ESC - Alma portuguesa!?


(Portugal - Flor de Lis - Todas as ruas do amor)

Se as votações do Eurovision Song Contest fossem verdadeiramente justas, se se votasse nas canções preferidas, nas melhores canções e não nos países vizinhos, nas roupas mais cómicas ou fantásticas, nos mais mascarados, nos cantores ou cantoras mais sexys, nas maiores palhaçadas, este ano Portugal tinha possibilidades de ficar bem classificado, até mesmo nos 10 primeiros lugares. Sim, acho isso mesmo.
Não que considere o tema por aí além, nada disso. Nada que se compare a temas de outros tempos, a uma "Lusitana Paixão", a uma "Senhora do Mar", por exemplo. Acho-o porque, tendo ouvido, já várias vezes, a grande maioria das músicas concorrentes, parece-me que este ano o Eurofestival está mais pobrezinho, no geral. Sempre houve temas maus e temas bons, muito bons até, mas este ano os bons e muito bons contam-se pelos dedos das duas mãos. Já não é mau, dirão alguns... eu acho que é. Se são escolhidas cerca de 40 canções entre umas quantas dezenas mais, se são escolhidas as supostas melhores de cada país, então a grande maioria deveria estar acima do razoável ou satisfatório.
Perante o que tenho andado a ouvir, acho que o tema português é até dos melhorzinhos. Há temas diversos, diversificados, baladas, rock, sons tradicionais, canções a solo, a pares, em grupos, por bandas, etc... mas poucos são excelentes, poucos. E não me venham com histórias de que por ser festival as músicas não têm de ser excelentes, têm é de ficar no ouvido. Ficar no ouvido, ser facilmente cantarolada, não faz uma música ser boa e, muito menos, merecer vencer.
Claro que as prestações em palco vão contar, as luzes, os cenários, as cores, as roupas, o aspecto dos protagonistas, etc... mas, acima de tudo, é um concurso de temas musicais, não de aspectos, e aí o tema de Portugal, este ano, não sendo o seu melhor ano, merece passar à final e ficar bem colocado.
Pode ser que sim, nunca se sabe. Poucos davam alguma coisa pelo tema da Lúcia Moniz e este ficou na melhor colocação de sempre até hoje. 6º lugar. O tema de 2009, honestamente, acho-o muito na mesma onda. A mocita, as roupinhas, os instrumentos, a sonoridade, a fórmula idêntica. A ver vamos!
Mas gosto do tema português? Sim e não. Gosto e irrita-me.
- Começa logo com o nome da banda, ou da rapariga, nem sei (claro que isto nada tem a ver com a qualidade da música, é apenas uma apreciação). Mal ouvi o nome, sem ter ouvido a música, vi logo que só podia ser algo do género do que é. Tudo muito campestre, muito leve, muito esvoaçante, sem grande sabor. Imaginei logo uma música tipo "Amor de água fresca" da Dina, ranchos folclóricos ou o tema da Lúcia Moniz. Pois, só podia.
- O visual em palco: se for como foi a apresentação em Portugal, não gosto. Tudo com um ar muito pobrezinho. Parece que pai, mãe, tio, vizinhos, rafeiro e ovelha foram de excursão em autocarro da aldeia, com as cestas e lancheiras, o garrafãozito de vinho, e os meteram ali caídos no palco para tocar umas modas lá da terra. Simplicidade não é sinónimo de aspecto pobre simplório. A rapariga muito cândido-rural com florinhas, fitinhas e coizinhas no cabelo, os acompanhantes a dar um monocórdico pezinho para a esquerda e para a direita, de camisinhas e calças banais. Parecemos os desgraçadinhos do canto da Europa, os pobretanas da União Europeia. Sei que o visual tem a ver com a música, que um tema destes não pede plumas e lantejoulas, nem gente vestida para receber um óscar. O tema requer simplicidade nas vestimentas, mas aquilo parece quase um ensaio para a festarola da aldeia.
- A letra da música irrita-me. Parece que andamos há anos (excepções à parte) a levar a mesma letra. Flores, campos verdes, cereais, frutas, céu azul, mar, saudade, velas, lua, marés, chuva, estrelas de encantar, sol... Eu sou tua, tu és meu, tu és isto, eu sou aquilo, tu és assim e eu assado... Credo! Um chorrilho de metáforas em catadupa. Só falta vir a Dina com a cesta e dissertar sobre todas as frutas! Não digo que o poema seja mau, mas caramba, é sempre tudo à volta do mesmo fado.
Já várias vezes li que este tema representa a alma portuguesa. Desde quando? Parece que Portugal ainda se caracteriza por ser um país de gente que vive nas aldeias, que vai à fonte, que namora à janela, que escreve cartas de amor, que olha o mar com saudade, que passa as noites a admirar as estrelas... Ainda anda tudo na esturreira do sol de burro e charrete, não? Já há muito que não é assim. Já há muito que formam os Descobrimentos. As caravelas já afundaram. As mulheres já não choram os maridos à beira mar! Não admira que os europeus nos vejam ainda como vêem. Sim, somos todos muito ingénuos, muito puros, muito simples, singelos, muito gente do campo sorridente e melancólica, tudo boas almas aqui ao canto plantadas, blá, blá, blá... Para ser uma boa música não tem de retratar os hábitos e costumes de um país, até porque o nosso país já pouco tem a ver com este tipo de letras e melodias. Não retrata o país, mas também não tem de retratar. Quando os turcos lá vão, vão de turbante ou vestes árabes? Os espanhóis vão de castanholas em punho? Até gosto quando os países levam sonoridades que os caracterizam, mas esta música caracteriza o nosso país? Acho que não, mesmo.
Apesar disso, apesar de não considerar ser uma música actual, de ser uma música que caracteriza um povo de outrora, gosto do tema. Irrita-me, pelo que escrevi, mas gosto da flauta, do acordeão, dos batuques ali pelo meio. Soa-me agradável e, de forma justa, em comparação aos outros temas, deveria ficar bem colocado na final.

10 comentários:

Anónimo disse...

Lolololololololol

Bem tu analisas tudo, é impressionante. E o facto é q tens mm razão. A música é até engraçada e gosto cada vez mais, mas transmite qualquer coisa de simplório, não sei explicar.
Contiunuamos a dar uma imagem de pobrezinhos da união europeia lá fora.
É certo q os portugueses ainda são muito pobrezinhos de espirito mas a musica nada tem a ver com o q é Portugal hoje em dia. Vivemos em cidades cada vez mais, estamos cheios de autoestradas, centros comerciais e somos dos maiores consumistas da Europa, infelizmente, e lá fora têm mto a ideia errada em relação a isso. Para os estrangeiros somos mto simpáticos, afáveis, simples, temos praias, campo, vinhos, azeite, enchidos, fado e folclore e pouco mais. E parece q gostamos de dar ainda essa ideia q é errada. Ainda temos tudo isso mas cada vez menos. Portugal já n é assim, tens razão.

Vou ouvir a música da Noruega que é a minha preferida.

CarlaRamalho disse...

Concordo e discordo de ti!

Acho a música gira, fica no ouvido mas não se compara à "Senhora do Mar", por exemplo. Mas será das melhores que Portugal vai levar nos últimos anos... mas provavelmente não vai longe. Não por falta de qualidade mas pelas votações. Aí concordamos. Tambem concordo na apresentação. Têm que repensar as roupitas...

Mas depois, acho que tu confundes um pouco o que é sonoridade tradicional, com o que é folclore ou música ligeira.

Folclore é folclore. Ranchos, pauliteiros de miranda e afins!!

A Dina é música ligeira, com o seu «Amor de Água Fresca» escrito pela Rosa Lobato Faria....

A Lúcia Moniz era uma sonoridada tradicional, com instrumentos da música tradicional portuguesa, que não é o mesmo que ranchos...

E quanto à ideia que a música te transmite, penso que tem a ver com preconceitos teus...

Graduated Fool disse...

Suspeita, oh rapariga, é claro que eu não confundo uma música como a da Dina, com uma música como esta e a da Lúcia Moniz, com ranchos folclóricos. Não é nada disso. Pronto, se calhar não me expliquei bem.
Eu falei na música da Dina porque mal ouvi o nome "Flor de Liz" associei logo a muita frescura, cestos de frutas, viola, sons algo simples e alegres. Depois falei nas frutas da Dina por causa da letra deste tema. Ela não fala em frutas, acho eu, mas é tudo muito campestre. Adivinha-se logo uma série de palavras na letra e metáforas. É claro que são temas diferentes a vários níveis, mas há sempre expressões, palavras que nós adoramos colocar nas músicas que levamos lá fora.
Falei da música da Moniz porque acho esta muito do género desta deste ano.
Falei de folclore porque imagino, perfeitamente, sonoridades do folclore associadas a este tema, muito pelo acordeão, é certo.
Além disso, as coisas não se separam assim tão bem. Isto é isto, aquilo é aquilo e não se confundem. As sonoridades do folclore fazem parte da tradição sonora e musical do nosso país. Não são sinónimos, os sons tradicionais não se reduzem ao folclore, mas os sons do folclore fazem parte dos sons da nossa dita tradição.
Pronto, talvez eu esteja a confundir tudo, mas ao ouvir o tema deste ano associo a sons tradicionais e também concretamente, mas não só, a sons do folclore.

João Roque disse...

Eu analiso a canção não como português, mas como votante da eurovisão e concluo que a nossa canção não tem, posso estar enganado e era bom que assim fosse, a mínima hipótese.
Em anos anteriores, já levámos canções para mim, muito boas e que foram desprezadas, pura e simplesmente; temos que defenir, uma vez por todas se queremos lá ir disputar um lugar de topo ou só participar...
Se quisermos ir lá lutar para ganhar, há que levar uma música que toda a gente perceba, em inglês; este ano até a canção alemã é em inglês, salvo erro.
Com músicas deste tipo, arranjamos uns pontecos da Espanha e dos países com forte emigração portuguesa e nada mais.
Abraço.

Anónimo disse...

Gostei do que escreveste e infelizmente tenho que concordar que "lá fora" ainda se pensa que Portugal é um país campestre ou simplesmente não tem conhecimento de onde fica. Quantas vezes me pergunto para que servem as embaixadas e consulados?
Creio que nunca iremos ganhar, porque não fazemos acordos. O que me faz alguma confusão, se em Portugal é "cunha para aqui e cunha para ali", mas enfim....
Quantas vezes a Espanha votou em nós e que as nossas músicas eram uma verdadeira "bosta", mas como foram escritas pela RLF, já são de enorme qualidade. E nós passamos festival atrás de festival sem dar um único ponto ao nosso vizinho, e aconteceu o mesmo com o chipre, a turquia. A realidade é que a Turquia já venceu o festival e nós damo-nos por contentes com um 6º lugar. Já é altura de desistir como fez a Itália e bem.
Abraço
José

CarlaRamalho disse...

A mim faz-me um pouco de confusão alguém achar que levar uma música com sonoridades portuguesas é sinal de que somos um país atrasado, rural, campestre, com espiríto fraco, etc, e depois defender que devíamos levar uma música cantada em inglês!Não foste tu, mas sim outra pessoa que aqui comentou. Por favor!!!! Isso é provincianismo puro! O pior defeito que existe em Portugal: ser provinciano. Vamos cantar em inglês porque assim é que é giro! E como toda a gente percebe o que dizemos, vamos ganhar!Não concordo e não acho que seja por aí! Veja-se o caso da floribela quando lá foi!!! Um nojo!!

Coincidência ou não, a melhor classificação que Portugal teve foi quando levou a lucia moniz. Imagine-se: a cantar em português, a tocar cavaquinho e acompanhada de tambores! Que rural a moça!! ;)

Anónimo disse...

Depois de tudo o que já aqui li resta-me dizer que na verdade a música é bonitinha mas, também pela actuação em palco, me parece tudo um pouco pobre.
Tirando no ano passado e poucos anos mais, é sempre aquilo que levamos lá fora, um ar de coitadinhos.
Tenho pena de pensar assim mas é o que sinto.

Anónimo disse...

Com tudo aquilo que já li (o que escreveste e todos os comentários), acho que se está aqui a gerar uma discussão, diria que "deliciosa".

Se estamos a considerar a questão de Portugal alguma vez ganhar o Eurofestival, então acho mesmo que é um assunto estéril porque, a não ser que lhes dê a travadinha para o nosso lado, nunca vamos ganhar e agora ainda menos por todos os motivos que já sabemos e (tal como pudemos comprovar no ano passado), não passam decerto pela qualidade musical. Contrariamente à opinião do pinguim, em que neste aspecto discordo dele completamente, Portugal nunca ganhará pelo motivo de levar uma música excelente, seja ela tradicional com retoques góticos, folclore com laivos electrónicos, fado acompanhado de trance psicadélico, hip hop com música de câmara, jazz de fusão ou música ligeira com contornos de hard rock ou sendo cantado em português moderno, português arcaico, inglês, mandarim, alemão, polaco ou aramaico. Que se perceba de uma vez que Portugal nunca ganhará o Eurofestival pq acima de tudo este evento supostamente musical é apenas político.

A qualidade musical é o que menos interessa. Agora se Portugal quiser participar pq acha giro, então muito bem, que continue.

As questões de se Portugal é um país de simplórios, gente presa à tradição ou um país moderno com estradas, isto e aquilo é já outra discussão bem mais complexa. Mas e também terei de discordar do rui, não é por Portugal ter muitos centros comerciais e gente muito consumidora, que isso será sinónimo de modernidade, desenvolvido, instrução, produtividade, boa gestão política, economia próspera e ainda menos, qualidade de vida.
Continuamos, infelizmente, a ser um país de gente pouco culta, gente acéfala e desinformada a vários níveis, falta de visão política, xico-espertismo, favorecimentos dos amigos dos partidos, falta de produtividade, má gestão de recursos humanos e financeiros, péssima sáude e justiça, .... (ainda há tanto a referir) e claro, uma extrema necessidade de pavoneio pelos referidos centros comerciais, colmatando carências várias através do consumismo desenfreado, ostentando o mais que se pode aos outros, quando na base o que há é uma tremenda falta de gestão do orçamento familiar e de aplicação deste no que são verdadeiras prioridades, a par do aumento do endividamento familiar. Este é o retrato do país que ninguém quer pensar que é dos "simples e simplórios" mas que, não me venham dizer, está voltado para o progresso. Um país voltado para o progresso não vive de fachada, vive de acções efectivas e concertadas para melhoria real da qualidade de vida e do bem-estar de que o integra.

E o que é que isto tem mesmo a ver com o Eurofestival ?!

Anónimo disse...

E no entanto esqueci referir que ... a música é elementar claro, com uma letra miserável como todas ou quase todas as músicas do Eurofestival, mas a verdade é que acho a música divertida e agrada-me ouvi-la.

Não sei se é das melhores ou piores pq ainda não dei muita atenção a nenhuma das outras.

Anónimo disse...

Estive a ouvir as músicas do eurofestival que colocaste em post anterior. Pois, és capaz de ter razão, a portuguesa não nos envergonha desta vez, até é mesmo capaz de ser das melhorzitas. Já está tudo muito visto, sempre o mesmo esquema.

A da Noruega é boazinha (o mesmo esquema dos violinos, fica sempre bem mas não inova), assim como a da Bulgária (menos dançável talvez resultasse melhor, não sei), a da Dinamarca é também gira (realmente é verdade, a voz é tal e qual a do Ronan Keating), a da Eslovénia seria muito melhor sem a mademoiselle a estragar,gosto da da Alemanha, a da Moldávia, a de Israel também se safa (a mensagem ficará só pela música, claro), a da Roménia faria muito sucesso fora do festival,a da Suíça agrada-me muito.

Não gosto da inglesa, da grega, a turca é mais do mesmo (já chega), a da Arménia é esquisita, não sei que diga.

Menção honrosa para a música russa, acho que é a melhor porque foi a única que me fez rir de gosto, tal a palhaçada ali montada.