Marketing



O marketing pessoal é uma forma aguda de solidão. É quando substituímos o "outro", o interlocutor, por nós mesmos.
Falamos, ou talvez pior, escrevemos, para nosso deleite, para nos convencermos que somos tudo aquilo mesmo. Claro que com medo de que ninguém dê ouvidos ao que dizemos ou escrevemos, asneiras quiçá, colocamo-nos diante de nós com os ouvidos atentos e os olhos abertos, prontos para receber a carga de mensagens absolutamente verdadeiras que vêm dos factos sem contestação. Assim mesmo, desconfiamos que o truque poderá dar certo. Queremos que dê.
Então chegamos a pintar um elefante de amarelo canário, vamos ao céu e descemos, enchemo-nos de lantejoulas e sorrisos, fazemos um travelling em close up na nossa fuça e colocamos ao fundo uma peça magistral de música. O cenário está montado.
Ficamos então na medida certa para o consumo.
A amizade verdadeira, ou sua divindade, o amor, passam ao largo do marketing pessoal. São sentimentos alheios à suposta perfeição e, por isso, até se alimentam dos erros.
Errar é suportavelmente humano quando admiramos ou amamos alguém que nos retribui.

7 comentários:

Anónimo disse...

Excelente.

Anónimo disse...

Li este texto nem sei quantas vezes.

Anónimo disse...

Tal como a fatima também li o texto n vezes ... e já estou como ela diz às vezes ... as coisas de que essa cabeça pensadora se lembra

Anónimo disse...

Na realidade este entra directamente para um dos teus melhores textos, não pela forma ou pelo enriquecimento vocabular ( vê-se que neste caso, não houve tentativa de "marketing pessoal"). Entra para a lista dos teus melhores textos pelo alcance da ideia subjacente, do poder da mensagem aqui evidenciado

Anónimo disse...

Concordo completamente com o que o brama escreveu. Um post de nota máxima.

Tirava-te mais mas assim tiro-te o chapéu.

Anónimo disse...

Este texto devia ser publicado!

Nunca pensaste escrever um livro?

Pelos teus textos, pelas fotografias que escolhes, pelas musicas, vê-se com clarividência que tens um grande sentido artístico invejavel mesmo.

João Roque disse...

Não sei bem que dizer, mas sinto necessidade de dizer qualquer coisa; fico-me pelo último parágrafo, pelo terrívelmente verdadeiro e belo que é...