- A sério? Estás a falar a sério?
- Sim. Não confio em ninguém.
- Mas porquê? Em ninguém, ninguém?
- Sim, não confio em ninguém na sua plenitude, a 100%.
- Mas isso é mau.
- Não sei se é. A queda é menor.
- Não digo que se confie em toda a gente, claro que não, mas em algumas pessoas eu confio plenamente.
- Eu já não.
- Mas já confiaste, certo?
- Sim. Depois ganhei juízo.
- Ai que parvo. Como é que consegues?
- E tu? Como é que consegues confiar? O que me espanta é o facto das pessoas ainda confiarem umas nas outras.
- Simples. Confio em ti, por exemplo.
- Não confies.
- Tu não confias em mim, já vi.
- Não, desculpa mas não confio. Numas pessoas confio bastante, quase na totalidade, mas não na totalidade.
- Podes confiar em mim, sabes?
- Não, não sei. Desculpa mas não sei.
- Acredita. A sério, acredita. Podes confiar.
- Rapaz, eu nem em mim confio, quanto mais nos outros.
- Faz-me confusão. Tu dizes que não confias em ninguém com um certo orgulho.
- Não é orgulho. Até acho triste. É consciência, só isso. Vou disfarçar porquê? Só porque é bonito dizer que se acredita e confia nas pessoas, em alguém? Não.
- Entendo, mas a verdade é que temos sempre de confiar em alguém.
- As verdades de hoje são as mentiras de amanhã.
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6 comentários:
Eu também cada vez tenho menos capacidade em confiar nas pessoas e acho isso triste, muito triste também. Mas este tipo de sentimentos não vem do nada, n se escolhe ser assim, ficar-se assim, se começamos a ser assim é por algum motivo.
Acima de tudo acho este diálogo muito triste.
Uma pessoa que já não confia em ninguém já passou pelas passas do algarve, certamente.
Eu ainda confio, mas confesso que ainda nunca fui muito decepcionado, nem deixo.
Ouvi dizer que vocês andam enamorados. Pq é que não segues em frente é que não se entende. Tu és fantástico, ele também, pq é q n dás uma hipótese ao rapaz, ele quer mto.
Isso de amizades coloridas não é para nenhum dos dois, saltem já essa fase.
Eu também tenho receio de confiar na totalidade em alguém ... vê-se tanta coisa neste mundo que, confiar a 100%, seja em quem fôr é o mesmo que ficar completamente desprotegido e à mercê de decisão ou sorte alheia, no futuro.
Nenhum de nós é transparente a 100% em tudo, em todas as situações, independentemente destas serem mais ou menos importantes, ao longo da nossa vida, com quem quer que seja.Mas também o facto de não se confiar a 100% não é condição para se decidir que não se pode confiar em ninguém, ou que as pessoas não prestam, ou que inclusive até têm mau instinto. Nada disso, a questão é a que a minha irmã diz,"há segredos que, como tal, são segredos e deverão ser guardados só para nós" porque, "um amigo outro amigo tem".
Eu confio na minha irmã, na minha sobrinha, em ti, na suspeita,... mas não posso garantir a 100% que nenhum de vocês me decepcionará um dia, numa situação qq. Acredito que isso não acontecerá, mas garantir não posso ... eu já me decepcionei comigo mesmo e supostamente poderia ter controlado a minha própria essência. Eu já mudei tanto que até me assusto comigo às vezes, surpreendo-me comigo mesmo. Também não sei se é bom ou mau ... é aquilo que é movido por um conjunto de factores ... mas também faço por não prejudicar ninguém, embora não possa garantir que o venha a fazer inadvertidamente.
Confio no entanto que há pessoas com muito boa essência e outras que não merecem o ar que respiram.
E atenção ... esqueci dizer ... esta conversa não é nada ridícula ... infelizmente esta conversa é muito lógica e faz todo o sentido. No íntimo de muita gente, esta conversa existe, embora "não fique bem" (lá está a falta de transparência!), assumi-la e apresentá-la assim frontalmente. Até porque confiar a 100% fica sempre bem dizer, relativamente às pessoas que gostamos e amamos. É quase uma heresia dizer que não se confia. Mas quem o diz, será que confia mesmo a 100%??? ou será que não quer ferir susceptibilidades de quem ama e assim, evitar discussões ou mau-estar desnecessário?
Eu não confio em mim próprio a 100%. Tento ser coerente e manter a minha palavra o mais possível ... mas olho para trás e rio-me de algumas evidências em que confiei e acreditei piamente e jamais mudaria ( já mudei!).
Fria e duramente, a realidade é essa, mas tentamos que não seja. É difícil interiorizar que não se confia a 100% em ninguém. É preciso um longo caminho para chegar a sentir isto. E um caminho certamente nada fácil.
Eu espero não percorrê-lo pq ainda quero confiar.
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