Como em alguns filmes...


Estava farto, cansado. Não podia, não queria continuar assim. Precisava de fazer algo. Tinha de começar por algum lado. Tinha tomado uma decisão. Entrou em casa e nem para o seu cão, que o esperava abanando a cauda junto à porta, olhou. Atirou o boné para o chão, a mala e as cartas do correio. Dirigiu-se à gaveta, tirou a máquina e atravessou o hall. Ficou parado em frente ao espelho e, enquanto arrancava todas as peças de roupa, continuou a cantar, baixinho, a música que o acompanhava há horas. Completamente nu, olhou-se e sabia que tinha de fazer algo, algo que lhe tirasse aquele ar acinzentado da pele logo abaixo dos olhos. Ao som de "Make It Rain" ligou a máquina à corrente e começou. Não hesitou nem um segundo. Estava decidido. Começou pelo lado esquerdo, depois passou ao direito. Para trás, para a frente, para um lado, para o outro, não importava a direcção. Foi rápido. Ficou-lhe mal mas não se importou. Ficou feio, mas não se importou. Tal como nos filmes, rapou o cabelo. Tal como em alguns desses filmes, resultou.
Agora era deixar crescer, começar do zero, começar tudo de novo. Muito antes de chegar ao comprimento a tocar os ombros, voltaria a ser feliz. Sorriu e cantou alto, bem alto. Estendeu-se no chão do hall e ali, nu, fez então as merecidas festas ao seu cão.

3 comentários:

Anónimo disse...

Que estranha situação ... uma necessária renovação da imagem exterior, talvez como ilusória tentativa de mudança interior.
É que mudar a imagem é fácil, pelo menos bem mais que a essência.

Anónimo disse...

A questão é: será que uma mudança de visual pode reflectir uma mudança do que se sente?

Anónimo disse...

Tu não rapaste o cabelo pois não????????
Tens o cabelo tão lindoooooo.
Mas se sim, de certeza que ficas giro na mm.
Mas não rapaste pois não????