Quando?

- Quando?
- Quando? Quando o quê? Fiz-te uma pergunta simples. És feliz?
- Isso é uma pergunta simples?
- É.
- Ok, talvez seja. A resposta pode ser simples ou não. Depende de como se olha para ela.
- És?
- Quando?
- Ai a merda. Quando o quê? És ou não és!
- Não sei responder a isso. Tu perguntas se sou feliz e eu pergunto quando.
- Ai!Mas quando o quê?
- Quando me sinto feliz, sou feliz. Quando me sinto infeliz, sou infeliz. Mas porque perguntas isso?
- Ontem, quando cheguei a casa, percebi que estavas a chorar. Disfarçaste mas estavas... ou... tinhas estado.
- Pronto, ok. Ontem não era feliz, apeteceu-me chorar.
- E hoje? Hoje és feliz?
- Sim, hoje sou. Estou bem. Só porque ontem chorei já significa que sou infeliz?
- Então...
- Então nada. Vês-me muitas vezes a chorar na almofada da cama?
- Não, até andas quase sempre bem, a rir, a falar pelos cotovelos, a cantar até eu já não aguentar mais tanta cantoria. (risos)
- Pronto, e aí porque é que não perguntas se sou feliz?
- Oh pá, porque aí vejo que estás bem.
- Tal como estou agora e quase sempre. Mas às vezes não estou, pronto. As pessoas só pensam nessas coisas, na felicidade, quando vêem alguém triste. E quando estão bem? Perguntam? Não.
- Oh! É que, às vezes... e ontem quando percebi que choravas... pronto, pensei que, se calhar, não és feliz comigo, que tinha acontecido alguma coisa, não sei. Já te arrependeste de ter vindo viver comigo?
- Não.
- É que já vivemos aqui há mais de um ano... podias estar farta, não sei. Sei que muitas vezes não é fácil, nada fácil aturar-me, não é fácil a vida a dois... e somos tão diferentes... e as discussões... sei lá, podias estar infeliz.
- Não.
- E choravas porquê?
- Coisas minhas. Parvoíces.
- Coisas tuas? Então e não me dizes? Estamos as duas nisto ou não? Estás sempre a dizer que somos um casal, como que casadas, espalhas a toda a gente... E não me dizes?
- Não. Somos um casal mas temos os nossos momentos individuais, certo? Cada qual com os seus fantasmas. Mas não temos de ser infelizes por isso, cada vez que eles nos assolam. Somos infelizes numa altura, depois passa, só isso, ora! Olha, afinal é mesmo uma pergunta simples. (risos)
- És sempre a mesma, dás sempre a volta. Mas adoro-te, pronto.
- Adoras-me não, amas-me.
- Amo.
- Muito bem, minha menina.
- Pronto, ok, ok. Vou fazer o jantar.
- Estás a ver? Agora sou feliz, livrei-me dessa. Não me apetecia nada e estou esfaimada. (risos)
- Ri-te, ri-te. Depois lavas a loiça e vais levar a Ameixa à rua.
- Oh pá, está tanta chuva. Leva hoje tu a cadela.
- Nem penses. I'm your slave but just in bed. (risos)
- (risos) Estás a ver? Agora sou feliz por isso mas infeliz porque não quero nada levar a cadela à rua.
- Assim, as duas coisas quase ao mesmo tempo?
- Porque não? Esta coisa dos sentimentos não é à semana, ao dia, à hora... pode ser de um momento para o outro. Ora infeliz, ora feliz. Happinneeeeess....... sadnnnneeeeeesssss.... lá, lá, lá...
- Pronto, pronto. Lá vem a cantoria. Vá, massa ou arroz?
- Levas a cadela? Há mais de um ano que quase sempre eu.
- Mentirosa.
- Mas a Ameixinha sabe e gosta mais de mim do que de ti, toma! Ela é mais feeeelllliiiizzzz comigo. (risos)
- Nem penses. Uns momentos mais feliz contigo, outros comigo, tá? E além disso eu nem a queria, certo? (risos) Vá, vá, a moça não está esfaimada? Massa ou arroz?
- Batatas.
- Parva.
- Doida.
- Amo-te.
- Quando? (risos)
- Ai!

7 comentários:

João Roque disse...

Senti-me feliz ao ler este diálogo, pois já passei - acho que todos já passámos - por situações destas; ningúem é totalmente feliz, sempre.
Abraço.

Anónimo disse...

Fufas com problemas existenciais é do mais deprimente.
Um post chato do principio ao fim e sem interesse como se vê no fim.

Anónimo disse...

Anónimo,

devias ter vergonha pelo comentário. Se não gostas pq te deste ao trabalho de ler até ao fim?

Graduated,

simples, complexo, fácil, difícil, felicidade, infelicidade, está cá tudo. O fim fez-me rir e um texto apenas fez-me gostar deste casal. Fiquei com vontade de conhecê-las melhor. eh eh eh

CarlaRamalho disse...

A felicidade, de facto, não existe. Fez-me lembrar um comentário da Amália Rodrigues que respondeu o seguinte quando lhe perguntaram se era feliz:

«Feliz eu? Sou bem disposta. Quem é que pode ser feliz quando sabe que tudo isto tem um fim?»

Felisberto disse...

LINDOOOOOO!!!! :-D belo post...

Anónimo disse...

:)

Anónimo disse...

Eu gostei muito deste texto. É daquelas situações comuns do dia-a-dia, aparentemente simples mas simultaneamente complexas porque expõem toda a complexidade da personalidade humana e a avaliação ou a classificação de sentimentos. Afinal o que é a felicidade ou o amor? Afinal chorar num determinado momento ou rir no seguinte, significa forçosamente que estamos mal, bem, somos felizes, infelizes ... ou será porventura ridículo pôr as coisas nestes termos?!
A verdade é que nunca estamos completamente bem e quando suspeitamos estar, rapidamente nos encarregamos de complicar ou questionar determinado instante, para voltar ao nosso "habitat natural", o da insatisfação, o da incerteza, o da intranquilidade. É este o estado que evitamos mas é também aquele que não conseguimos evitar recorrer sempre.