Faço-o.
Desculpa se te firo, mas, por vezes, tenho mesmo de deitar cá para fora o que trago a sufocar-me.
São fantasmas que me rodeiam, me sussurram e me apertam o peito. Tenho de afastá-los para me aguentar de pé e tentar dar um passo à frente do outro. Por isso faço-o. Não consigo guardar tudo em mim. Toca a loucura. Dói muito. Agora que aqui não estás, ainda mais. Por isso faço-o. Faço-o, mas da forma mais subtil possível. A que encontro. Não tanta subtileza quanto seria desejável. Sei que poderia silenciar ou ferir-te um pouco menos. Mas não me posso deixar sufocar. Faço-o, eu sei. Mas de forma a que consiga respirar um pouco melhor. Desculpa se te firo... mas, às vezes, falta-me o ar.
O meu pequenino.
Foi assim que chegou... tão pequenino, amedrontado e curioso.
Hoje, três anos depois, um grande gatão lindo, mas para mim sempre pequenino, vai ser castrado.
A ver vamos como corre. Já está há horas sem poder comer e beber água e depois da operação mais umas muitas horas no mesmo estado. E ele tem tanta fome e sede, coitadinho. Dá dó.
I'm so nervous.
Hoje, três anos depois, um grande gatão lindo, mas para mim sempre pequenino, vai ser castrado.
A ver vamos como corre. Já está há horas sem poder comer e beber água e depois da operação mais umas muitas horas no mesmo estado. E ele tem tanta fome e sede, coitadinho. Dá dó.
I'm so nervous.
Ler Possidónio Cachapa e Frederico Lourenço
Obrigado, Thanks.
Três dias que souberam a férias de Verão.
Jantares, à luz ténue, no terraço tão agradável. Um sofá imenso com tv em frente. Tanto zapping. Música diversa para gostos e desgostos. Conversas. Risos. Sorrisos. Olhares e expressões. Descobertas. Piadas parvas. Petiscos apetitosos pela noite dentro. Gente pela cozinha à volta de ingredientes e loiças. Saborosos chás. Belos vinhos. Café quentinho, pelas manhãs, ao sol. Um percurso assustador numa estrada de terra batida. Um pijama tão confortável. Esplanadas à beira rio. Uma cerveja gelada aqui e ali. Um telefone que tocava frequentemente de várias latitudes. Um gelado, à tarde, na rua, outro, à noite, em casa. O Homer Simpson a colorir um colchão imenso. Os sonhos. Os projectos. O futuro. Os medos. As vontades. As dúvidas. As tristezas e alegrias. Cigarros fumados no friozinho da madrugada. O ódio à minha Julia Roberts. A adoração aos irritantes Nelly Furtado, Rihanna, Michael Jackson e outros que tais. A tentativa de me fazer gostar de queijo e de hip-hop. Uma saída para dançar. As mudanças da temperatura do esquentador a cada banho tomado. As toalhas novas a largar pêlo. Os encantos de quem não tem computador em casa e noutro passou horas pedindo novidades. O brilho nos olhos de quem está interessado em quem nunca viu ao vivo. As abelhas insistentes. Os projectos de decoração de uma casa que é nova. A ajuda numa mala de viagem para fazer. Uma bebé que nasceu a centenas de km. A paz melódica da Sade. A promessa de mais dias e noites assim.
Três dias que pareceram muitos mais. Ainda bem.
Obrigado a eles. Thanks a ti.
(Sade - Ordinary Love)
Jantares, à luz ténue, no terraço tão agradável. Um sofá imenso com tv em frente. Tanto zapping. Música diversa para gostos e desgostos. Conversas. Risos. Sorrisos. Olhares e expressões. Descobertas. Piadas parvas. Petiscos apetitosos pela noite dentro. Gente pela cozinha à volta de ingredientes e loiças. Saborosos chás. Belos vinhos. Café quentinho, pelas manhãs, ao sol. Um percurso assustador numa estrada de terra batida. Um pijama tão confortável. Esplanadas à beira rio. Uma cerveja gelada aqui e ali. Um telefone que tocava frequentemente de várias latitudes. Um gelado, à tarde, na rua, outro, à noite, em casa. O Homer Simpson a colorir um colchão imenso. Os sonhos. Os projectos. O futuro. Os medos. As vontades. As dúvidas. As tristezas e alegrias. Cigarros fumados no friozinho da madrugada. O ódio à minha Julia Roberts. A adoração aos irritantes Nelly Furtado, Rihanna, Michael Jackson e outros que tais. A tentativa de me fazer gostar de queijo e de hip-hop. Uma saída para dançar. As mudanças da temperatura do esquentador a cada banho tomado. As toalhas novas a largar pêlo. Os encantos de quem não tem computador em casa e noutro passou horas pedindo novidades. O brilho nos olhos de quem está interessado em quem nunca viu ao vivo. As abelhas insistentes. Os projectos de decoração de uma casa que é nova. A ajuda numa mala de viagem para fazer. Uma bebé que nasceu a centenas de km. A paz melódica da Sade. A promessa de mais dias e noites assim.
Três dias que pareceram muitos mais. Ainda bem.
Obrigado a eles. Thanks a ti.
(Sade - Ordinary Love)
Cinzento
És um triste. Não gostas de cinzento e dizes-me isso assim? Eu não sabia. Foi preciso passarem semanas desde aquele dia em que te ofereci o cachecol cinza e as blusa cinza para me dizeres isso. Que não gostaste porque não gostas de cinzento. Que não usavas e nem ias usar porque não gostas de roupa cinzenta. Dizes-me isso assim, naquela situação? E ainda dizes que eu devia saber e que jamais te deveria ter oferecido aquilo. Devia saber? Sim, não tinhas roupa cinzenta no roupeiro, mas a quantidade de cores lá dentro era tal, eu ia lá reparar que não havia nada puramente cinzento. Só porque me casei contigo já tinha de saber tudo, tudinho sobre ti? Não. Nunca me havias dito que não gostavas de vestir roupa cinzenta. Sempre te vi com todas as cores. Sabes o quanto em pensei no que te ia oferecer pelos anos? Pensei, pensei, pensei e fiquei toda feliz da silva pela surpresa. E dizes-me tanto tempo depois que não gostaste nada daquilo? Daquilo? Eu tinha adorado oferecer-te aquilo! Nem foi o teres dito. Pronto, não gostas, não gostas e prefiro isso do que fingires que sim. Foi a forma como o fizeste. De cigarro altivo, quase tanto quanto a tua pose, fizeste questão de demarcar um nítido “Detestei!” Porque é que fazes sempre questão em agir assim? Dá-te prazer é? Gostavas de me ferir, dava-te um certo gozo, não era? És um triste.
E agora vejo-te sentado naquela esplanada todo de cinza vestido. Da cabeça aos pés. És um triste.
E no ano seguinte, lembras-te? Liguei-te para França para te dar os parabéns, com pena de, por causa do trabalho, não estarmos juntos, não estares com os miúdos, e tu desatas aos berros porque estavas a conversar com um suposto amigo e o telemóvel interrompeu. Eu era a tua mulher, porra! Eu a contar os minutos até à meia-noite e tu depois ainda dizes que não querias o teu dia de anos estragado por minha causa.Esse amigo não podia esperar uns segundos? Não podias falar com ele mais tarde? Nunca mais o ias ver, por acaso? Eu eu era o quê? Nós éramos o quê para ti, afinal?
Eu sou aquela que estragou o dia mais feliz da tua vida. O dia em que te aceitaram no novo departamento lá da empresa. Engraçado, nunca referiste como dia mais feliz da tua vida, nem lá perto, algum dia em que algum momento fosse passado comigo. E a forma dramática e acutilante como o disseste? Adoraste aquele momento em que sabias estar a fazer-me sentir mal, não foi? Eu, que devia amar-te, estraguei o dia mais feliz da tua vida. Pensei que esse fosse outro, mas não. Muitos outros dias dos quais eu não fiz parte. O trabalho, o cinema, os concertos, sempre estiveram à minha frente. És um triste.
Aproveitaste eu ter ido com os miúdos visitar os meus pais para te meteres na cama com um homem. Um homem? Para que é que te casaste comigo? Foi uma fase, um processo, uma aprendizagem? Poupa-me. És um triste.
Queres agora que eu vá com os miúdos aí a casa, a essa casa, para conhecer esse tal Artur? Ou é Luís? Já não sei qual é deles todos, nem me interessa. É um a quem espero não digas as mesmas coisas que me disseste e como as disseste. Um a quem espero dês mais importância e atenção. Um a quem possas agradecer presentes, parabéns e com quem passes os dias mais felizes da tua vida. Eu não soube fazer as coisas, fiz tudo mal mas tentei fazer.
Não, não vou. Queres celebrar mais um dia feliz da tua vida, a união com esse tal, então ainda bem que vais aí ter todos os teus amigos e familiares porque eu não vou estragar a festa. Não quero estragar outra vez mais um “dia mais feliz da tua vida”. E veste-te de cinzento. Nem tudo é preto e branco. És um triste.
E agora vejo-te sentado naquela esplanada todo de cinza vestido. Da cabeça aos pés. És um triste.
E no ano seguinte, lembras-te? Liguei-te para França para te dar os parabéns, com pena de, por causa do trabalho, não estarmos juntos, não estares com os miúdos, e tu desatas aos berros porque estavas a conversar com um suposto amigo e o telemóvel interrompeu. Eu era a tua mulher, porra! Eu a contar os minutos até à meia-noite e tu depois ainda dizes que não querias o teu dia de anos estragado por minha causa.Esse amigo não podia esperar uns segundos? Não podias falar com ele mais tarde? Nunca mais o ias ver, por acaso? Eu eu era o quê? Nós éramos o quê para ti, afinal?
Eu sou aquela que estragou o dia mais feliz da tua vida. O dia em que te aceitaram no novo departamento lá da empresa. Engraçado, nunca referiste como dia mais feliz da tua vida, nem lá perto, algum dia em que algum momento fosse passado comigo. E a forma dramática e acutilante como o disseste? Adoraste aquele momento em que sabias estar a fazer-me sentir mal, não foi? Eu, que devia amar-te, estraguei o dia mais feliz da tua vida. Pensei que esse fosse outro, mas não. Muitos outros dias dos quais eu não fiz parte. O trabalho, o cinema, os concertos, sempre estiveram à minha frente. És um triste.
Aproveitaste eu ter ido com os miúdos visitar os meus pais para te meteres na cama com um homem. Um homem? Para que é que te casaste comigo? Foi uma fase, um processo, uma aprendizagem? Poupa-me. És um triste.
Queres agora que eu vá com os miúdos aí a casa, a essa casa, para conhecer esse tal Artur? Ou é Luís? Já não sei qual é deles todos, nem me interessa. É um a quem espero não digas as mesmas coisas que me disseste e como as disseste. Um a quem espero dês mais importância e atenção. Um a quem possas agradecer presentes, parabéns e com quem passes os dias mais felizes da tua vida. Eu não soube fazer as coisas, fiz tudo mal mas tentei fazer.
Não, não vou. Queres celebrar mais um dia feliz da tua vida, a união com esse tal, então ainda bem que vais aí ter todos os teus amigos e familiares porque eu não vou estragar a festa. Não quero estragar outra vez mais um “dia mais feliz da tua vida”. E veste-te de cinzento. Nem tudo é preto e branco. És um triste.
"I Am Because We Are"
"I Am Because We Are", filme-documentário que fez a sua estreia no Festival de Cinema Tribeca, em Nova York, nesta quinta-feira, foi escrito, produzido e narrado por Madonna e examina a situação das crianças órfãs devido à crise de Sida num dos países mais pobres do mundo.
O interesse de Madonna pelo Malawi começou há cerca de dois anos, quando ela foi contactada por uma empresária nascida e criada no país e que lhe foi indicada por uma amiga em comum. "Ela disse-me que era um estado de emergência", conta Madonna no filme. "Soava exausta e à beira das lágrimas. Perguntei como eu poderia ajudar e ela disse-me: 'Você é uma pessoa com muito dinheiro, muito famosa e influente. As pessoas prestam muita atenção ao que você diz e faz."
Madonna informou-se sobre o Malawi e o resultado foi a criação de uma organização chamada Raising Malawi, voltada para a ajuda dos órfãos do país.
Foi durante as filmagens, enquanto visitava os diferentes orfanatos, que Madonna conheceu David. David é o menino que Madonna e seu marido estão a adoptar. Ele vive com o casal, em Londres, há 18 meses, pouco depois de se iniciar o processo de adoção.
O governo do Malawi, que foi criticado por dar tratamento preferencial a Madonna, já recomendou, com todo o apoio da assistência social que tem acompanhado a vida de David com a nova familia, que a adoção seja aprovada. Uma audiência sobre o assunto foi marcada para 15 de Maio.
"I Am Because We Are" inclui imagens de David aos cuidados de uma menina soropositiva de 9 anos, no orfanato Home of Hope. O bebé sofria de pneumonia, malária e outras doenças e não havia medicamentos para tratá-lo.
"O que eu estava eu preparada para fazer?" Madonna indaga no filme. "Se estava desafiando outras pessoas a abrirem as mentes e os corações, eu mesma tinha que ser a primeira a fazê-lo. Decidi tentar adotá-lo. O resto já virou história na comunicação social."
Entre os entrevistados em "I Am Because We Are" estão o ex-presidente americano, Bill Clinton, o Prémio Nobel da Paz, Desmond Tutu, Paul Farmer, da Escola de Medicina Harvard e Jeffrey Sachs, director do Instituto da Terra e assessor especial da ONU.
Site: www.iambecauseweare.com
Tempo+tempo+tempo... (2)
Agora sentia-se árido, seco, vazio, um clima desértico com grandes amplitudes térmicas diurnas. Ora com um calor imenso, sufocante, delirante, cego e doentio, ora com um frio intenso, ferino, atroz. Desequilibrado, desconcertado, ora num pico, ora noutro, mas numa paisagem vazia e descredula sem fim.
“Quem disse que o Sahara é o maior deserto do mundo é porque desconhece o que trago aqui dentro de mim”, pensava.
O deserto tem oásis, água aqui ou ali. O deserto dele, não. E essa esperança tinha-a perdido. Era deserto, assim seria e tinha de viver com essa paisagem. Não era comodismo, conformismo, era ter a coragem, difícil, de encarar a vida assim. Encarar que até os últimos cactos irão morrer. Encarar que as lagoas, sem a chuva que outrora as sustentou, vão secar. Encarar que as palmeiras, sem o esforço de quem as regue, irão fenecer.
O telefone tocou.
- Oi.
- Hello, Sunshine. How are you?
- Stop it.
- Não gostas que fale inglês? Já podias ter dito. Sorry. É o hábito de anos.
- Não é isso. É isso do Sunshine. Não ligues, é que estava a pensar no clima, no tempo, coisas assim....
- Clima e tempo não são a mesma coisa?
- Não, mas esquece isso agora.
- Ok, depois explicas. Ainda tenho muito que saber de ti e tu de mim, não é? Estou desejoso de mais umas horas a conversar...
- Pois... Depois explico a diferença. É simples. Nada mais simples.
- Eu estava farto de chuva, odeio.
- Eu também um pouco porque me chateia conduzir com chuva, mas adoro chuva.
- A sério? Bem, quer dizer, eu também, mas em casa, no quentinho a ouvir a chuva a cair lá fora. De preferência com a melhor companhia possível, né?
- Não, eu gosto de chuva quando ando na rua.
- Estás a gozar?
- Não.
- Bem, mas esquece lá isso da chuva porque agora está um sol lindo e vai estar assim nos próximos dias. E como eu adoro o sunshine... que tal vires passar o fim-de semana comigo?
- Tenho coisas para fazer.
- Não sejas assim. Vens. Vá, vem lá. Diz que sim. Podemos fazer montes de coisas ou só descansar. Fui comprar coisas.
- Quais coisas?
- Para nós, claro. Vá lá, anda. Eu vou chatear-te até vires.
- Não faças isso, andas com muito trabalho, precisas de um fim-de-semana animado e eu estou um deserto e tenho trabalho e cenas para fazer.
- O quê? Deserto?
- Onde é que imaginas muito calor e um sol abrasador?
- No deserto? É isso?
- Sim. Pois eu estou assim. Pronto, um sunshine dos desertos.
- Tu...
- Muita areia, um calor horrível e insuportável e logo a seguir, cai a noite e fico um frio horroroso de fugir. Not a good company.
- I don’t care how you are, it´s you and it´s good to me. I’ve waited, i’m waiting for you.
- Vá, agora não posso falar, depois falamos.
- Espera, espera. Vem lá. Eu adoro desertos.
- Sim, monótonos, iguais, pouco tempo depois insuportáveis.
- Não. Os desertos mudam constantemente de paisagem, as dunas... são uma constante surpresa e, no entanto, não deixam de ser o que são.
- Vazios.
- Nada disso. Eu já fui ao deserto e sei.
- Mas têm tempestades e à noite o frio é muito. É muito desagradável. E eu estou assim. Noutra altura falamos, boa?
- E tempestades não dão luta? Adoro. E o frio o que é que tem? Há sempre alguém que aqueça quem tem frio, não? Eu sou quentinho, já sabes.
- Sim, mas os desertos cansam. É tudo muito bonito no início mas depois... um verde seco aqui e ali... e depois há aqueles que nem oásis já têm. That´s me, this moment.
- Deixa-te de coisas. Eu rego. Eu chamo a chuva. Vá, vem lá. Eu faço o que tu quiseres, mas vem. Falamos melhor nisso e vai ser giro, vai ser bom, vais ver. Vais ver que ainda sais daqui a ser a Amazónia.
- Credo, isso é muita água.
- Então não és tu que gosta de chuva? Vá, give me a chance, vem. Podemos ir passear, sair, ir ao cinema, jantar fora. Eu faço uns pequenos almoços óptimos. Que tal? Oh chuva, oh chuvinha...
- Oh homem, tem lá calma com isso. Tu estás muito certo e não pode ser. Calma. Nem o clima é certo. Nem 30 anos chegam para se ter a certeza absoluta. Nós mudamos, evoluímos. Os elementos climáticos são os mesmos mas vão e vêm conforme... e os factores climáticos... há os factores que influenciam. E eu sou um rapazinho muito influenciável pelos factores climáticos.
- Não percebo nada. E essa dos 30 é comigo? Posso não perceber muita coisa, mas tenho 30 anos, não sou novo, sei o que quero, como quero. Sei o que é.
- Nem o clima já se sabe o que é.
- Olha, falamos disso a beber vinho e amanhã, esteja chuva ou sol, um english breakfast. Já comprei tudo. Estou à espera.
- Vai esperando.
- Já esperei muito, não me importo de esperar mais. Mas não vou esperar. Já te ligo outra vez.
Desligaram.
Sorriu, mas um sorriso triste. Um misto de não querer e não conseguir ver verde no horizonte do deserto. Não sentia qualquer percentil de humidade, nem queria. Sentia-se ora quente, ora frio, mas árido. O clima é o que é. São precisos muitos e muitos estados do tempo para que o clima mude. Seriam precisos muitos e muitos estados do tempo para que mudasse o seu sentir. Ele não queria o vazio, não queria o deserto, mas sabia que, tão cedo, nenhuma planta ia em si nascer. Talvez nunca mais. Era viver com isso e ter esperança de ser feliz assim. A esperança de ser novamente tocado pela chuva.
“Quem disse que o Sahara é o maior deserto do mundo é porque desconhece o que trago aqui dentro de mim”, pensava.
O deserto tem oásis, água aqui ou ali. O deserto dele, não. E essa esperança tinha-a perdido. Era deserto, assim seria e tinha de viver com essa paisagem. Não era comodismo, conformismo, era ter a coragem, difícil, de encarar a vida assim. Encarar que até os últimos cactos irão morrer. Encarar que as lagoas, sem a chuva que outrora as sustentou, vão secar. Encarar que as palmeiras, sem o esforço de quem as regue, irão fenecer.
O telefone tocou.
- Oi.
- Hello, Sunshine. How are you?
- Stop it.
- Não gostas que fale inglês? Já podias ter dito. Sorry. É o hábito de anos.
- Não é isso. É isso do Sunshine. Não ligues, é que estava a pensar no clima, no tempo, coisas assim....
- Clima e tempo não são a mesma coisa?
- Não, mas esquece isso agora.
- Ok, depois explicas. Ainda tenho muito que saber de ti e tu de mim, não é? Estou desejoso de mais umas horas a conversar...
- Pois... Depois explico a diferença. É simples. Nada mais simples.
- Eu estava farto de chuva, odeio.
- Eu também um pouco porque me chateia conduzir com chuva, mas adoro chuva.
- A sério? Bem, quer dizer, eu também, mas em casa, no quentinho a ouvir a chuva a cair lá fora. De preferência com a melhor companhia possível, né?
- Não, eu gosto de chuva quando ando na rua.
- Estás a gozar?
- Não.
- Bem, mas esquece lá isso da chuva porque agora está um sol lindo e vai estar assim nos próximos dias. E como eu adoro o sunshine... que tal vires passar o fim-de semana comigo?
- Tenho coisas para fazer.
- Não sejas assim. Vens. Vá, vem lá. Diz que sim. Podemos fazer montes de coisas ou só descansar. Fui comprar coisas.
- Quais coisas?
- Para nós, claro. Vá lá, anda. Eu vou chatear-te até vires.
- Não faças isso, andas com muito trabalho, precisas de um fim-de-semana animado e eu estou um deserto e tenho trabalho e cenas para fazer.
- O quê? Deserto?
- Onde é que imaginas muito calor e um sol abrasador?
- No deserto? É isso?
- Sim. Pois eu estou assim. Pronto, um sunshine dos desertos.
- Tu...
- Muita areia, um calor horrível e insuportável e logo a seguir, cai a noite e fico um frio horroroso de fugir. Not a good company.
- I don’t care how you are, it´s you and it´s good to me. I’ve waited, i’m waiting for you.
- Vá, agora não posso falar, depois falamos.
- Espera, espera. Vem lá. Eu adoro desertos.
- Sim, monótonos, iguais, pouco tempo depois insuportáveis.
- Não. Os desertos mudam constantemente de paisagem, as dunas... são uma constante surpresa e, no entanto, não deixam de ser o que são.
- Vazios.
- Nada disso. Eu já fui ao deserto e sei.
- Mas têm tempestades e à noite o frio é muito. É muito desagradável. E eu estou assim. Noutra altura falamos, boa?
- E tempestades não dão luta? Adoro. E o frio o que é que tem? Há sempre alguém que aqueça quem tem frio, não? Eu sou quentinho, já sabes.
- Sim, mas os desertos cansam. É tudo muito bonito no início mas depois... um verde seco aqui e ali... e depois há aqueles que nem oásis já têm. That´s me, this moment.
- Deixa-te de coisas. Eu rego. Eu chamo a chuva. Vá, vem lá. Eu faço o que tu quiseres, mas vem. Falamos melhor nisso e vai ser giro, vai ser bom, vais ver. Vais ver que ainda sais daqui a ser a Amazónia.
- Credo, isso é muita água.
- Então não és tu que gosta de chuva? Vá, give me a chance, vem. Podemos ir passear, sair, ir ao cinema, jantar fora. Eu faço uns pequenos almoços óptimos. Que tal? Oh chuva, oh chuvinha...
- Oh homem, tem lá calma com isso. Tu estás muito certo e não pode ser. Calma. Nem o clima é certo. Nem 30 anos chegam para se ter a certeza absoluta. Nós mudamos, evoluímos. Os elementos climáticos são os mesmos mas vão e vêm conforme... e os factores climáticos... há os factores que influenciam. E eu sou um rapazinho muito influenciável pelos factores climáticos.
- Não percebo nada. E essa dos 30 é comigo? Posso não perceber muita coisa, mas tenho 30 anos, não sou novo, sei o que quero, como quero. Sei o que é.
- Nem o clima já se sabe o que é.
- Olha, falamos disso a beber vinho e amanhã, esteja chuva ou sol, um english breakfast. Já comprei tudo. Estou à espera.
- Vai esperando.
- Já esperei muito, não me importo de esperar mais. Mas não vou esperar. Já te ligo outra vez.
Desligaram.
Sorriu, mas um sorriso triste. Um misto de não querer e não conseguir ver verde no horizonte do deserto. Não sentia qualquer percentil de humidade, nem queria. Sentia-se ora quente, ora frio, mas árido. O clima é o que é. São precisos muitos e muitos estados do tempo para que o clima mude. Seriam precisos muitos e muitos estados do tempo para que mudasse o seu sentir. Ele não queria o vazio, não queria o deserto, mas sabia que, tão cedo, nenhuma planta ia em si nascer. Talvez nunca mais. Era viver com isso e ter esperança de ser feliz assim. A esperança de ser novamente tocado pela chuva.
Tempo+tempo+tempo... (1)
Estado do tempo – Conjunto das condições atmosféricas num determinado momento e num determinado local.
Clima – Sucessão habitual dos estados do tempo num determinado momento, numa determinada região.
Normalmente, conclui-se como é um dado clima, com base num estudo de 30 anos.
Será que com 30 anos alguém sabe como é, efectivamente? Como é e o que quer? Como é, o que quer e como quer?
Se até o clima “anda do avesso”, se até o clima está sujeito a alterações climáticas, o que dizer das pessoas? Como pode alguém dizer que esteve 30 anos à espera de outrem? É bonito, mas ele já não se pode deixar-se poetizar assim, não pode.
Deu consigo a pensar nisso. As pessoas são como o estado do tempo, é certo. A cada dia, a cada hora, a cada momento, por muito diferentes que estejam, são pautadas por características que as definem. Todo esse conjunto de características, ao longo de anos, traduz aquilo que cada um é. São, portanto, também como o clima. Logo, iguais, ano após ano, com certezas de como serão. Mas também logo, com possibilidades de mudar de opiniões, valores, características, vontades e quereres.
Estas mudanças, ou falta delas, ligam-nos, aproxima-nos ou afasta-nos dos outros.
Há os climas melhores, os piores, os mais e os menos agradáveis. Há os mais oscilantes em termos de estados do tempo, há os quase sempre iguais.
Ao estado do tempo associa-se também o “bom tempo” e o “mau tempo”. E entre esse “bom” e “mau” as pessoas vão, quase sempre, fazendo o que podem e conseguem para se associarem ao primeiro estado.
Para ele são conceitos relativos. O bom é-o para todos? O mau também?
Ele gosta de sol, calor, céu limpo azul, mas também gosta de chuva, vento e céu coberto. Sempre fora assim, mais demarcadamente desde a noite em que, acompanhado, passeou à chuva ao som dos The Gift. Todos corriam para se abrigarem, todos fugiam da chuva. Eles não. Ele gosta de chuva. Sabendo ser estúpido, fá-lo sentir-se num país desenvolvido da Europa do Norte. Fá-lo sentir-se liberto, vivo, cheio de um conjunto de sensações e emoções.
A grande maioria acha estranho, parvo, sem sentido, que ele gosta só para ser diferente. Não. Ele gosta, por muito que o gozem quando nela caminha, salta, pára, a olha, até dança.
Gosta de chuva; gosta de abrir os braços ao vento forte e sentir que quase pode voar; gosta das tempestades ao jeito do seu cérebro; gosta das altas pressões com que trabalha; gosta das baixas pressões com que acalma e sorri. Gosta de todos os elementos climáticos, traduzam-se eles nos ditos “bom tempo” ou “mau tempo”. Todos, cada um influenciado pelos diversos factores climáticos que o rodeiam.
E passados 30 anos? Nem o clima é certo e adquirido, quanto mais as certezas de cada um. Mas é preciso muito tempo. Ele sabe disso, já não acredita nem se deixa levar pelo contrário.
Clima – Sucessão habitual dos estados do tempo num determinado momento, numa determinada região.
Normalmente, conclui-se como é um dado clima, com base num estudo de 30 anos.
Será que com 30 anos alguém sabe como é, efectivamente? Como é e o que quer? Como é, o que quer e como quer?
Se até o clima “anda do avesso”, se até o clima está sujeito a alterações climáticas, o que dizer das pessoas? Como pode alguém dizer que esteve 30 anos à espera de outrem? É bonito, mas ele já não se pode deixar-se poetizar assim, não pode.
Deu consigo a pensar nisso. As pessoas são como o estado do tempo, é certo. A cada dia, a cada hora, a cada momento, por muito diferentes que estejam, são pautadas por características que as definem. Todo esse conjunto de características, ao longo de anos, traduz aquilo que cada um é. São, portanto, também como o clima. Logo, iguais, ano após ano, com certezas de como serão. Mas também logo, com possibilidades de mudar de opiniões, valores, características, vontades e quereres.
Estas mudanças, ou falta delas, ligam-nos, aproxima-nos ou afasta-nos dos outros.
Há os climas melhores, os piores, os mais e os menos agradáveis. Há os mais oscilantes em termos de estados do tempo, há os quase sempre iguais.
Ao estado do tempo associa-se também o “bom tempo” e o “mau tempo”. E entre esse “bom” e “mau” as pessoas vão, quase sempre, fazendo o que podem e conseguem para se associarem ao primeiro estado.
Para ele são conceitos relativos. O bom é-o para todos? O mau também?
Ele gosta de sol, calor, céu limpo azul, mas também gosta de chuva, vento e céu coberto. Sempre fora assim, mais demarcadamente desde a noite em que, acompanhado, passeou à chuva ao som dos The Gift. Todos corriam para se abrigarem, todos fugiam da chuva. Eles não. Ele gosta de chuva. Sabendo ser estúpido, fá-lo sentir-se num país desenvolvido da Europa do Norte. Fá-lo sentir-se liberto, vivo, cheio de um conjunto de sensações e emoções.
A grande maioria acha estranho, parvo, sem sentido, que ele gosta só para ser diferente. Não. Ele gosta, por muito que o gozem quando nela caminha, salta, pára, a olha, até dança.
Gosta de chuva; gosta de abrir os braços ao vento forte e sentir que quase pode voar; gosta das tempestades ao jeito do seu cérebro; gosta das altas pressões com que trabalha; gosta das baixas pressões com que acalma e sorri. Gosta de todos os elementos climáticos, traduzam-se eles nos ditos “bom tempo” ou “mau tempo”. Todos, cada um influenciado pelos diversos factores climáticos que o rodeiam.
E passados 30 anos? Nem o clima é certo e adquirido, quanto mais as certezas de cada um. Mas é preciso muito tempo. Ele sabe disso, já não acredita nem se deixa levar pelo contrário.
Days, hours, minutes
Amiguinhos
- Oi.
- O que é que estás aqui a fazer?
- Vim ter contigo.
- Como é que sabias que estava aqui?
- Sabia.
- Ah, não me digas que é aquela coisa linda dos filmes em que o casalzinho tem um sitio só deles... uau!
- Não é nada disso.
- Ah, é que isso não existe... não existia entre nós. Não havia lugar nenhum especial, essa treta dos filmes.
- Cama? (risos)
- Parvo. Não, claro que não. Esse é o lugar que todos os casais dizem ser especial.
- Isso é por razões óbvias, pelo sexo, ora!
- Não me parece óbvio, parece-me banal.
- Pois, então nós éramos banais, que alivio.
- Não, não éramos. A cama era especial mas não só pelo sexo.
- Pois... e estás bem?
- Estou. E tu?
- Também.
- Ok, que bom para ti. E porque não estás na festa com o teu amado?
- Eu estou com o meu amado.
- Onde? Olha, escusas de trazê-lo para aqui, ok? Dispenso qualquer contacto com essa figura. Já ter-lhe dado um aperto de mão foi muito. Por que raio é que me apresentaste o gajo? Que nervos!
- Porquê?
- Não te faças de parvo. Esse tipo de perguntas não funcionam entre outros. Entre nós é só para fazer conversa e, sobretudo, para ouvirmos o que já sabemos. Sim, mas odiei apertar-lhe a mão. Fui logo a correr lavá-la. A sério, que raiva! Vá, vai lá ter com o teu queridinho, agora. Deixa-me aqui sozinho.
- Queres estar sozinho?
- Sentia-me mais sozinho lá dentro rodeado por aquela gente toda e por vocês pombinhos tão cheios de sorrisos um com o outro. Aqui estou melhor. Respiro melhor. Custa-me menos.
- E se eu ficar aqui contigo, ajuda?
- Ajuda e não ajuda.
- Porquê?
- Outra vez? Sabes bem porquê. Vá, pisga-te, vai lá para dentro. O outro já deve andar à tua procura. Vai lá ter com o teu amorzinho.
- Eu estou com ele, já te disse. Estou aqui contigo.
- Estás a ver? É por isso que isto tudo é uma merda.
- Eu sei, mas temos de ser racionais.
- Bardamerda para a racionalidade. Como se as coisas fossem assim. Oh que lindo, lê-mos uns textos, ouvimos umas opiniões, interiorizamos que ser racional é ser mais adulto e pronto, somos racionais, adultos e pronto, está resolvido.
- Eu sei. Mas pronto, eu disse-lhe que vinha ter contigo.
- Que viste ter com o amiguinho, com o ex, foi isso?
- Ele sabe o que tu és para mim. Eu contei-lhe tudo, inclusivé que ainda te amo.
- E ele?
- Ele sabe e aceitou ter uma relação comigo assim. Ele diz que me ama, eu acredito e sinto-o. Ele sabe que eu não o amo, mas chega-lhe que eu goste muito dele.
- Que coisa mais linda! Claro que ele tem esperança que tu o venhas a amar. E o mais certo é vir a acontecer. Que bela história de amor para contarem aos vossos filhinhos.
- Não sejas assim.
- Sou. Não amas ainda mas vais amar e vão casar e vão construir a casa que era para ser nossa e ainda vão ter os filhos que eram para ser nossos.
- Que filmes tu fazes.
- É claro que ele aceitou porque tem esperança que o ames, ora!
- Nunca como te amo a ti.
- Pronto, estás a ver? Chega. Vai lá ter com quem te ama.
- Eu estou com quem me ama, parvo.
- E o outro não te ama? Na volta ama-te ainda mais do que eu, ora!
- Não, não ama.
- Sabes lá tu isso. Isso não é assim...
- Sei. Essas coisas sentem-se.
- ...
- E ele sabe que somos amigos e que assim queremos continuar.
- Pois, então ele é cego.
- Porquê?
- Outra vez? Por razões óbvias. Amigos? Nós não estamos aqui com conversa de amigos, ou estamos?
- Mas é porque calhou. Porque outras vezes falamos de tudo.
- Como sempre falámos.
- Sim, e isso podemos manter entre nós. Gosto tanto de falar contigo. Há conversas que só nós temos.
- Ah claro, e quando o outro chegar ao pé? Eu bazo.
- Mas ele não tem de se chegar ao pé. Não tem de estar presente.
- Ui, que maravilha! Amigos às escondidas. Amigos a fingir que o namoradinho de um não existe. Então não é normal que alguém fale do seu namorado, do seu companheiro, aos amigos? É. E eu não quero que me fales dele. E escusas de me convidar para os teus anos porque eu não vou com ele lá.
- Vais-me fazer isso? Então que raio de amor é esse que tens por mim se nem aos meus anos vais?
- Paciência. Amo-te o suficiente para não querer que não estejas bem nesse dia. E comigo lá não estarias.
- Claro que estaria. Mais do que sem ti.
- Desculpa mas não vou. Ele a oferecer-te uma prenda, a dar-te um beijo, ali ao teu lado sentado, não... não vou. Não consigo.
- Eu sei. Mas ele não te fez mal nenhum. Até ias gostar dele.
- Não, não ia e não irei, acredita. Ele existe, é o suficiente para lhe ter um pó daqueles. Não é a pessoa em si, é o que ela representa.
- Entendo.
- Entendes? E essa racionalidade? Eu odeio-o, odeio ver-vos juntos, odeio saber que é ele que vai ter contigo, que é ele que anda no meu lugar do carro, que se senta naquele sofá, que usa aquela cozinha, que dá comer aos pássaros, que se estende no terraço, odeio tudo isto. Ele está no meu lugar, está a substituir-me...
- Tu és insubstituível. Por isso estou aqui e não lá dentro com ele. E olha que a música está fixe, está lá o pessoal todo e...
- Insubstituível? Nota-se. Ele só não veste as tuas roupas porque é um esqueleto vaidoso, senão...
- Vaidoso é que ele não é. Ele é muito simples.
- Pois, pior ainda. Odeio gente simples.
- Ai tu!
- Imagino as coisas lindas que dizem um ao outro...
- Não não digo. Ele diz mas eu não consigo. E isso até me incomoda. Porque eu não retribuo, porque sei que ele acaba por ficar à espera de palavras bonitas. E incomoda-me porque penso logo em ti.
- Então porque estás com ele. Se não o amas, se não te sentes bem...
- E querias o quê, porra? Que eu ficasse eternamente à tua espera? Que nós mudássemos para podermos ficar juntos? Há uma coisa que se chama solidão e essa coisa é a pior que se pode sentir. Tu conheces-me, eu preciso de um companheiro, de alguém a meu lado com quem partilhar o dia-a-dia, a vida. Não quero estar sozinho, viver sozinho, morrer sozinho. Queria que fosses tu. Sabes o que me custa saber que quando morrer não és tu que estarás a meu lado. E mesmo que estejas lá, não é a mesma coisa, não é contigo que termino o meu caminho. Percebes? Sim, arranjei alguém, sim. Estou a tentar. Não sou feliz como gostaria mas sozinho era mais infeliz. Estou a tentar, a agarrar-me a alguma coisa para me aguentar, para ver uma luz mínima que seja, para não parar. E tu também vais arranjar alguém. E achas que isso não me dói? E eu sei o que sinto por ele, não sei o que tu irás sentir por outro. Isso dá cabo de mim. Eu amo ser amado por ti, sabias? Não imaginas o valor que isso tem para mim. E tenho medo, tanto medo que deixes de me amar. Saber que algures estás tu e que me amas dá-me força, sabias? Não estamos juntos mas faz-me tão bem saber-me amado por ti quando me deito todas as noites.
- ... Vá, vá, menino, nada de lágrimas e nervosismos. Seja racional. Nada de emoções, ai!
- Ai que parvo. (risos) Olha, amo-te.
- Cala-te. Não digas isso. Estás a ver? Assim como é que conseguimos fazer isto? Como é que podemos levar isto em diante?
- Levando.
- Uau. Simples como tudo.
- Olha, sabes que mais? Antes que te espete um beijo nessa boca, vamos mas é para dentro dançar, estar com o pessoal e beber até cair para o lado.
- Ya, fantástico. Poupa-me. Beber para esquecer tudo... amanhã volta tudo ao mesmo.
- Não, para voltarmos para aqui e fazermos o que me apetece.
- O quê?
- Fodermos. (risos)
- Aqui? Estás parvo? ...Bem...
- Ahhhh, estás a ver? Bora? (risos)
- E é preciso beber para isso?
- Não e sim.
- Desculpa?
- Como se não soubesses! Agora digo eu. Não, porque sem álcool já estou com uma vontade de te comer de ponta a ponta. Sim, porque assim me vou sentir menos mal.
- Ai que lindos amiguinhos que nós somos, não haja dúvida. Tu és louco, sabes?
- Sei. E agora estou louco mas é por outra coisa. Ah, e tu também. (risos)
- Não estou não senhor, meu menino. Isso é que te enganas.
- Ah isso é que estás. Eu bem te conheço. E deves achar que eu nunca mais vou meter o dentinho em ti, não? Achas que vou estar o resto da vida sem nunca mais te beijar, sem nunca mais te sentir? Era o que faltava.
- Afinal, tu és meu amigo ou és amigo do teu namorado?
- Não percebi.
- Claro que percebeste.
- O que é que estás aqui a fazer?
- Vim ter contigo.
- Como é que sabias que estava aqui?
- Sabia.
- Ah, não me digas que é aquela coisa linda dos filmes em que o casalzinho tem um sitio só deles... uau!
- Não é nada disso.
- Ah, é que isso não existe... não existia entre nós. Não havia lugar nenhum especial, essa treta dos filmes.
- Cama? (risos)
- Parvo. Não, claro que não. Esse é o lugar que todos os casais dizem ser especial.
- Isso é por razões óbvias, pelo sexo, ora!
- Não me parece óbvio, parece-me banal.
- Pois, então nós éramos banais, que alivio.
- Não, não éramos. A cama era especial mas não só pelo sexo.
- Pois... e estás bem?
- Estou. E tu?
- Também.
- Ok, que bom para ti. E porque não estás na festa com o teu amado?
- Eu estou com o meu amado.
- Onde? Olha, escusas de trazê-lo para aqui, ok? Dispenso qualquer contacto com essa figura. Já ter-lhe dado um aperto de mão foi muito. Por que raio é que me apresentaste o gajo? Que nervos!
- Porquê?
- Não te faças de parvo. Esse tipo de perguntas não funcionam entre outros. Entre nós é só para fazer conversa e, sobretudo, para ouvirmos o que já sabemos. Sim, mas odiei apertar-lhe a mão. Fui logo a correr lavá-la. A sério, que raiva! Vá, vai lá ter com o teu queridinho, agora. Deixa-me aqui sozinho.
- Queres estar sozinho?
- Sentia-me mais sozinho lá dentro rodeado por aquela gente toda e por vocês pombinhos tão cheios de sorrisos um com o outro. Aqui estou melhor. Respiro melhor. Custa-me menos.
- E se eu ficar aqui contigo, ajuda?
- Ajuda e não ajuda.
- Porquê?
- Outra vez? Sabes bem porquê. Vá, pisga-te, vai lá para dentro. O outro já deve andar à tua procura. Vai lá ter com o teu amorzinho.
- Eu estou com ele, já te disse. Estou aqui contigo.
- Estás a ver? É por isso que isto tudo é uma merda.
- Eu sei, mas temos de ser racionais.
- Bardamerda para a racionalidade. Como se as coisas fossem assim. Oh que lindo, lê-mos uns textos, ouvimos umas opiniões, interiorizamos que ser racional é ser mais adulto e pronto, somos racionais, adultos e pronto, está resolvido.
- Eu sei. Mas pronto, eu disse-lhe que vinha ter contigo.
- Que viste ter com o amiguinho, com o ex, foi isso?
- Ele sabe o que tu és para mim. Eu contei-lhe tudo, inclusivé que ainda te amo.
- E ele?
- Ele sabe e aceitou ter uma relação comigo assim. Ele diz que me ama, eu acredito e sinto-o. Ele sabe que eu não o amo, mas chega-lhe que eu goste muito dele.
- Que coisa mais linda! Claro que ele tem esperança que tu o venhas a amar. E o mais certo é vir a acontecer. Que bela história de amor para contarem aos vossos filhinhos.
- Não sejas assim.
- Sou. Não amas ainda mas vais amar e vão casar e vão construir a casa que era para ser nossa e ainda vão ter os filhos que eram para ser nossos.
- Que filmes tu fazes.
- É claro que ele aceitou porque tem esperança que o ames, ora!
- Nunca como te amo a ti.
- Pronto, estás a ver? Chega. Vai lá ter com quem te ama.
- Eu estou com quem me ama, parvo.
- E o outro não te ama? Na volta ama-te ainda mais do que eu, ora!
- Não, não ama.
- Sabes lá tu isso. Isso não é assim...
- Sei. Essas coisas sentem-se.
- ...
- E ele sabe que somos amigos e que assim queremos continuar.
- Pois, então ele é cego.
- Porquê?
- Outra vez? Por razões óbvias. Amigos? Nós não estamos aqui com conversa de amigos, ou estamos?
- Mas é porque calhou. Porque outras vezes falamos de tudo.
- Como sempre falámos.
- Sim, e isso podemos manter entre nós. Gosto tanto de falar contigo. Há conversas que só nós temos.
- Ah claro, e quando o outro chegar ao pé? Eu bazo.
- Mas ele não tem de se chegar ao pé. Não tem de estar presente.
- Ui, que maravilha! Amigos às escondidas. Amigos a fingir que o namoradinho de um não existe. Então não é normal que alguém fale do seu namorado, do seu companheiro, aos amigos? É. E eu não quero que me fales dele. E escusas de me convidar para os teus anos porque eu não vou com ele lá.
- Vais-me fazer isso? Então que raio de amor é esse que tens por mim se nem aos meus anos vais?
- Paciência. Amo-te o suficiente para não querer que não estejas bem nesse dia. E comigo lá não estarias.
- Claro que estaria. Mais do que sem ti.
- Desculpa mas não vou. Ele a oferecer-te uma prenda, a dar-te um beijo, ali ao teu lado sentado, não... não vou. Não consigo.
- Eu sei. Mas ele não te fez mal nenhum. Até ias gostar dele.
- Não, não ia e não irei, acredita. Ele existe, é o suficiente para lhe ter um pó daqueles. Não é a pessoa em si, é o que ela representa.
- Entendo.
- Entendes? E essa racionalidade? Eu odeio-o, odeio ver-vos juntos, odeio saber que é ele que vai ter contigo, que é ele que anda no meu lugar do carro, que se senta naquele sofá, que usa aquela cozinha, que dá comer aos pássaros, que se estende no terraço, odeio tudo isto. Ele está no meu lugar, está a substituir-me...
- Tu és insubstituível. Por isso estou aqui e não lá dentro com ele. E olha que a música está fixe, está lá o pessoal todo e...
- Insubstituível? Nota-se. Ele só não veste as tuas roupas porque é um esqueleto vaidoso, senão...
- Vaidoso é que ele não é. Ele é muito simples.
- Pois, pior ainda. Odeio gente simples.
- Ai tu!
- Imagino as coisas lindas que dizem um ao outro...
- Não não digo. Ele diz mas eu não consigo. E isso até me incomoda. Porque eu não retribuo, porque sei que ele acaba por ficar à espera de palavras bonitas. E incomoda-me porque penso logo em ti.
- Então porque estás com ele. Se não o amas, se não te sentes bem...
- E querias o quê, porra? Que eu ficasse eternamente à tua espera? Que nós mudássemos para podermos ficar juntos? Há uma coisa que se chama solidão e essa coisa é a pior que se pode sentir. Tu conheces-me, eu preciso de um companheiro, de alguém a meu lado com quem partilhar o dia-a-dia, a vida. Não quero estar sozinho, viver sozinho, morrer sozinho. Queria que fosses tu. Sabes o que me custa saber que quando morrer não és tu que estarás a meu lado. E mesmo que estejas lá, não é a mesma coisa, não é contigo que termino o meu caminho. Percebes? Sim, arranjei alguém, sim. Estou a tentar. Não sou feliz como gostaria mas sozinho era mais infeliz. Estou a tentar, a agarrar-me a alguma coisa para me aguentar, para ver uma luz mínima que seja, para não parar. E tu também vais arranjar alguém. E achas que isso não me dói? E eu sei o que sinto por ele, não sei o que tu irás sentir por outro. Isso dá cabo de mim. Eu amo ser amado por ti, sabias? Não imaginas o valor que isso tem para mim. E tenho medo, tanto medo que deixes de me amar. Saber que algures estás tu e que me amas dá-me força, sabias? Não estamos juntos mas faz-me tão bem saber-me amado por ti quando me deito todas as noites.
- ... Vá, vá, menino, nada de lágrimas e nervosismos. Seja racional. Nada de emoções, ai!
- Ai que parvo. (risos) Olha, amo-te.
- Cala-te. Não digas isso. Estás a ver? Assim como é que conseguimos fazer isto? Como é que podemos levar isto em diante?
- Levando.
- Uau. Simples como tudo.
- Olha, sabes que mais? Antes que te espete um beijo nessa boca, vamos mas é para dentro dançar, estar com o pessoal e beber até cair para o lado.
- Ya, fantástico. Poupa-me. Beber para esquecer tudo... amanhã volta tudo ao mesmo.
- Não, para voltarmos para aqui e fazermos o que me apetece.
- O quê?
- Fodermos. (risos)
- Aqui? Estás parvo? ...Bem...
- Ahhhh, estás a ver? Bora? (risos)
- E é preciso beber para isso?
- Não e sim.
- Desculpa?
- Como se não soubesses! Agora digo eu. Não, porque sem álcool já estou com uma vontade de te comer de ponta a ponta. Sim, porque assim me vou sentir menos mal.
- Ai que lindos amiguinhos que nós somos, não haja dúvida. Tu és louco, sabes?
- Sei. E agora estou louco mas é por outra coisa. Ah, e tu também. (risos)
- Não estou não senhor, meu menino. Isso é que te enganas.
- Ah isso é que estás. Eu bem te conheço. E deves achar que eu nunca mais vou meter o dentinho em ti, não? Achas que vou estar o resto da vida sem nunca mais te beijar, sem nunca mais te sentir? Era o que faltava.
- Afinal, tu és meu amigo ou és amigo do teu namorado?
- Não percebi.
- Claro que percebeste.
Não me parece... mesmo.
Só não digo já que é uma valente porcaria, uma bosta, uma m****, porque ainda estou a ouvir a faixa 8 do álbum que sai na próxima segunda-feira, mas que, obviamente, já se encontra na net em vários sites.
É certo que o estatuto de estrela máxima lhe garante sucesso absoluto. É certo que já se dá ao luxo de fazer o que bem quiser. É certo que irá vender milhões. É certo que vários temas serão hits por todo e qualquer lado. É certo que muitos irão adorar. Eu não, não me parece, não mesmo. Estou a pouco mais de meio na audição de "Hard Candy" e já estou farto. A maioria dos temas não só não me dizem nada, como me irritam e até aborrecem.
Sim, Madonna já percorreu quase todos os meandros da música pop/rock, já inventou, já reinventou, criou modas, estilos, looks sonoros e visuais, serviu de base a êxitos de muitos outros e dela e dos seus trabalhos já tudo se disse e pode dizer. É certo e sabido que ia, mais uma vez, fazer algo de diferente. E fez, só que muito abaixo do que nos costuma brindar. Para quem gosta de hip-hop (faltava-lhe isto, pois) misturado com pop, este é, provavelmente, um óptimo trabalho. Eu não gosto do género e não gosto do resultado final.
É certo que, no início, também não gostei do anterior "Confessions on a dancefloor" e dei comigo a pensar "o que é isto?" Mas, dentro do género, achei logo ser um bom trabalho, mas não muito o meu género. O pior dos últimos álbuns, quanto a mim, excelentes logo desde os finais dos anos 80. Depois fui-me habituando e passei a adorar. As músicas não me saíam dos ouvidos e, em qualquer pista, não conseguia fazer outra coisa senão dançar e dançar.
Mas o que sinto relativamente a este é diferente. Não aprecio o género e nem acho ser um bom trabalho. Não aprecio a maioria dos sons, não aprecio a estética, não aprecio as vozes masculinas aqui ou ali, não aprecio as misturas e alternâncias sonoras... Não! Tirando um ou outro tema melhor, a maioria não me agrada. Por que raio foi Ela buscar esta gente americana para trabalhar com Ela? Estava tão bem com quem estava a trabalhar...
A ver vamos se mudo de opinião. Se sim, óptimo! Se não, espera-se pelo próximo álbum. Pode ser que Madge se farte do género "vamos lá dançar" e mude ou volte a outro que me encha as medidas.
Quero baladas daquelas tuas, quero músicas bonitas, quero temas fortes e marcantes, quero aquelas coisinhas que só tu, sempre à frente, sabes fazer, miúda!
Deixa-te lá dessa mania de querer sempre experimentar coisas diferentes na música!
Jantar e após...
I need a miracle
Sou mesmo muito pouco dado a este género que me lembra sempre música de carrinhos de choque, festarolas teen de aldeia e discotecas que procuram agradar a gregos e a troianos. O ritmo propositadamente dançável faz-me sempre apenas dar uns leves trejeitos corporais que duram pouco mais de um minuto, enquanto a maioria delira pista fora. Soa-me tudo muito ao mesmo, altamente repetitivo.
Mas desta música gosto. De quando em vez lá surge uma ou outra que me move. É o caso. Quando a ouço bate-me assim como que um raio de energia que se vai intensificando em mim, com infusões de sensualidade e me faz vibrar e dançar, dançar, dançar.
(Fragma - I need a miracle)
Mas desta música gosto. De quando em vez lá surge uma ou outra que me move. É o caso. Quando a ouço bate-me assim como que um raio de energia que se vai intensificando em mim, com infusões de sensualidade e me faz vibrar e dançar, dançar, dançar.
(Fragma - I need a miracle)
Idas ao Vet.
Ia perdendo a minha menina. Uma infecção urinária deixou-a tão doente. Logo ela, sempre tão forte e absolutista. Nem parecia a mesma poderosa criatura altiva.
Hoje está melhor, bem melhor. Já se foram as horas e horas de sono cansado, os miados doridos, o deambular pelas divisões com uma tristeza no olhar de quem pede ajuda a quem não pode mais fazer por ela.
Diferente de todos os outros da espécie, iniciou a actividade sexual aos mais de dois anos, quando seria normal iniciar tais práticas antes de completar o primeiro aniversário. Vive apaixonado por uma doninha de peluche a quem dá banho, abraços, beijos, carinhos, com quem dorme enroscado e pratica actos dignos de qualquer filme para adultos. Agora, para não variar na originalidade que o caracteriza, demonstrando a sua diferença perante os restantes felinos, iniciou a sua actividade urinária de macho que marca o seu território da pior forma possível, visual e odorificamente.
Feliz ou infelizmente (para a minha sanidade mental, o primeiro caso), dentro de dias, o meu menino vai ser castrado. Tem de ser. Poucos cantos da casa faltam ser brindados.
8ª Arte
Há momentos impossíveis que a dor os desenhe ou apague.
Momentos que nenhuma paleta de cores consegue deixar um pincel pintar.
São momentos que nenhuma música ou imagem conseguem superar.
Momentos que nenhuma forma esculpida, nenhum odor sentido, conseguem espalhar.
Momentos que nenhuma caneta consegue escrever.
Momentos que em nenhumas mil páginas se conseguem ler.
Há momentos que arte alguma consegue deixar sentir.
São momentos que nos ligam ao mundo das fadas sem daqui sairmos.
Não ascendem a perfeição porque de tal não há memória.
Algo só sentido na união de dois seres.
Momentos em que se toca o mais alto cume da vida.
Resta-nos ter a sorte de, um dia, por breves momentos, sentir algo assim.
Sou um sortudo.
Momentos que nenhuma paleta de cores consegue deixar um pincel pintar.
São momentos que nenhuma música ou imagem conseguem superar.
Momentos que nenhuma forma esculpida, nenhum odor sentido, conseguem espalhar.
Momentos que nenhuma caneta consegue escrever.
Momentos que em nenhumas mil páginas se conseguem ler.
Há momentos que arte alguma consegue deixar sentir.
São momentos que nos ligam ao mundo das fadas sem daqui sairmos.
Não ascendem a perfeição porque de tal não há memória.
Algo só sentido na união de dois seres.
Momentos em que se toca o mais alto cume da vida.
Resta-nos ter a sorte de, um dia, por breves momentos, sentir algo assim.
Sou um sortudo.
Third
Enquanto decorre a acção de formação altamente secante devido aos atrasos constantes de alguns formandos que não se entendem com as novas tecnologias de informação e comunicação, coisa que apela à maior das capacidades de tolerância e paciência do formador que deambula de computador em computador, há quem aproveite para ver e-mails, pesquisar sites e "postar" algo no blog.
E não é um "algo" qualquer. É o mais recente tema dos geniais "Portishead" que no dia 28 de Abril, vários anos depois do segundo, nos brindarão com o seu novo e tão aguardado terceiro álbum.
Isto é forte, muito forte. Belo, triste, stressante e louco. Quase chega a ser assustador. Não é fácil de ouvir, não.
A mim fascinou-me.
(Portishead - Machine Gun)
E não é um "algo" qualquer. É o mais recente tema dos geniais "Portishead" que no dia 28 de Abril, vários anos depois do segundo, nos brindarão com o seu novo e tão aguardado terceiro álbum.
Isto é forte, muito forte. Belo, triste, stressante e louco. Quase chega a ser assustador. Não é fácil de ouvir, não.
A mim fascinou-me.
(Portishead - Machine Gun)
Kill me for that!
- O meu problema é que te amo.
- Pois, é um problema. Tenho o mesmo.
- Então porque é que não ficamos juntos, porra? Não é lógico que duas pessoas que se amam fiquem juntas em vez de ficarem a sofrer cada uma para seu lado?
- Sabes bem a resposta. Sabemos que não dá. Sabemos ou queremos acreditar que não dá, não sei. Se calhar vai dar ao mesmo.
- …
- Tu começaste a ver a vida e as relações de uma forma, eu de outra. Começámos a ver as coisas de forma diferente. Isso é difícil de gerir. Já não funcionamos.
- Não? Achas mesmo? Será mesmo que é assim tão difícil ou somos nós que fazemos com que seja?
- Pois, não sei. Há um conjunto de factores, é isso.
- Mas ainda há esta chama, este desejo, esta vontade.
- Nem sempre.
- Mas isso não é normal? É suposto ser sempre?
- Não sei. Talvez seja, não sei. A sério, não me confundas mais.
- Quando te vejo apetece-me beijar-te, nem imaginas quanto.
- Imagino, imagino, acredita que sim.
- Então porque é que fizeste isto? Eu amo-te tanto, tu amas-me. Porque é que começaste a namorar com outro tipo? Qual é a lógica disso?
- E ia fazer o quê? Esperar anos até deixar de te amar? E se nunca deixar? Ia ficar sozinha para sempre?
- Eu estou sozinho. Prefiro estar sozinho do que estar com alguém, amando outro alguém.
- E até quando vais pensar assim? Vais passar a vida sozinho, é? Claro que não. Mais cedo ou mais tarde, amando-me ou não, vais sentir-te muito só, vais sonhar com uma vida a dois e vais encantar-te por uma outra. As pessoas chegam a um ponto de carência, sabes bem.
- Não quero, enquanto sentir o que sinto por ti, não quero outra gaja. Não faz sentido.
- Eu também preferia isso, sabes bem. Mas chega um ponto em que começamos a ter aquela vontade, necessidade até… precisamos de ter alguém a nosso lado, alguém que sintamos ser o nosso companheiro, alguém a quem abraçar, beijar, tocar, dar a mão, sentir que caminhamos na vida lado a lado com alguém.
- Isso pode ter-se com amigos, com o melhor amigo ou amiga.
- Não, não pode. É diferente. Há uma cumplicidade que a amizade não atinge. É aquela sensação de familia, também. Eu preciso disso. A amizade não atinge isso.
- Claro que atinge. Só falta o sexo mas se é para teres sexo, podes muito bem ter sem assumires uma relação, porra! Tu és gira, toda boa, o que não faltam só gajos que te queiram saltar para cima. É só quereres e escolheres.
- Não é pelo sexo. Isso eu sei que tenho com quem quero, parvo. Eu amo-te mas preciso ter alguém, agora preciso. Não quero mais ficar anos à espera de deixar de te amar, não vês isso?
- E não vês que estás a usar a outra pessoa?
- E quem te disse que ele não sabe o que se passa, o que sinto? Quem te disse que ele não aceita?
- Se aceita é porque é estúpido. Porque está com alguém que não o ama. Que tristeza, ainda o odeio mais agora. Se soubesses a raiva que sinto por ele.
- E quem te disse que não virei a amá-lo? Tu não és único e há relações que começam sem amor, sabias? Depois esse amor vai surgindo e sendo contruído.
- Ou não. E começar uma relação amando outra pessoa não é nada.
- A sério, pára!
- Estás feliz?
- ...
- Estás?
- Não. Não estou, não estou.
- Estás a ver?
- Mas vou fazer por estar. Tenho de conseguir isso. Posso não ser feliz sem ti, mas sozinha sou mais infeliz ainda.
- Isso, o que estás a fazer é a usá-lo como bengala, usar uma relação como bengala para conseguires caminhar, sabes, minha menina?
- Seja! Sou egoísta, talvez. Chama-me o que quiseres. Ele sabe que ainda não o amo. Eu já lhe expliquei tudo e ele aceita, entende e aceita-me assim.
- É claro que aceita. E agora vai aceitar tudo porque quer ficar contigo. Que lindo que ele é a aceitar estar com alguém que não o ama! Coitadinho, tem esperança que sintas por ele o que sente por ti. Ele é um querido, um fofinho, eu é que sou um crápula, já sei.
- Não é isso, parvalhão. Eu já não queria estar sozinha, tu sabes como eu sou. Adoro viver a dois, tu sabes. Encontrei uma pessoa impecável que me ama. Evitei, não quis, não procurei mas já não aguentava mais sentir-me tão só e talvez por carência, por avanços dele, deixei-me ir e... aconteceu, pronto. Quero ser amada. Kill me for that!
- Só consegues ser feliz acompanhada, essa é a verdade. O problema das pessoas é que não sabem ser felizes sozinhas. Acham que precisam de alguém que as complete e que até lá, são incompletas e nunca estão felizes até encontrarem a dita "outra metade". Não percebem que ninguém completa ninguém.
- Eu sei disso muito bem, não sou ignorante a esse ponto. Isso é poesia. Mas tenho o direito de ter alguém que me ame, se não tenho quem amo, ok? E tu, por acaso és feliz sozinho?
- Não, ainda não.
- Pronto, é que tu falas, falas, mas eu conheço-te e sei que tu também vais fazer o mesmo. Agora então, que eu tenho alguém, é que vais mesmo. Só que um teria de ser o primeiro. Calhou ser eu.
- Eu nunca o faria. Amando-te a ti não quero ninguém. E eu amo-te, não vês isso?
- Vejo. Achas que não? Mas também vejo que as coisas não são assim como as pintas. Se me amas e achas que me amarás por muitos e muitos anos, então parto do princípio que estarás sozinho por muito mais tempo, até deixares de me amar. E se me amares para sempre ou por muitos anos, vais ficar sempre sozinho?
- Sim, claro.
- Isso é bonito, muito bonito. Mas isso é o que vamos ver.
- Bonito é o que sinto por ti e o que eu sei que sentes por mim. Bonito é isto.
- Não digas mais nada. Puxa o cobertor para cima, tenho frio, vamos dormir.
- Tira a perna, senão não coinsigo ir lá abaixo. Vá, beija-me mas é.
- Chega de beijos. Era para conversarmos, não era?
- Pronto, já conversámos, agora quero beijar-te outra vez.
- Não, chatinho.
- Sim, sim. Tenho mais força do que tu e obrigo-te. Mas tu não vais resistir ao meu charme.
- Ai que parvo. Odeio-te.
- Isso querias tu.
- Pois, é um problema. Tenho o mesmo.
- Então porque é que não ficamos juntos, porra? Não é lógico que duas pessoas que se amam fiquem juntas em vez de ficarem a sofrer cada uma para seu lado?
- Sabes bem a resposta. Sabemos que não dá. Sabemos ou queremos acreditar que não dá, não sei. Se calhar vai dar ao mesmo.
- …
- Tu começaste a ver a vida e as relações de uma forma, eu de outra. Começámos a ver as coisas de forma diferente. Isso é difícil de gerir. Já não funcionamos.
- Não? Achas mesmo? Será mesmo que é assim tão difícil ou somos nós que fazemos com que seja?
- Pois, não sei. Há um conjunto de factores, é isso.
- Mas ainda há esta chama, este desejo, esta vontade.
- Nem sempre.
- Mas isso não é normal? É suposto ser sempre?
- Não sei. Talvez seja, não sei. A sério, não me confundas mais.
- Quando te vejo apetece-me beijar-te, nem imaginas quanto.
- Imagino, imagino, acredita que sim.
- Então porque é que fizeste isto? Eu amo-te tanto, tu amas-me. Porque é que começaste a namorar com outro tipo? Qual é a lógica disso?
- E ia fazer o quê? Esperar anos até deixar de te amar? E se nunca deixar? Ia ficar sozinha para sempre?
- Eu estou sozinho. Prefiro estar sozinho do que estar com alguém, amando outro alguém.
- E até quando vais pensar assim? Vais passar a vida sozinho, é? Claro que não. Mais cedo ou mais tarde, amando-me ou não, vais sentir-te muito só, vais sonhar com uma vida a dois e vais encantar-te por uma outra. As pessoas chegam a um ponto de carência, sabes bem.
- Não quero, enquanto sentir o que sinto por ti, não quero outra gaja. Não faz sentido.
- Eu também preferia isso, sabes bem. Mas chega um ponto em que começamos a ter aquela vontade, necessidade até… precisamos de ter alguém a nosso lado, alguém que sintamos ser o nosso companheiro, alguém a quem abraçar, beijar, tocar, dar a mão, sentir que caminhamos na vida lado a lado com alguém.
- Isso pode ter-se com amigos, com o melhor amigo ou amiga.
- Não, não pode. É diferente. Há uma cumplicidade que a amizade não atinge. É aquela sensação de familia, também. Eu preciso disso. A amizade não atinge isso.
- Claro que atinge. Só falta o sexo mas se é para teres sexo, podes muito bem ter sem assumires uma relação, porra! Tu és gira, toda boa, o que não faltam só gajos que te queiram saltar para cima. É só quereres e escolheres.
- Não é pelo sexo. Isso eu sei que tenho com quem quero, parvo. Eu amo-te mas preciso ter alguém, agora preciso. Não quero mais ficar anos à espera de deixar de te amar, não vês isso?
- E não vês que estás a usar a outra pessoa?
- E quem te disse que ele não sabe o que se passa, o que sinto? Quem te disse que ele não aceita?
- Se aceita é porque é estúpido. Porque está com alguém que não o ama. Que tristeza, ainda o odeio mais agora. Se soubesses a raiva que sinto por ele.
- E quem te disse que não virei a amá-lo? Tu não és único e há relações que começam sem amor, sabias? Depois esse amor vai surgindo e sendo contruído.
- Ou não. E começar uma relação amando outra pessoa não é nada.
- A sério, pára!
- Estás feliz?
- ...
- Estás?
- Não. Não estou, não estou.
- Estás a ver?
- Mas vou fazer por estar. Tenho de conseguir isso. Posso não ser feliz sem ti, mas sozinha sou mais infeliz ainda.
- Isso, o que estás a fazer é a usá-lo como bengala, usar uma relação como bengala para conseguires caminhar, sabes, minha menina?
- Seja! Sou egoísta, talvez. Chama-me o que quiseres. Ele sabe que ainda não o amo. Eu já lhe expliquei tudo e ele aceita, entende e aceita-me assim.
- É claro que aceita. E agora vai aceitar tudo porque quer ficar contigo. Que lindo que ele é a aceitar estar com alguém que não o ama! Coitadinho, tem esperança que sintas por ele o que sente por ti. Ele é um querido, um fofinho, eu é que sou um crápula, já sei.
- Não é isso, parvalhão. Eu já não queria estar sozinha, tu sabes como eu sou. Adoro viver a dois, tu sabes. Encontrei uma pessoa impecável que me ama. Evitei, não quis, não procurei mas já não aguentava mais sentir-me tão só e talvez por carência, por avanços dele, deixei-me ir e... aconteceu, pronto. Quero ser amada. Kill me for that!
- Só consegues ser feliz acompanhada, essa é a verdade. O problema das pessoas é que não sabem ser felizes sozinhas. Acham que precisam de alguém que as complete e que até lá, são incompletas e nunca estão felizes até encontrarem a dita "outra metade". Não percebem que ninguém completa ninguém.
- Eu sei disso muito bem, não sou ignorante a esse ponto. Isso é poesia. Mas tenho o direito de ter alguém que me ame, se não tenho quem amo, ok? E tu, por acaso és feliz sozinho?
- Não, ainda não.
- Pronto, é que tu falas, falas, mas eu conheço-te e sei que tu também vais fazer o mesmo. Agora então, que eu tenho alguém, é que vais mesmo. Só que um teria de ser o primeiro. Calhou ser eu.
- Eu nunca o faria. Amando-te a ti não quero ninguém. E eu amo-te, não vês isso?
- Vejo. Achas que não? Mas também vejo que as coisas não são assim como as pintas. Se me amas e achas que me amarás por muitos e muitos anos, então parto do princípio que estarás sozinho por muito mais tempo, até deixares de me amar. E se me amares para sempre ou por muitos anos, vais ficar sempre sozinho?
- Sim, claro.
- Isso é bonito, muito bonito. Mas isso é o que vamos ver.
- Bonito é o que sinto por ti e o que eu sei que sentes por mim. Bonito é isto.
- Não digas mais nada. Puxa o cobertor para cima, tenho frio, vamos dormir.
- Tira a perna, senão não coinsigo ir lá abaixo. Vá, beija-me mas é.
- Chega de beijos. Era para conversarmos, não era?
- Pronto, já conversámos, agora quero beijar-te outra vez.
- Não, chatinho.
- Sim, sim. Tenho mais força do que tu e obrigo-te. Mas tu não vais resistir ao meu charme.
- Ai que parvo. Odeio-te.
- Isso querias tu.
Wanna try.
- I just know you for a couple of days, saw you three times, but i see you as a sunshine. I'm not very found of the gay scene, that's why i was apart, that's why i felt alone in another world, my world. I thought everybody was more or less the same and i didn't want it for sure. In fact, i was in the dark for so many, so many years and i didn't mind it. And now i met you. I thought you were like the others in that stupid place. Thank God i left home that night. Thank God i'm here again. Thank God i met you. Thank God i saw you smiling. Thank God i saw you dancing. You're a sunshine. A little bit sad, a little bit hurt but with so much light in you. Don't you see? I am new in this, this is totally new for me, but im not confused, i'm not fascinated about all this places, about all this people. I know it, i feel it, i must say this... since that day i can't stop thinking about you. I must say that you're my Sunshine.
- Please, don't call me "Sunshine". I don't want any nicknames. I don't want more nicknames.
- Why are you so sad?
- Sorry for disappointing you but tonight was dark for me. I saw who i didn't want to see, what i didn't want to see. Sorry, you're sweet, very sweet and i apreciate that, but i... my heart, my soul, my stupid brains are... Well, i'm sick. I'm so fucked up! And you don't deserve it. Sorry, i don't wanna hurt you.
- Who told you that's a big problem for me? I now you're not fine. I can see that. So what? Forget what you saw this night. Forget this night. Try to clean your soul, your mind. I'll help you. We'll both do that. You and me, me and you. I know i'm new in this, but i'm not blind and i know what i want. I want you. You must believe me. Don't you wanna try?
- Better not, sorry. I don't believe in people anyone. I just wanna be alone.
- No, you don't. And you don't deserve to be alone.
- Probably don't, but i want to.
- Sorry, Sunshine.
- Stop. Why are you smiling?
- Because now i met you, i won't leave you. Now that i found you, i will not go away. And i will make you so happy. Just like you're already making me.
- Oh please! You really don't know what you're talking about.
- Oh yeah i do. And we will marry each other.
- Yeah, yeah... whatever!
- Yes, we will. Not today, not tomorrow, but onde day soon i'll propose you in Rio or New York and guess... you'll say "yes".
- Well, stop that. Go home and sleep well.
- Ok, Sunshine. Go home and don't cry.
- I'm not crying.
- I don't see tears but, yes, you are. I can see that. Do you wanna come home with me?
- Oh, for God's sake, i'm not crying. Go home.
- One day there'll be our home. Me and you and kids and dogs and cats and... Tomorrow i'll buy a blue pijama for you and it will be waiting in my closet.
- I don't like blue. Go! And stop smiling.
- Please, don't call me "Sunshine". I don't want any nicknames. I don't want more nicknames.
- Why are you so sad?
- Sorry for disappointing you but tonight was dark for me. I saw who i didn't want to see, what i didn't want to see. Sorry, you're sweet, very sweet and i apreciate that, but i... my heart, my soul, my stupid brains are... Well, i'm sick. I'm so fucked up! And you don't deserve it. Sorry, i don't wanna hurt you.
- Who told you that's a big problem for me? I now you're not fine. I can see that. So what? Forget what you saw this night. Forget this night. Try to clean your soul, your mind. I'll help you. We'll both do that. You and me, me and you. I know i'm new in this, but i'm not blind and i know what i want. I want you. You must believe me. Don't you wanna try?
- Better not, sorry. I don't believe in people anyone. I just wanna be alone.
- No, you don't. And you don't deserve to be alone.
- Probably don't, but i want to.
- Sorry, Sunshine.
- Stop. Why are you smiling?
- Because now i met you, i won't leave you. Now that i found you, i will not go away. And i will make you so happy. Just like you're already making me.
- Oh please! You really don't know what you're talking about.
- Oh yeah i do. And we will marry each other.
- Yeah, yeah... whatever!
- Yes, we will. Not today, not tomorrow, but onde day soon i'll propose you in Rio or New York and guess... you'll say "yes".
- Well, stop that. Go home and sleep well.
- Ok, Sunshine. Go home and don't cry.
- I'm not crying.
- I don't see tears but, yes, you are. I can see that. Do you wanna come home with me?
- Oh, for God's sake, i'm not crying. Go home.
- One day there'll be our home. Me and you and kids and dogs and cats and... Tomorrow i'll buy a blue pijama for you and it will be waiting in my closet.
- I don't like blue. Go! And stop smiling.
Das primeiras ou das últimas?
Esta é daquelas canções à qual, pela boa disposição e originalidade, não se fica indiferente. Mas não reúne consenso. Ora é apontada como uma das favoritas, ora como uma das que ficará nas últimas posições.
(Bélgica - Ishtar - O Julissi)
ESC 2008. E agora algo de verdadeiramente mau.
Se isto é surreal e mau...
(Espanha - Rodolfo Chikilicuatre - Baila el chiki chik)
Isto ainda consegue ser pior:
Os irlandeses passaram-se. Só pode!
A Irlanda, tal como o Reino Unido, são os recordistas de vitórias no Eurovision Song Contest. A Irlanda, quase sempre com as suas bonitas baladas românticas, durante anos e anos, convenceu a Europa. Chegou a vencer 3 anos consecutivos e merecidamente.
Nos últimos anos, as hipóteses têm sido muito poucas. A entrada no concurso dos países de leste, as músicas lamechas, o estilo muito habitual e monocórdico, afastaram a Irlanda para os últimos lugares. Talvez por isso, este ano, a Irlanda tenha apostado em algo completamente diferente, diferente de tudo. Mas mau, muito, muito mau. E, por incrível que pareça, talvez em jeito de graça, de gozo, de votantes infantis, o que se segue é um muito provável vencedor. Acho que tal coisa até deveria ser proibida. Um boneco estúpido com uma voz desafinada e absurda a gritar uns disparates, uma senhora com ar de travesti decadente e todo um conjunto visual sem comentários possíveis. Só o nome do "artista", "Dustin, the Turkey" e o nome da canção, "Irelande Douze Pointe", já são em demasia. Afoguem o peru. Destes nem no Natal!
E achava eu que nada poderia ser pior do que ir eu ao Eurovision Song Contest vestido de dama antiga, maquilhado à Marilyn Manson, com uma perna de gesso e acompanhado por um coro composto por uma freira, um astronauta, uma "tia da linha" em cadeira de rodas, um miúdo albino na guitarra portuguesa e uma velhota desdentada de lenço na cabeço à bateria. Enganei-me!
(Espanha - Rodolfo Chikilicuatre - Baila el chiki chik)
Isto ainda consegue ser pior:
Os irlandeses passaram-se. Só pode!
A Irlanda, tal como o Reino Unido, são os recordistas de vitórias no Eurovision Song Contest. A Irlanda, quase sempre com as suas bonitas baladas românticas, durante anos e anos, convenceu a Europa. Chegou a vencer 3 anos consecutivos e merecidamente.
Nos últimos anos, as hipóteses têm sido muito poucas. A entrada no concurso dos países de leste, as músicas lamechas, o estilo muito habitual e monocórdico, afastaram a Irlanda para os últimos lugares. Talvez por isso, este ano, a Irlanda tenha apostado em algo completamente diferente, diferente de tudo. Mas mau, muito, muito mau. E, por incrível que pareça, talvez em jeito de graça, de gozo, de votantes infantis, o que se segue é um muito provável vencedor. Acho que tal coisa até deveria ser proibida. Um boneco estúpido com uma voz desafinada e absurda a gritar uns disparates, uma senhora com ar de travesti decadente e todo um conjunto visual sem comentários possíveis. Só o nome do "artista", "Dustin, the Turkey" e o nome da canção, "Irelande Douze Pointe", já são em demasia. Afoguem o peru. Destes nem no Natal!
E achava eu que nada poderia ser pior do que ir eu ao Eurovision Song Contest vestido de dama antiga, maquilhado à Marilyn Manson, com uma perna de gesso e acompanhado por um coro composto por uma freira, um astronauta, uma "tia da linha" em cadeira de rodas, um miúdo albino na guitarra portuguesa e uma velhota desdentada de lenço na cabeço à bateria. Enganei-me!
ESC 2008
Quando digo que vejo o Eurovision Song Contest, quase sempre as reacções rondam o espanto. "A sério? Mas já ninguém vê isso. Ainda existe? Aquilo tornou-se uma palhaçada e ganham sempre os países de leste."
Quando digo que vejo e que adoro ver, as reacções são de quem olha para mim como se eu fosse uma espécie de decepção, um ser sem gosto musical e, diria mesmo, estético.
Quando digo que vejo, gosto e que "saco" as músicas que ouço imenso tempo, aí as bocas ficam mesmo abertas e os sobrolhos semi-levantados. "Como é possível?" Pois, mas é. E este ano já tenho as músicas todas que hei-de ouvir e conhecer antes das cerimónias. Sim, é plural. O número de países que participa já é tal que, este ano, há duas semi-finais e a final.
Ainda não ouvi a maioria dos candidatos mas, em consulta a alguns sites, há uma certa unanimidade no que respeita aos favoritos. Ei-los:
(Rússia -Dima Bilan - Believing)
É a segunda vez que este mocito participa no evento. Em 2006, com "Never let you go", ficou em 2º lugar e não ganhou porque uns monstros noruegueses lá estavam para deliciar muitos votantes. Agora tenta a sorte novamente e é muito provável que vença. Nos primeiros lugares fica, certamente. A música é bonita, agradável, o rapaz é uma estrela da música lá para aqueles lados e os países de leste dão sempre muitos pontos à Rússia que fica sempre colocada nos primeiros lugares.
(Grécia - Kalomina - Secret Combination)
Quem dá um tiro a esta criatura? Em jeito de teenager pop, esta miúda é a principal favorita à vitória, enfim. É uma música feita mesmo para ganhar. Os ingredientes estão todos lá. Espero enganar-me mas parece-me que a sonoridade pop misturada com sons orientais, a miúda girinha, com ar meio cândido, meio sexy, a mostrar a pernaça, os gajos de tronco apelativo e a coreografiazinha vão pôr esta criatura no pódio. Ao menos que fosse outra gaiata a cantar porque esta vozinha irritante não se aguenta.
(Suécia - Charlotte Perrelli - Hero)
Esta senhora já venceu o Eurofestival. Foi em 1999 com "Take me to your heaven". Agora participa pela 2ª vez e é, novamente, uma das favoritas. É daquelas músicas ditas fortes, esperançosas, cantadas por uma estrela nórdica, uma senhora dos festivais. Mas não me aquece nem me arrefece esta "onda" meio Abba, meio "diva" dos glaciares escandinavos.
(Sérvia - Jelena Tomasevic - Oro)
A Sérvia anda nisto há pouquíssimo tempo e já venceu. Foi no ano passado. Agora arrisca-se a vencer novamente. Esta vai arrebatar muita gente, é certo.
E, curiosamente, alguns sites apontam a canção portuguesa como umas das possíveis vencedoras. Não creio. Estamos à beira mar plantados e isso, infelizmente, diz muito num concurso destes. Ao menos que passemos à final.
Segundo consta, o tema e a vitória da Vânia estavam já decididos aquando do concurso em Portugal. Ao que parece as votações já estavam fechadas quando a apresentadora anunciou que se podia começar a votar. Incrível!
De qualquer modo, mesmo contando com os votos do povo, era muito provável que vencesse. É a moça vencedora da Operação Triunfo, acompanhada por concorrentes do mesmo programa e, ainda para mais, a música é boa. É das melhores canções que Portugal já levou ao Eurovisão mas vencer? Não me parece.
(Portugal - Vânia - Senhora do Mar)
Quando digo que vejo e que adoro ver, as reacções são de quem olha para mim como se eu fosse uma espécie de decepção, um ser sem gosto musical e, diria mesmo, estético.
Quando digo que vejo, gosto e que "saco" as músicas que ouço imenso tempo, aí as bocas ficam mesmo abertas e os sobrolhos semi-levantados. "Como é possível?" Pois, mas é. E este ano já tenho as músicas todas que hei-de ouvir e conhecer antes das cerimónias. Sim, é plural. O número de países que participa já é tal que, este ano, há duas semi-finais e a final.
Ainda não ouvi a maioria dos candidatos mas, em consulta a alguns sites, há uma certa unanimidade no que respeita aos favoritos. Ei-los:
(Rússia -Dima Bilan - Believing)
É a segunda vez que este mocito participa no evento. Em 2006, com "Never let you go", ficou em 2º lugar e não ganhou porque uns monstros noruegueses lá estavam para deliciar muitos votantes. Agora tenta a sorte novamente e é muito provável que vença. Nos primeiros lugares fica, certamente. A música é bonita, agradável, o rapaz é uma estrela da música lá para aqueles lados e os países de leste dão sempre muitos pontos à Rússia que fica sempre colocada nos primeiros lugares.
(Grécia - Kalomina - Secret Combination)
Quem dá um tiro a esta criatura? Em jeito de teenager pop, esta miúda é a principal favorita à vitória, enfim. É uma música feita mesmo para ganhar. Os ingredientes estão todos lá. Espero enganar-me mas parece-me que a sonoridade pop misturada com sons orientais, a miúda girinha, com ar meio cândido, meio sexy, a mostrar a pernaça, os gajos de tronco apelativo e a coreografiazinha vão pôr esta criatura no pódio. Ao menos que fosse outra gaiata a cantar porque esta vozinha irritante não se aguenta.
(Suécia - Charlotte Perrelli - Hero)
Esta senhora já venceu o Eurofestival. Foi em 1999 com "Take me to your heaven". Agora participa pela 2ª vez e é, novamente, uma das favoritas. É daquelas músicas ditas fortes, esperançosas, cantadas por uma estrela nórdica, uma senhora dos festivais. Mas não me aquece nem me arrefece esta "onda" meio Abba, meio "diva" dos glaciares escandinavos.
(Sérvia - Jelena Tomasevic - Oro)
A Sérvia anda nisto há pouquíssimo tempo e já venceu. Foi no ano passado. Agora arrisca-se a vencer novamente. Esta vai arrebatar muita gente, é certo.
E, curiosamente, alguns sites apontam a canção portuguesa como umas das possíveis vencedoras. Não creio. Estamos à beira mar plantados e isso, infelizmente, diz muito num concurso destes. Ao menos que passemos à final.
Segundo consta, o tema e a vitória da Vânia estavam já decididos aquando do concurso em Portugal. Ao que parece as votações já estavam fechadas quando a apresentadora anunciou que se podia começar a votar. Incrível!
De qualquer modo, mesmo contando com os votos do povo, era muito provável que vencesse. É a moça vencedora da Operação Triunfo, acompanhada por concorrentes do mesmo programa e, ainda para mais, a música é boa. É das melhores canções que Portugal já levou ao Eurovisão mas vencer? Não me parece.
(Portugal - Vânia - Senhora do Mar)
Brothers and Sisters.
Uma das melhores séries da actualidade. Obrigatória!
Um argumento excelente assegurado por um excelente leque de actores. Há cenas de cortar a respiração de tão intensas e comoventes. Há cenas para rir até doer a barriga. Os diálogos de "despique" de personalidades entre as notáveis Sally Field e Calista Flockhart (mãe e filha na série) são autênticas lições do que é ser-se grande, muito grande, no mundo da representação.
But you better shush shush shush... because it's a "secet".
Um argumento excelente assegurado por um excelente leque de actores. Há cenas de cortar a respiração de tão intensas e comoventes. Há cenas para rir até doer a barriga. Os diálogos de "despique" de personalidades entre as notáveis Sally Field e Calista Flockhart (mãe e filha na série) são autênticas lições do que é ser-se grande, muito grande, no mundo da representação.
But you better shush shush shush... because it's a "secet".
Another one, probably the one.
"Sights and sounds pull me back down another year, i wa...........s here, i was here".
"Do i have, of course I have beneath my raincoat... i have your photographs. And the sun on your face... i'm freezing that frame".
"How did it go so fast, you'll say, as we are looking back... and then we'll understand we held gold dust in our hands... in our hands".
"And we make it up as we go along. We make it up as we go along".
(Tori Amos - Gold Dust)
One of the most beautiful songs ever.
Hoje voltei a ouvir o original deste tema que andava a evitar. Logo aos primeiros acordes do violino, percebi porquê.
Estas versões ao vivo não têm a magia da versão do álbum, têm outra. Quem conhece o original talvez saiba ao que me refiro.
PATRICK: Magpie, was it you who stole the wedding ring? or what other thieving bird would steal such hope away? magpie, i am lost among the hinterland, caught among the bracken and the fern and the boys who have no name.
MARIANNE: There's no name for us.
PATRICK: Still we sing.
MARIANNE: And still we sing. little boy, little boy, lost and blue, listen now, let me tell you what to do. you can run on, run along, alone or home between the knees of her; all among her bracken and her ferns and the boy will have a name.
BOTH: We will sing.
MARIANNE: And we will sing.
MARIANNE: One for sorrow.
PATRICK: Two for joy.
MARIANNE: Three for a girl.
PATRICK: Four for a boy.
MARIANNE: Five for silver.
PATRICK: Six for gold.
MARIANNE: Seven for a secret never to be told.
(Patrick Wolf - Magpie)
Estas versões ao vivo não têm a magia da versão do álbum, têm outra. Quem conhece o original talvez saiba ao que me refiro.
PATRICK: Magpie, was it you who stole the wedding ring? or what other thieving bird would steal such hope away? magpie, i am lost among the hinterland, caught among the bracken and the fern and the boys who have no name.
MARIANNE: There's no name for us.
PATRICK: Still we sing.
MARIANNE: And still we sing. little boy, little boy, lost and blue, listen now, let me tell you what to do. you can run on, run along, alone or home between the knees of her; all among her bracken and her ferns and the boy will have a name.
BOTH: We will sing.
MARIANNE: And we will sing.
MARIANNE: One for sorrow.
PATRICK: Two for joy.
MARIANNE: Three for a girl.
PATRICK: Four for a boy.
MARIANNE: Five for silver.
PATRICK: Six for gold.
MARIANNE: Seven for a secret never to be told.
(Patrick Wolf - Magpie)
Get the fuck out...
Sim, é um privilégio, para mim seria e há-de ser. Ainda aguardo o dia em que irei a um concerto desta monumental senhora de uma musicalidade extrema e que usa as palavras como ninguém.
Há tempos, num concerto, Tori Amos, quase no final da sua notável interpretação do notável "Gold Dust", o tema que me arrasa completamente, proferiu um digno "fuck you" direccionado a uma criatura que interrompeu aquele momento divino com um berro. "Silent all this years", gritou a sujeitinha. Queria que Tori cantasse o dito tema, mas interromper um momento mágico daqueles foi quase criminoso. Tori não perdoou, lançou-lhe a farpa e continuou a cantar.
Há semanas, num concerto em San Diego, aconteceu o que abaixo se vê e ouve. Ao que parece, umas meninas "chicas espertas", aproveitando a curta ausência de uns convidados de Tori, resolveram "saltar" para as cadeiras dos mesmos, cadeiras essas na primeira fila. Ao que consta, as ditas criaturas mal formadas, já por ali andavam a saltitar, a passar à frente das pessoas, a gritar frases soltas aquando das músicas maravilhosamente quase sussurradas, a atender telemóveis, a incomodar toda a gente.
Miss Amos não se fez rogada e toca de interromper o tema "Code Red" para as expulsar do seu concerto.
Visto assim, parece que Tori Amos foi snob, prepotente, arrogante, armada em estrela e mal educada mas quem lá estava garante que foi muito bem feito e nem sabem como aquilo se arrastou tanto tempo. Se os seguranças não tomaram as rédeas, ela fê-lo. Fê-lo e recomeçou a cantar, pois claro.
A "coisa" passa-se aos cerca de 2.30 minutos.
(Code Red)
Há tempos, num concerto, Tori Amos, quase no final da sua notável interpretação do notável "Gold Dust", o tema que me arrasa completamente, proferiu um digno "fuck you" direccionado a uma criatura que interrompeu aquele momento divino com um berro. "Silent all this years", gritou a sujeitinha. Queria que Tori cantasse o dito tema, mas interromper um momento mágico daqueles foi quase criminoso. Tori não perdoou, lançou-lhe a farpa e continuou a cantar.
Há semanas, num concerto em San Diego, aconteceu o que abaixo se vê e ouve. Ao que parece, umas meninas "chicas espertas", aproveitando a curta ausência de uns convidados de Tori, resolveram "saltar" para as cadeiras dos mesmos, cadeiras essas na primeira fila. Ao que consta, as ditas criaturas mal formadas, já por ali andavam a saltitar, a passar à frente das pessoas, a gritar frases soltas aquando das músicas maravilhosamente quase sussurradas, a atender telemóveis, a incomodar toda a gente.
Miss Amos não se fez rogada e toca de interromper o tema "Code Red" para as expulsar do seu concerto.
Visto assim, parece que Tori Amos foi snob, prepotente, arrogante, armada em estrela e mal educada mas quem lá estava garante que foi muito bem feito e nem sabem como aquilo se arrastou tanto tempo. Se os seguranças não tomaram as rédeas, ela fê-lo. Fê-lo e recomeçou a cantar, pois claro.
A "coisa" passa-se aos cerca de 2.30 minutos.
(Code Red)
Falhar
Hoje, ao ler um texto de um amigo, lembrei-me de uma frase que, em tempos, não sei a que propósito, me ocorreu e me saiu da boca para fora:
"Falhar no amor é diferente de deixar de amar".
Pouco depois, tendo ficado a pensar naquilo, achei que não fazia, para mim, grande sentido.
O amor, com todas as suas múltiplas e variadíssimas tentativas de definição, é um sentimento que existe ou não. Sente-se ou não se sente. Tem-se ou não se tem. Ama-se ou não se ama. Por isso, falhar no amor, quando ele existe, é impossível. Pode-se falhar na forma de o demonstrar, nas atitudes a ele associadas ou não, mas quando se ama não se pode falhar no que se sente. Se se deixa de sentir, não se falha porque ele já não existe. Falhar numa relação quando se ama, é outra coisa.
Caindo no erro de torná-la menos bonitinha, menos interessante, até menos poética, permito-me reformular a frase:
"Falhar numa relação é diferente de deixar de amar".
"Falhar no amor é diferente de deixar de amar".
Pouco depois, tendo ficado a pensar naquilo, achei que não fazia, para mim, grande sentido.
O amor, com todas as suas múltiplas e variadíssimas tentativas de definição, é um sentimento que existe ou não. Sente-se ou não se sente. Tem-se ou não se tem. Ama-se ou não se ama. Por isso, falhar no amor, quando ele existe, é impossível. Pode-se falhar na forma de o demonstrar, nas atitudes a ele associadas ou não, mas quando se ama não se pode falhar no que se sente. Se se deixa de sentir, não se falha porque ele já não existe. Falhar numa relação quando se ama, é outra coisa.
Caindo no erro de torná-la menos bonitinha, menos interessante, até menos poética, permito-me reformular a frase:
"Falhar numa relação é diferente de deixar de amar".
Make it rain
(Anouk)
Right behind that perfect face there's someone who keeps secrets hidden well
Think I don't want to know reasons why you're crashing over me
I don't look back
Darling so it goes
But I regret
We couldn't
Make it rain
And all our dreams were left to dry
Can't make it rain
There's not one cloud left in the sky so
You said you tried
We bled, we cried
We couldn't make it rain
We had everything to live for even if we didn't understand
The game of give and take was more than just the sum of what we make
The most of time
So we'll move on
And leave it all behind
'Cause we couldn't
Make it rain
And all our dreams were left to dry
Can't make it rain
There's not one cloud left in the sky so
You said you tried
We bled, we cried
We couldn't make it rain
Now I can't help thinking about
Places we would go
But I won't be around
No more
But this fault won't be mine
Everything is gone
Make it rain
And all our dreams were left to dry
Can't make it rain
There's not one cloud left in the sky so
Make it rain
And all our dreams were left to dry
Can't make it rain
There's not one cloud left in the sky so
You said you tried
We bled we cried
You said you tried
We bled we've cried
We've cried
Pitas aos saltos!
Aula de substituição. Turma de Humanidades. 11º ano.
À chegada, uma mão cheia de risinhos e sorrisinhos das meninas, já crescidinhas, que aguardavam à porta da sala.
Depois de explicar que a professora de Francês estava a faltar por ter ido a uma visita de estudo ao Gerês, o professor informou que a mesma havia deixado uma ficha de trabalho para os alunos resolverem durante a aula.
Por entre caras envergonhadas, segredinhos e sorrisos tímidos mas espertalhões, lá começou o chorrilho de perguntas típicas dos meninos do básico, não de alunos do secundário, que, pela primeira vez, se deparam com um novo professor na sala de aula.
- O stôr é stôr de quê?
- Geografia, é stôr da minha irmã, não sabes?
- Ela sabe, stôr.
- Era só pa saber.
Passam uns minutos poucos pautados por mais risinhos parvos, olhares e segredinhos.
- Que idade tem?
- Quanto é que o stôr mede?
- Onde é que o stôr mora? Já o vi no Fórum.
- O stôr tem um carro bué fixe.
- Stôr, ela quer saber se o stôr é casado.
- Ainda é bué novo, deve ter é namorada...
- Tem?
- Ouçam lá, mas vocês são assim com todos os professores? Ainda não se habituaram às aulas de subtituição?
- Ah, mas é diferente. Os outros stôres já conhecemos.
- Pronto, mas eu não sou vosso professor, estou aqui a substituir a vossa professora, já sabem. E, de qualquer forma, não vou estar aqui a responder a essas perguntas que nada têm a ver com matéria alguma. Vamos lá, então? Vocês estão prestes a entrar para a universidade. Parecem alunos do básico.
Uns minutos de silêncio e lá foram resolvendo a ficha de trabalho.
- Stôr...
- Sim, diga.
- O stôr tem alguma coisa contra os homossexuais?
- Eu? Nada, ora essa!
- Ah, é que ali o João tá apaixonado por si.
- Desculpe??? Então mas o que é isso?
- Eh stôr, é mentira... és mesmo parva, tu. Tá calada! Só porque isto é uma turma de raparigas já eu sou gay, não?
- Oh rapaz, apaixone-se por quem entender mas por mim ou por outro professor é que não convém.
- Oh stôr, atão, é mentira. Elas é que tão apaixonadas por si. São mesmo parvas. Até já andaram no hi5 e tudo.
- O quê?
- Sim, aquelas ali andaram à procura do seu hi5.
- Vá, acabaram-se já aqui as paixonetas, o hi5 e coisas que tais. Toca a fazer a ficha!
- Oh stôr, o stôr tem hi5? É que a gente não vimos.
- Olhe, não é "a gente não vimos". É "nós não vimos", quanto muito "a gente não viu". Uma aluna de letras a falar assim!
- Pronto, nós não vimos...
- E ela queria ver as suas fotos e imprimir e tudo.
- Desculpe?
- Sim, era para pôr no dossier.
- Mas que disparate é esse?
- Desculpe.
Mais uns segundos de silêncio.
- Tá bué calor. Oh stôr, tá bué calor.
- Oh rapariga, tire o casaco, pronto. Está aí toda encasacada.
- Se eu tirar o casaco a olhar para si ainda fico com mais calor.
- Como?
- Ah é que o stôr é bué da giro e eu e ela fomos lá ao hi5 ver se a gente viamos.
- Pois olhe, a menina agora vai sair da sala, arejar um bocadinho lá fora, arrefecer o espírito e a língua e "a gente via", boa?
- Oh stôr não a mande prá a rua, foi sem querer. Ela até gostava mais quando o stôr tinha o outro cabelo. Foi sem querer. És mesmo parva.
- Pois, lamento mas vá lá para fora e depois falamos no final da aula. É para sair já.
- Oh stôr, a sério, não a mande para a rua. Foi sem querer. É que ela adora o stôr. Nem queria vir à aula de substituição mas quando viu que era você até se passou.
- Pois, mas para não se passar mais, sai e só volta aqui no fim.
- Oh stôr, mas ela e aquelas duas... Eu é que curto mais agora com esse cabelo preto e espetado. Oh stôr, desculpe lá mas tá bué da sexy.
- Ora pois então aqui o bué da mau manda, imediatamente, as meninas do 7º ano para a rua. Vá, dão as mãozinhas e vão lá para fora.
- Oh stôr, não seja assim. O stôr é bué querido. Estamos a ser sinceras. Não sabia que dizer bem era crime.
- Pois, oh stôr...
E "oh, stôr" disseram mais umas quantas meninas por ali.
- Vá, saiam lá!
Os restantes 60 minutos de aula foram uma paz de almas, mas menos duas.
O professor, se ali tivesse um buraco, metia-se nele.
À chegada, uma mão cheia de risinhos e sorrisinhos das meninas, já crescidinhas, que aguardavam à porta da sala.
Depois de explicar que a professora de Francês estava a faltar por ter ido a uma visita de estudo ao Gerês, o professor informou que a mesma havia deixado uma ficha de trabalho para os alunos resolverem durante a aula.
Por entre caras envergonhadas, segredinhos e sorrisos tímidos mas espertalhões, lá começou o chorrilho de perguntas típicas dos meninos do básico, não de alunos do secundário, que, pela primeira vez, se deparam com um novo professor na sala de aula.
- O stôr é stôr de quê?
- Geografia, é stôr da minha irmã, não sabes?
- Ela sabe, stôr.
- Era só pa saber.
Passam uns minutos poucos pautados por mais risinhos parvos, olhares e segredinhos.
- Que idade tem?
- Quanto é que o stôr mede?
- Onde é que o stôr mora? Já o vi no Fórum.
- O stôr tem um carro bué fixe.
- Stôr, ela quer saber se o stôr é casado.
- Ainda é bué novo, deve ter é namorada...
- Tem?
- Ouçam lá, mas vocês são assim com todos os professores? Ainda não se habituaram às aulas de subtituição?
- Ah, mas é diferente. Os outros stôres já conhecemos.
- Pronto, mas eu não sou vosso professor, estou aqui a substituir a vossa professora, já sabem. E, de qualquer forma, não vou estar aqui a responder a essas perguntas que nada têm a ver com matéria alguma. Vamos lá, então? Vocês estão prestes a entrar para a universidade. Parecem alunos do básico.
Uns minutos de silêncio e lá foram resolvendo a ficha de trabalho.
- Stôr...
- Sim, diga.
- O stôr tem alguma coisa contra os homossexuais?
- Eu? Nada, ora essa!
- Ah, é que ali o João tá apaixonado por si.
- Desculpe??? Então mas o que é isso?
- Eh stôr, é mentira... és mesmo parva, tu. Tá calada! Só porque isto é uma turma de raparigas já eu sou gay, não?
- Oh rapaz, apaixone-se por quem entender mas por mim ou por outro professor é que não convém.
- Oh stôr, atão, é mentira. Elas é que tão apaixonadas por si. São mesmo parvas. Até já andaram no hi5 e tudo.
- O quê?
- Sim, aquelas ali andaram à procura do seu hi5.
- Vá, acabaram-se já aqui as paixonetas, o hi5 e coisas que tais. Toca a fazer a ficha!
- Oh stôr, o stôr tem hi5? É que a gente não vimos.
- Olhe, não é "a gente não vimos". É "nós não vimos", quanto muito "a gente não viu". Uma aluna de letras a falar assim!
- Pronto, nós não vimos...
- E ela queria ver as suas fotos e imprimir e tudo.
- Desculpe?
- Sim, era para pôr no dossier.
- Mas que disparate é esse?
- Desculpe.
Mais uns segundos de silêncio.
- Tá bué calor. Oh stôr, tá bué calor.
- Oh rapariga, tire o casaco, pronto. Está aí toda encasacada.
- Se eu tirar o casaco a olhar para si ainda fico com mais calor.
- Como?
- Ah é que o stôr é bué da giro e eu e ela fomos lá ao hi5 ver se a gente viamos.
- Pois olhe, a menina agora vai sair da sala, arejar um bocadinho lá fora, arrefecer o espírito e a língua e "a gente via", boa?
- Oh stôr não a mande prá a rua, foi sem querer. Ela até gostava mais quando o stôr tinha o outro cabelo. Foi sem querer. És mesmo parva.
- Pois, lamento mas vá lá para fora e depois falamos no final da aula. É para sair já.
- Oh stôr, a sério, não a mande para a rua. Foi sem querer. É que ela adora o stôr. Nem queria vir à aula de substituição mas quando viu que era você até se passou.
- Pois, mas para não se passar mais, sai e só volta aqui no fim.
- Oh stôr, mas ela e aquelas duas... Eu é que curto mais agora com esse cabelo preto e espetado. Oh stôr, desculpe lá mas tá bué da sexy.
- Ora pois então aqui o bué da mau manda, imediatamente, as meninas do 7º ano para a rua. Vá, dão as mãozinhas e vão lá para fora.
- Oh stôr, não seja assim. O stôr é bué querido. Estamos a ser sinceras. Não sabia que dizer bem era crime.
- Pois, oh stôr...
E "oh, stôr" disseram mais umas quantas meninas por ali.
- Vá, saiam lá!
Os restantes 60 minutos de aula foram uma paz de almas, mas menos duas.
O professor, se ali tivesse um buraco, metia-se nele.
28 days... i'm waiting.
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