Estado do tempo – Conjunto das condições atmosféricas num determinado momento e num determinado local.
Clima – Sucessão habitual dos estados do tempo num determinado momento, numa determinada região.
Normalmente, conclui-se como é um dado clima, com base num estudo de 30 anos.
Será que com 30 anos alguém sabe como é, efectivamente? Como é e o que quer? Como é, o que quer e como quer?
Se até o clima “anda do avesso”, se até o clima está sujeito a alterações climáticas, o que dizer das pessoas? Como pode alguém dizer que esteve 30 anos à espera de outrem? É bonito, mas ele já não se pode deixar-se poetizar assim, não pode.
Deu consigo a pensar nisso. As pessoas são como o estado do tempo, é certo. A cada dia, a cada hora, a cada momento, por muito diferentes que estejam, são pautadas por características que as definem. Todo esse conjunto de características, ao longo de anos, traduz aquilo que cada um é. São, portanto, também como o clima. Logo, iguais, ano após ano, com certezas de como serão. Mas também logo, com possibilidades de mudar de opiniões, valores, características, vontades e quereres.
Estas mudanças, ou falta delas, ligam-nos, aproxima-nos ou afasta-nos dos outros.
Há os climas melhores, os piores, os mais e os menos agradáveis. Há os mais oscilantes em termos de estados do tempo, há os quase sempre iguais.
Ao estado do tempo associa-se também o “bom tempo” e o “mau tempo”. E entre esse “bom” e “mau” as pessoas vão, quase sempre, fazendo o que podem e conseguem para se associarem ao primeiro estado.
Para ele são conceitos relativos. O bom é-o para todos? O mau também?
Ele gosta de sol, calor, céu limpo azul, mas também gosta de chuva, vento e céu coberto. Sempre fora assim, mais demarcadamente desde a noite em que, acompanhado, passeou à chuva ao som dos The Gift. Todos corriam para se abrigarem, todos fugiam da chuva. Eles não. Ele gosta de chuva. Sabendo ser estúpido, fá-lo sentir-se num país desenvolvido da Europa do Norte. Fá-lo sentir-se liberto, vivo, cheio de um conjunto de sensações e emoções.
A grande maioria acha estranho, parvo, sem sentido, que ele gosta só para ser diferente. Não. Ele gosta, por muito que o gozem quando nela caminha, salta, pára, a olha, até dança.
Gosta de chuva; gosta de abrir os braços ao vento forte e sentir que quase pode voar; gosta das tempestades ao jeito do seu cérebro; gosta das altas pressões com que trabalha; gosta das baixas pressões com que acalma e sorri. Gosta de todos os elementos climáticos, traduzam-se eles nos ditos “bom tempo” ou “mau tempo”. Todos, cada um influenciado pelos diversos factores climáticos que o rodeiam.
E passados 30 anos? Nem o clima é certo e adquirido, quanto mais as certezas de cada um. Mas é preciso muito tempo. Ele sabe disso, já não acredita nem se deixa levar pelo contrário.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Esta comparação entre o conceito de clima e as cambiantes na personalidade humana está interessante e bem imaginada. De facto, tal como com o clima, com os Homens (independentemente do género, daí o "H" claro) não há certezas, nem garantias de nada. Nós mudamos muito e como tal, nem a nós próprios poderemos garantir o que quer que seja. Na Sociedade actual em que há pressa para tudo e tudo muda de forma rápida, nós, Humanos, não seríamos excepção; aliás, somos a parte mais responsável neste processo. Mudar também pode ser bom e em muitos aspectos convém mesmo que se mude. Mas este mudar a que me refiro é o mudar que é mau, que se prende com a falta de palavra, o mudar que um dia quer e no outro já não. Num dia aquela é a pessoa amada e significa tudo para nós, a ela prometemos o mundo e jamais a decepcionaremos. No dia seguinte cruzamo-nos com ela e tentamos evitá-la para não termos sequer de lhe falar e perder parte do nosso tão precioso tempo,precioso para cativar outrém com as mesmas promessas (isto é só um exemplo, claro!). Os estados de tempo sucedem-se vertiginosamente, tocando extremos em espaços de tempo cada vez mais curtos, tal como nós mudamos assustadoramente de um dia para o outro. Antigamente mais ou menos tínhamos definidas as estações do ano (conseguíamos distingui-las e até ter estações intermédias, dádiva de um tempo que passou) e estas eram mais ou menos esperadas, previsíveis, sem grandes erros de cálculo. As pessoas também tinham valores mais sólidos, sabiam o que era o respeito, a fidelidade, a sinceridade, a lealdade, ... e parecia que, quando assim se mostravam, exibiam-no por muito tempo e orgulhosamente e os outros mais ou menos, sabiam com o que contar. Hoje é tudo diferente, vivemos numa nova Sociedade, muito à frente, tão à frente que a personalidade é muito mais complexa assim como as relações e fica bem, pois então. Sim, fica bem, mostrar complexidade, é muito chique, tão chique que acanbamos cada vez todos mais sós, plenos de "chiquice", mas orgulhosos por pertencer a uma sociedade renovada e livre, tão livre que está a apodrecer nessa aclamada renovação.
PS: pareço um velho a falar ou alguém cheio de preconceitos, mas penso mesmo que estamos a fazer um uso indevido das potencialidades que esta sociedade nos permite e com esse uso indevido, estamos também a envenenar todo o sistema, é a crise nas relações humanas e nos valores primordiais a que, noutro tempo se dava muito valor
Interessantíssimas analogias.
A tua cabeça não pára e pôe a minha no mesmo. Tu...
O cometário do Brama é uma análise bem consistente do teu texto. Complementam-se bastante bem e não acho que seja uma visão de um velho, é sim uma visão tristemente realista.
O final do comentário fez-me rir a potes com a "chiquice". De forma cómica foi dita uma grande verdade. Infelizmente a sociedade está a minar-se a ela mesma e poucos são os resistentes que não se deixam ir com a corrente rápida, absurda e não pensada em q uns ferem outros sem culpa, sem nada fazerem em contrário.
Talvez sejam esses os que ainda conseguem trazer alguns à terra e fazem bem à nossa vida.
Fazem falta pessoas como tu, Graduated.
Um post fabuloso, fabuloso.
Alguém te fez já sofrer muito, muito.
Grande imaginação.
Enviar um comentário