tem toda a razão. Porque não oferecer o 9º ano a todos os alunos? Porque não oferecer o 12º ano a todos os "adultos", sim, não são alunos. Aqueles que em semanas fazem o secundário não podem ser chamados de alunos. São "adultos", é o termo correcto, defendem os doutos especialistas na matéria. Uma matéria que só nas suas cabeças ocas faz sentido.
Sim, semanas. A título de mero exemplo, o pai de uma colega minha iniciou o 3º ciclo do ensino básico em Setembro, em Dezembro termina o 9º ano. Em Janeiro começa o secundário e em Março tem o 12º ano feitinho. Querem maior feito do que este? Grande Ministra! Grande salto que a Educação portuguesa dá. Nunca se viu nada assim! O Senhor, em 6 meses, indo umas vezes à escola, fazendo umas coisitas que nem de trabalhos se podem chamar, consegue fazer o que outros demoraram, no mínimo, 6 anos a fazer. Genial, sim Senhora Ministra.
Mas, como disse anteriormente, esta diva dos ministérios portugueses é que sabe, ela é que tem razão. Os professores sabem lá! Chumbam meninos inocentes assim só porque não sabem bem escrever o nome?
Porque não dar de bandeja o 12º ano a quem quer que seja se ela, professora universitária, cabeça máxima do ensino de um país dito desenvolvido, diz "Abzurdo" em vez de "Absurdo"? E disse-o, pelo menos, umas cinco vezes em entrevista à SIC, peço desculpa, à ZIC.
Mas ninguém explica a esta alminha que é "abzurdo" vir a público dizer tal coisa? Ou será que é chique e eu não sei? Tantos Secretários de Estado, políticos, jornalistas, professores, com quem ela raramente reúne para serem ouvidos, servem para quê?
Ninguém lhe diz: Senhora Ministra, ser iluminado do ensino outrora calamitoso em Portugal, grande salvadora da Pátria e do futuro saber da nação portuguesa, construtora de génio engenhoso das bases fulcrais de uma sociedade, sabe, a letra "S" só se lê "zzz" quando se encontra entre duas vogais. E o "B" que antecede o "S" não é uma vogal!
Mas dizer para quê? Com a ditadura vigente, ou iamos ter uma automática mudança na gramatica da língua portuguesa, ou então a senhora ainda se lembraria de dar o mestrado a quem soubesse dizer o alfabeto de trás para a frente.
É melhor ficarmos caladinhos e fazer tudo o que a senhora manda. Ela é que sabe. Ela é que tem razão! Xiiiiiiuuuuuu...
Limito-me aqui a defender a querida Ministra.
Pois é claro que a senhora tem toda a razão. Porque não oferecer o 9º ano a todos os alunos? Porque não oferecer o 12º ano a todos os "adultos", sim, não são alunos. Aqueles que em semanas fazem o secundário não podem ser chamados de alunos. São "adultos", é o termo correcto, defendem os doutos especialistas na matéria. Uma matéria que só nas suas cabeças ocas faz sentido.
Sim, semanas. A título de mero exemplo, o pai de uma colega minha iniciou o 3º ciclo do ensino básico em Setembro, em Dezembro termina o 9º ano. Em Janeiro começa o secundário e em Março tem o 12º ano feitinho. Querem maior feito do que este? Grande Ministra! Grande salto que a Educação portuguesa dá. Nunca se viu nada assim! O Senhor, em 6 meses, indo umas vezes à escola, fazendo umas coisitas que nem de trabalhos se podem chamar, consegue fazer o que outros demoraram, no mínimo, 6 anos a fazer. Genial, sim Senhora Ministra.
Mas, como disse anteriormente, esta diva dos ministérios portugueses é que sabe, ela é que tem razão. Os professores sabem lá! Chumbam meninos inocentes assim só porque não sabem bem escrever o nome?
Porque não dar de bandeja o 12º ano a quem quer que seja se ela, professora universitária, cabeça máxima do ensino de um país dito desenvolvido, diz "Abzurdo" em vez de "Absurdo"? E disse-o, pelo menos, umas cinco vezes em entrevista à SIC, peço desculpa, à ZIC.
Mas ninguém explica a esta alminha que é "abzurdo" vir a público dizer tal coisa? Ou será que é chique e eu não sei? Tantos Secretários de Estado, políticos, jornalistas, professores, com quem ela raramente reúne para serem ouvidos, servem para quê?
Ninguém lhe diz: Senhora Ministra, ser iluminado do ensino outrora calamitoso em Portugal, grande salvadora da Pátria e do futuro saber da nação portuguesa, construtora de génio engenhoso das bases fulcrais de uma sociedade, sabe, a letra "S" só se lê "zzz" quando se encontra entre duas vogais. E o "B" que antecede o "S" não é uma vogal!
Mas dizer para quê? Com a ditadura vigente, ou iamos ter uma automática mudança na gramatica da língua portuguesa, ou então a senhora ainda se lembraria de dar o mestrado a quem soubesse dizer o alfabeto de trás para a frente.
É melhor ficarmos caladinhos e fazer tudo o que a senhora manda. Ela é que sabe. Ela é que tem razão! Xiiiiiiuuuuuu...
161
Ora bem, para esclarecer os vários bloguistas que me lançaram o desafio sobre o "Pegue no livro mais próximo, com mais de 161 páginas..., etc, etc, etc e tal", devo aqui confessar que não posso participar em tão profícua actividade de lazer, amplamente divulgada há semanas por tudo o que é blog.
Desculpem, é que não tenho livros com mais de 161 páginas.
Ainda pensei ir bater à porta dos vizinhos do lado para pedir as "Páginas Amarelas" mas achei que seria muito desagradável divulgar aqui o contacto telefónico de alguma alminha inocente.
Ainda uns quaisquer depravados começavam a ligar à velhinha da Rua 25 de Abril que, com tamanho susto (ou não), iria parar ao maravilhoso Hospital de Vila Franca de Xira com um ataque cardíaco.
Não quero ser responsável pelo estado de saúde da Dona Etelvina. Lamento.
Desculpem, é que não tenho livros com mais de 161 páginas.
Ainda pensei ir bater à porta dos vizinhos do lado para pedir as "Páginas Amarelas" mas achei que seria muito desagradável divulgar aqui o contacto telefónico de alguma alminha inocente.
Ainda uns quaisquer depravados começavam a ligar à velhinha da Rua 25 de Abril que, com tamanho susto (ou não), iria parar ao maravilhoso Hospital de Vila Franca de Xira com um ataque cardíaco.
Não quero ser responsável pelo estado de saúde da Dona Etelvina. Lamento.
Ovelhas
Detesto o termo: "Ovelha Negra".
Hoje olhei para a t-shirt de uma colega de trabalho e apercebi-me que, por muito gira que seja, e é, não faz muito sentido o desenho nela estampado. Nos dias de hoje não faz. Umas quantas ovelhas brancas alinhadas, muito sorridentes e divertidas... e no meio das mesmas, uma outra negra. Como se essa fosse uma no meio do rebanho. A negra, a ronhosa.
O mundo está cada vez mais cheio de ovelhas negras e são as brancas a excepção. As brancas constituem a excepção. São essas as mal vistas. Essas geram o ódio, essas que teimam em ir com o rebanho. Quanto muito são arrastadas porque dele fazem parte. Um rebanho sujo, escuro, negro, cada vez mais feio. Um rebanho de ovelhas que seguem a onda, as pisadas, os caminhos umas das outras sem respeito por nada. Caminha, pisam, passam por cima e pronto. Sem respeito por esses mesmos caminhos. O que interessa é caminhar. A vida é curta. O caminho é para percorrer, doa a quem doer.
As negras, cada vez mais negras, cada vez em maior quantidade, vão com as outras e acham-se até melhores por isso, com o argumento absurdo de que o mundo e o rebanho evolui e pobres, desgraçadas e infelizes são as brancas que não se apercebem disso.
As negras vão com o rebanho, cada vez mais negro, mas ainda ousam criticá-lo, quando fazem exactamente o mesmo que as ovelhas do lado. Simplesmente estão tão auto-centradas que nem se aperecebem do mal que propagam dia após dia. E quando se apercebem fingem que não. Não interessa, já passou, ficou para trás. Talvez se tornem mais negras assim. Mas fingem que não. Preferem nem perder muito tempo a pensar nisso. Vão com as outras mas é a sua lã, sobretudo essa, cada vez mais só essa que importa.
As poucas brancas, as cada vez menos brancas, por ali andam no meio do rebanho, no meio da caminhada. Umas vezes espreitam, outras mal se conseguem ver, nem convém. O rebanho rejeita-as, anula-as, faz que nem as vê. Quanto mais pisadas, enlameadas, sujas, forem, melhor. São elas que podem chamar mais a atenção e isso o rebanho não quer, não permite, não admite. As negras, cada uma delas, olham para a própria pelagem, desde que outra não seja considerado melhor, mais apelativo, mais desejado. As brancas que se sujem, que vejam a sua lã tornar-se mais negra, cada vez mais negra, é isso que pretende o rebanho no seu todo, cada ovelha negra em particular. Assim deixam de incomodar.
E, visto de longe, os tufos brancos são cada vez menos... É a vida, pensarão as negras. Está pensado. Toca a caminhar.
Hoje olhei para a t-shirt de uma colega de trabalho e apercebi-me que, por muito gira que seja, e é, não faz muito sentido o desenho nela estampado. Nos dias de hoje não faz. Umas quantas ovelhas brancas alinhadas, muito sorridentes e divertidas... e no meio das mesmas, uma outra negra. Como se essa fosse uma no meio do rebanho. A negra, a ronhosa.
O mundo está cada vez mais cheio de ovelhas negras e são as brancas a excepção. As brancas constituem a excepção. São essas as mal vistas. Essas geram o ódio, essas que teimam em ir com o rebanho. Quanto muito são arrastadas porque dele fazem parte. Um rebanho sujo, escuro, negro, cada vez mais feio. Um rebanho de ovelhas que seguem a onda, as pisadas, os caminhos umas das outras sem respeito por nada. Caminha, pisam, passam por cima e pronto. Sem respeito por esses mesmos caminhos. O que interessa é caminhar. A vida é curta. O caminho é para percorrer, doa a quem doer.
As negras, cada vez mais negras, cada vez em maior quantidade, vão com as outras e acham-se até melhores por isso, com o argumento absurdo de que o mundo e o rebanho evolui e pobres, desgraçadas e infelizes são as brancas que não se apercebem disso.
As negras vão com o rebanho, cada vez mais negro, mas ainda ousam criticá-lo, quando fazem exactamente o mesmo que as ovelhas do lado. Simplesmente estão tão auto-centradas que nem se aperecebem do mal que propagam dia após dia. E quando se apercebem fingem que não. Não interessa, já passou, ficou para trás. Talvez se tornem mais negras assim. Mas fingem que não. Preferem nem perder muito tempo a pensar nisso. Vão com as outras mas é a sua lã, sobretudo essa, cada vez mais só essa que importa.
As poucas brancas, as cada vez menos brancas, por ali andam no meio do rebanho, no meio da caminhada. Umas vezes espreitam, outras mal se conseguem ver, nem convém. O rebanho rejeita-as, anula-as, faz que nem as vê. Quanto mais pisadas, enlameadas, sujas, forem, melhor. São elas que podem chamar mais a atenção e isso o rebanho não quer, não permite, não admite. As negras, cada uma delas, olham para a própria pelagem, desde que outra não seja considerado melhor, mais apelativo, mais desejado. As brancas que se sujem, que vejam a sua lã tornar-se mais negra, cada vez mais negra, é isso que pretende o rebanho no seu todo, cada ovelha negra em particular. Assim deixam de incomodar.
E, visto de longe, os tufos brancos são cada vez menos... É a vida, pensarão as negras. Está pensado. Toca a caminhar.
Esplanada... musica para os ouvidos.
Pegou no computador e foi para uma esplanada. Queria explorar o photoshop e não lhe apetecia estar em casa. Por muito ocupado que andasse, nem sempre era bom passar horas e horas a fio fechado entre quatro paredes. E a casa estava quente. Queria ar, céu azul, gente à sua volta.
Estava ali bem. Aquela brisa sabia-lhe tão bem. Adorava aquele local, aquela paisagem. Não quis ouvir música. Quis ouvir o som de vozes à sua volta.
Enquanto o computador ligava, inspirou e recostou-se na cadeira a olhar o Tejo. Levantou os braços, esticou-os e espreguiçou-se. Queria lá saber de educações e falta delas.
Na mesa ao lado estavam duas mulheres, talvez mãe e filha. Uma significativamente mais velha do que outra.
- A sério, não entendo...
- Não? Eu entendo. O que ele quer sei eu.
- Mas vocês sempre se amaram tanto...
- Sim, mas eu não estou para isto. O que o gajo quer sei eu.
- Mas que te disse ele, concretamente?
- Já sabes. Quer dedicar-se ao trabalho, sair com os amigos, agora tem lá uns novos no emprego, conhecer gente, organizar a sua vida e depois logo vê o que fazer connosco.
- As pessoas, por vezes, precisam de organizar as suas cabeças com tempo...
- Sim, mas ele que sempre falou do amor, sempre dissertou sobre o amor, agora está-se a borrifar para o amor. O amor não é assim tão importante para ele, é o que é.
- Será que está? Será que se está a borrifar?
- O que é que achas? Quando o amor é a coisa mais importante da nossa vida, não se faz isto, ou faz? Quer dizer, passa o tempo a enganar-me, faz um grande choradinho e depois agora vem com isto e ainda diz que eu não me preocupo, que não quero saber dos problemas dele, que sou egoísta... Egoísta? E não tenho de ser? E ele foi o quê?
- Mas tu não tens de querer saber dos problemas dele. Já devias era ter sido egoísta há muito tempo.
- Eu sei, mas preocupo-me muito com aquele estúpido e chateia-me muito que ele ainda reaja assim. Preocupo-me e ainda levo por tabela.
- Está confuso e tu também.
- Confuso? Eu digo-lhe o confuso. Confuso? Então se está, não parece. Segundo ele, ele sabe muito bem o que quer. Os amigos, o trabalho, a compra do novo carro e conhecer pessoas novas. Isto é confuso? Ele tem tudo bem delineado na cabeça.
- Tem as suas prioridades, como todos nós...
- Isso mesmo, estás a ver? Prioridades. E eu, o amor não somos prioridade. E será que alguma vez fomos? É absurdo tudo o que ele já me disse sobre o amor. Tudo para inglês ver e para se enganar a si mesmo. O amor isto, o amor aquilo. Fez-me recuar, fez-me balançar, porque sabe o quanto o amo, e depois “toma lá com as minhas prioridades”. Isto é o quê? Ele brinca com o amor, isso é o que é. Brinca comigo como quer e lhe dá jeito.
- Ele sabe que o amas e, de repente, viu-se sem ti. Sente-se perdido, de certeza. Ele ama-te, não duvides disso.
- Mas ama mais o carro novo, o trabalho, os amigos e as amiguinhas novas. Sim, o que ele quer sei eu. Andar por aí a conhecer amiguinhas novas, dar umas quecas e depois se lhe apetecer logo pensa em mim e em nós. Ele não me engana. Só nas últimas semanas foram, de certeza, umas duas ou três.
Anda a experimentar. Vê se gosta desta vida que leva e se gostar caga de vez para mim. Até pode ser que lhe apareça uma gaja melhor que eu e caga para mim. Se isso não acontecer, se se fartar, logo pensa se me quer de volta e eu não sou substituta, não sou segunda escolha. Só se lembra de mim quando se sente sozinho. Mas depois... e eu sou estúpida, é o que sou.
- Pois, entendo.
- Ele quer andar por aí a brincar e logo se vê. E enquanto isso brinca com os meus sentimentos. Ele quis-me quando se viu sozinho e infeliz. Depois foi-se habituando a estar sozinho, viu que não era nada mau, que até lhe dava jeito e afinal já não quis outra vez.
- E já lhe disseste isso? Que diz ele?
- Diz que eu não o entendo e que precisa de tempo.
- Que não o entendes?
- Sim, quando não se tem argumentos diz-se que não nos entendem.
- Não sei se será bem assim.
- É. Quando se sente triste lembra-se aqui da parva. E eu lá vou armada em cadelinha.
Porque é que tenho de amar aquele filho da puta? Se ele fosse mulher era uma puta. Bem, nem era porque essas fazem o que fazem mas não gozam com os sentimentos alheios. Eu na merda e ele a conhecer outras gajas. Liga-me muito armado em sincero, muito querido, muito incompreendido, cheio de explicações mas ao mesmo tempo anda com outras. Que ande! Não sei é como é que tem cabeça para as duas coisas. Até sei. Porque ele sabe é muito bem o que quer. Custa-lhe é a ele mesmo admitir isso, claro. Ele próprio, lá no fundo, acha que é o cúmulo, que é demais.
- Ele sofre.
- Sofre ou obriga-se a sofrer porque se sente mal em saber que eu sofro, porque se sente mal em já se sentir tão bem.
- Meu Deus, ele ama-te, tu sabes...
- Ele ama-me? Não me ama nada. De vez em quando tem é saudades, sente a minha falta, isso sim. Isso não é amor.
- Ele ama-te, sabes que sim. Mas está confuso, baralhado, precisa de tempo e agora está livre e aproveita ao máximo. Vocês estão separados, ele pode fazer isso e tu devias fazer o mesmo.
- Sim, eu sei. Ele que faça o que ele quiser. Rode as gajas que quiser. Não é por isso que digo que ele não me ama. Sexo não é amor.
- Então?
- Não é por andar aí com outras que eu acho ou deixo de achar que ele me ama ou não.
- Mas...
- Por favor, claro que não é nada por isso. Quem ama não pôe em segundo plano. Quem ama não brinca assim com quem ama. Quem ama não diz e desdiz desta forma. Quem ama não lança o isco e depois tira-o vezes em conta. Pega em mim, atira-me ao mar, pega em mim volta a atirar-me. Quem ama cuida, preocupa-se, evita fazer sofrer. E ele não faz nada disso.
- Ele tem de pensar também nele, na vida dele, no que quer fazer com ela.
- Sim, e depois? Uma coisa é pensar nele acima de tudo, outra coisa é que para ele não pensar só nele é pensar no seu umbigo.
- E os miúdos, achas que ele lhes liga alguma? Eu devia era ir para tribunal e ficar-lhe com uma mensalidade para as crianças, isso sim. Há meses que não lhes põe a vista em cima, diz que anda cheio de trabalho, que as coisas na empresa estão complicadas... e ainda me liga e diz, todo muito queridinho:“os nossos meninos”. Nossos? Belo pai que me tem saído, aquele. Nem um tostão para ajudar. É saídas à noite, copos, jantares, cafés com outras... Para isso tem ele dinheiro. Para pegar na merda do carro e visitar os filhos já não tem dinheiro. O Victor tem ido às consultas, continua com o problema dos ouvidos e achas que ele lá apareceu? Achas que deu ajuda para pagar as consultas, para os medicamentos? Não tem tempo, não tem dinheiro uma merda! Para outras coisas já tem.
- O que acho é que vocês estão a complicar tudo. Vocês amam-se e estão a entrar num circulo que destrói tudo isso. E isso sim é de lamentar, mais do que tudo.
- E quem criou este círculo? Hã, quem foi? A sério, estou farta. Já não aguento mais isto. Olha a figura que ando a fazer! Disse-lhe que estava de baixa e sabes o que ele fez? Nesses mesmo dias foi tomar café com uma gaja. Eu sei, contaram-me. Fornicou com uma e dias depois conheceu outra com quem fornicou também, claro. Porra, eu estava de baixa. Ele sabe o quanto estou mal e nesses mesmos dias faz isto? E logo com duas? O que é isto? A sério, o que é isto? Que frieza é esta? Que pessoa é esta? Isto é amor? Eu na merda, atolhada em comprimidos para dormir, para descansar, para tudo e ele, na maior, a marcar encontros com uma tipa qualquer. Sim, está sozinho mas o que é isto numa altura destas? Numa altura em que ele diz que quer tentar? Isto não é nada. Amor é que não é. A Rute é que tem razão quando diz: “Ele sempre fez de ti o que quis e continua a fazer. Quando é que páras de deixar que o Carlos te faça mal? Ele não presta. As pessoas tem visto isso. Tu não vês porquê?”
- As pessoas não sabem do que falam. As pessoas são parvas. As coisas não são bem assim.
“Por que raio tinha saído sem o ipod!?” Pensou. Era tão melhor ter estado na esplanada a ouvir música.
Pediu a conta, fechou o computador e dirigiu-se ao carro para voltar para casa.
Estava ali bem. Aquela brisa sabia-lhe tão bem. Adorava aquele local, aquela paisagem. Não quis ouvir música. Quis ouvir o som de vozes à sua volta.
Enquanto o computador ligava, inspirou e recostou-se na cadeira a olhar o Tejo. Levantou os braços, esticou-os e espreguiçou-se. Queria lá saber de educações e falta delas.
Na mesa ao lado estavam duas mulheres, talvez mãe e filha. Uma significativamente mais velha do que outra.
- A sério, não entendo...
- Não? Eu entendo. O que ele quer sei eu.
- Mas vocês sempre se amaram tanto...
- Sim, mas eu não estou para isto. O que o gajo quer sei eu.
- Mas que te disse ele, concretamente?
- Já sabes. Quer dedicar-se ao trabalho, sair com os amigos, agora tem lá uns novos no emprego, conhecer gente, organizar a sua vida e depois logo vê o que fazer connosco.
- As pessoas, por vezes, precisam de organizar as suas cabeças com tempo...
- Sim, mas ele que sempre falou do amor, sempre dissertou sobre o amor, agora está-se a borrifar para o amor. O amor não é assim tão importante para ele, é o que é.
- Será que está? Será que se está a borrifar?
- O que é que achas? Quando o amor é a coisa mais importante da nossa vida, não se faz isto, ou faz? Quer dizer, passa o tempo a enganar-me, faz um grande choradinho e depois agora vem com isto e ainda diz que eu não me preocupo, que não quero saber dos problemas dele, que sou egoísta... Egoísta? E não tenho de ser? E ele foi o quê?
- Mas tu não tens de querer saber dos problemas dele. Já devias era ter sido egoísta há muito tempo.
- Eu sei, mas preocupo-me muito com aquele estúpido e chateia-me muito que ele ainda reaja assim. Preocupo-me e ainda levo por tabela.
- Está confuso e tu também.
- Confuso? Eu digo-lhe o confuso. Confuso? Então se está, não parece. Segundo ele, ele sabe muito bem o que quer. Os amigos, o trabalho, a compra do novo carro e conhecer pessoas novas. Isto é confuso? Ele tem tudo bem delineado na cabeça.
- Tem as suas prioridades, como todos nós...
- Isso mesmo, estás a ver? Prioridades. E eu, o amor não somos prioridade. E será que alguma vez fomos? É absurdo tudo o que ele já me disse sobre o amor. Tudo para inglês ver e para se enganar a si mesmo. O amor isto, o amor aquilo. Fez-me recuar, fez-me balançar, porque sabe o quanto o amo, e depois “toma lá com as minhas prioridades”. Isto é o quê? Ele brinca com o amor, isso é o que é. Brinca comigo como quer e lhe dá jeito.
- Ele sabe que o amas e, de repente, viu-se sem ti. Sente-se perdido, de certeza. Ele ama-te, não duvides disso.
- Mas ama mais o carro novo, o trabalho, os amigos e as amiguinhas novas. Sim, o que ele quer sei eu. Andar por aí a conhecer amiguinhas novas, dar umas quecas e depois se lhe apetecer logo pensa em mim e em nós. Ele não me engana. Só nas últimas semanas foram, de certeza, umas duas ou três.
Anda a experimentar. Vê se gosta desta vida que leva e se gostar caga de vez para mim. Até pode ser que lhe apareça uma gaja melhor que eu e caga para mim. Se isso não acontecer, se se fartar, logo pensa se me quer de volta e eu não sou substituta, não sou segunda escolha. Só se lembra de mim quando se sente sozinho. Mas depois... e eu sou estúpida, é o que sou.
- Pois, entendo.
- Ele quer andar por aí a brincar e logo se vê. E enquanto isso brinca com os meus sentimentos. Ele quis-me quando se viu sozinho e infeliz. Depois foi-se habituando a estar sozinho, viu que não era nada mau, que até lhe dava jeito e afinal já não quis outra vez.
- E já lhe disseste isso? Que diz ele?
- Diz que eu não o entendo e que precisa de tempo.
- Que não o entendes?
- Sim, quando não se tem argumentos diz-se que não nos entendem.
- Não sei se será bem assim.
- É. Quando se sente triste lembra-se aqui da parva. E eu lá vou armada em cadelinha.
Porque é que tenho de amar aquele filho da puta? Se ele fosse mulher era uma puta. Bem, nem era porque essas fazem o que fazem mas não gozam com os sentimentos alheios. Eu na merda e ele a conhecer outras gajas. Liga-me muito armado em sincero, muito querido, muito incompreendido, cheio de explicações mas ao mesmo tempo anda com outras. Que ande! Não sei é como é que tem cabeça para as duas coisas. Até sei. Porque ele sabe é muito bem o que quer. Custa-lhe é a ele mesmo admitir isso, claro. Ele próprio, lá no fundo, acha que é o cúmulo, que é demais.
- Ele sofre.
- Sofre ou obriga-se a sofrer porque se sente mal em saber que eu sofro, porque se sente mal em já se sentir tão bem.
- Meu Deus, ele ama-te, tu sabes...
- Ele ama-me? Não me ama nada. De vez em quando tem é saudades, sente a minha falta, isso sim. Isso não é amor.
- Ele ama-te, sabes que sim. Mas está confuso, baralhado, precisa de tempo e agora está livre e aproveita ao máximo. Vocês estão separados, ele pode fazer isso e tu devias fazer o mesmo.
- Sim, eu sei. Ele que faça o que ele quiser. Rode as gajas que quiser. Não é por isso que digo que ele não me ama. Sexo não é amor.
- Então?
- Não é por andar aí com outras que eu acho ou deixo de achar que ele me ama ou não.
- Mas...
- Por favor, claro que não é nada por isso. Quem ama não pôe em segundo plano. Quem ama não brinca assim com quem ama. Quem ama não diz e desdiz desta forma. Quem ama não lança o isco e depois tira-o vezes em conta. Pega em mim, atira-me ao mar, pega em mim volta a atirar-me. Quem ama cuida, preocupa-se, evita fazer sofrer. E ele não faz nada disso.
- Ele tem de pensar também nele, na vida dele, no que quer fazer com ela.
- Sim, e depois? Uma coisa é pensar nele acima de tudo, outra coisa é que para ele não pensar só nele é pensar no seu umbigo.
- E os miúdos, achas que ele lhes liga alguma? Eu devia era ir para tribunal e ficar-lhe com uma mensalidade para as crianças, isso sim. Há meses que não lhes põe a vista em cima, diz que anda cheio de trabalho, que as coisas na empresa estão complicadas... e ainda me liga e diz, todo muito queridinho:“os nossos meninos”. Nossos? Belo pai que me tem saído, aquele. Nem um tostão para ajudar. É saídas à noite, copos, jantares, cafés com outras... Para isso tem ele dinheiro. Para pegar na merda do carro e visitar os filhos já não tem dinheiro. O Victor tem ido às consultas, continua com o problema dos ouvidos e achas que ele lá apareceu? Achas que deu ajuda para pagar as consultas, para os medicamentos? Não tem tempo, não tem dinheiro uma merda! Para outras coisas já tem.
- O que acho é que vocês estão a complicar tudo. Vocês amam-se e estão a entrar num circulo que destrói tudo isso. E isso sim é de lamentar, mais do que tudo.
- E quem criou este círculo? Hã, quem foi? A sério, estou farta. Já não aguento mais isto. Olha a figura que ando a fazer! Disse-lhe que estava de baixa e sabes o que ele fez? Nesses mesmo dias foi tomar café com uma gaja. Eu sei, contaram-me. Fornicou com uma e dias depois conheceu outra com quem fornicou também, claro. Porra, eu estava de baixa. Ele sabe o quanto estou mal e nesses mesmos dias faz isto? E logo com duas? O que é isto? A sério, o que é isto? Que frieza é esta? Que pessoa é esta? Isto é amor? Eu na merda, atolhada em comprimidos para dormir, para descansar, para tudo e ele, na maior, a marcar encontros com uma tipa qualquer. Sim, está sozinho mas o que é isto numa altura destas? Numa altura em que ele diz que quer tentar? Isto não é nada. Amor é que não é. A Rute é que tem razão quando diz: “Ele sempre fez de ti o que quis e continua a fazer. Quando é que páras de deixar que o Carlos te faça mal? Ele não presta. As pessoas tem visto isso. Tu não vês porquê?”
- As pessoas não sabem do que falam. As pessoas são parvas. As coisas não são bem assim.
“Por que raio tinha saído sem o ipod!?” Pensou. Era tão melhor ter estado na esplanada a ouvir música.
Pediu a conta, fechou o computador e dirigiu-se ao carro para voltar para casa.
A Cerca
Vivia num espaço para o qual se tinha dedicado. Um espaço que tinha ajudado a construir. Um espaço que enchia de cuidados, de atenções. Em seu redor uma cerca de arame farpado. Não estava sempre bem, mas isso faz parte da vida, fazia parte daquele seu espaço. Por vezes cansava-se mas não desistia. Era o seu espaço, um espaço que amava mais do que tudo. Dedicava-se sem que se desse muito por isso.
Um dia sentiu-se atirado dali. Num rompante violento foi catapultado do seu espaço. Catapultado de forma rasteira, ao ponto de ter atravessado a cerca, a cerca de arame farpado. Em segundos a atravessou. Em segundos se viu estendido no chão. O chão do outro lado. O chão de um espaço que não era o seu.
Era o seu novo e imenso espaço. Era tão grande. Mas como explorá-lo, como vivenciá-lo, como senti-lo na sua plenitude se estava cheio de feridas? Feridas que lhe causavam dores imensas. Feridas que lhe causavam um sofrimento imenso.
Mas era o seu novo espaço. Não podia desistir. Dorido lá se levantou, la foi andando. Era um espaço de muitos mas haveria de encontrar um cantinho para si.
Mas olhou para trás. As feridas começavam a sarar. Já tinha algumas cicatrizes que ficariam para sempre, mas era melhor tê-las do que quando estavam abertas, quando eram profundas. As feridas que ainda tinha, já por si, eram mais do que muitas. Olhou para trás.
Porque não voltar aquele espaço? O vento soprava-lhe constantemente que voltasse, que o seguisse naquela direcção. E seguiu.
Lentamente foi passando pelo arame. Era tão difícil, tão doloroso, mas valeria a pena. Ia voltar para o seu espaço. E lá, no que era seu, as feridas antigas e as novas que o arame rompia, sarariam. Afinal "Only the one that hurts you can make you feel better. Only the one that inflicts pain can take it away". Valeria a pena, acreditava nisso. Sararia rapidamente. Seria feliz novamente. Seria um espaço mais belo ainda do que havia já sido.
Estava já quase nele, no seu espaço. Era tão bom. Sabia tão bem. Os rasgões feitos pelo arame, esses, quase nem os sentia a cada corte, naquele caminho.
Estava já quase nele quando o mesmo vento, de brisa se fez furacão e o atirou de novo pela cerca. Uma terceira vez a passá-la. Uma segunda no mesmo sentido.
Achou-se quase morto. Só podia. Não passava de uma amalgama de dores sem fim, de pedaços espalhados pelo chão. Os pulmões sufocavam de sangue. O coração partido em estilhaços.
Ali ficou estendido minutos, horas, dias, semanas. A quantidade de cicatrizes era mínima em comparação com as feridas abertas, com as novas e ainda mais extensas e profundas feridas. Algumas já começavam o seu processo de gangrenação.
Mas, ainda assim, levantou-se. Tentou, tentou, tentou e com esforço, com desequilíbrios, com tropeções, lá se levantou. Haveria de conseguir. Tinha de ser. Tinha de ser mais forte do que o vento, do que aquele arame farpado.
Estava no novo espaço. Faria dele o que quisesse. Seria seu. E isso dava-lhe um restício de força. Uma força ínfima que haveria de ser, a pouco e pouco, maior. Muito lentamente mas haveria de ser.
Começou a olhar à volta, a explorar o novo espaço, um espaço cheio de tantos espaços, com tantas características, com tanto a viver, com tanto de tanto para sentir. Tinha de ser forte. Haveria de ser bom. Quem sabe não arranjaria um novo espaço seu?
Mas voltou para junto da cerca de arame farpado? Voltou. Voltou e aconteceu-lhe exactamente o mesmo.
Lírico? Poético? Sonhador? Forte? Valente? Batalhador? Crédulo? Herói?
Não... parvo.
Os 3 bebes
Dois meses depois das férias; dois meses depois de uma chegada a casa com a visualização de algo quase inédito, o acasalamento entre Bruno e Camila; dois meses depois uma chegada a casa a deixar antever algo já previsível para estes dias. Camila não me veio esperar à porta.
Entro e vejo o tapete da sala todo enrodilhado, a manta da sofá enrolada nela mesma e um miar algo aflito vindo de algures. Camila não sossegava. Saltava para cima do sofá e rebolava-se na manta. Saltava para o chão e tentava meter-se debaixo do tapete. Percebi que estava para breve, muito breve. Dali a minutos, umas horas no máximo, ia dar à luz. Era hoje.
Fui buscar um cobertor, coloquei-o na sala, peguei na menina e dei-lhe a entender que seria ali um bom local para o nascimento dos bebés. Ela percebeu isso. Rapidamente se enfiou no quentinho e ali ficou em silêncio, ajeitando-se ora para um lado, ora para o outro.
Fui-me deitar. Dormi mal. Ora me levantava porque ouvia a futura mamã miar, ora me levantava mesmo no silêncio da casa. Queria assistir, gosto sempre de fazê-lo. Queria ajudar se fosse preciso. Queria estar ali com ela, apoiá-la. Bruno não saiu dali. Sempre atento, curioso, a parecer um puto a olhar para a novidade.
Não assisti ao nascimento. Coberto de sono, deixei-me dormir pesadamente. Umas duas horas depois acordo, salto da cama e corro para a sala. E, como previa, lá estava ela, lá estavam eles. Cinco. Mãe, pai e três bebés branquinhos com manchinhas na cabeça. Três "Bruninhos" bebés. Iriam, certamente, perder as manchinhas pretas quando crescessem. Tinha acontecido com o papá, agora todo branco.
Seriam meninos ou meninas? Não quis logo mexer. Tinham nascido há muito pouco tempo. O sangue no pêlo branco mostrava isso.
Fiz umas festinhas à mamã. Tão querida que ela estava. Via-se que estava completamente exausta, mal abria os olhos. Mas, qual mãe com extrema preocupação, lá os lambia, cheirava, ajeitava contra si, lhes dava já de mamar.
O Bruno foi-se embora para o quarto. Também ele precisava dormir. A sua falta na cama dizia-me que tinha passado a noite toda acordado.
E ali estavam aqueles novos habitantes do planeta. Tão pequeninos, molhados, mas já a lutar, sofregamente, pela vida. Uma sofreguidão dorida para as maminhas da mãe que se contorcia de dor. Mas é mãe.
Durante umas semanas ficarão cá em casa aos cuidados da mamã e aos meus, depois terão de ir para novos donos. Espero conseguir encontrá-los. Infelizmente, não poderei ficar com os meninos.
(Mais fotografias encontram-se no fotolog "Imitation Of Life" cujo link está aqui na coluna do lado direito)
Entro e vejo o tapete da sala todo enrodilhado, a manta da sofá enrolada nela mesma e um miar algo aflito vindo de algures. Camila não sossegava. Saltava para cima do sofá e rebolava-se na manta. Saltava para o chão e tentava meter-se debaixo do tapete. Percebi que estava para breve, muito breve. Dali a minutos, umas horas no máximo, ia dar à luz. Era hoje.
Fui buscar um cobertor, coloquei-o na sala, peguei na menina e dei-lhe a entender que seria ali um bom local para o nascimento dos bebés. Ela percebeu isso. Rapidamente se enfiou no quentinho e ali ficou em silêncio, ajeitando-se ora para um lado, ora para o outro.
Fui-me deitar. Dormi mal. Ora me levantava porque ouvia a futura mamã miar, ora me levantava mesmo no silêncio da casa. Queria assistir, gosto sempre de fazê-lo. Queria ajudar se fosse preciso. Queria estar ali com ela, apoiá-la. Bruno não saiu dali. Sempre atento, curioso, a parecer um puto a olhar para a novidade.
Não assisti ao nascimento. Coberto de sono, deixei-me dormir pesadamente. Umas duas horas depois acordo, salto da cama e corro para a sala. E, como previa, lá estava ela, lá estavam eles. Cinco. Mãe, pai e três bebés branquinhos com manchinhas na cabeça. Três "Bruninhos" bebés. Iriam, certamente, perder as manchinhas pretas quando crescessem. Tinha acontecido com o papá, agora todo branco.
Seriam meninos ou meninas? Não quis logo mexer. Tinham nascido há muito pouco tempo. O sangue no pêlo branco mostrava isso.
Fiz umas festinhas à mamã. Tão querida que ela estava. Via-se que estava completamente exausta, mal abria os olhos. Mas, qual mãe com extrema preocupação, lá os lambia, cheirava, ajeitava contra si, lhes dava já de mamar.
O Bruno foi-se embora para o quarto. Também ele precisava dormir. A sua falta na cama dizia-me que tinha passado a noite toda acordado.
E ali estavam aqueles novos habitantes do planeta. Tão pequeninos, molhados, mas já a lutar, sofregamente, pela vida. Uma sofreguidão dorida para as maminhas da mãe que se contorcia de dor. Mas é mãe.
Durante umas semanas ficarão cá em casa aos cuidados da mamã e aos meus, depois terão de ir para novos donos. Espero conseguir encontrá-los. Infelizmente, não poderei ficar com os meninos.
(Mais fotografias encontram-se no fotolog "Imitation Of Life" cujo link está aqui na coluna do lado direito)
Placebo
(Jackie - Sinéad O'Connor Cover)
(In the cold light of morning)
(Without you i'm nothing)
(Peeping Tom)
(My sweet prince)
(Twenty Years)
(Sleeping with ghosts)
Do mais extraordinario que tenho lido ultimamente!!!
Tenho andado enganado todos estes anos, afinal. Que chatice! Como é possível! Afinal é tão simples e eu não sabia. Enganado eu e tantos mais. Pronto, não sou gay! Sim, leram bem, parece que se decobriu que não sou. Digo-o porque na minha juventude sempre me dei bem com pessoas do mesmo sexo que o meu (já a seguir a explicação para isto), logo não devo ser gay. Ou então sou gay mas posso deixar de ser. Esse é o objectivo. Não se é, achando-se que se é, ou é-se mas pode deixar-se de ser. Que espectáculo!
Portanto, daqui a tempos direi com toda a veleidade que "Sim, sou heterossexual!" Viva! Que bom! Vou curar-me, passar a gostar de senaitas e já posso ter filhos. Yes! Vou já começar a juntar dinheiro (qual carro novo, qual quê!?) e vou já, já a correr a uma consulta. Vá, vá, todos os homossexuais, meninos e meninas, a fazer o mesmo. Querem continuar doentinhos?
E já agora, toca a tirar uma licenciatura com mestrado em psiquiatria animal porque daqui a tempos também haverá cura para as cerca de 30% de espécies animais que têm relações homossexuais.
Nem estou a acreditar, isto é um sonho! Deixaremos de ser "maricas", passaremos a ser "normais", "mentalmente saudáveis", a ter os mesmos direitos e ainda ficaremos ricos. Ai que bom! Estou tão feliz!!!
Please!
Leiam, leiam e descubram a verdade das verdades. Afinal, é tão simples.
Vale a pena ler este artigo de Maria Fernanda Barroca, publicado no "Diário do Minho". Está na íntegra aqui em baixo. Mais um texto "científico" sobre o tratamento da homossexualidade. «A homossexualidade é uma doença e a medicina ocupa-se também de outras enfermidades que nem sempre se podem curar, como a asma ou o reumático, mas nenhum médico concluiria que não tem sentido submeter esses pacientes a tratamentos, ou estudar novas terapias». E explica: «dentro do homossexual vive um pobre menino que se consome em desejos insatisfeitos».
"A Terapia das Tendências Homossexuais"
Maria Fernanda Barroca
"O psicólogo holandês Gerard vander Aardweg, apoiado na sua experiência clínica, afirma que a homossexualidade se pode superar com uma terapia adequada. No seu entender a ideia de que a homossexualidade não pode mudar é errada. Uma das razões que dá para esta visão fatalista do problema é o escasso número de pessoas que se têm dedicado à investigação e tratamento da homossexualidade.
O grande público olha para a homossexualidade com preconceitos e ideias superadas. Desta atitude se aproveita a estratégia da emancipação dos homossexuais assumidos, que pretendem estabelecer na sociedade alguns dogmas de cariz libertário: «a homossexualidade é uma variante normal da sexualidade»; «o único problema é a discriminação social»; «o homossexual nasce, não se faz»; «o homossexual não pode mudar e muito menos curar-se». Esta última afirmação expressa a atitude fatalista que se encontra cada vez mais difundida.
Há duas categorias de pessoas que se esforçam no tratamento da homossexualidade: uma são os psicólogos, psiquiatras e psico-analistas; outra, os grupos cristãos, de maioria protestante. De facto, quanto mais um homossexual se orientar para a fé em Deus, tanto melhor vê o sentido da sua vida, purifica a sua consciência e ganha vontade de lutar contra as suas tendências desordenadas. As causas devem localizar-se nos anos da juventude e o papel importante que tem neste processo o relacionamento com os pais. No homossexual está subjacente uma personalidade bloqueada, baseada numa vida sexual imatura e infantil. Ainda que os estudiosos do problema diferem na maior ou menor importância que se concede aos factores genéticos, existe um acordo em conceber a homossexualidade como uma reacção perante a dificuldade de se identificar com o próprio sexo, um «problema de identidade sexual».
É de realçar a importância que tem, para que um filho se identifique positivamente com a sua situação sexual, o facto de que tenha estima pelo progenitor do mesmo sexo. O adulto homossexual é uma pessoa que não viveu os anos da juventude com jovens do mesmo sexo. A criança ou o jovem dramatiza a sua situação e procura o afecto das pessoas do mesmo sexo que não o aceitam. Esta necessidade erotizada de atenção leva às fantasias homossexuais. Assim, o psiquiatra holandês Arndt resume esta situação numa fórmula: «dentro do homossexual vive um pobre menino que se consome em desejos insatisfeitos».
A terapia deve orientar-se a ensinar ao paciente a reconhecer e combater toda a gama de expressões de egocentrismo infantil, de medos, de sentimentos de inferioridade, de reacções de protesto, de motivações egocêntricas no modo de encarar a amizade e as relações sociais. O amadurecimento dá-se quando cresce a confiança em si próprio. Só quem se sente homem (ou mulher), e é feliz de o ser, está em condições de sentir atracção pelo outro sexo. Uma mulher lésbica curou-se radicalmente quando entendeu em profundidade o que lhe disse um sacerdote católico, dotado de bom sentido psicológico: «continuas a ser uma menina pequena». No homossexual também existem instintos heterossexuais, mas são bloqueados por um complexo de inferioridade homossexual. Os que desejam tratar-se melhoram em um ou dois anos e com o bem-estar que sentem e a alegria de viver, o seu egocentrismo esfuma-se. Alguns acabam por se enamorar por pessoas do outro sexo, casam e constituem família.
O caminho da libertação para um homossexual não passa pela compaixão e muito menos pelo reconhecimento
da “normalidade” das relações homossexuais. Ora, o que nós vemos actualmente é que os homossexuais querem ser tratados como as outras pessoas, assumindo-se em manifestações provocatórias, exigindo para si um direito que negam aos outros.
A homossexualidade é uma doença e a medicina ocupa-se também de outras enfermidades que nem sempre se podem curar, como a asma ou o reumático, mas nenhum médico concluiria que não tem sentido submeter esses pacientes a tratamentos, ou estudar novas terapias. Com os homossexuais passa-se o mesmo – não há outro caminho de libertação senão a luta por corrigir as tendências desviadas. Caso contrário, à frustração junta-se uma vida infeliz disfarçada por uma ruidosa alegria só aparente, que leva à destruição psíquica e ao desespero.
Muito ligada à homossexualidade está a problemática da SIDA e custa um pouco a aceitar que aqueles que aplicam ao tabaco a frase “a natureza sempre passa factura se se vai contra ela”, excluam a homossexualidade e as suas consequências dramáticas para terem para com eles e elas uma só atitude – compreensão (hipócrita, digo eu). Não precisam os homossexuais de compaixão, muito menos de discriminação, mas sim de serem tratados como doentes a quem é preciso aplicar a terapia adequada."
Portanto, daqui a tempos direi com toda a veleidade que "Sim, sou heterossexual!" Viva! Que bom! Vou curar-me, passar a gostar de senaitas e já posso ter filhos. Yes! Vou já começar a juntar dinheiro (qual carro novo, qual quê!?) e vou já, já a correr a uma consulta. Vá, vá, todos os homossexuais, meninos e meninas, a fazer o mesmo. Querem continuar doentinhos?
E já agora, toca a tirar uma licenciatura com mestrado em psiquiatria animal porque daqui a tempos também haverá cura para as cerca de 30% de espécies animais que têm relações homossexuais.
Nem estou a acreditar, isto é um sonho! Deixaremos de ser "maricas", passaremos a ser "normais", "mentalmente saudáveis", a ter os mesmos direitos e ainda ficaremos ricos. Ai que bom! Estou tão feliz!!!
Please!
Leiam, leiam e descubram a verdade das verdades. Afinal, é tão simples.
Vale a pena ler este artigo de Maria Fernanda Barroca, publicado no "Diário do Minho". Está na íntegra aqui em baixo. Mais um texto "científico" sobre o tratamento da homossexualidade. «A homossexualidade é uma doença e a medicina ocupa-se também de outras enfermidades que nem sempre se podem curar, como a asma ou o reumático, mas nenhum médico concluiria que não tem sentido submeter esses pacientes a tratamentos, ou estudar novas terapias». E explica: «dentro do homossexual vive um pobre menino que se consome em desejos insatisfeitos».
"A Terapia das Tendências Homossexuais"
Maria Fernanda Barroca
"O psicólogo holandês Gerard vander Aardweg, apoiado na sua experiência clínica, afirma que a homossexualidade se pode superar com uma terapia adequada. No seu entender a ideia de que a homossexualidade não pode mudar é errada. Uma das razões que dá para esta visão fatalista do problema é o escasso número de pessoas que se têm dedicado à investigação e tratamento da homossexualidade.
O grande público olha para a homossexualidade com preconceitos e ideias superadas. Desta atitude se aproveita a estratégia da emancipação dos homossexuais assumidos, que pretendem estabelecer na sociedade alguns dogmas de cariz libertário: «a homossexualidade é uma variante normal da sexualidade»; «o único problema é a discriminação social»; «o homossexual nasce, não se faz»; «o homossexual não pode mudar e muito menos curar-se». Esta última afirmação expressa a atitude fatalista que se encontra cada vez mais difundida.
Há duas categorias de pessoas que se esforçam no tratamento da homossexualidade: uma são os psicólogos, psiquiatras e psico-analistas; outra, os grupos cristãos, de maioria protestante. De facto, quanto mais um homossexual se orientar para a fé em Deus, tanto melhor vê o sentido da sua vida, purifica a sua consciência e ganha vontade de lutar contra as suas tendências desordenadas. As causas devem localizar-se nos anos da juventude e o papel importante que tem neste processo o relacionamento com os pais. No homossexual está subjacente uma personalidade bloqueada, baseada numa vida sexual imatura e infantil. Ainda que os estudiosos do problema diferem na maior ou menor importância que se concede aos factores genéticos, existe um acordo em conceber a homossexualidade como uma reacção perante a dificuldade de se identificar com o próprio sexo, um «problema de identidade sexual».
É de realçar a importância que tem, para que um filho se identifique positivamente com a sua situação sexual, o facto de que tenha estima pelo progenitor do mesmo sexo. O adulto homossexual é uma pessoa que não viveu os anos da juventude com jovens do mesmo sexo. A criança ou o jovem dramatiza a sua situação e procura o afecto das pessoas do mesmo sexo que não o aceitam. Esta necessidade erotizada de atenção leva às fantasias homossexuais. Assim, o psiquiatra holandês Arndt resume esta situação numa fórmula: «dentro do homossexual vive um pobre menino que se consome em desejos insatisfeitos».
A terapia deve orientar-se a ensinar ao paciente a reconhecer e combater toda a gama de expressões de egocentrismo infantil, de medos, de sentimentos de inferioridade, de reacções de protesto, de motivações egocêntricas no modo de encarar a amizade e as relações sociais. O amadurecimento dá-se quando cresce a confiança em si próprio. Só quem se sente homem (ou mulher), e é feliz de o ser, está em condições de sentir atracção pelo outro sexo. Uma mulher lésbica curou-se radicalmente quando entendeu em profundidade o que lhe disse um sacerdote católico, dotado de bom sentido psicológico: «continuas a ser uma menina pequena». No homossexual também existem instintos heterossexuais, mas são bloqueados por um complexo de inferioridade homossexual. Os que desejam tratar-se melhoram em um ou dois anos e com o bem-estar que sentem e a alegria de viver, o seu egocentrismo esfuma-se. Alguns acabam por se enamorar por pessoas do outro sexo, casam e constituem família.
O caminho da libertação para um homossexual não passa pela compaixão e muito menos pelo reconhecimento
da “normalidade” das relações homossexuais. Ora, o que nós vemos actualmente é que os homossexuais querem ser tratados como as outras pessoas, assumindo-se em manifestações provocatórias, exigindo para si um direito que negam aos outros.
A homossexualidade é uma doença e a medicina ocupa-se também de outras enfermidades que nem sempre se podem curar, como a asma ou o reumático, mas nenhum médico concluiria que não tem sentido submeter esses pacientes a tratamentos, ou estudar novas terapias. Com os homossexuais passa-se o mesmo – não há outro caminho de libertação senão a luta por corrigir as tendências desviadas. Caso contrário, à frustração junta-se uma vida infeliz disfarçada por uma ruidosa alegria só aparente, que leva à destruição psíquica e ao desespero.
Muito ligada à homossexualidade está a problemática da SIDA e custa um pouco a aceitar que aqueles que aplicam ao tabaco a frase “a natureza sempre passa factura se se vai contra ela”, excluam a homossexualidade e as suas consequências dramáticas para terem para com eles e elas uma só atitude – compreensão (hipócrita, digo eu). Não precisam os homossexuais de compaixão, muito menos de discriminação, mas sim de serem tratados como doentes a quem é preciso aplicar a terapia adequada."
West End
Da próxima vez que for a Londres sinto em mim que é absolutamente necessário ir assistir a três musicais: Les Misérables (já aqui "postei" dois temas), Billy Elliot e Wicked. Os dois primeiros estive para ir assistir na minha última ida à mais cosmopolita cidade europeia, mas o dinheiro não era suficiente e optei pelo "Chicago". Meses antes tinha vivênciado o extraordinário "The Phantom of the Opera". Da próxima quero mesmo ver se vou a estes três. Não direi mais porque o dinheiro não abunda. E mesmo três já é, direi, bastante, no que concerne às finanças. A ver vamos.
Mesmo para quem não é fã, vale mesmo, mesmo, mesmo a pena. Assistir a qualquer um destes espectáculos, em cartaz no West End, é algo de único. Do melhor que se faz a nível mundial. Arrepiante a todos os níveis. Impossível de se ficar indiferente a tanta qualidade e perfeição. Só mesmo estando lá para sentir. E eu quero sentir, quero estar lá, quero fazer parte.
(Billy Elliot)
(Wicked)
Mesmo para quem não é fã, vale mesmo, mesmo, mesmo a pena. Assistir a qualquer um destes espectáculos, em cartaz no West End, é algo de único. Do melhor que se faz a nível mundial. Arrepiante a todos os níveis. Impossível de se ficar indiferente a tanta qualidade e perfeição. Só mesmo estando lá para sentir. E eu quero sentir, quero estar lá, quero fazer parte.
(Billy Elliot)
(Wicked)
Ouço, gosto, estou.
- Diz-me qual é a tua música preferida.
- Não sei responder a isso. Tenho muitas.
- Diz-me três, ou mais, pronto.
- Não sei. Não consigo fazer essa seleccão. Durante anos dizia sempre o "Losing My Religion" dos REM. Adoro a todos os níveis, a começar logo pelo título. Mas foi algo que marcou a minha juventude. Hoje não sei dizer, não sei escolher uma música.
- Então diz-me a música que mais ouviste hoje.
- É antiga. O "Twist in my Sobriety" da Tanita Tikaram.
- Não conheço. Quem é?
- Devias. Vale muito a pena.
- Hei-de ouvir. E qual é a música que mais gostas actualmente?
- "Forggiven" dos Within Temptation.
- Esses conheço mas essa música acho que não.
- Devias. É linda.
- Então essa é a música que mais tem a ver contigo hoje em dia. Hummm...
- Não. A que mais tem a ver comigo agora é a "Nobody's Home" da Avril Lavigne.
- Então?
- São coisas diferentes.
- Ah, ok. Conheço essa miúda mas não gosto muito. Acho que tem um bocadinho a mania.
- Sim, eu não disse que gosto muito. Mas esta música adoro e é aquela que mais me caracteriza hoje.
- Deixa lá ver qual é...
- Vai lá, vai...
(Tanita Tikaram - Twist in my Sobriety)
(Within Temptation - Forggiven)
(Avril Lavigne - Nobody's Home)
- Não sei responder a isso. Tenho muitas.
- Diz-me três, ou mais, pronto.
- Não sei. Não consigo fazer essa seleccão. Durante anos dizia sempre o "Losing My Religion" dos REM. Adoro a todos os níveis, a começar logo pelo título. Mas foi algo que marcou a minha juventude. Hoje não sei dizer, não sei escolher uma música.
- Então diz-me a música que mais ouviste hoje.
- É antiga. O "Twist in my Sobriety" da Tanita Tikaram.
- Não conheço. Quem é?
- Devias. Vale muito a pena.
- Hei-de ouvir. E qual é a música que mais gostas actualmente?
- "Forggiven" dos Within Temptation.
- Esses conheço mas essa música acho que não.
- Devias. É linda.
- Então essa é a música que mais tem a ver contigo hoje em dia. Hummm...
- Não. A que mais tem a ver comigo agora é a "Nobody's Home" da Avril Lavigne.
- Então?
- São coisas diferentes.
- Ah, ok. Conheço essa miúda mas não gosto muito. Acho que tem um bocadinho a mania.
- Sim, eu não disse que gosto muito. Mas esta música adoro e é aquela que mais me caracteriza hoje.
- Deixa lá ver qual é...
- Vai lá, vai...
(Tanita Tikaram - Twist in my Sobriety)
(Within Temptation - Forggiven)
(Avril Lavigne - Nobody's Home)
Imagining You
What would morning taste like with you?
Would a shower feel the same with you?
Did you ever think what loving me could mean?
When you're all alone do you imagine me?
Would I smell the same after I hugged you?
If I slept in your arms could you sleep too?
Did you ever think what loving me could mean?
When you're all alone do you imagine me?
Fingers memorizing my skin.
I lose myself so your search can begin.
Contemplating what you might do.
When I'm all alone I'm imagining you.
If I touched you here would you get the butterflies?
Could I see your chills?
Would you show me how you cry?
Did you ever think what loving me could mean?
When you're all alone do you imagine me?
I can't breathe you took my breath away.
Breathing you'd be worth my last days.
Did you ever think what loving me could mean?
When you're all alone do you imagine me?
Contemplating what you might do.
When I'm all alone I'm imagining you.
(Leah Andreone)
Would a shower feel the same with you?
Did you ever think what loving me could mean?
When you're all alone do you imagine me?
Would I smell the same after I hugged you?
If I slept in your arms could you sleep too?
Did you ever think what loving me could mean?
When you're all alone do you imagine me?
Fingers memorizing my skin.
I lose myself so your search can begin.
Contemplating what you might do.
When I'm all alone I'm imagining you.
If I touched you here would you get the butterflies?
Could I see your chills?
Would you show me how you cry?
Did you ever think what loving me could mean?
When you're all alone do you imagine me?
I can't breathe you took my breath away.
Breathing you'd be worth my last days.
Did you ever think what loving me could mean?
When you're all alone do you imagine me?
Contemplating what you might do.
When I'm all alone I'm imagining you.
(Leah Andreone)
Bruises
(David Fonseca - Haunted home)
(Silence 4 - Angel song)
(David Fonseca - Who are you)
How can you be so indifferent
I can't believe you meant what you said
I may not be your dreamy prince
But I don't deserve any of this
So hey... Hey...
You don't have to be cruel
You don't have to use those words
For long I've been a fool
But now i can see clearly who
Comes first
We used to go out and drift away
You always had nice things to say
Now we don't even talk anymore
Nothing is like it was before
But hey... Hey...
You don't have to be cruel
You don't have to use those words
For long I've been a fool
But now I can see clearly who
Comes firts...
Those words... comes first.
(Silence 4 - Cruel)
You smile...
- Are you good?
- Are you?
- Yes, so much good.
- Ok, good.
- Why don't you answer my question?
- What?
- Do you like to fuck me?
- It's a fuck. Everybody likes it.
- So, why don't you ever smile when we do it?
- It's a fuck, not a comic thing.
- You know what i mean. Why don't you ever smile after, during or before?
- 'Cause it's a fuck, it's good, very good, but not a big deal.
- Shit, tell me why you never smile this moments we have.
- Because it's a fuck...
- I love you.
- Yes, i know. You smile, i've noticed.
This is how a pregnant girl looks like.
(Agora passa grande parte do tempo assim nesta posição e neste local, à ponta do tapete da sala, juntinha a mim, com os olhinhos semicerrados. Horas e horas como que cansada e espectante)
(Mas claro, vê-me a dar-lhe mais atenção, a mínima que seja, e levanta-se logo para fazer pose para a fotografia)
(A barriga, pelos posições captadas, não se nota muito nas fotografias, mas quando anda pela casa parece que engoliu um balão. E come, come, come...)
Deixa-me subir para ai
- Desculpa, não te posso dar nada. A única coisa que tenho é esta pedra onde estou em cima. E uma pedra não serve para nada. Além de que nem essa te posso dar. Nem essa posso deixar que partilhes comigo.
- Mas porquê? Quem te disse que a pedra não me chega?
- Não, nunca chega. A verdade é que nunca chega. Chega agora, mas depois deixa de chegar.
- Tu não sabes se me chega ou não. Deixa-me subir para aí, para o teu lado.
- Não pode ser, nem queiras.
- Mas porquê?
- Porque esta pedra às vezes está tão quente, tão quente, que te quimará os pés.
- Mas arrefece, não?
- Sim, outras vezes está tão fria, tão gelada, que te queimará os pés também.
- E a ti não queima?
- Queima. Mas já estou habituado.
- Eu habituo-me também. Deixa-me tentar, ao menos tentar.
- Não vale a pena. Não mereces, nem deixo que te queimes por minha culpa. Dói.
- Deixa-me subir. Posso queimar-me, doer, mas aguento, vais ver que aguento.
- Queima mesmo muito.
- Está bem. Mas assim queima os pés dos dois. Prefiro estar aí a teu lado em cima da pedra, queimar-me quando tiver de ser, mas a teu lado, do que aqui sem sequer essa pedra ter.
- Não, desculpa.
- Mas quem sabe com quatro pés o calor e o frio diminuam. Há quatro pés para os absorver. Com duas pessoas dói menos. Comigo aí dói-te menos.
- E habituo-me a que doa menos...
- Sim, até que deixa de doer. E isso não é bom? Vá, deixa-me subir, ir aí para teu lado.
- Não. Depois um dia sais, eu fico aqui sozinho, e volta a queimar ainda mais do que queima agora. E mais do que o que queima eu não aguento, caio daqui e nem com esta pedra fico.
- E porque é que a queres?
- É minha. É o que tenho.
- Se eu sair levo-te comigo. Sairemos sempre os dois, se os dois quiserem. Se eu quiser mesmo sair, tu vais comigo.
- Pois, eu sei... vou sempre.
- Vais sempre? Não entendi.
- Nós temos corpo e alma. O meu corpo está aqui... Deixa lá, esquece. Não dá mesmo. Este não é o teu lugar.
- Mas porquê? Quem te disse que a pedra não me chega?
- Não, nunca chega. A verdade é que nunca chega. Chega agora, mas depois deixa de chegar.
- Tu não sabes se me chega ou não. Deixa-me subir para aí, para o teu lado.
- Não pode ser, nem queiras.
- Mas porquê?
- Porque esta pedra às vezes está tão quente, tão quente, que te quimará os pés.
- Mas arrefece, não?
- Sim, outras vezes está tão fria, tão gelada, que te queimará os pés também.
- E a ti não queima?
- Queima. Mas já estou habituado.
- Eu habituo-me também. Deixa-me tentar, ao menos tentar.
- Não vale a pena. Não mereces, nem deixo que te queimes por minha culpa. Dói.
- Deixa-me subir. Posso queimar-me, doer, mas aguento, vais ver que aguento.
- Queima mesmo muito.
- Está bem. Mas assim queima os pés dos dois. Prefiro estar aí a teu lado em cima da pedra, queimar-me quando tiver de ser, mas a teu lado, do que aqui sem sequer essa pedra ter.
- Não, desculpa.
- Mas quem sabe com quatro pés o calor e o frio diminuam. Há quatro pés para os absorver. Com duas pessoas dói menos. Comigo aí dói-te menos.
- E habituo-me a que doa menos...
- Sim, até que deixa de doer. E isso não é bom? Vá, deixa-me subir, ir aí para teu lado.
- Não. Depois um dia sais, eu fico aqui sozinho, e volta a queimar ainda mais do que queima agora. E mais do que o que queima eu não aguento, caio daqui e nem com esta pedra fico.
- E porque é que a queres?
- É minha. É o que tenho.
- Se eu sair levo-te comigo. Sairemos sempre os dois, se os dois quiserem. Se eu quiser mesmo sair, tu vais comigo.
- Pois, eu sei... vou sempre.
- Vais sempre? Não entendi.
- Nós temos corpo e alma. O meu corpo está aqui... Deixa lá, esquece. Não dá mesmo. Este não é o teu lugar.
Ahhhhhhh...
I hate you so much right now
I hate you so much right now
Ahhhhhhhhhh...
I hate you so much right now, I hate you so much right now
I hate you so much right now
Ahhhhhhhhhhhh...
I hate you so much right now
I hate you so much right now
I hate you so much right now
I hate you so much right now
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...
I hate you so much right now
Ahhhhhhhhhh...
I hate you so much right now, I hate you so much right now
I hate you so much right now
Ahhhhhhhhhhhh...
I hate you so much right now
I hate you so much right now
I hate you so much right now
I hate you so much right now
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...
Some more ESC songs.
(Dima Bilan - Never let you go - Rússia)
(Katrina & The Waves - Love shine a light - Reino Unido)
(Magdi Ruzsa - Unsubstantial Blues - Hungria)
(Martin Stenmark - Las Vegas - Suécia)
(Amina - C'est le dernier qui a parlé - França)
(Elena Paparizou - My number one - Grécia)
(Serebro - Song number 1 - Rússia)
(Katrina & The Waves - Love shine a light - Reino Unido)
(Magdi Ruzsa - Unsubstantial Blues - Hungria)
(Martin Stenmark - Las Vegas - Suécia)
(Amina - C'est le dernier qui a parlé - França)
(Elena Paparizou - My number one - Grécia)
(Serebro - Song number 1 - Rússia)
Some ESC songs.
(Mihai Traistariu - Tornero - Roménia)
(Nox - Forogj Vilag - Hungria)
(Omar Naber - Stop - Eslovénia)
(Todomondo - Liubi Liubi, I love you - Roménia)
(Secret Garden - Nocturne - Noruega)
(Zeljko Joksimovic - Lane moje - Sérvia e Montenegro)
(Luminita Anghel - Let me try - Roménia)
(Athena - For real - Turquia)
(Silje Vige - Alle mine tankar - Noruega)
(Nox - Forogj Vilag - Hungria)
(Omar Naber - Stop - Eslovénia)
(Todomondo - Liubi Liubi, I love you - Roménia)
(Secret Garden - Nocturne - Noruega)
(Zeljko Joksimovic - Lane moje - Sérvia e Montenegro)
(Luminita Anghel - Let me try - Roménia)
(Athena - For real - Turquia)
(Silje Vige - Alle mine tankar - Noruega)
This is not Hollywood, so stop pretending it is.
I’ve got a picture in my head
In my head
It’s me and you we are in bed
We are in bed
You’ve always been there when I called
When I called
You’ve always been there most of all, all, all, all
This is not hollywood
Like I understood
Is not hollywood
Like, like, like
Get away, get away,
Is there anybody there?
Get away, get away,
Is there anybody there?
Get away, get away, get away, away....
I’ve got a picture in my room
In my room
I will return there I presume
It will be soon
The greatest irony of all
Should do all
It’s not so glamourous at all, all, all
(The Cranberries - Hollywood)
A camisa
O rapaz não ligou muito à camisa. Até a estranhava. Mas cada vez que passava na montra olhava-a e gostava mais dela. Praticamente todos os dias passava ali e lá estava ela. Ali pendurada muito composta. “Se calhar não gostava muito dela, afinal”. Disto se queria convencer. Não podia sentir tão forte impulso. Isso irritava-o. Não queria sentir aquilo assim. Seria possível? Mas gostava, gostava e muito. Exercia um fascínio qualquer sobre si. Era a camisa mais bonita, fabulosa, maravilhosa que alguma vez tinha visto. Era perfeita, o que sempre quis vestir, ter juntinho a si, a roçar-lhe o peito. Nunca tinha querido tanto uma peça assim. Tinha de ser dele. Ele queria-a. Ele precisava dela. Era perfeita para si.
Vestiu-a. Não seria demasiada para si? E era tão cara. Por isso ninguém ainda a tinha conseguido comprar. Era mesmo aquela. Era mesmo aquela. E estava ali à espera dele. Dava-lhe um arrepio tão bom na pele. Irritava-o sentir que era tão importante para ele.
Comprou-o. Tinha de ser. Tinha de ser sua, levá-la para casa. Seria sua para sempre.
Ainda antes de chegar a casa, não resistiu e vestiu-a. Ficava-lhe bem, muito bem mesmo. Ainda bem que a tinha comprado, era linda e ele ficava lindo com ela. Apetecia-lhe usá-la todos os dias. Usava-a e mostrava-a. Os amigos elogiavam-na, a família também. Até havia uma notória inveja. As pessoas não eram assim tão felizes com as camisas que tinham. Queriam sentir-se assim. Ele ficava feliz com os elogios. Nunca ninguém o tinha visto assim tão vaidoso a andar pelas ruas, a entrar numa qualquer sala cheia.
Tinha todos os cuidados para não a amarrotar, para não lhe entornar nada em cima. Não querias nódoas na sua camisa. Tinha todos os cuidados. Era sua e adorava-a. Exibia-a com orgulho, um orgulho que lhe rasgava um sorriso de orelha a orelha. Apetecia-lhe cantar, dançar, voar com ela. Chegava a adormecer com ela vestida. Abraçado a si, abraçado a ela.
Lavava-a com o melhor detergente, amaciava-a com o melhor dos amaciadores. Colocava-a a secar sem ser em demasia para que não perdesse a mínima pigmentação.
Às vezes achava-a tão maravilhosa que quase tinha vontade de fazer-lhe um furinho, amarrotá-la numa manga.
Ao logo dos anos a camisa foi envelhecendo. Era uma camisa, afinal. Poderia durar para sempre mas mais velha, mais deslavada, mais estragada. Caberia a ele cuidar dela o melhor possível. E estava a ficar cansado desse trabalho.
Com o passar dos tempos a camisa tinha já um ou outro buraquinho mínimo mas ele nem ligava. Estava já algo desbotada mas era-lhe indiferente. Era dele. Ele adorava-a, no fundo, ainda a adorava e muito. Estava com uma ou outra manchazita mas ele até gostava. Havia ali uma relação entre eles e esses aspectos consequentes do uso eram prova disso. Davam-lhe prazer. Havia uma história entre ele e a sua camisa.
Com o passar dos anos a camisa começou, contudo, a permanecer cada vez mais no roupeiro. Cada vez mais tempo no cesto da roupa suja. Era presença habitual no monte de roupas para passar a ferro, onde ficava semanas a fio. Deixou de olhá-la com aqueles olhos. Deixou de exibi-la com alegria. Deixou de vesti-la com a vontade e orgulho de antes. Vestia-a porque não tinha muita roupa. Vestia-a porque lhe perguntavam por ela. Vestia-a porque calhava. Era para usar e pronto.
A camisa começou mesmo a aborrecê-lo. Olhava-a e não só lhe era já indiferente como lhe sentia uma certa repulsa ali em casa, onde ela estivesse.
Tantas camisas por aí, tantas roupas fantásticas por aí e ele tão pegado aquela. Isso começava a enervá-lo seriamente. Começava a olhar para ela com, cada vez maior raiva. Ela não podia ter aquela importância toda. Estava farto daquela sensação de prisão, de que uma mera camisa pudesse ter tanto peso na sua existência. Roupa é roupa e é o que menos falta por aí.
Um dia pensou deitá-la fora. Resolveu pensar seriamente nisso. Nesse mesmo dia, para tomar uma decisão, achou por bem entrar em lojas de roupa, para saber, efectivamente, o que sentia. E logo na primeira que entrou viu uma outra camisa pendurada. Afinal, esta sim. Esta sim era a camisa perfeita. Esta sim tinha as cores que ele mais adorava. Esta sim, tinha o corte que ele considerava assentar-lhe na perfeição. Esta sim, era feita do mais sublime tecido. Esta sim, era a sua camisa, a camisa que ele mais queria. Aquela por quem tinha esperado toda a vida, aquela por quem tinha procurado toda a sua idade. Aquela com que sempre havia sonhado. Afinal era esta, não a outra.
Chegou a casa, vestiu-a. Era linda. Esta sim. Afinal, a outra... nunca tinha gostado assim muito dela. Tinha-se enganado. Esta é que era a camisa que seria sua para sempre. Esta é que era merecedora de todos os cuidados e atenções. Esta é que era para estimar ao máximo e o melhor possível.
Abriu o roupeiro e não viu a outra camisa. Estava no cesto da roupa suja, só podia. Não, não estava. Estava junto ao cesto mas no chão, por trás do mesmo. Pegou nela com dois dedos e com o braço bem estendido. Não a queria muito perto da nova que tinha vestida tão juntinha ao seu corpo. Olhou-a. Ignorou um certo aperto de peito sentido e pensou como é que alguma vez pôde sequer ter gostado daquilo? Afinal não gostava das mangas, do corte, dos botões que eram até muito feiosos, das cores... Como é que pôde ter gasto dinheiro naquele trapo. Afinal não era nada daquilo que queria ou alguma vez tinha querido.
Não a meteu no cesto para lavá-la. Não a largou no chão. Atirou-a mesmo. Atirou-a com raiva, com repulsa e riu-se. Uma camisita tão ridícula. O que era aquele trapo velho ao pé da maravilha que trazia vestida? Esta sim. Afinal esta é que era perfeita para si. A outra fora um engano de anos. Teve a sua graça durante uns tempinhos, não mais do que isso. Nem nunca a deveria ter comprado. Tanto dinheiro por aquilo.
Olho-a ali no chão e voltou a rir-se. Levantou um pé e com a sola suja do sapato pisou-a. Pisou-a com força. Dava-lhe um certo, senão mesmo, muito prazer. Pisou-a e arrastou-a pelo chão. O chão precisava de ser limpo. A camisa nova merecia estar numa casa limpa, como nova. Ia começar uma nova vida e a camisa velha serviria para esse início.
Aquele trapo deslavado estava ali a mais. Havia sido um erro, um engano mas pronto, serviu para o que serviu, e agora servia para limpar o chão da casa onde ele vestiria, frequentemente, a nova camisa, onde ele a trataria muito bem, como nunca tratou este trapo, onde ele exibiria a sua nova aquisição.
Com o pé atirou-a para longe, para um canto. Ficaria ali uns tempos pendente. Não ia já deitá-la fora. Dava para ir limpando o chão, o pó, para lavar manchas de gordura que salpicassem o chão da cozinha. Dava até para ir cortanto em bocados mais pequenos uma vez que assim inteira não dava muito jeito. Em tempos foi razoável para o vestir, para que não tivesse frio, só para isso. Nada como esta nova que serviria para bem mais do que isso. Esta sim, era maravilhosa. Esta sim, completava-o. Aquela ali no chão caída, enrodilhada, manchada, suja, esburacada, ali ficaria para que, no próximo sábado, quando os seus amigos viessem a sua casa jantar, a usassem na cozinha e a cortassem como lhes desse jeito. Eles que fizessem o que entendessem. Eles sempre a cobiçaram. Eles sempre sentiram inveja quando ele a vestia e se exibia com ela. Eles sempre se quiseram sentir assim como ele se sentia com ela. Invejosos, teriam muito prazer em acabar com ela de uma vez. Ele não queria saber. Ele já não queria saber daquilo para nada. Ele andaria pela casa a mostrar a todos eles a sua nova aquisição. Esta sim, ideal para si. Afinal, aquela que sempre quis, com que sempre sonhou. Aquela que seria sua para sempre. Esta sim. Esta sim.
Vestiu-a. Não seria demasiada para si? E era tão cara. Por isso ninguém ainda a tinha conseguido comprar. Era mesmo aquela. Era mesmo aquela. E estava ali à espera dele. Dava-lhe um arrepio tão bom na pele. Irritava-o sentir que era tão importante para ele.
Comprou-o. Tinha de ser. Tinha de ser sua, levá-la para casa. Seria sua para sempre.
Ainda antes de chegar a casa, não resistiu e vestiu-a. Ficava-lhe bem, muito bem mesmo. Ainda bem que a tinha comprado, era linda e ele ficava lindo com ela. Apetecia-lhe usá-la todos os dias. Usava-a e mostrava-a. Os amigos elogiavam-na, a família também. Até havia uma notória inveja. As pessoas não eram assim tão felizes com as camisas que tinham. Queriam sentir-se assim. Ele ficava feliz com os elogios. Nunca ninguém o tinha visto assim tão vaidoso a andar pelas ruas, a entrar numa qualquer sala cheia.
Tinha todos os cuidados para não a amarrotar, para não lhe entornar nada em cima. Não querias nódoas na sua camisa. Tinha todos os cuidados. Era sua e adorava-a. Exibia-a com orgulho, um orgulho que lhe rasgava um sorriso de orelha a orelha. Apetecia-lhe cantar, dançar, voar com ela. Chegava a adormecer com ela vestida. Abraçado a si, abraçado a ela.
Lavava-a com o melhor detergente, amaciava-a com o melhor dos amaciadores. Colocava-a a secar sem ser em demasia para que não perdesse a mínima pigmentação.
Às vezes achava-a tão maravilhosa que quase tinha vontade de fazer-lhe um furinho, amarrotá-la numa manga.
Ao logo dos anos a camisa foi envelhecendo. Era uma camisa, afinal. Poderia durar para sempre mas mais velha, mais deslavada, mais estragada. Caberia a ele cuidar dela o melhor possível. E estava a ficar cansado desse trabalho.
Com o passar dos tempos a camisa tinha já um ou outro buraquinho mínimo mas ele nem ligava. Estava já algo desbotada mas era-lhe indiferente. Era dele. Ele adorava-a, no fundo, ainda a adorava e muito. Estava com uma ou outra manchazita mas ele até gostava. Havia ali uma relação entre eles e esses aspectos consequentes do uso eram prova disso. Davam-lhe prazer. Havia uma história entre ele e a sua camisa.
Com o passar dos anos a camisa começou, contudo, a permanecer cada vez mais no roupeiro. Cada vez mais tempo no cesto da roupa suja. Era presença habitual no monte de roupas para passar a ferro, onde ficava semanas a fio. Deixou de olhá-la com aqueles olhos. Deixou de exibi-la com alegria. Deixou de vesti-la com a vontade e orgulho de antes. Vestia-a porque não tinha muita roupa. Vestia-a porque lhe perguntavam por ela. Vestia-a porque calhava. Era para usar e pronto.
A camisa começou mesmo a aborrecê-lo. Olhava-a e não só lhe era já indiferente como lhe sentia uma certa repulsa ali em casa, onde ela estivesse.
Tantas camisas por aí, tantas roupas fantásticas por aí e ele tão pegado aquela. Isso começava a enervá-lo seriamente. Começava a olhar para ela com, cada vez maior raiva. Ela não podia ter aquela importância toda. Estava farto daquela sensação de prisão, de que uma mera camisa pudesse ter tanto peso na sua existência. Roupa é roupa e é o que menos falta por aí.
Um dia pensou deitá-la fora. Resolveu pensar seriamente nisso. Nesse mesmo dia, para tomar uma decisão, achou por bem entrar em lojas de roupa, para saber, efectivamente, o que sentia. E logo na primeira que entrou viu uma outra camisa pendurada. Afinal, esta sim. Esta sim era a camisa perfeita. Esta sim tinha as cores que ele mais adorava. Esta sim, tinha o corte que ele considerava assentar-lhe na perfeição. Esta sim, era feita do mais sublime tecido. Esta sim, era a sua camisa, a camisa que ele mais queria. Aquela por quem tinha esperado toda a vida, aquela por quem tinha procurado toda a sua idade. Aquela com que sempre havia sonhado. Afinal era esta, não a outra.
Chegou a casa, vestiu-a. Era linda. Esta sim. Afinal, a outra... nunca tinha gostado assim muito dela. Tinha-se enganado. Esta é que era a camisa que seria sua para sempre. Esta é que era merecedora de todos os cuidados e atenções. Esta é que era para estimar ao máximo e o melhor possível.
Abriu o roupeiro e não viu a outra camisa. Estava no cesto da roupa suja, só podia. Não, não estava. Estava junto ao cesto mas no chão, por trás do mesmo. Pegou nela com dois dedos e com o braço bem estendido. Não a queria muito perto da nova que tinha vestida tão juntinha ao seu corpo. Olhou-a. Ignorou um certo aperto de peito sentido e pensou como é que alguma vez pôde sequer ter gostado daquilo? Afinal não gostava das mangas, do corte, dos botões que eram até muito feiosos, das cores... Como é que pôde ter gasto dinheiro naquele trapo. Afinal não era nada daquilo que queria ou alguma vez tinha querido.
Não a meteu no cesto para lavá-la. Não a largou no chão. Atirou-a mesmo. Atirou-a com raiva, com repulsa e riu-se. Uma camisita tão ridícula. O que era aquele trapo velho ao pé da maravilha que trazia vestida? Esta sim. Afinal esta é que era perfeita para si. A outra fora um engano de anos. Teve a sua graça durante uns tempinhos, não mais do que isso. Nem nunca a deveria ter comprado. Tanto dinheiro por aquilo.
Olho-a ali no chão e voltou a rir-se. Levantou um pé e com a sola suja do sapato pisou-a. Pisou-a com força. Dava-lhe um certo, senão mesmo, muito prazer. Pisou-a e arrastou-a pelo chão. O chão precisava de ser limpo. A camisa nova merecia estar numa casa limpa, como nova. Ia começar uma nova vida e a camisa velha serviria para esse início.
Aquele trapo deslavado estava ali a mais. Havia sido um erro, um engano mas pronto, serviu para o que serviu, e agora servia para limpar o chão da casa onde ele vestiria, frequentemente, a nova camisa, onde ele a trataria muito bem, como nunca tratou este trapo, onde ele exibiria a sua nova aquisição.
Com o pé atirou-a para longe, para um canto. Ficaria ali uns tempos pendente. Não ia já deitá-la fora. Dava para ir limpando o chão, o pó, para lavar manchas de gordura que salpicassem o chão da cozinha. Dava até para ir cortanto em bocados mais pequenos uma vez que assim inteira não dava muito jeito. Em tempos foi razoável para o vestir, para que não tivesse frio, só para isso. Nada como esta nova que serviria para bem mais do que isso. Esta sim, era maravilhosa. Esta sim, completava-o. Aquela ali no chão caída, enrodilhada, manchada, suja, esburacada, ali ficaria para que, no próximo sábado, quando os seus amigos viessem a sua casa jantar, a usassem na cozinha e a cortassem como lhes desse jeito. Eles que fizessem o que entendessem. Eles sempre a cobiçaram. Eles sempre sentiram inveja quando ele a vestia e se exibia com ela. Eles sempre se quiseram sentir assim como ele se sentia com ela. Invejosos, teriam muito prazer em acabar com ela de uma vez. Ele não queria saber. Ele já não queria saber daquilo para nada. Ele andaria pela casa a mostrar a todos eles a sua nova aquisição. Esta sim, ideal para si. Afinal, aquela que sempre quis, com que sempre sonhou. Aquela que seria sua para sempre. Esta sim. Esta sim.
S(ushi)ono
Que nervos! Chego à sexta-feira cansadíssimo pelo stress acumulado durante a semana, pela falta de dormir durante a semana e, de há tempos para cá, neste dia pré-fim-de-semana, além destes sintomas de sono e cansaço, surgiu-me mais um. Só me apetece comer sushi, sashimi e coisas japonesas que tais. Chego a casa a meio da tarde com a promessa, que faço a mim mesmo, de que tenho de me deitar. Assim o fiz hoje. Acordaria mais tarde e logo decidiria, consoante o corpinho pedisse e o espírito estipulasse, se iria sair de casa ou não. Hoje, ainda por cima, havia três convites. Um cineminha para, finalmente, ver o "Hairspray", um copito num bar e uma estreia de um show. Logo se veria! O mais certo seria ficar em casa e pronto.
Tenho é de me fechar no quarto. Não deixar os gatos incomodarem. A Camila, de pança já bem grande e mexida, qual placas tectónicas sob uma pelagem cinza, anda estranha. Sabe que algo se passará com ela em breve. Ronda-me constantemente e quando se chega a mim estende-se de barrigona para cima como que para mostrar as movimentações provocadas pela criançada que transporta. "Estás a ver? Estou quase a ser mamã", parece dizer-me. O Bruno, qual felino macho, cada vez mais divertido e atrevido, hoje não me iria atacar os pés debaixo do lençol e edredão. Ele que faça o jogo que agora mais adora fazer: colocar-se, muito sorrateiro, de olhos muito abertos e ponta da cauda a abanar, atrás de uma porta à espera que a Camila, pesadona, passe para se atirar a ela, aos pinotes cavalares, na brincadeira. Ela, coitada, já nem retribui patada. Hoje não vão para o quarto, nem pensar!
Deito-me para dormir, durmo uma meia horinha, uma hora no máximo, mas as iguarias só me assolam a mente. Aquelas cores, aquele paladar, aquele odor fresquinho... Começo a vislumbrar as delícias e praticamente lhes sinto o sabor na boca. Pronto, não vale a pena esforçar-me. Vou-me levantar!
Tenho é de me fechar no quarto. Não deixar os gatos incomodarem. A Camila, de pança já bem grande e mexida, qual placas tectónicas sob uma pelagem cinza, anda estranha. Sabe que algo se passará com ela em breve. Ronda-me constantemente e quando se chega a mim estende-se de barrigona para cima como que para mostrar as movimentações provocadas pela criançada que transporta. "Estás a ver? Estou quase a ser mamã", parece dizer-me. O Bruno, qual felino macho, cada vez mais divertido e atrevido, hoje não me iria atacar os pés debaixo do lençol e edredão. Ele que faça o jogo que agora mais adora fazer: colocar-se, muito sorrateiro, de olhos muito abertos e ponta da cauda a abanar, atrás de uma porta à espera que a Camila, pesadona, passe para se atirar a ela, aos pinotes cavalares, na brincadeira. Ela, coitada, já nem retribui patada. Hoje não vão para o quarto, nem pensar!
Deito-me para dormir, durmo uma meia horinha, uma hora no máximo, mas as iguarias só me assolam a mente. Aquelas cores, aquele paladar, aquele odor fresquinho... Começo a vislumbrar as delícias e praticamente lhes sinto o sabor na boca. Pronto, não vale a pena esforçar-me. Vou-me levantar!
Automobilices
Quando se tem um carrinho velhote, bem velhote que, volta e meia, precisa de ir à oficina...
Quando por ano chego a gastar metade do valor que o carrito vale...
Quando, por trabalhar longe, o carrinho, que é um carrão grande me engole mais do 50 euros, por semana, em gasolina...
Quando o sistema eléctrico do menino parece que adquiriu vontade própria...
Quando o carrito está quase nos 200 mil km...
Quando, em dias mais quentes, quase asso dentro do rapaz e chego encharcado ao trabalho...
Quando é altamente provável que o miúdo não passe na próxima inspecção e, por isso, me arrebanhe mais umas muitas dezenas de euros do bolso...
Quando sabemos que a tendência é que é rapazote vá piorando...
A solução parece-me mesmo ser adquirir um novo moçoilo móvel.
Pois como sou pobretanas e tenho de comprar um dos menos caros, como prefiro carros pequenos, como preciso de um que caiba nos mínimos espaços de estacionamento da nossa capital, como é absolutamente necessário o mínimo custo possível em combustível... Como tenho a mania da estética e sou esquisito no design, resumi as minhas hipóteses de compra aos seguintes candidatos:
Citroen C1
Toyota Aygo
Peugeot 107
Smart Fortwo
O que mais difere em termos de características e aspecto é o pequenote, amado e odiado, Smart. Ainda assim, talvez o melhor em qualidade. Sempre tive um fraquinho pelo exemplar, confesso. E esta nova versão, segundo consta, é, a todos os níveis, bem superior às duas anteriores. No conforto, na potência, na segurança, na velocidade, nos equipamentos. Desenganem-se os que julgam que é uma lata, uma "cadeira de rodas", uma amostra de carro, um "mata velhos". É pequenino, tem dois lugares, pronto. Mas os carros não se medem aos palmos.
Os outros três são muito idênticos. O interior é exactamente igual. São todos feitos pela Toyota, apesar de dois assumirem marcas diferentes. O C1 e o 107 então são praticamente iguais mesmo no exterior, mas ambos com motor Toyota.
Eu, como analiso todos os pormenores, vantagens e desvantagens, no que é que um é melhor ou pior do que outro, preços, garantias, tudo, tudo, ando nestas indecisões há meses e meses e mais meses.
Mas não posso adiar muito mais. Um dia destes fico parado no meio da estrada e depois é que são elas. Um arranjo de preço descomunal superior ao valor do carrinho velho. E depois nem velho, nem novo.
Não posso demorar muito mais a tomar uma decisão, é um facto. Mais cedo ou mais tarde vou ter de comprar e o meu ordenado não vai aumentar tão cedo. Portanto, tem de ser.
So que, para agravar a questão, agora as diferentes marcas resolveram aumentar o meu stress. Pois é, resolveram lançar edições especiais de cada um deles. Edições especiais aos mesmos preços.
Surgiu o Citroen C1 RFM (parceria com a rádio), com extras grátis, interior diferente e oferta de um ipod. Este tenho de ir ver um dia destes. Espero que não goste para poder riscá-lo da lista.
Surgiu o Toyota Aygo Blue. Apesar dos extras também divulgados como oferta, este está já cortado. Não sou propriamente adepto da cor azul e são muito raros os carros que gosto de ver em tal cor. E este azul é precisamente o azul que mais feio acho num automóvel. Ainda por cima azul por fora e com pormenores azuis por dentro. Não.
E hoje, de visita à Peugeot, deparo-me com a edição especial cheia de extras do 107. O 107 RC Line. Que nervos!
Preto e vermelho. Preto no geral mas com uma lista larga, vermelha, branca e cinza, de frente a trás. Espelhos retrovisores vermelhos e interiores pretos e vermelhos.
No mesmo segundo sorri e fiz uma espécie de careta. "Estou feito" pensei!
Por um lado olho-o e vejo um certo ar algo chunga, daqueles carros que os burgessos adoram. Todo equipado, a mandar "pausa", com ar de que tem um dono que o usa para andar por aí em despiques nas autoestradas e a fazer barulho às tantas da manhã. Um carro de labrego suburbano que se acha o maior, que vive para a sua máquina, para o futebol, para as gajas e que tem como um dos grandes objectivos de vida ter um carro que dá nas vistas, cheio de coisas berrantes para que todos dêem pela sua passagem.
Por outro lado achei-o giro, giro e giro. Adoro a conjugação de preto com vermelho e achei o carro com estilo, diferente, original, com classe.
Que irritação. Um carro é um carro e eu nunca dei grande importância a isso. Qualquer coisa barata e minimamante boa devia servir. Mas não. Eu tinha de complicar!
A verdade é que se vou estar uns 7 anos a pagar mais de 200 euros mensais, então tenho mesmo de gostar do bicho.
Pronto, quando percebi que a lista vermelha é colada desisti logo do carro. Imaginei logo aquilo tudo a descolar. Ao menos isso. Menos um. Ia ver o Peugeot 107 normal e pronto. Além disso um carro assim chama a atenção e é um chamariz aos engraçadinhos que gostam de fazer uns riscos artísticos bem profundos e vincados, que ainda se lembrariam de ir tentar arrancar a dita lista.
Mas o senhor educadíssimo começa a dizer o que eu temia: "Por mim, vender o 107 ou o 107 RC Line tanto faz. O preço é o mesmo. Se bem que este é uma edição especial e limitada que oferece extras, adaptador de mp3, art condiconado de origem, jantes de liga leve especiais, volante em pele, escape duplo, grelha frontal diferente... Mas se o problema é a lista que não sabe se gosta muito ou não, digo-lhe que a lista é colada mas não sai assim, acredite. Isto é muito bem colado. E mais, até tem a vantagem de comprar um carro diferente e se se fartar da lista vem cá que nós tiramos quando quiser, sem deixar qualquer marca na tinta preta. De um momento para o outro fica com outro carro porque a lista faz logo uma grande diferença. Se quiser pode também levá-lo logo de origem sem a lista e não terá quaisquer custos. Leva o interior preto e vermelho, os espelhos vermelhos, que também pode mandar pintar depois de preto se se fartar e sem a lista".
Ai que camada de nervos! Em vez de me ajudar ainda me descompensou mais, o raio do homem! Eu ali a encher-me de stress e ele a falar com uma extrema calma, como se tudo fosse muito, muito lógico.
E agora? Em vez de reduzir as hipóteses de compra de 4 para 3 e assim sucessivamente, de repente, de 4 passei a ter 8 hipóteses, o dobro. Fantástico!
Citroen C1, Citroen C1 RFM, Toyota Aygo, Smart Fortwo Pulse ou Passion, Peugeot 107, Peugeot 107 RC Line com a lista que posso vir a mandar tirar se me cansar e Peugeot 107 RC Line sem lista.
Peugeot 107 RC Line (pode ter ou não a lista ao meio)
Peugeot 107 (versão normal)
Quando por ano chego a gastar metade do valor que o carrito vale...
Quando, por trabalhar longe, o carrinho, que é um carrão grande me engole mais do 50 euros, por semana, em gasolina...
Quando o sistema eléctrico do menino parece que adquiriu vontade própria...
Quando o carrito está quase nos 200 mil km...
Quando, em dias mais quentes, quase asso dentro do rapaz e chego encharcado ao trabalho...
Quando é altamente provável que o miúdo não passe na próxima inspecção e, por isso, me arrebanhe mais umas muitas dezenas de euros do bolso...
Quando sabemos que a tendência é que é rapazote vá piorando...
A solução parece-me mesmo ser adquirir um novo moçoilo móvel.
Pois como sou pobretanas e tenho de comprar um dos menos caros, como prefiro carros pequenos, como preciso de um que caiba nos mínimos espaços de estacionamento da nossa capital, como é absolutamente necessário o mínimo custo possível em combustível... Como tenho a mania da estética e sou esquisito no design, resumi as minhas hipóteses de compra aos seguintes candidatos:
Citroen C1
Toyota Aygo
Peugeot 107
Smart Fortwo
O que mais difere em termos de características e aspecto é o pequenote, amado e odiado, Smart. Ainda assim, talvez o melhor em qualidade. Sempre tive um fraquinho pelo exemplar, confesso. E esta nova versão, segundo consta, é, a todos os níveis, bem superior às duas anteriores. No conforto, na potência, na segurança, na velocidade, nos equipamentos. Desenganem-se os que julgam que é uma lata, uma "cadeira de rodas", uma amostra de carro, um "mata velhos". É pequenino, tem dois lugares, pronto. Mas os carros não se medem aos palmos.
Os outros três são muito idênticos. O interior é exactamente igual. São todos feitos pela Toyota, apesar de dois assumirem marcas diferentes. O C1 e o 107 então são praticamente iguais mesmo no exterior, mas ambos com motor Toyota.
Eu, como analiso todos os pormenores, vantagens e desvantagens, no que é que um é melhor ou pior do que outro, preços, garantias, tudo, tudo, ando nestas indecisões há meses e meses e mais meses.
Mas não posso adiar muito mais. Um dia destes fico parado no meio da estrada e depois é que são elas. Um arranjo de preço descomunal superior ao valor do carrinho velho. E depois nem velho, nem novo.
Não posso demorar muito mais a tomar uma decisão, é um facto. Mais cedo ou mais tarde vou ter de comprar e o meu ordenado não vai aumentar tão cedo. Portanto, tem de ser.
So que, para agravar a questão, agora as diferentes marcas resolveram aumentar o meu stress. Pois é, resolveram lançar edições especiais de cada um deles. Edições especiais aos mesmos preços.
Surgiu o Citroen C1 RFM (parceria com a rádio), com extras grátis, interior diferente e oferta de um ipod. Este tenho de ir ver um dia destes. Espero que não goste para poder riscá-lo da lista.
Surgiu o Toyota Aygo Blue. Apesar dos extras também divulgados como oferta, este está já cortado. Não sou propriamente adepto da cor azul e são muito raros os carros que gosto de ver em tal cor. E este azul é precisamente o azul que mais feio acho num automóvel. Ainda por cima azul por fora e com pormenores azuis por dentro. Não.
E hoje, de visita à Peugeot, deparo-me com a edição especial cheia de extras do 107. O 107 RC Line. Que nervos!
Preto e vermelho. Preto no geral mas com uma lista larga, vermelha, branca e cinza, de frente a trás. Espelhos retrovisores vermelhos e interiores pretos e vermelhos.
No mesmo segundo sorri e fiz uma espécie de careta. "Estou feito" pensei!
Por um lado olho-o e vejo um certo ar algo chunga, daqueles carros que os burgessos adoram. Todo equipado, a mandar "pausa", com ar de que tem um dono que o usa para andar por aí em despiques nas autoestradas e a fazer barulho às tantas da manhã. Um carro de labrego suburbano que se acha o maior, que vive para a sua máquina, para o futebol, para as gajas e que tem como um dos grandes objectivos de vida ter um carro que dá nas vistas, cheio de coisas berrantes para que todos dêem pela sua passagem.
Por outro lado achei-o giro, giro e giro. Adoro a conjugação de preto com vermelho e achei o carro com estilo, diferente, original, com classe.
Que irritação. Um carro é um carro e eu nunca dei grande importância a isso. Qualquer coisa barata e minimamante boa devia servir. Mas não. Eu tinha de complicar!
A verdade é que se vou estar uns 7 anos a pagar mais de 200 euros mensais, então tenho mesmo de gostar do bicho.
Pronto, quando percebi que a lista vermelha é colada desisti logo do carro. Imaginei logo aquilo tudo a descolar. Ao menos isso. Menos um. Ia ver o Peugeot 107 normal e pronto. Além disso um carro assim chama a atenção e é um chamariz aos engraçadinhos que gostam de fazer uns riscos artísticos bem profundos e vincados, que ainda se lembrariam de ir tentar arrancar a dita lista.
Mas o senhor educadíssimo começa a dizer o que eu temia: "Por mim, vender o 107 ou o 107 RC Line tanto faz. O preço é o mesmo. Se bem que este é uma edição especial e limitada que oferece extras, adaptador de mp3, art condiconado de origem, jantes de liga leve especiais, volante em pele, escape duplo, grelha frontal diferente... Mas se o problema é a lista que não sabe se gosta muito ou não, digo-lhe que a lista é colada mas não sai assim, acredite. Isto é muito bem colado. E mais, até tem a vantagem de comprar um carro diferente e se se fartar da lista vem cá que nós tiramos quando quiser, sem deixar qualquer marca na tinta preta. De um momento para o outro fica com outro carro porque a lista faz logo uma grande diferença. Se quiser pode também levá-lo logo de origem sem a lista e não terá quaisquer custos. Leva o interior preto e vermelho, os espelhos vermelhos, que também pode mandar pintar depois de preto se se fartar e sem a lista".
Ai que camada de nervos! Em vez de me ajudar ainda me descompensou mais, o raio do homem! Eu ali a encher-me de stress e ele a falar com uma extrema calma, como se tudo fosse muito, muito lógico.
E agora? Em vez de reduzir as hipóteses de compra de 4 para 3 e assim sucessivamente, de repente, de 4 passei a ter 8 hipóteses, o dobro. Fantástico!
Citroen C1, Citroen C1 RFM, Toyota Aygo, Smart Fortwo Pulse ou Passion, Peugeot 107, Peugeot 107 RC Line com a lista que posso vir a mandar tirar se me cansar e Peugeot 107 RC Line sem lista.
Peugeot 107 RC Line (pode ter ou não a lista ao meio)
Peugeot 107 (versão normal)
Metade de si
Morta. Estava morta. O coração batia, o cérebro funcionava, o corpo mexia, mas estava morta. Não se sentia triste, muito triste, infeliz, muito infeliz, nem se tratava de uma depressão profunda. Esses estados de alma, como que tornando-a vazia, tinha deixado de sentir há semanas. Durante meses assim viveu, sobreviveu. Chorou, gritou, silenciou, sentiu a alma, o corpo, doridos durante tanto tempo até chegar a esse vazio árido. Batia nas paredes, dava murros em si mesma, contorcia-se no chão tamanha era a dor, a angústia, o sofrimento que a dilacerava, a cada dia, sem parar. Chegava a não conseguir respirar. Já nem chorar conseguia. Procurou ajuda psiquiátrica, uma ajuda que de pouco lhe valeu. Não era ela que ia às consultas naquela salinha pequena de tons azuis. Era metade dela. Era uma metade de si que se sentava naquele sofá creme com linhas muito finas de castanho.
Desde que ele tinha partido que ela sentia ter perdido metade de si. Ficou apenas com a outra metade. E metade de alguém não é ninguém, não existe, não vive nem sequer sobrevive. Portanto, estava morta. Morta de alma, morta de espírito, morta de corpo, até.
E pior do que ter metade de um ser, era ter uma metade ferida, apodrecida, cheia de gangrena. A partida dele isso provocou. Não só dela a outra metade de si se arrancou, causando uma ferida imensa, como se uma serra eléctrica a tivesse cortado de alto a baixo, que mil pontos cirúrgicos jamais iriam suturar, como essa outra parte, ainda antes de partir de vez, atirou a parte sobrante ao chão, pisando-a, esmagando-a, cortando-a, esquartejando-a, escarafunchando pedaços de carne, pedaços de uma alma inundada de dor.
Tentou. Sozinha, depois com ajuda, tentou sarar feridas, juntar pedaços de si. Tentou e conseguiu cicatrizar algumas feridas. Pequenas vitórias, pequenas esperanças com ajuda da sua força, dos amigos, da família, dos medicamentos. Mas eram tantas feridas, quantas tantas eram as vezes em que, deitada na cama, de peito para cima, sentia ao lado, mesmo ali ao seu lado, deitada, uma figura que não vislumbrava bem. A morte. Era a morte mesmo ali deitada a centímetros de metade de si. A morte ali quase, quase a tocar-lhe.
Não tinha medo, não se importava. Sentia até um certo alivio. “Toca-me, dá-me a mão, agarra-me, cobre-me o corpo que me resta, a minha alma seca e leva-me daqui. Por favor... já não aguento mais.”
Hoje, desde há semanas, não sentia a morte ao lado. Para sentir era preciso estar viva e ela estava morta.
Arrastou o corpo que lhe restava para o banho. Ao entrar na banheira, o seu pé bateu com força na parede da mesma. Sangue começou imediatamente a jorrar por entre a unha do dedo maior. A dor seria muita, certamente. Mas não era. Nem muita nem pouca. Não sentia nada. Estava morta. Nem para o dedo olhou.
Vestiu uma roupa qualquer e saiu para a redacção do jornal. Os colegas, outrora tão importantes, com quem já se tinha divertido tanto e gostado tanto de trabalhar, eram-lhe agora indiferentes. Podia ficar em casa, podia ficar de baixa por doença e durante dias e dias e dias ficou. Mas isso foi em tempos,quando se sentia mal, muito mal. Isso era para os doentes, logo, vivos. Ela não estava.
Então porque ia trabalhar? Talvez porque os mortos podem ressuscitar. Talvez porque haja quem tenha morrida durante minutos e algo os trouxe à vida. Se no seu mais profundo íntimo pensava assim, se ainda pensava, então ainda talvez não estivesse mesmo morta. Mas estava, certamente, num estado bem abaixo do estado de coma. Esse viveu-o durante muito tempo, há meses, quando se tornou metade do seu ser, quando ele partiu e levou com ele o que ele era, metade de si.
Foi trabalhar e voltou para casa horas depois. Não sabe o que fez, com quem falou, o que escreveu, sequer se fez alguma coisa. Ultimamente, pelo que se lembrava, os colegas deixavam-na ficar ali sentada, inerte. Agora nem sabia como eles reagiam.
Abriu a porta, entrou, largou a mala no chão e dirigiu-se à cozinha. Abriu o frigorífico e pegou no único objecto que ali se encontrava. Uma garrafa de água fria. Tirou-lhe a tampa, levantou-a, levou-a à boca e bebeu. A água começou a escorrer-lhe pelo queixo, pelo pescoço, pela camisa, até pingar e molhar o chão. Afastou a garrafa, na vertical, até ao cume de metade de si e deixou-a vazar pelo cabelo. Não sentiu qualquer frio. Estava morta. Já há muito que não se espantava ou assustava com essa evidência.
Enquanto o cabelo molhado ia escorrendo, dirigiu-se à janela da divisão.
No estendal estava uma toalha seca pendurada há dias, senão semanas, já com cor indefinida, talvez tivesse sido verde. O que interessava uma cor? A toalha secar-lhe-ia a face, o cabelo, os seios molhados.
Olhou, durante meio minuto, o que fosse que estivesse para lá da janela. Agarrou-se às extremidades da mesma e sentou-se no parapeito, no 11º andar onde vivia. Onde tinha vivido os mais felizes e mais infelizes momentos da sua vida. Onde viveu, afinal. O 11º andar onde, há semanas, em data incerta, tinha aberto os olhos...morta.
À sua frente a paisagem que outrora lhe pareceu tão agradável, atrás de si a cozinha suja.
Estava um ventinho fresco que lhe fazia mover a saia e a camisa. Não o cabelo comprido escuro, esse estava ensopado, colado à cabeça, ao rosto. Um ventinho fresco que, por momentos, pensou sentir. Não, não podia sentir, estava morta.
Assim ficou mais uns minutos. Soltou as mãos e estendeu os braços, não sabe se para a frente, para baixo ou se os abriu. Não interessava. Era indiferente.
Deixou-se cair. Caiu para trás.
Desde que ele tinha partido que ela sentia ter perdido metade de si. Ficou apenas com a outra metade. E metade de alguém não é ninguém, não existe, não vive nem sequer sobrevive. Portanto, estava morta. Morta de alma, morta de espírito, morta de corpo, até.
E pior do que ter metade de um ser, era ter uma metade ferida, apodrecida, cheia de gangrena. A partida dele isso provocou. Não só dela a outra metade de si se arrancou, causando uma ferida imensa, como se uma serra eléctrica a tivesse cortado de alto a baixo, que mil pontos cirúrgicos jamais iriam suturar, como essa outra parte, ainda antes de partir de vez, atirou a parte sobrante ao chão, pisando-a, esmagando-a, cortando-a, esquartejando-a, escarafunchando pedaços de carne, pedaços de uma alma inundada de dor.
Tentou. Sozinha, depois com ajuda, tentou sarar feridas, juntar pedaços de si. Tentou e conseguiu cicatrizar algumas feridas. Pequenas vitórias, pequenas esperanças com ajuda da sua força, dos amigos, da família, dos medicamentos. Mas eram tantas feridas, quantas tantas eram as vezes em que, deitada na cama, de peito para cima, sentia ao lado, mesmo ali ao seu lado, deitada, uma figura que não vislumbrava bem. A morte. Era a morte mesmo ali deitada a centímetros de metade de si. A morte ali quase, quase a tocar-lhe.
Não tinha medo, não se importava. Sentia até um certo alivio. “Toca-me, dá-me a mão, agarra-me, cobre-me o corpo que me resta, a minha alma seca e leva-me daqui. Por favor... já não aguento mais.”
Hoje, desde há semanas, não sentia a morte ao lado. Para sentir era preciso estar viva e ela estava morta.
Arrastou o corpo que lhe restava para o banho. Ao entrar na banheira, o seu pé bateu com força na parede da mesma. Sangue começou imediatamente a jorrar por entre a unha do dedo maior. A dor seria muita, certamente. Mas não era. Nem muita nem pouca. Não sentia nada. Estava morta. Nem para o dedo olhou.
Vestiu uma roupa qualquer e saiu para a redacção do jornal. Os colegas, outrora tão importantes, com quem já se tinha divertido tanto e gostado tanto de trabalhar, eram-lhe agora indiferentes. Podia ficar em casa, podia ficar de baixa por doença e durante dias e dias e dias ficou. Mas isso foi em tempos,quando se sentia mal, muito mal. Isso era para os doentes, logo, vivos. Ela não estava.
Então porque ia trabalhar? Talvez porque os mortos podem ressuscitar. Talvez porque haja quem tenha morrida durante minutos e algo os trouxe à vida. Se no seu mais profundo íntimo pensava assim, se ainda pensava, então ainda talvez não estivesse mesmo morta. Mas estava, certamente, num estado bem abaixo do estado de coma. Esse viveu-o durante muito tempo, há meses, quando se tornou metade do seu ser, quando ele partiu e levou com ele o que ele era, metade de si.
Foi trabalhar e voltou para casa horas depois. Não sabe o que fez, com quem falou, o que escreveu, sequer se fez alguma coisa. Ultimamente, pelo que se lembrava, os colegas deixavam-na ficar ali sentada, inerte. Agora nem sabia como eles reagiam.
Abriu a porta, entrou, largou a mala no chão e dirigiu-se à cozinha. Abriu o frigorífico e pegou no único objecto que ali se encontrava. Uma garrafa de água fria. Tirou-lhe a tampa, levantou-a, levou-a à boca e bebeu. A água começou a escorrer-lhe pelo queixo, pelo pescoço, pela camisa, até pingar e molhar o chão. Afastou a garrafa, na vertical, até ao cume de metade de si e deixou-a vazar pelo cabelo. Não sentiu qualquer frio. Estava morta. Já há muito que não se espantava ou assustava com essa evidência.
Enquanto o cabelo molhado ia escorrendo, dirigiu-se à janela da divisão.
No estendal estava uma toalha seca pendurada há dias, senão semanas, já com cor indefinida, talvez tivesse sido verde. O que interessava uma cor? A toalha secar-lhe-ia a face, o cabelo, os seios molhados.
Olhou, durante meio minuto, o que fosse que estivesse para lá da janela. Agarrou-se às extremidades da mesma e sentou-se no parapeito, no 11º andar onde vivia. Onde tinha vivido os mais felizes e mais infelizes momentos da sua vida. Onde viveu, afinal. O 11º andar onde, há semanas, em data incerta, tinha aberto os olhos...morta.
À sua frente a paisagem que outrora lhe pareceu tão agradável, atrás de si a cozinha suja.
Estava um ventinho fresco que lhe fazia mover a saia e a camisa. Não o cabelo comprido escuro, esse estava ensopado, colado à cabeça, ao rosto. Um ventinho fresco que, por momentos, pensou sentir. Não, não podia sentir, estava morta.
Assim ficou mais uns minutos. Soltou as mãos e estendeu os braços, não sabe se para a frente, para baixo ou se os abriu. Não interessava. Era indiferente.
Deixou-se cair. Caiu para trás.
Heart's Anatomy
A aparente simplicidade dos diálogos e a intensidade intrínseca nessa simplicidade fazem desta uma das melhores séries de televisão dos últimos tempos. "Grey's Anatomy".
MEREDITH: "No matter what, you walking down that aisle today. I need you to go down that aisle."
CRISTINA: "Is the toilet paper cutting off your circulation?"
MEREDITH: "You marrying Burke, it´s a sign. Sign that people like you and me ... can do this. Be healthy, be happy. You marrying Burke restores my faith in... me."
CRISTINA: "Ohhhh I get it. My wedding is about you."
MEREDITH: "Yes."
PRESTON: "Cristina, I could promise to hold you, and to cherish you. I could promise to be there, in sickness and in health. I could say till death do us part. But I won't. Those vows are for optimistic couples, the ones full of hope. I do not stand here on my wedding day optimistic or full of hope. I am not optimistic. I am not hopeful. I am sure. I am steady. I'm a heart man. Take 'em apart, put 'em back together, hold them in my hands. I am a heart man. So this, I am sure. You are my partner. My lover. My very best friend. My heart. My heart beats for you. And on this day, the day of our wedding, I promise you this. I promise you to lay my heart in the palm of your hands, I promise you... me."
CRISTINA: "Meredith, please say something, say something! I... I don't know. Say what I would say you if you were me."
MEREDITH: "Okay."
CRISTINA: "Good."
MEREDITH: "Got it."
CRISTINA: "Good. Go."
MEREDITH: "Stop whining. This is your wedding day. You will got on that aisle. You will get married! If I have to kick your ass every step of the way to get you there. You will walk down the aisle and you will get married. Do you hear me Cristina? We need this. We need you to get your happy ending."
CRISTINA: "Okay, I´m ready."
CRISTINA: "I am wearing the dress. I'm ready. And, and maybe I didn't want to before. But I want to now. I really think I want this."
PRESTON: "I really wish you didn’t think. I wish that you knew."
CRISTINA: "He's gone."
MEREDITH: "I... I don't think he's gone. Uh... his stuff is still here."
CRISTINA: "No. No. His trumpet isn't here. His entire Eugene Foote collection, vinyls and CD's. His grandmother's picture was by the bed. His lucky scrub cap was hanging on the door. He's gone. I'm.. I'm free. Damn it. Damn it, damn it! Oh God, get this off me! Take this off, take this off! I can't... Help me, help me, help me!"
Chat Insonia
Numa noite de zapping deparo-me com algo tão surreal que me deixou colado, mesmo coladíssimo, ao sofá. Eu nem estava a acreditar naquilo e fiquei uns minutos a absorver o que o ecrã do televisor me mostrava. Não, não podia ser...mas era e ainda era pior do que eu poderia imaginar. Mas quem é que admite que a ideia de um programa destas sequer passe do papel?
Canal: Porto Canal. Hora: 2.40h. Programa de seu nome: Chat.
Pois bem, para quem nunca viu, fica um resumo daquilo a que, certamente e habitualmente, se assiste.
Ocupando o lado direito do ecrã encontra-se uma página de chat onde vão surgindo frases que, supostamente, devem obedecer, a um tema (diário, semanal, não sei, nem quero saber, uma vez que tal decadência televisiva não me puxa a uma nova paragem pelo canal a tal hora). O povo, maioritariamente juvenil, que deveria estar na cama há horas (uma vez que no dia seguinte tem aulas), vai gastando o dinheirinho dos pais (certamente já há muito a dormir no quarto ao lado) mandando mensagens de telemóvel que surgem no dito chat. Ok, há um tema e as pessoas dão a sua opinião acerca do mesmo. E o que é que está um fulano, com ar patético de quem tem menos 10 anos do que, efectivamente, tem, de nome Hugo, a fazer sentado no lado esquerdo do ecrã? Pois, é o comentador das mensagens, claro está. Não é óbvio!
Perante o tema "De que forma é que a moda influencia a sociedade actual?" ali se registavam, umas atrás das outras, as mais congruentes e apelativas frases tradutoras de um apurado e sintético pensamento criterioso.
Diamantes como: O que interessa na moda são as mamas das modelos e as suas parrecas! A moda é bué fixe. O q tá na moda é o Hugo a dançar de cu pá gente. Hugo, a moda veste é as tuas irmãs k tens k apresentar ágente. A moda é fo****! Curto bués a tua shirt, dá aí ao pessual, Hugão man. A bilha da Rute é q tá na moda, anda cá Rutinhaaa.
Entre estas maravilhas do palavreado humano, maravilhas perfeitamente adequadas ao tema em questão, surgiam também meteoritos linguísticos de soberba qualidade, tais como: Hugo tráx cá mas é a tua mana k eu faço-lhe a folha. Vivó Gloriosoooooo! Bjx da Carlinha k te ama. Spooooorting e leões é q manda. Fdx já me mijei. Huguinho cá pra mim és virado.
Devo acrescentar que me recuso aqui a transcrever outras belezas vocabulares que conseguem descer ainda mais ao fundo do absoluto vulgar, deprimente e ordinário, mas que podem imaginar.
E o dito Hugo, Hugão, Huguinho o que fazia? Sorria, ria, dizia palhaçadas e, de forma inacreditável, fazia-o lendo as frases que iam surgindo do lado direito do ecrã. E como se isto não bastasse, lia as ofensas a si mesmo e comentava as várias preciosidades.
Este rapaz é pago para ser gozado, mais do que para comentar ou entreter. E, por ser estúpido, ou por vergonha, mas para se desenrascar, lá ia entrando no jogo, enterrando-se ainda mais. Dizia então, sempre muito sorridente, claro: Sim, a moda é bué fixe porque é importante nos dias de hoje. Ah, a minha t-shirt foi a produção que arranjou. Se quiseres saber onde a compraram, liga-nos. Oh Grande69 a Rute está na moda? Gostava de saber quem é a Rute. Sim Diogell, eu um dia trago cá as minhas irmãs para veres se são boas. Não Vitorxx, eu não sou virado nem estou virado, como vês estou de frente para o ecrã, mas obrigado pelo teu comentário. Foste à casa-de-banho urinar António666? Fizeste bem. Eu gosto muito da minha casa-de-banho nova e uso-a muito.
E para culminar (culminar a minhã saída da sala, claro, porque o programa estava para continuar e num crescendo de qualidade), o jovem esbracejante Hugo sai-se com esta dissertação de absoluto valor filosófico: Olha, para mim acho uma cena, querem ouvir? Querem, né? Sabem aquela senhora, a Donatella Versace, a dona da Versace? Pois fiquem a saber que foi eleita a mulher mais mal vestida das celebridades. A moda tem destas cenas giras, né? Uma mulher tão rica que faz moda e é de uma marca tão conceituada é tão mal vestida, não acham giro? O que têm a dizer, hã pessoal?
Foi o que bastou para aqui o "pessoal" desligar o aparelho televisivo.
Ah, e mais, em letras bem grandes e bem legíveis estava escrito que qualquer mensagem de conteúdo incorrecto e pouco próprio não seria aceite e mostrada. Portanto, imaginem-se as outras frases que me recuso a transcrever e ainda mais aquelas que não foram aceites pelo programa. O delírio!
Bem, estamos em Portugal, afinal porquê ter ficado incrédulo com o que vi e ouvi? Não era o mais provável acontecer perante uma ideia de um programa assim? Estava-se mesmo a ver...
É tão bom ser português. É tão bom ter tv cabo. É tão bom ter insónias.
Canal: Porto Canal. Hora: 2.40h. Programa de seu nome: Chat.
Pois bem, para quem nunca viu, fica um resumo daquilo a que, certamente e habitualmente, se assiste.
Ocupando o lado direito do ecrã encontra-se uma página de chat onde vão surgindo frases que, supostamente, devem obedecer, a um tema (diário, semanal, não sei, nem quero saber, uma vez que tal decadência televisiva não me puxa a uma nova paragem pelo canal a tal hora). O povo, maioritariamente juvenil, que deveria estar na cama há horas (uma vez que no dia seguinte tem aulas), vai gastando o dinheirinho dos pais (certamente já há muito a dormir no quarto ao lado) mandando mensagens de telemóvel que surgem no dito chat. Ok, há um tema e as pessoas dão a sua opinião acerca do mesmo. E o que é que está um fulano, com ar patético de quem tem menos 10 anos do que, efectivamente, tem, de nome Hugo, a fazer sentado no lado esquerdo do ecrã? Pois, é o comentador das mensagens, claro está. Não é óbvio!
Perante o tema "De que forma é que a moda influencia a sociedade actual?" ali se registavam, umas atrás das outras, as mais congruentes e apelativas frases tradutoras de um apurado e sintético pensamento criterioso.
Diamantes como: O que interessa na moda são as mamas das modelos e as suas parrecas! A moda é bué fixe. O q tá na moda é o Hugo a dançar de cu pá gente. Hugo, a moda veste é as tuas irmãs k tens k apresentar ágente. A moda é fo****! Curto bués a tua shirt, dá aí ao pessual, Hugão man. A bilha da Rute é q tá na moda, anda cá Rutinhaaa.
Entre estas maravilhas do palavreado humano, maravilhas perfeitamente adequadas ao tema em questão, surgiam também meteoritos linguísticos de soberba qualidade, tais como: Hugo tráx cá mas é a tua mana k eu faço-lhe a folha. Vivó Gloriosoooooo! Bjx da Carlinha k te ama. Spooooorting e leões é q manda. Fdx já me mijei. Huguinho cá pra mim és virado.
Devo acrescentar que me recuso aqui a transcrever outras belezas vocabulares que conseguem descer ainda mais ao fundo do absoluto vulgar, deprimente e ordinário, mas que podem imaginar.
E o dito Hugo, Hugão, Huguinho o que fazia? Sorria, ria, dizia palhaçadas e, de forma inacreditável, fazia-o lendo as frases que iam surgindo do lado direito do ecrã. E como se isto não bastasse, lia as ofensas a si mesmo e comentava as várias preciosidades.
Este rapaz é pago para ser gozado, mais do que para comentar ou entreter. E, por ser estúpido, ou por vergonha, mas para se desenrascar, lá ia entrando no jogo, enterrando-se ainda mais. Dizia então, sempre muito sorridente, claro: Sim, a moda é bué fixe porque é importante nos dias de hoje. Ah, a minha t-shirt foi a produção que arranjou. Se quiseres saber onde a compraram, liga-nos. Oh Grande69 a Rute está na moda? Gostava de saber quem é a Rute. Sim Diogell, eu um dia trago cá as minhas irmãs para veres se são boas. Não Vitorxx, eu não sou virado nem estou virado, como vês estou de frente para o ecrã, mas obrigado pelo teu comentário. Foste à casa-de-banho urinar António666? Fizeste bem. Eu gosto muito da minha casa-de-banho nova e uso-a muito.
E para culminar (culminar a minhã saída da sala, claro, porque o programa estava para continuar e num crescendo de qualidade), o jovem esbracejante Hugo sai-se com esta dissertação de absoluto valor filosófico: Olha, para mim acho uma cena, querem ouvir? Querem, né? Sabem aquela senhora, a Donatella Versace, a dona da Versace? Pois fiquem a saber que foi eleita a mulher mais mal vestida das celebridades. A moda tem destas cenas giras, né? Uma mulher tão rica que faz moda e é de uma marca tão conceituada é tão mal vestida, não acham giro? O que têm a dizer, hã pessoal?
Foi o que bastou para aqui o "pessoal" desligar o aparelho televisivo.
Ah, e mais, em letras bem grandes e bem legíveis estava escrito que qualquer mensagem de conteúdo incorrecto e pouco próprio não seria aceite e mostrada. Portanto, imaginem-se as outras frases que me recuso a transcrever e ainda mais aquelas que não foram aceites pelo programa. O delírio!
Bem, estamos em Portugal, afinal porquê ter ficado incrédulo com o que vi e ouvi? Não era o mais provável acontecer perante uma ideia de um programa assim? Estava-se mesmo a ver...
É tão bom ser português. É tão bom ter tv cabo. É tão bom ter insónias.
Aula de substituiçao
Calhou-me hoje uma daquelas coisas lindas que o Ministério da Educação inventou. Como os alunos não podem ter "furos", os professores têm de ir ter com os meninos à sala de aula, caso um colega seu falte justificadamente. Alguém nos paga por isso? Não, claro que não. Aula de substituição, pois então.
Lá fui. Como não sabia, não tinha nada preparado. Mas pronto, entre tantas outras coisas, os professores também têm de ter a capacidade e inventar em segundos o que fazer com quase 30 alunos em 90 minutos. Pronto, não inventar em segundos, que exagerados são os professores sempre a queixar-se, inventar em minutos. Afinal a escola é grandita e desde a sala de professores até à sala onde esperavam as criaturas ainda vão uns 2 minutos.
E lá resolvi inventar enquanto subia as escadas para me encontrar com o famoso 9ºC, turminha já divulgada por toda a comunidade docente do estabelecimento como sendo insuportável. Miúdos que vão constatemente para a rua com faltas disciplinares, armados em bons, respondões e sem educação (curiosamente os piores são uma menina e um menino filhos de professores, ainda por cima, na mesma escola).
Mal cheguei apeteceu-me espancar uns quantos logo ali. Uns entravam a ouvir música, outros a falar muito alto, uma dá um berro a outro, um passa por cima de uma mesa, etc... "Já tomara isto passar e ir ter com os meus 9ºA e 9ºD, esses sim", pensei.
Sentei-me, escrevi o sumário e fiz cara feia a olhar para eles. Foram-se calando mas como o quase silêncio não me chegava, dei um murro na mesa para que todos se calassem. E calaram mesmo. Não eram infantis, via-se pelo ar arrogante que eram mesmo estúpidos e com a mania.
Não vale sequer a pena referir o que tentaram fazer, como tentaram provocar-me. Tentaram com uma "boquinha" aqui ou ali. Mas não durou muito porque para cáustico estou cá eu e eles perceberam logo isso. Mandei-lhes duas ou três mais fortes e baixaram as cristas emproadas.
"Como, supostamente, supostameeeeente, não estou numa turma de criancinhas e sendo aula de substituição, acho que seria interessante, por exemplo, vocês lançarem um ou mais temas para podermos debater na aula. Mas temas bem polémicos para que o debate se torne interessante. Temas daqueles que vocês ouvem falar mas acerca dos quais têm dúvidas, por exemplo." Pronto, como pude eu ousar em propôr tal coisa? Dar-lhes a hipótese de conversar sobre coisas interessantes? Que abuso meu! As criaturas queriam era ouvir música, jogar na playstation, pintar as unhas, usar os telemóveis ou, quanto muito, jogar aos "Países". Pois, lá tive de explicar aquelas almas que mesmo sendo de substituição, era uma aula, não o bar da escola e quem queisesse sair estava à vontade. Levava falta e pronto.
Lá lhes fui dando a volta e lá foram escolhendo temas para debater. Avisei logo de o caso "Maddie" e futebol estavam fora de questão, porque começaram logo a propôr isso mesmo.
Escolheram a liberalização do aborto, o casamento entre homossexuais e adopção por parte dos mesmos, a eutanásia e as touradas. O que iria sair dali? Ainda por cima temas que me são caros.
Começaram a interessar-se, não todos, mas bastantes. Como já conheço este tipo de miúdos, vi que não ia ser fácil. O que me apetecia mesmo era nem deixá-los falar, apenas meter-lhes um mínimo de neurónios naqueles cérebros vazios. Mas lá estabeleci regras e me assumi como moderador.
Estas aulas poderiam ser muito interessantes (quem me dera a mim ter tido professores que as promovessem) mas raramente o são porque os miúdos, mesmo com 15, 16 e 17 anos não sabem debater, não sabem argumentar, nem estão muito interessados. Acham que é assim ou assado porque é e pronto, passa à frente.
Pois, mas não, era o que faltava. Obriguei-os a pensar, a argumentar, a puxar pelas cabecinhas ocas. Argumentavam e eu contrapunha, mesmo que concordasse com esta ou aquela opinião.
Eutanásia. Depois de uma aluna (a mais interessada e participativa, a dita "marrona" da turma) ter explicado a todos o que é (era a única que sabia), quase todos se mostraram a favor.
Liberalização do aborto. Mais uma vez, apenas 2 ou 3 alunos não concordam.
Casamento entre homossexuais. Quase todos contra, claro.
Adopção por parte de homossexuais. Os argumentos do costume. "Coitadinho do miúdo, os pais obrigam-no a ser gay", "E depois a vergonha que é", "Ai que nojo ele ver dois homens a dar um beijo, ainda se fossem duas mulheres até é fixe", etc, etc, etc... Naquele momento voltei a pensar naquilo que há anos penso: "Ainda temos muito que evoluir. Os miúdos podem aceitar melhor a homossexualidade, do que o faziam há alguns anos, mas continuam a achar que é anti-natura, que é uma escolha, que entre dois homens mete nojo, que é uma vergonha ter um filho homossexual, ter um familiar homossexual, que casando um ia vestido de noiva para a igreja, que fugiam de um amigo que soubessem que é gay, etc...
Pediram a minha opinião e eu dei. Foram os momentos em que ficavam todos absolutamente calados a ouvir. E eu, disse-lhes exactamente o que penso sobre os assuntos, sem paninhos quentes. Subtilmente, ou não, tentei dar-lhes a volta à mioleira.
De repente pego na caneta preta e escrevo no quadro: "10% da população mundial é homossexual. Se esta escola tem cerca de 950 alunos, é provável que existam cá cerca de 95 colegas vossos homossexuais". Ficaram estupefactos, tal como eu supunha. "E vocês conhecem algum? Sabem de alguém que seja? Pensem nisso. Já pensaram que a maioria deles se esconde de vocês, dos amigos, do melhor amigo, da familia?" E se uma aluna exclamou "Xiiii, que horror, deve ser horrível mesmo", outro há que vomita algo como "É bem feito, ainda bem que se escondem, agora cá para o meu lado a chatear. Têm mesmo é que ter vergonha e não dizer nada. Para o meu lado escusam de vir esses gajos... quer dizer, gajas" E riu-se. E muitos outros riram também, claro. "Eram precisos semanas e semanas de trabalho com estas criaturinhas para chegarem a algum lado, talvez meses", pensei. Lá voltei a argumentar mas enfim...
Tourada. 3 alunos a favor. Uma delas achei estranho sê-lo porque era indiana, pelo menos de descendência e tinha um look de gótica, na turma assim a chamavam. Um ar atento, interessado e adulto. Enganei-me. A figurinha, dando um ar de grande maturidade a falar, sai-se com a maravilhosa frase: "Os animais, tal como as pessoas, têm que morrer ou na natureza, ou nas nossas casas, ou para nós comermos, ou numa praça de touros. Uns sofrem mais do que outros, pronto, faz parte da vida. Só porque se vê sangue já às pessoas lhes faz impressão? E nem é assim muito sangue. Pelo menos como os touros são pretos nem se vê muito..."
Nem a deixei acabar. Acho que devo ter mudado de cor ou fiz uma careta teatral de tal ordem que ficaram todos a olhar para mim à espera de uma reacção oral. E, claro, que não tardou. Olhei para aquela árida criatura e disse calmamente: "Pois, a menina supostamente é gótica, certo? Acho bem e acho muito interessante o seu visual. (Uns sussurraram, ela sorriu contente pelo elogio). Pois, mas sabe, a sua gotiquice não deve passar da roupa porque se soubesse o mínimo sobre os verdadeiros góticos, a sua filosofia de vida... Sabe o que é filosofia? Não, pois claro que não sabe. Saberia que estes, entre outras coisas, pensam muito, lamentam o sofrimento e são grandes defensores dos direitos dos animais. Pelos vistos a menina não perde muito tempo a pensar, nem dá grande importância aos animais. Acha graça andar assim vestida, pronto, está no seu direito. Mas de gótica não tem grande coisa. E já agora, se algum colega seu primitivo a espancar e aparecer cheia de sangue na escola, não chore, não se enerve, não sofra, é que uns sofrem mais do que outros, faz parte da vida, e sangue por cima do preto nem se vê muito e num gótico fica sempre bem".
A turma silenciou ao ponto de quase se ouvirem as moscas.
Sei que exagerei. Sei que me passei. Sei que a resposta poderia ter dado para o muito, muito torto. Mas após 90 minutos de debate enervante, stressante, desgastante e até triste, não aguentei. Não foi uma "boca", uma ligeira ironia, como as que fui atirando durante o debate, perante argumentos estapafúrdios ou respostas de "sim, porque sim, acho porque acho". Foi forte, sei que foi e ali mesmo senti-me mal por isso. Mas pronto, estava feito.
Deu o toque e lá foram saindo. uns como entraram, outros mais calmos, outros para me acompanhar até à saída da sala. Esses eu sei que gostaram de mim, é a atitude típica que conheço há anos.
A dita aluna pseudo-gótica já tinha saído mas... estava à porta a fingir que procurava algo na sua mala preta. Saí sem saber o que lhe dizer, se deveria dizer alguma coisa. Mas ela disse. "Stôr, curti bué do stôr. Desculpe, quer dizer... gostei da aula. Acho que tem razão. Eu tenho esse problema... é que não penso muito nas cenas mas até gosto de falar delas. E ainda por cima o meu pai curte bué touradas e eu nunca pensei muito nisso, sempre me habituei a existirem e pronto. Mas acho que tem razão. Há formas e formas de morrer, eu até sei. Mas se calhar acho sempre melhor não pensar nas coisas para não me incomodarem."
Respondi: "Entendo, mas pensar faz bem mesmo às crianças pequenas e você e os seus colegas já o não são há anos, não é? Deviam pensar mais, mas pensar mesmo, não é pensar um bocadinho e tirar logo uma conclusão. Mas peço-lhe desculpas porque exagerei e nem sequer a conheço, nem sequer é minha aluna. Exagerei e em frente aos seus colegas."
Ela: "Pois, arrumou-me stôr (riu-se). Mas fez bem, pode crer. E não se preocupe com eles porque eles já acham que eu sou maluca porque me visto assim. O stôr não gosta da minha maneira de vestir?"
Eu: "Gosto, gosto muito mesmo. Mas acho que mais do que a roupa, essa cabecinha é que devia importar-lhe mais".
Ela: "Pois, tem razão. Mas eu não sei muito dos góticos, gosto é de umas músicas e das roupas. O stôr sabe? Pode dizer-me onde procurar cenas?"
Eu: "Pode procurar na net, pesquisar, por exemplo. Sim, mas amanhã estou na biblioteca a dar apoio a alunos à hora de almoço e se quiser pode aparecer".
Ela: "Ah, fixe. Vou lá".
Eu: "Mas olhe, mesmo que depois não se identifique com os ideiais e valores góticos, não tem de mudar de visual. Se gosta de se vestir assim, veste-se e pronto".
Ela: "Pois, mas pelo menos quero informar-me. Bem, xau stôr, até amanhã".
Afastei-me e pensei que, afinal, às vezes, ainda vale a pena.
Lá fui. Como não sabia, não tinha nada preparado. Mas pronto, entre tantas outras coisas, os professores também têm de ter a capacidade e inventar em segundos o que fazer com quase 30 alunos em 90 minutos. Pronto, não inventar em segundos, que exagerados são os professores sempre a queixar-se, inventar em minutos. Afinal a escola é grandita e desde a sala de professores até à sala onde esperavam as criaturas ainda vão uns 2 minutos.
E lá resolvi inventar enquanto subia as escadas para me encontrar com o famoso 9ºC, turminha já divulgada por toda a comunidade docente do estabelecimento como sendo insuportável. Miúdos que vão constatemente para a rua com faltas disciplinares, armados em bons, respondões e sem educação (curiosamente os piores são uma menina e um menino filhos de professores, ainda por cima, na mesma escola).
Mal cheguei apeteceu-me espancar uns quantos logo ali. Uns entravam a ouvir música, outros a falar muito alto, uma dá um berro a outro, um passa por cima de uma mesa, etc... "Já tomara isto passar e ir ter com os meus 9ºA e 9ºD, esses sim", pensei.
Sentei-me, escrevi o sumário e fiz cara feia a olhar para eles. Foram-se calando mas como o quase silêncio não me chegava, dei um murro na mesa para que todos se calassem. E calaram mesmo. Não eram infantis, via-se pelo ar arrogante que eram mesmo estúpidos e com a mania.
Não vale sequer a pena referir o que tentaram fazer, como tentaram provocar-me. Tentaram com uma "boquinha" aqui ou ali. Mas não durou muito porque para cáustico estou cá eu e eles perceberam logo isso. Mandei-lhes duas ou três mais fortes e baixaram as cristas emproadas.
"Como, supostamente, supostameeeeente, não estou numa turma de criancinhas e sendo aula de substituição, acho que seria interessante, por exemplo, vocês lançarem um ou mais temas para podermos debater na aula. Mas temas bem polémicos para que o debate se torne interessante. Temas daqueles que vocês ouvem falar mas acerca dos quais têm dúvidas, por exemplo." Pronto, como pude eu ousar em propôr tal coisa? Dar-lhes a hipótese de conversar sobre coisas interessantes? Que abuso meu! As criaturas queriam era ouvir música, jogar na playstation, pintar as unhas, usar os telemóveis ou, quanto muito, jogar aos "Países". Pois, lá tive de explicar aquelas almas que mesmo sendo de substituição, era uma aula, não o bar da escola e quem queisesse sair estava à vontade. Levava falta e pronto.
Lá lhes fui dando a volta e lá foram escolhendo temas para debater. Avisei logo de o caso "Maddie" e futebol estavam fora de questão, porque começaram logo a propôr isso mesmo.
Escolheram a liberalização do aborto, o casamento entre homossexuais e adopção por parte dos mesmos, a eutanásia e as touradas. O que iria sair dali? Ainda por cima temas que me são caros.
Começaram a interessar-se, não todos, mas bastantes. Como já conheço este tipo de miúdos, vi que não ia ser fácil. O que me apetecia mesmo era nem deixá-los falar, apenas meter-lhes um mínimo de neurónios naqueles cérebros vazios. Mas lá estabeleci regras e me assumi como moderador.
Estas aulas poderiam ser muito interessantes (quem me dera a mim ter tido professores que as promovessem) mas raramente o são porque os miúdos, mesmo com 15, 16 e 17 anos não sabem debater, não sabem argumentar, nem estão muito interessados. Acham que é assim ou assado porque é e pronto, passa à frente.
Pois, mas não, era o que faltava. Obriguei-os a pensar, a argumentar, a puxar pelas cabecinhas ocas. Argumentavam e eu contrapunha, mesmo que concordasse com esta ou aquela opinião.
Eutanásia. Depois de uma aluna (a mais interessada e participativa, a dita "marrona" da turma) ter explicado a todos o que é (era a única que sabia), quase todos se mostraram a favor.
Liberalização do aborto. Mais uma vez, apenas 2 ou 3 alunos não concordam.
Casamento entre homossexuais. Quase todos contra, claro.
Adopção por parte de homossexuais. Os argumentos do costume. "Coitadinho do miúdo, os pais obrigam-no a ser gay", "E depois a vergonha que é", "Ai que nojo ele ver dois homens a dar um beijo, ainda se fossem duas mulheres até é fixe", etc, etc, etc... Naquele momento voltei a pensar naquilo que há anos penso: "Ainda temos muito que evoluir. Os miúdos podem aceitar melhor a homossexualidade, do que o faziam há alguns anos, mas continuam a achar que é anti-natura, que é uma escolha, que entre dois homens mete nojo, que é uma vergonha ter um filho homossexual, ter um familiar homossexual, que casando um ia vestido de noiva para a igreja, que fugiam de um amigo que soubessem que é gay, etc...
Pediram a minha opinião e eu dei. Foram os momentos em que ficavam todos absolutamente calados a ouvir. E eu, disse-lhes exactamente o que penso sobre os assuntos, sem paninhos quentes. Subtilmente, ou não, tentei dar-lhes a volta à mioleira.
De repente pego na caneta preta e escrevo no quadro: "10% da população mundial é homossexual. Se esta escola tem cerca de 950 alunos, é provável que existam cá cerca de 95 colegas vossos homossexuais". Ficaram estupefactos, tal como eu supunha. "E vocês conhecem algum? Sabem de alguém que seja? Pensem nisso. Já pensaram que a maioria deles se esconde de vocês, dos amigos, do melhor amigo, da familia?" E se uma aluna exclamou "Xiiii, que horror, deve ser horrível mesmo", outro há que vomita algo como "É bem feito, ainda bem que se escondem, agora cá para o meu lado a chatear. Têm mesmo é que ter vergonha e não dizer nada. Para o meu lado escusam de vir esses gajos... quer dizer, gajas" E riu-se. E muitos outros riram também, claro. "Eram precisos semanas e semanas de trabalho com estas criaturinhas para chegarem a algum lado, talvez meses", pensei. Lá voltei a argumentar mas enfim...
Tourada. 3 alunos a favor. Uma delas achei estranho sê-lo porque era indiana, pelo menos de descendência e tinha um look de gótica, na turma assim a chamavam. Um ar atento, interessado e adulto. Enganei-me. A figurinha, dando um ar de grande maturidade a falar, sai-se com a maravilhosa frase: "Os animais, tal como as pessoas, têm que morrer ou na natureza, ou nas nossas casas, ou para nós comermos, ou numa praça de touros. Uns sofrem mais do que outros, pronto, faz parte da vida. Só porque se vê sangue já às pessoas lhes faz impressão? E nem é assim muito sangue. Pelo menos como os touros são pretos nem se vê muito..."
Nem a deixei acabar. Acho que devo ter mudado de cor ou fiz uma careta teatral de tal ordem que ficaram todos a olhar para mim à espera de uma reacção oral. E, claro, que não tardou. Olhei para aquela árida criatura e disse calmamente: "Pois, a menina supostamente é gótica, certo? Acho bem e acho muito interessante o seu visual. (Uns sussurraram, ela sorriu contente pelo elogio). Pois, mas sabe, a sua gotiquice não deve passar da roupa porque se soubesse o mínimo sobre os verdadeiros góticos, a sua filosofia de vida... Sabe o que é filosofia? Não, pois claro que não sabe. Saberia que estes, entre outras coisas, pensam muito, lamentam o sofrimento e são grandes defensores dos direitos dos animais. Pelos vistos a menina não perde muito tempo a pensar, nem dá grande importância aos animais. Acha graça andar assim vestida, pronto, está no seu direito. Mas de gótica não tem grande coisa. E já agora, se algum colega seu primitivo a espancar e aparecer cheia de sangue na escola, não chore, não se enerve, não sofra, é que uns sofrem mais do que outros, faz parte da vida, e sangue por cima do preto nem se vê muito e num gótico fica sempre bem".
A turma silenciou ao ponto de quase se ouvirem as moscas.
Sei que exagerei. Sei que me passei. Sei que a resposta poderia ter dado para o muito, muito torto. Mas após 90 minutos de debate enervante, stressante, desgastante e até triste, não aguentei. Não foi uma "boca", uma ligeira ironia, como as que fui atirando durante o debate, perante argumentos estapafúrdios ou respostas de "sim, porque sim, acho porque acho". Foi forte, sei que foi e ali mesmo senti-me mal por isso. Mas pronto, estava feito.
Deu o toque e lá foram saindo. uns como entraram, outros mais calmos, outros para me acompanhar até à saída da sala. Esses eu sei que gostaram de mim, é a atitude típica que conheço há anos.
A dita aluna pseudo-gótica já tinha saído mas... estava à porta a fingir que procurava algo na sua mala preta. Saí sem saber o que lhe dizer, se deveria dizer alguma coisa. Mas ela disse. "Stôr, curti bué do stôr. Desculpe, quer dizer... gostei da aula. Acho que tem razão. Eu tenho esse problema... é que não penso muito nas cenas mas até gosto de falar delas. E ainda por cima o meu pai curte bué touradas e eu nunca pensei muito nisso, sempre me habituei a existirem e pronto. Mas acho que tem razão. Há formas e formas de morrer, eu até sei. Mas se calhar acho sempre melhor não pensar nas coisas para não me incomodarem."
Respondi: "Entendo, mas pensar faz bem mesmo às crianças pequenas e você e os seus colegas já o não são há anos, não é? Deviam pensar mais, mas pensar mesmo, não é pensar um bocadinho e tirar logo uma conclusão. Mas peço-lhe desculpas porque exagerei e nem sequer a conheço, nem sequer é minha aluna. Exagerei e em frente aos seus colegas."
Ela: "Pois, arrumou-me stôr (riu-se). Mas fez bem, pode crer. E não se preocupe com eles porque eles já acham que eu sou maluca porque me visto assim. O stôr não gosta da minha maneira de vestir?"
Eu: "Gosto, gosto muito mesmo. Mas acho que mais do que a roupa, essa cabecinha é que devia importar-lhe mais".
Ela: "Pois, tem razão. Mas eu não sei muito dos góticos, gosto é de umas músicas e das roupas. O stôr sabe? Pode dizer-me onde procurar cenas?"
Eu: "Pode procurar na net, pesquisar, por exemplo. Sim, mas amanhã estou na biblioteca a dar apoio a alunos à hora de almoço e se quiser pode aparecer".
Ela: "Ah, fixe. Vou lá".
Eu: "Mas olhe, mesmo que depois não se identifique com os ideiais e valores góticos, não tem de mudar de visual. Se gosta de se vestir assim, veste-se e pronto".
Ela: "Pois, mas pelo menos quero informar-me. Bem, xau stôr, até amanhã".
Afastei-me e pensei que, afinal, às vezes, ainda vale a pena.
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