Médico - Então, digam-me o que não gostam em vocês. Desculpem, mas não sei qual dos dois vem à consulta de cirurgia.
Ele - Sou eu. Bem, chegámos da nossa lua de mel e...
Médico - Parabéns.
Ele - Bem, não correu como nós planeamos.
Ela - ...
Ele - Fomos para as montanhas para fazer sky. Começou a nevar muito, muito mesmo e ficou impossível de se ver alguma coisa... eu não consegui controlar o carro e... caiu numa ravina... muitos metros.
Ela - Caiu, encheu-se de neve e ficámos ali fechados, soterrados em neve.
Ele - Dez dias.
Médico - Mas... sobreviveram, o que é um milagre... bem, se sobreviveram a isso então é um bom sinal para o casamento.
(Ele e ela olham um para o outro)
Médico - E estão aqui porque...
Ele - Bem, eu não me lembro de muito... às tantas devo ter perdido os sentidos e sei que acordei com uma dor horrível, horrível mesmo, e estas grandes falhas... faltas de carne no braço. Estávamos ali fechados dia após dia e, no meio daquilo, o metal do carro deve ter feito isto.
(Do rosto dela começam a cair lágrimas)
Médico - Bem, os músculos não me parecem mal e os tendões não estão danificados... mas diz que foi metal do carro? Não me parece... os cortes arredondados... enfim...
Ela (agarrando na mão dele) - Diz a verdade. É o melhor... Eu tenho de dizer... não faz sentido não dizer o que se passou. Tenho de dizer o que tu fizeste. A culpa é muito grande... já não aguento mais... Nós não tinhamos comida, não tinhamos água, os minutos já pareciam horas ali... eu sofro de hipoglicemia severa e...
Ele - Nós tentámos ajuda pelo telemóvel... mas ninguém aparecia... Passada uma semana ela começou a ter terríveis dores de cabeça, tonturas, alucinações... começou a perder o total controle das suas faculdades... não aguentava vê-la assim...
Ela - Comecei a ouvir barulhos, os meus olhos não focavam, só via uns pontos...
Ele - Pensei que ela ia morrer...que, enfim, iamos morrer os dois.
Ela - Ele salvou-me. Ele... começou a cortar pequenos bocados de carne do braço, ia-os aquecendo no isqueiro do carro e... dava-me a comer. Eu... eu fui como que canibal... comi partes do meu marido para sobreviver...
Médico - ...
Ele - Ela não sobrevivia se não comesse qualquer coisa. Estava a morrer mesmo ali junto de mim... E eu alimentei-a. Não podia perdê-la. Vê-la ali a morrer e não fazer nada... Não sabia que mais poderia fazer...
Ela - Deve pensar que eu sou um monstro... mas não faz a menor ideia do que faria para sobreviver até lhe acontecer a si. Por favor... Por favor, opere o meu marido.
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7 comentários:
Não sei o que dizer. Isto é terrível e ao mm tempo uma grande prova de amor por outra pessoa.
Estou de boca aberta.
Que horror ... fiquei mal disposto. Onde é que foste buscar esta ideia a uma hora destas?
Pronto, a avaliação dos professores está a afectar a professorada em geral (professoradazeca, para a sinistra).
Blheark.....
Agora deste-me fome!!!
Meu deus, que coisa...
Terrível e triste mas uma grande prova.
Gosto do teu blog.
Parabens.
É certo que é uma grande prova de amor, mas porque raio foste-te lembrar de algo tão mórbido?
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