Abraço

R - Vá, até amanhã. Dorme bem...
J - Então... um abraço?
R - Sim, não devia?
J - Não é isso. É que tu cumprimentas-me sempre e despedes-te sempre com aperto de mão.
R - Pois, já reparaste, não é?
J - Sim. Ainda hoje chegaste, deste dois beijos a toda a gente e quando chegou a minha vez... esticaste logo o mão.
R - Pois... ficaste chateado? Desculpa. Eu também achei estranho e pensei logo que se ia reparar.
J - Claro que não fiquei chateado. Mas achei estranho, de facto.
R - Pois, desculpa.
J - Qual desculpa, qual quê. Não tens de pedir desculpa. Mas já agora, porque é que fazes isso? É porque nos conhecemos há pouco tempo?
R - Também. Mas não é por aí.
J - Então é por onde?
R - É porque eles são meus amigos e é só.
J - Ah, ok. Eu ainda não sou, percebo.
R - Não é isso, nada disso. É que a eles não tenho problemas em dar dois beijinhos ou um abraço e contigo é diferente.
J - Como assim?
R - Evito... pronto.
J - Oops... ok.
R - Tenho medo.
J - De quê?
R - De descer uma rua para um lugar para onde não devo ir.
J - Pois... E que tal subires uma avenida para um lugar onde queres ir?
R - O problema é esse mesmo. É que quero mas tenho medo.
J - Medo de quê?
R - Medo de sentir mais do que já sinto.
J - Olhe, não seja parvinho e dê-me já um abraço e espete-me dois beijos na cara e até amanhã.
R - Não me faças rir mais. Hoje passei a noite a rir por causa de ti.
J - Sim, eu sou palhacito e como não tenho paciência para aquelas conversas, mando umas bocas e piadolas, o menino tá a ver!?
R - Vá, pára. Pois, já tinha reparado que, às vezes, ficas meio distante, parece que não estás ali. Ok, então mais um abraço de boa noite.
J - Estás a ver... não custa nada.
R - Gosto muito do teu cheiro.
J - É. Eu sou assim cheiroso ao mais elevado nível olfactivo. É perfume misturado com suor do sovaquinho e fumo de tabaco. Muito agradável, de facto.
R - Doido. Tens um cheiro doce.
J - Sim, eu sou uma orquídea perfumada.
R - Nada disso. É um cheiro masculino mas doce. É diferente, muito particular.
J - Eu mesmo. Portanto se gosta, para a próxima não se coíba. Abrace-me e beije-me sem cá medos e coisas dessas, percebeu?
R - Pois, mas é perigoso. Tu és perigoso.
J - Perigoso? Vá, desanda já daqui. Eu sou do pior. Sou um perigo imenso. Cuidado comigo! Andor! Se afaste de mim.
R - Ai tu! Fazes-me bem, sabes?
J - Então!? Sou perigoso e faço-te bem? Ai, decida-se!
R - Sim, fazes-me muito bem. Divertes-me sempre muito, fazes-me rir. Acima de tudo, fazes-me sorrir. Além disso ouves-me, tens-me ajudado mais do que possas pensar. Gosto muito de falar contigo. Sinto-me à vontade, não sei porquê. Quando saio fico sempre a desejar que tu venhas. Chegar lá e ver-te.
J - Mas depois chegas e estendes logo a mão.
R - Desculpa, mais uma vez, desculpa. Mas, como te digo, tenho medo.
J - Não tenhas. Eu não mordo, homem.
R - Tu percebes, não percebes?
J - Claro que percebo. Até estou aqui meio encavacado. Estou é na brincadeira para não tornar isto muito sério e meio pesado. Pronto, tá decidido. Fazes assim: Chegas, cumprimentas toda a gente com dois beijos e pronto. E toda a gente é toda a gente, incluindo eu. É assim que deves pensar e pronto.
R - Pois, mas os outros não são imans aqui para mim.
J - Imans? Como assim? Esta agora! Nunca ninguém me disse tal coisa.
R - Sim... vá, até amanhã.
J - Até amanhã. E sonha com a subida da avenida, nada de descidas de ruelas.
R - Sonho, vou sonhar mas não é com isso.
J - Ooooookay.

6 comentários:

Anónimo disse...

:-)

Anónimo disse...

Gostei muito da subida da avenida.

Anónimo disse...

Concordo ana, a metáfora da descida da rua e subida da avenida soa-me muito bem.

Sim, às vezes é muito difícil chegarmo-nos junto de algumas pessoas que funcionam em nós como iman.

Anónimo disse...

E porque não se deixam levar?

Anónimo disse...

Parece que estou a ver a cena toda.

Anónimo disse...

É isso mesmo, nada de descer ruelas. Sempre a subir!