Um daqueles dias... daqueles como nunca tive.

Hoje foi um daqueles dias... daqueles como nunca tive.
Transportes. Escola. Aulas. Reunião com uma encarregada de educação de uma menina de 14 anos que está de cama com uma gravidez de risco (e eu, otário, tenho de lhe tirar as dezenas de faltas que já deu e dará até ao final do ano lectivo). Registo e justificação de faltas num programa que, mais uma vez, bloqueou. Transportes. Ida para Lisboa tratar da papelada para a retoma automóvel. Filas intermináveis na loja do cidadão. Transportes rumo a Vila Franca de Xira. Filas intermináveis na Segurança Social. Transportes para Lisboa. No meio desta corrida uns quantos telefonemas para saber para onde ir, o que fazer e, claro, ninguém a saber explicar nada, tudo a contradizer-se. Nervos a aumentar. Já percebi porque é que a maior parte das pessoas não quer saber dos 1000 euros mais IVA da retoma automóvel e preferem não ter esse desconto tal é a tamanha quantidade de papelada necessária e as voltinhas imensas associadas. Um conjunto de burocracias mal explicadas, mesmo à "tuga". Mas eu não desisto e lá andei mais uma tarde de um lado para o outro. Mais uma paragem. Uma ida ao stand. Mais transportes. De volta à margem sul para uma reunião que, obviamente, não serviria de nada. Tantos testes de avaliação para corrigir e eu naquele corropio.
Finalmente o regresso a casa por volta das 20 horas. Meia hora à espera de autocarro. 15 minutos à espera do barco e, fantástico, o comboio era só dali a 1 hora. Lá para as 22.30 estaria em casa, finalmente.
Mas não, claro que não. Tinha de parar na Gare do Oriente, ir ao hipermercado no Vasco da Gama comprar pedrinhas para a liteira dos gatos. Lá desci do comboio rumo à dita grande superfície. Ok, ok, não havia as ditas. Abasteci-me de umas pedras péssimas que se espalham, sujam a casa toda e pronto. Voltei para a estação e ouço a belíssima notícia, em voz calma a ecoar por toda a estação, de que o comboio estava atrasado. Que remédio! Lá esperei com saco do Continente, uma mala com computador e disco rígido externo, outra mala com outras coisas, um dossier, dois livros e uns cento e tal testes que, claro, caíram mas que rapidamente foram apanhados por mim e mais umas quantas pessoas que por ali esperavam e me viram com tamanha quantidade de peduricalhos. Parecia um vendedor ambulante, certamente. A sorte é que não estava vento e nem um teste voou. Alguns mais valia que tivessem ido enfeitar a troposfera.
Mas o melhor ainda está para vir, ah pois. Uma daquelas coisas que jamais estaria à espera e nunca depois de um dia daqueles.
Entro no atrasado comboio e, por sorte, consegui lugar para me sentar. Eu e os meus vários sacos e coisas demais. Uma cacetada no rapaz do lado, um encontrão no da frente. Lá me acomodei, suspirei de certo alívio e comecei a observar as gentes ali sentadas e em pé. Nem música me apetecia ouvir.
Ao meu lado um rapazito muito engraçado jogava palavras cruzadas e ouvia música. À minha frente uma daquelas coisas que não se vêem todos os dias. Um daqueles "gajos" de quem digo em alto e bom som que é "poooooooodre, absolutamente pooooooooodre". Uns 30 e poucos anos, estatura média, cabelo cortado a pente 1, parecendo quase rapado por ser muito louro. Olhos pequenitos azuis e uma barba por fazer há dias. Uma cara de puto-homem mas tão, tão masculino. A prova de que um homem muito louro pode ser um simbolo de absoluta masculinidade. Era o caso. Uma mistura muito bem conseguida de Ed Harris mais novo, com Brad Pitt, com Zidane, por aí. Só vendo. O homem transpirava sexo, cama. Umas calças pretas justas a tornear umas pernas afastadas, grossas e musculadas, umas t-shirt preta justa a deixar adivinhar um tronco forte de peitorais cheios, uns braços que eram autênticos troncos quase a rebentar com a t-shirt e com o casaco La Coste de malha preta. Um fio dourado com um crucifixo de igual material e no pescoço, de lado, uma horrível tatuagem da bandeira francesa com dois machados cruzados. Mas isso ainda contribuía para aumentar a testosterona daquele colosso.
Ali estava sentado, a menos de meio metro de mim, com um saquito de papel de uma loja de brinquedos. Ora mexia num telemóvel, ora noutro. Um deles tocou. Era, certamente, a sua querida esposa que depois passou o telemóvel à filhinha que esperava a prendinha do "totalmente hot" papá que ainda ficou mais "hot" quando, com um vozeirão grave e quente, falou com a pequenota.
O rapazito que jogava palavras cruzadas levantou-se e saiu. Mais umas cacetadas nas minhas bagagens. Resolvi ocupar o seu lugar junto à janela e reparei que o "pooooooodre" tinha outra tatuagem pavorosa entre o pescoço e as costas. Só consegui ler "Devil". Ok, um burgesso armado em machão!
Eis que o dito "testosterona ambulante" vira, entre as pernas, um dos telemóveis para mim e fica-me a olhar muito seriamente. Olhei para ele e para o telemóvel. Tinha um número escrito no ecrã. Não estava a acreditar naquilo. Não, não podia ser parvo, o homem estava mesmo a mostrar-me o número dele.
Olhei para ele, meio aparvalhado, e expressei com o olhar uma certa, mesmo muita, indignação. Ele, com os olhos, faz-me sinal para o telemóvel. Foi assertivo, não havia dúvidas. Sussurou: "Aponta, pá!" E eu, meio estúpido continuo a olhar ora para ele, ora para o objecto.
Virei os olhos para a janela. Aquilo não me estava a acontecer. Ele toca com a perna na minha e diz baixinho: "Escreve o teu número!" Pronto, entrei no jogo e escrevi. Escrevi, enervadíssimo ao ponto de já nem saber muito bem qual o meu número, e apontei o meu telemóvel para ele, muito discretamente, claro. Onde é que aquilo ia dar?
Aparentando uma calma excessiva e deveras incomodativa, ele escreve o meu número no telemóvel e bastaram uns 30 segundos para começar uma troca de sms exactamente assim escritas:
Ele - Ond é k vais sair?
Eu - ??? VFX. Pq???
Ele - Sai na Castanheira. Tenh lá carro.
Eu - Para q?
Ele - Faz.me um bro***.
Escusado será dizer que devo ter ficado de todas as cores do espectro electromegnético. Já fui assediado de várias formas e em várias circunstâncias mas assim? Aquilo não estava a acontecer. Um dos maiores "pooooooodres" que alguma vez vi, daquelas coisas que ultrapassam o limiar da atractividade sexual, estava a "fazer-se" a mim e descaradamente. E à volta ninguém estava a perceber nada.
Eu - ???
Ele - N me digas k n es desses.
E antes de eu responder...
Ele - Desses k n fazem mas gostam k façam. Iss n e comigo, sou homem.
Na minha cabeça giravam milhões de coisas ao mesmo tempo. Aquilo estaria mesmo a acontecer? "O homem tem uma mulher à espera, uma prenda para a filha que o espera, tem ar skinhead, de quem odeia gays e está-me a mandar isto? Será que é mesmo o que ele quer ou quer é apanhar-me e encher-me de porrada?"
Não escrevi mais nada. Ele continuou a olhar para mim.
Cheguei à minha estação e levantei-me. Ele estica uma perna como que a dizer "não saias". Eu saí.
Nervosíssimo, ainda nem 20 passos tinha dado e já estava a receber outra sms.
Ele - Respnde. Quero k me bro***s pá.
Eu - Desculpa, fica bem.
Ele - N fico bem com 1 tesao destas.
10 minutos depois...
Ele - Agente volta a ver.se no comboio e n me excapas.
20 minutos depois...
Ele - N tenhas medo, n sou panaca mas kero exprimentar um panaca a ma**r.me.
E eu resolvi responder.
Eu - Desculpa, mas não sou eu esse panaca. Há por aí muitos que não se importarão. Xau.
Ele - Kero k sejas tu n e outro. Kero por a minh pi** na tua boca. Mais logo dix kk coisa.
E eu não disse.

12 comentários:

Angelo disse...

BEEEEEMMMM! Pena ele ter estragado tudo, estou a ver!

Anónimo disse...

...fodasse...mas estavas a gozar ou esta merda era mesmo a sério??

Fica bem,

Picareta

Anónimo disse...

Já me aconteceu pior do q isto tb num comboio mas n depois de um dia atribulado desses. O fulano disse-me as coisas directamente na cara mas aquele em questão era feio. Tb fiquei sem reacção no inicio mas depois acabei por lhe ir respondendo. Mais tarde tomámos café mas n deu em nada e ainda bem pq o fulano era intragavel.

Anónimo disse...

Quando se é giro como tu é natural. Aqui o q espanta é o facto de ser por sms pq engates nos transportes sempre ouvi falar muito e há histórias mais estranhas do q esta.
Então e vais-lhe mandar mais alguma sms? A mim n me mandas tu :(

Anónimo disse...

Ai meu Deus o que é isto?

Mas ele é gay ou não? E com mulher e filha?

Independentemente disso acho tudo um bocado nojento. Fizeste bem em não dar muita conversa.

Anónimo disse...

Se era atraente eu acho q devias ter aproveitado mas é. Casado ou nao, o problema é dele.

Anónimo disse...

Vou dizer-te só uma vez: ESTE TEXTO É ABSOLUTAMENTE NOTÁVEL. Até estou arrepiado ... foi uma mistura de imagens, cores, sentidos diversos, aromas, olhares, sons. Um crescendo de sensações e de adrenalina. Consegui, talvez porque te conheço, imaginar toda a situação do princípio ao fim e ainda tenho presente à minha frente, quase tangível, o cenário com olhares, batimentos cardíacos, stress, friozinho miúdo, excitação a pairar e a desembocar em irremediável e penoso desalento mas de uma carga física e sexual indiscritível. Transpirei, quase senti uma erecção e estou a dizê-lo com a máxima sinceridade.
Transmitir todas estas sensações num texto com a cadência desejável só é possível a alguns seres, os que estão no patamar acima.

Consegues perceber porque é que eu te adoro? É por isto ...

No final é de concluir que ele teve uma atitude absolutamente lamentável.

Anónimo disse...

Confesso que concordo com o Brama. Tive vergonha de dizer mas confesso que este texto tb me deixou quase excitado fisicamente senão mm sem o quase.

Brama tu gostas mm mto aqui do Graduated Fool n gostas?

Anónimo disse...

Claro rui, evidentemente

paulo disse...

Concordo com o Brama, há aqui uma vibração de cores notável: desde a crise da estúpida burocracia, o corrupio de transportes, a areia, os testes, os sacos... e depois a cereja no topo do bolo. Inicialmente, a descrição do tipo é intensamente excitante e portentosa, depois foi mudando de cor até atingir o nível do lodo. É daquele tipo de pessoas que nem num quarto escuro, por diversas razões, uma imediata: ser casado; outra fantástica: "n sou panaca mas kero exprimentar um panaca a ma**r.me". Que é isto? Fico sem palavras: é de um nível que esvazia qualquer beleza física ou tesão. Raisparta tal tipo de gente.

TheTalesMaker disse...

Já me tinhas contado esta história pessoalmente e tal como te disse, é uma situação que não me causa espanto algum. Já fui várias vezes assediado em transportes, tal como te contei, entre um brasuca pôs uma das mãos dele dentro das calças e se pôs quase a masturbar à minha frente, desde também um gajo grosso que se sentou no Verão passado no comboio à minha frente e passou a viagem a roçar-se nas minhas pernas (aliás até escrevi um post sobre isso), sempre notei situações como estas que muitas vezes me deixam incomodado. As piores até são tentativas de engate em WCs públicos, enfim. Mas fizeste bem não teres cedido.
Abraço

Anónimo disse...

Que forma formidável de contar as coisas!
Que filme!
Que situação!
Que final!

LOLOL

Só eu é que não tenho aventuras dessas!!!

Fica bem,
Rodela de Limão