Series

Há poucos dias ouviu uma colega de trabalho dizer: “Quem passa horas em frente à televisão é porque não tem nada de interessante para fazer na vida!” Ora que coisa tão infeliz de ser dita. Não será esse um modo de nos fazer evoluir, crescer, aprender? Claro. Era óbvio para ele.
Respondeu isso mesmo, acrescentando: “Eu adoro ficar horas a ver séries.” E levou como resposta final: “A sério? Estás-me a surpreender. A sério? Mas isso é perder tempo. Não adianta de nada a ninguém.” A colega olhou para ele com ar de alguém absolutamente decepcionado. Aquele ar de “tinha-te em melhor conta!”
Dirigiu-se ao computador para fazer uma grelha qualquer e pensou: “Não adianta nada? Não que não adianta. Quem não vê... se visse talvez entendesse! Há ali tanto sobre a vida!”
Não tinha nada contra vícios. Nada mesmo. Até estranhava quem os não tivesse. Os vicios dão calor à vida. Pulsam em nós. Ele andava viciado e não se importava. Viciado e adorava andar assim. Andava viciado em séries. Séries daquelas que, há meses e meses, vão dando nos canais da Cabo mas que às quais nunca deu grande atenção. Sempre foi assim. Nunca gostou de ver episódios “soltos”. Se era para ver, se era para acompanhar, então teria de ser desde o primeiro episódio. Não se importava de ver um ou outro episódio de séries cómicas, daquelas para rir um bocado uns 30 minutos, mas de resto, tirando um ou outro episódio do House ou dos milhentos CSI, só mesmo vendo do início.
Fazia zapping e lá se deparava com episódios daquelas séries de que ia ouvindo falar. Não olhava para o ecrã mais de 5 minutos. Até podia, rapidamente, entrar no argumento, mas não queria. “Um dia logo vejo isto do início”, pensava. Pensava e cumpriu.
Há uns largos meses começou pelo Six Feet Under. A correria após a aula de body combat, a adrenalina a subir ao tentar arranjar lugar para o carro, para chegar a casa e ouvir aquela deliciosa música inicial. “Porra, são 10.40, vamos perder o início, que raiva!”
Depois a Ally MacBeal. Quando, há anos, dava na televisão nacional via quase todos os episódios. Chegava a ficar acordado até às 2 ou 3 da manhã para ver o episódio semanal que dava cada vez mais tarde por causa das novelas umas atrás das outras. Adorava aquela Ally. Adorava aquelas pessoas daquele escritório. Fez questão de perder o amor ao dinheiro e mandou vir toda a série. Voltou a ver tudo. Horas a fio, episódio a seguir episódio. Era tão bom, tão bom.
Depois, outras vieram. Nip/Tuck, papado. Queer As Folk, visto. Grey's Anatomy, consumido. Sex And The City, já está. Até o Lost. Sempre teve um certo sentimento de “Bah, que porcaria tão parva. Haverá coisa mais estúpida?” relativamente a esta série. Do pouco que via, nas sessões de zapping, sempre achou aquilo patético. Ursos polares numa ilha tropical? Um fumo preto que se desvia das pessoas ou que as ataca? Quase foi obrigado a ver desde o primeiro episódio e... rendeu-se.
De quando em vez lá ia à net ver se havia novidades. A Ally, as fantásticas de NY, a familia fúnebre e os queers já se tinham ido... mas havia os outros. Quando sairia a terceira série dos estagiários de medicina? Quando teria a quarta série dos seus cirurgiões plásticos favoritos? Quando é que voltaria, pela quarta vez, aquela ilha perdida? “Vá, lancem lá a porra das séries! Tenho saudades” pensava.
Queria voltar a ver, a ouvir, a sentir aquelas personagens. Queria voltar a acompanhar aquelas vidas. Queria voltar a intrigar-se, a sorrir, a rir, a chorar, a carregar na tecla “pause” do comando para pensar nesta ou naquela frase. Queria ir buscar qualquer coisa para petiscar ou ir bebendo e esticar-se no sofá, ir à casa-de-banho e voltar para junto daquelas pessoas. Tão aconchegante. Episódio atrás de episódio repleto de expressões, diálogos, silencios, complicações, excitações, emoções e sentimentos fictícios mas tão, tão reais.
“Vá, despachem-se. Estou à espera de vocês!”

4 comentários:

Anónimo disse...

Conheço algumas das séries de que falas e também adoro ficar estendida na cama a papá-las todas. É viciante, n é?

Anónimo disse...

Não gosto lá muito do Nip/Tuck porque as cenas das operações fazem-me impressão mas as outras, pelo que vou vendo gosto muito. A Mac Beel só vi um ou outro, a ver se me emprestas, pode ser? :)

Anónimo disse...

Pegaste-me o vício do Perdidos, ficaste de me emprestar a Ally, a Anatomia já vi mais do que tu (ehehe), o Nip Tuck tenho visto no canal português, o House não perco, o CSI e o Sexo na Cidade vou vendo e os Sete Palmos de Terra foi um culto para mim.

P.S Há alguma que queiras repetir visionamento? Não me importo de ver contigo. (sou tão atrevidinho ehehe)

Anónimo disse...

Como te compreendo.