I Have a Shane Fascination!

Uma das séries que nunca o moveu, nunca lhe despertou grande interesse, dá pelo nome de The L Word. Volta e meia lá se cruzava com ela nas suas “zappingadas” mas aquilo não lhe dizia muito. Lésbicas aos beijos, era quase sempre o que via... Passava-lhe muito ao lado. "De certeza que, sobre a homossexualidade, o Queer As Folk é muito melhor."
Uma noite, num jantar, ouve uma colega, autêntica devoradora de séries televisivas, dizer que a série é muito boa. O marido, outro vampiro de séries, sacava cada episódio da net mal ele passava nos States. Achou algo estranho, sobretudo curioso, um casal heterossexual ficar ali a falar da série mas, noite finda, e o assunto encerrou na sua mente.
Há dias, nas suas passeatas pela Fnac, uma estante imensa com os dvd's da primeira série. "Que raiva! Queer As Folk lá metido numa estante escodida e sem ser da zona europeia. Esta série como já são gajas, já há para a zona 2, já tem legendas em português e já metem em destaque aqui. Que discriminação! Homens aos beijos já tem de ser escondido do povinho mentecapto!"
Pegou na caixa rosa. Olhou para as moças lesbianas. Leu o que estava escrito e ficou na dúvida “Compro ou não compro? Não sei se vou gostar disto. Nunca vi, nunca me chamou a atenção e, por favor, são só gajas!” Sorriu com a sua ideia também de discriminador, deu mais uma volta pela loja e voltou a pegar na caixa. “Compro, ora! Não é caro e se aqueles dois dizem que é boa, deve ser. Eles tem gostos de que gosto e são heteros...”
Comprou. E o cenário foi-lhe, novamente, conhecido. O cenário do vício. O primeiro episódio, logo o segundo, até ao último. Horas e horas no sofá, até o nascer do dia, a embrenhar-se naquela realidade, não tão longe da sua, afinal.
Os nomes das personagens, as suas características físicas, o delinear das suas mentes e atitudes, os casais, os namoros, as amizades, as profissões, as casas, as ruas, o café... mais umas vidas, mais uns amigos (no caso, sobretudo, amigas) para acompanhar.
E estava a gostar, a gostar cada vez mais. Por várias vezes pensou: “Todas as pessoas deviam ver isto! Heteros e gays, todas! E dizia a outra que não se aprende nada a olhar para um ecrã de tv!?” Nunca tinha pensado que cenas de amor ou de sexo entre mulheres pudessem ser tão belas aos seus olhos. Nunca o tinham sido. E havia cenas tão, mas tão belas. Nunca pensou que se pudesse envolver tanto num “mundo gay feminino”. Afinal, a diferença era no sexo, nada mais. Em vez de homens e mulheres, sobretudo, em vez de homens e homens, eram mulheres e mulheres.
O casal heterossexual, o casal lésbico, as melhores amigas, o homem lésbico, os engates, os preconceitos relativos a orientações, relativos aos conceitos de arte, a luta profissional, a maternidade, a adopção, a irmandade, os vícios do álcool e toxicidades, o sexo, o desejo, o amor, a alegria, a dor, o sofrimento, os sorrisos, os risos, as lágrimas, a familia, as confusões de sentimentos, as traições, os inícios e fins de relações, os choques de personalidades... tanto ali exposto. Tanto tão familiar.
Várias vezes fez pausa para olhar o tecto e pensar. “Isto é mesmo assim! É tal e qual isto! A mente humana é, de facto, tão assustadora quanto fascinante.” E, quando terminava um episódio, ao som de uma música sempre cuidadosamente bonita, ficava minutos e minutos a pensar. "O cérebro é formado por laivos de tantas confusões!"
Como sempre, logo assumiu personagens favoritas e uma não lhe saía da cabeça. Shane. Reparou nela logo na primeira imagem em que esta figura lhe surgiu. O deslumbramento aumentou a cada episódio. Não que se identificasse com ela. Fascinava-o, era isso. A androginia sempre surtiu nele um efeito de curiosidade, de fascínio. Sempre que via alguém andrógino, ficava a olhar. Via na androginia, muitas vezes, muita beleza. Sobretudo, numa androginia assim. Mas foi mais do que isso. Já não era a primeira vez que alguém andrógino o atraía mesmo fisicamente. As pessoas achavam aquilo estranho. Até ele chegava a achar. Se era estranho sentir-se atraído por um homem que parecia uma mulher, mais estranho era este o caso. Era uma mulher. Nunca ninguém andrógino o tinha feito sentir assim, sobretudo sendo isso, uma mulher.
“Que ser extraordinário!” pensou tantas vezes, em tantos episódios. Fisicamente, uma rapariga com 20 e muitos anos, extremamente magra, cabelo desgrenhado, roupas cuidadas mas, ao mesmo tempo, desleixadas. Um andar desengonçado masculino, o sentar de pernas abertas e a voz, uma voz fabulosa grave, quase susurrada, saída de um rosto, quase de criança, muito bonito. Sim, uma lésbica muito masculina não tem de ser feia, nada mesmo. Shane era a prova disso. Linda! Tanto estilo nos gestos, na postura, nas costas ligeiramente curvadas, no low profile! Em termos de personalidade igual fascínio sentiu. Aparentemente desinteressada e secundária, é muitas vezes o elo de ligação entre personagens. Irónica mas certeira, para não sofrer procura ser fria e esconder sentimentos, mas em pequenos gestos deixa transparecer o enorme coração que tem e o imenso amor que tem para dar, um amor que, pelo desejo físico que sente, pelo passado devastador, rejeita sequer sentir. “Listen, i fuck, i don't do relationships! I like you a lot but i like other people too” diz num dos primeiros episódios. Está mais do que apresentada aquela do grupo que salta de cama em cama e que não quer nada com o amor que todas as amigas procuram ou sentem. Eis que, no último episódio da primeira série, se esvai num turbilhão de sentimentos perante a pessoa que, efectivamente, ama e com quem, afinal quer passar os dias da sua vida. “I never wanted, i don't want to feel like this but... i met you, then i've opened my heart, now i know what is to be in love with someone. I'm broken... Stay with me.”
E agora Shane, e agora meninas, como será na próxima série? Fascinem-me!





5 comentários:

Anónimo disse...

Eu vi alguns episódios e gostei. O meu gajo ADORA essa série. Chega a ver repetição de vários episódios. Acho que a primeira série viu-a toda duas vezes!! Porque será?! ;)

Anónimo disse...

Eu gosto imenso dos episódios que que já vi desta série.

São mulheres mas podiam ser homens, mulheres e homens, tanto faz. Não é isso que interessa.

Anónimo disse...

É uma muito boa série que retrata muito bem questões que conhecemos por nós, por ouvir e por reconhecer.

A Shane também é das personagens que mais gosto mais a Cybil que vais ver mais à frente.

Anónimo disse...

Nunca vi mas deixaste-me curioso, mais uma vez.

De facto esta rapariga tem um je ne sais quoi...

Anónimo disse...

Prefiro o Queer por razões óbvias mas esta série não é mm nada má n senhor.