Prazos

Uma - Olha, já está. Feito!
Outra - O quê?
Uma - Já tenho namorado?
Outra - A sério? Mas... assim? Desde quando?
Uma - Foi ontem. Aceitei ontem. Começámos a namorar ontem. Fomos jantar e eu disse que sim, que aceitava.
Outra - Mas assim? Tão depressa? Tens a certeza que fizeste bem?
Uma - Sim, acho que sim. Mas queria saber a tua opinião, é verdade.
Outra - Bem, tu é que sabes, ora.
Uma - Oh pá, ele é impecável. Trata-me tão bem, adora-me, faz tudo para me agradar, é um querido, a sério.
Outra - E isso chega?
Uma - Pronto, é bom na cama. (risos)
Outra - Não é só isso... Tens mesmo a certeza?
Uma - Eu não te disse que arranjava namorado até ao Verão? Disse, não disse? Se acreditarmos muito numa coisa, ela acaba por acontecer... e aconteceu, eu sabia.
Outra - O problema é mesmo esse.
Uma - O quê?
Outra - É que nem tudo o que queremos pode resultar em algo de bom.
Uma - Pronto, eu já sabia. És sempre a mesma coisa.
Outra - Então não querias a minha opinião? Ou queres a opinião que te interessa ouvir? Eu estou feliz por estares feliz, mas acho isso do prazo... enfim.
Uma - O quê?
Outra - Eu acho é que a tua vontade em ter alguém é tanta, a tua vontade de encontrar alguém até esse prazo do Verão é tanta que foste vendo o tempo a passar e achaste que tinhas mesmo de atingir esse objectivo, essa crença.
Uma - Sim, até podia ser isso, mas não foi. Além do mais eu não ia aceitar namorar com qualquer um.
Outra - Pois, mas já te disse que, muitas vezes, a vontade é tal, a solidão pode ser tal, o querer ter alguém é de tal ordem que as pessoas podem trocar os sentimentos todos, ficarem fascinadas por carência.
Uma - Achas mesmo isso?
Outra - Acho.
Uma - Mas em relação a mim, achas mesmo isso?
Outra - Não sei. Espero que não. Espero que não seja o caso. Mas quando se começa assim...
Uma - (Risos) Tu tens é inveja. Bem, vou lá para dentro. Até já. Logo vou jantar com ele outra vez.
Outra (olhando para quem estava ao lado) - Espero enganar-me mas... ela está meio cega, acha que estabelece um prazo e pronto. Sem dar por isso, o prazo ganhou demasiada importância e agora, espero que não, quem se vai dar mal é o tal sujeito.
Quem estava ao lado (baixando a cabeça, enquanto apagava o cigarro com a sola do sapato) - Pode ser que não.
Outra - Pois...
Quem estava ao lado - Pode ser que venha a amá-lo.
Outra - E sejam felizes, para sempre, um com o outro.
Quem estava ao lado - Isso já é outra coisa.

4 comentários:

Anónimo disse...

Não compreendo essa imposição de prazos quando estão envolvidas pessoas e não objectos, viagens, compras. Até nestas as coisas nem sempre saem da melhor forma.

Infelizmente creio que grande parte das pessoas funciona exactamente como expressa este texto.

Anónimo disse...

Muita gente funciona assim mesmo. Quer tanto algo q n percebe que está a cometer o maior erro da sua vida e sobretudo a meter alguem nesse erro.
O comentário final do q apaga o cigarro é excelente.

Anónimo disse...

Quando queremos muito uma coisa pode ser que ela aconteça mas isso não quer dizer que seja o melhor.
Mais um texto que me deixou a pensar.
Às vezes até tenho medo de ler os teus textos, mas agradeço-os, fazem-me pensar.
Adoro-te.

Anónimo disse...

Eu n estabeleço prazos, prefiro esperar. E espero...
;)