Câmaras trémulas

Cloverfield





Apesar de todo o mediatismo atingido, culpa, sobretudo, de uma campanha publicitária extraordinariamente bem conseguida na internet, a verdade é que em Portugal o filme passou muito ao lado. Durante meses, no mundo cinematográfico americano não se falava de outra coisa. E pouco ou nada se sabia do filme. Apenas umas breves imagens, um trailer, muita, muita converna na internet e o facto da produção estar a cargo de JJ Adams, o senhor da série "Lost". Mas as especulações eram mais que muitas. Curiosamente, toda a promoção, ao jeito de "Lost" consistiu em não revelar grande coisa do projecto. E isso, claro, aguça a curiosidade. E tal foi ela que o filme, logo na primeira semana de exibição, arrecadou milhões e bateu records de bilheteiras.
Seria isso significado de ser uma boa obra? Claro que não. Americanices blockbusters é o que não faltam por aí todos os anos. Depois, verdadeiras decepções. Este, apensar da crítica dividida, mas em geral, pouco favorável, não me desagradou mesmo. Achei que sim, que iria decepcionar-me, mas não.

A festa de despedida de um amigo é subitamente interrompida por uma monstruosa catástrofe. Sim, é uma história banal. Sim, o argumento é fraco. Sim, passa-se mais uma vez com Nova Iorque a ser destruída. Sim, tem como principais protagonistas um grupo de jovens bonitinhos. Sim, tem um monstro ao jeito de Godzilla. E então? Poderia ser mais do mesmo e mau, mas não é mais do mesmo e cumpre bem o objectivo.

Contrariamente à opinião de muitos críticos, para mim, um dos aspectos mais interessantes da história é o facto de também aqui não nos ser revelado praticamente nada. Aliás, ninguém no filme parece saber o que se passa. Não fosse isso suficiente, e de forma a aumentar ainda mais a incógnita não figuram no elenco nomes conhecidos. Algo que não é muito comum neste tipo de (grandes) produções.

Também este é um filme que nos é apresentado do ponto de vista do operador de câmara. Neste caso de um dos amigos da festa que anda o tempo todo com uma “handy cam” a (tentar) documentar tudo. Por vezes é, simplesmente, uma câmara ligada aos tombos. Isso agrada uns, desagrada outros. Já dá para ter uma ideia de como “Cloverfield” foi filmado. E não, não foi filmado ao acaso. E aqui, importa destacar o trabalho de montagem, trabalho esse que confere ao filme um tom bastante mais verídico.

Será talvez um exagero dizer que é um dos melhores filmes do género, mas para mim foi, sem dúvida uma boa surpresa a ver sem pipocas, barulhos e confusão.

[Rec]





Sabia-se, de antemão, que o filme era bom, muito bom, e que tinha para si desde logo reservado a um dos principais prémios no Fantasporto 2008. Não obstante, superou as expectativas e arrecadou o prémio mais importante assim como a escolha do público.
Além da minha curiosidade por este tipo de filmes, o meu melhor amigo ainda me despertou mais a vontade. Vi-o dias depois. Gente a entrar e a sair da sala, a comentar, a falar, telemóveis a tocar são apêndices absolutamente desnecessários a um filme destes. Visto assim até se chega a tornar um filme ridículo. É um filme para ver no escuro, para ver em silêncio, para ver sozinho ou na companhia de alguém que respeite o que no ecrã se passa.

Uma repórter e um operador de câmara, em directo para um canal de tv, são destacados para acompanhar o trabalho de uma cooperação de bombeiros durante a noite. E o que começa por ser uma noite enfadonha e rotineira transforma-se subitamente num trepidante espiral de medo e pânico. Um pedido de ajuda acaba por colocar os jornalista os bombeiros e os inquilinos encurralados num prédio com algo mais.

"[Rec]" segue o mesmo exemplo de "Cloverfield" (ainda que seja anterior) na medida em que todo o filme é visto através da pessoa que segura a câmara. Sem montagem, sem cortes ou, supostamente, sem efeitos especiais.
Não quer isto dizer que não existam por aqui efeitos especiais, muito pelo contrário. Todo o trabalho técnico, sobretudo a nível do som, está exemplar. E esse é um dos grandes méritos do filme, já que sem ele, "[Rec]" talvez não fosse muito mais do que uma mera cópia de filmes como “The Blair Witch Project”, pelo menos no que respeita ao estilo.

O filme não apresenta nada de propriamente novo, mas pega em temas comuns, junta-lhe tensão, paranóia, claustrofobia e prendem tudo isto num prédio juntamente com algumas pessoas, para quem a sobrevivência sobrepõe-se a qualquer atitude mais racional.

4 comentários:

CarlaRamalho disse...

São dois filmes que quero ver! O primeiro não consegui mesmo ir ver quando esteve na minha cidade e o segundo optei mesmo por não o ver, uma vez que o Brama fez-me uma descrição que achei que o filme é mesmo forte. O meu estado de graça tornou-me extremamente sensível (mais que o normal, o que é obra) pelo que vou vê-lo mais tarde, em casa!

Beijinhos

Anónimo disse...

Fizeste uma boa descrição do "Rec", consegue sintetizar eficazmente os principais ingredientes do filme ... como sabes foi dos filmes que mais gostei até hoje e sem dúvida aquele que (tal como refere e muito bem, a suspeita), me provocou a maior sensação de pânico que alguma vez sentira numa sala de cinema ... apesar de estar consciente de ser apenas e só um filme, a verdade é que entrei nele de uma forma que quase me fez sentir enquanto protagonista na acção, sobretudo nos momentos finais ... de uma densidade aterradora. Valeu-me o facto de estar numa sala pequena, intimista e apenas com três pessoas. Foi sem dúvida dos momentos mais intensos e gratificantes que já experenciei numa sala de cinema.
O outro não ouvi sequer falar, mas pela descrição creio que também iria gostar muito.

Anónimo disse...

O segundo ainda não vi mas o primeiro adorei. É uma visão muito diferente do habitual.

Pena foi ter ficado mal disposta com os movimentos da camara, mas senti-me mesmo como se estivesse dentro do filme.

Anónimo disse...

Vi o Cloverfield e não gostei. A câmara tremia muito, fiquei enjoado e com dor de cabeça.