Sou um "pita parvo"!
Voltei a este tema. Não posso deixar de voltar. Não há dia em que não ouça ou não ouça falar destes 4 miúdos. Ligo a tv, faço zapping e lá estão eles num vídeo, numa entrevista, numa reportagem... A suposta banda de maior sucesso da actualidade. Pesquisa-se um tema no You Tube e, incrivelmente, sem querer, lá acabam por aparecer eles. Há vídeos de tudo, montagens de tudo, coisas feitas por fãs, coisas feitas por quem os odeia e se dá ao trabalho de realizar clips elaboradíssimos a gozar com os moços. Tudo e mais alguma coisa. Clips sobre o sorriso do Bill, as unhas do Bill, clips sobre o piercing e os bonés do Tom, uma panóplia de coisas e mais coisas.
Os irmãos gémeos beijaram-se na boca? Porque é que estão todo o tempo agarrados um ao outro? O Bill é gay? Porque é que ele usa aquele cabelo? Não tem um sorriso lindo? São Emos? Porque é que os manos têm looks tão diferentes? Porque é que o Tom tem um estilo hip-hop mas toca numa banda rock? Mil questões, informações, especulações por todo o lado. É quase aflitivo e enjoativo.
Entro na escola e é raro o dia de que dela saio sem ouvir falar dos Tokio Hotel. Até na sala de professores. Uma colega ia sendo crucificada porque disse que o tema "Monsoon" lhe faz lembrar os Nirvana. Pois, heresias à parte, a verdade é que a mim também me faz e muito. Claro que isto é, para os armados em intelectuais, quase sinónimo de lhes provocar um ataque cardíaco ou, pelo menos, uma valente arritmia cardíaca. Comparar um tema dos Tokio Hotel a um tema dos notáveis Nirvana é um crime, pois claro!
Mas é fora da sala de professores que os ditos alemães causam mais estragos. As miúdas deliram completamente. Todas muito apaixonadas ora pelo Bill, ora pelo Tom. Faz-me uma certa confusão, admito. Miúdas apaixonadas por um rapaz esquelético que parece uma miúda, todo cheio de tiques, sorrisos frágeis, todo maquilhado? Mas a verdade é essa mesma. Suspiram, dão gritinhos e ficam, num segundo, com os olhos a brilhar mal ouvem o nome da banda.
Sabem tudo sobre o grupo, especialmente sobre os gémeos. O Bill tem uma manicure francesa, usa cremes da marca "x", o Tom lava o cabelo com produtos "y", um mede 1.83 m, o outro é mais baixo. Pesam 50 kg, etc, etc, etc... Sabem as letras de cor e salteado, inclusivamente em alemão. Querem aprender alemão e já há algumas inscritas, imagine-se!
E assim é por toda a Europa. Em meses milhões de miúdas adolescentes a passaram a idolatrar estes 4 rapazes. Os adolescentes masculinos, claro está, odeiam-nos de morte. O Bill é uma afronta às suas masculinidades. Rasgam posters, cospem nas fotos e, se pudessem, espancavam aquele Bill que faz as suas namoradas e adoradas ficarem com a pita aos saltos. Chamam-lhe "paneleiro", "maricas", "gay" com um ódio e asco assustador. Como é que é possível as suas queridas colegas, tão lindas, preterirem-nos tão másculos, dreads, estilosos, "pausados", virís, em função de uma coisa escanzelada, que se veste de gaja, pinta os lábios, os olhos e as unhas?
Mas elas lá andam eufóricas à espera do minuto em que as bilheteiras abrirão para o tão aguardado concerto em Portugal, no mês de Março.
Já aqui referi, noutro post, e volto a referir que não conheço bem a banda mas admito que, além do look do dito Bill, gosto de dois ou três temas. Gosto muito, mesmo.
Quero lá saber se é uma banda "industrialmente" produzida, se é uma banda que desaparecerá tão rapidamente quanto surgiu, se é uma banda que não passa de moda, se é uma banda para "pitas estúpidas", se é uma banda sem qualquer qualidade musical, se isto ou aquilo. Irritam-me sobremaneira as miúdas aos gritos parvos, irritam-me e muito, mas também me irritam aqueles pseudo-intelectuais que, sem conhecer bem, odeiam logo à partida, apelando a catalogações tão ou mais absurdas quanto os histerismos pré-adolescentes. Catalogam a banda, as músicas, os fãs e já está! Todos timbrados com "ignorantes", "putos parvos", "burros", "básicos", acompanhados com um sorriso de pena. Como os Tokio Hotel estão na berra, também está na berra nutrir por eles um ódio profundo, muitas vezes pouco argumentativo.
Acho piada à banda. Gosto do look do tal Bill. Gosto muito de alguns temas e pronto. Se sou básico, limitado, parvo, se não percebo nada de boa música por isso, paciência!
(Spring Nicht - Tokio Hotel)
Os irmãos gémeos beijaram-se na boca? Porque é que estão todo o tempo agarrados um ao outro? O Bill é gay? Porque é que ele usa aquele cabelo? Não tem um sorriso lindo? São Emos? Porque é que os manos têm looks tão diferentes? Porque é que o Tom tem um estilo hip-hop mas toca numa banda rock? Mil questões, informações, especulações por todo o lado. É quase aflitivo e enjoativo.
Entro na escola e é raro o dia de que dela saio sem ouvir falar dos Tokio Hotel. Até na sala de professores. Uma colega ia sendo crucificada porque disse que o tema "Monsoon" lhe faz lembrar os Nirvana. Pois, heresias à parte, a verdade é que a mim também me faz e muito. Claro que isto é, para os armados em intelectuais, quase sinónimo de lhes provocar um ataque cardíaco ou, pelo menos, uma valente arritmia cardíaca. Comparar um tema dos Tokio Hotel a um tema dos notáveis Nirvana é um crime, pois claro!
Mas é fora da sala de professores que os ditos alemães causam mais estragos. As miúdas deliram completamente. Todas muito apaixonadas ora pelo Bill, ora pelo Tom. Faz-me uma certa confusão, admito. Miúdas apaixonadas por um rapaz esquelético que parece uma miúda, todo cheio de tiques, sorrisos frágeis, todo maquilhado? Mas a verdade é essa mesma. Suspiram, dão gritinhos e ficam, num segundo, com os olhos a brilhar mal ouvem o nome da banda.
Sabem tudo sobre o grupo, especialmente sobre os gémeos. O Bill tem uma manicure francesa, usa cremes da marca "x", o Tom lava o cabelo com produtos "y", um mede 1.83 m, o outro é mais baixo. Pesam 50 kg, etc, etc, etc... Sabem as letras de cor e salteado, inclusivamente em alemão. Querem aprender alemão e já há algumas inscritas, imagine-se!
E assim é por toda a Europa. Em meses milhões de miúdas adolescentes a passaram a idolatrar estes 4 rapazes. Os adolescentes masculinos, claro está, odeiam-nos de morte. O Bill é uma afronta às suas masculinidades. Rasgam posters, cospem nas fotos e, se pudessem, espancavam aquele Bill que faz as suas namoradas e adoradas ficarem com a pita aos saltos. Chamam-lhe "paneleiro", "maricas", "gay" com um ódio e asco assustador. Como é que é possível as suas queridas colegas, tão lindas, preterirem-nos tão másculos, dreads, estilosos, "pausados", virís, em função de uma coisa escanzelada, que se veste de gaja, pinta os lábios, os olhos e as unhas?
Mas elas lá andam eufóricas à espera do minuto em que as bilheteiras abrirão para o tão aguardado concerto em Portugal, no mês de Março.
Já aqui referi, noutro post, e volto a referir que não conheço bem a banda mas admito que, além do look do dito Bill, gosto de dois ou três temas. Gosto muito, mesmo.
Quero lá saber se é uma banda "industrialmente" produzida, se é uma banda que desaparecerá tão rapidamente quanto surgiu, se é uma banda que não passa de moda, se é uma banda para "pitas estúpidas", se é uma banda sem qualquer qualidade musical, se isto ou aquilo. Irritam-me sobremaneira as miúdas aos gritos parvos, irritam-me e muito, mas também me irritam aqueles pseudo-intelectuais que, sem conhecer bem, odeiam logo à partida, apelando a catalogações tão ou mais absurdas quanto os histerismos pré-adolescentes. Catalogam a banda, as músicas, os fãs e já está! Todos timbrados com "ignorantes", "putos parvos", "burros", "básicos", acompanhados com um sorriso de pena. Como os Tokio Hotel estão na berra, também está na berra nutrir por eles um ódio profundo, muitas vezes pouco argumentativo.
Acho piada à banda. Gosto do look do tal Bill. Gosto muito de alguns temas e pronto. Se sou básico, limitado, parvo, se não percebo nada de boa música por isso, paciência!
(Spring Nicht - Tokio Hotel)
E porque é que eu ainda não estive a metros deste piano?
Como esta mulher-génio mexe comigo... Sim, génio. quem já compôs o que ela compôs é, para mim, isso mesmo.
A voz, a postura, a presença, as opiniões sempre críticas, a forma de interpretar temas com letras notáveis, sim anotáveis no mínimo. Ouve-se e descobre-se sempre mais qualquer coisa, mais um pormenor. É a minha poetisa de eleição. Arrepia-me, Consegue traduzir milhares de sentimentos numa, aparente, simples frase.
É-me impossível eleger temas preferidos, excertos de actuações preferidos, momentos preferidos. Outrora já aqui postei alguns, hoje, neste dia chuvoso, apeteceu-me aqui ter mais uns quantos de uma lista infindável.
Esta senhora é fundamental à audição de qualquer ser.
(Crucify)
(Smels Like Teen Spirit - Nirvana Cover)
(Love Song - The Cure Cover)
(Gold Dust) Se há uma música que me deixa sempre arrepiado e com os olhos marejados é esta, sempre. Musicalmente a perfeição existe, sim.
(Winter) Outra que...enfim...
(Raspberry Swirl)
A voz, a postura, a presença, as opiniões sempre críticas, a forma de interpretar temas com letras notáveis, sim anotáveis no mínimo. Ouve-se e descobre-se sempre mais qualquer coisa, mais um pormenor. É a minha poetisa de eleição. Arrepia-me, Consegue traduzir milhares de sentimentos numa, aparente, simples frase.
É-me impossível eleger temas preferidos, excertos de actuações preferidos, momentos preferidos. Outrora já aqui postei alguns, hoje, neste dia chuvoso, apeteceu-me aqui ter mais uns quantos de uma lista infindável.
Esta senhora é fundamental à audição de qualquer ser.
(Crucify)
(Smels Like Teen Spirit - Nirvana Cover)
(Love Song - The Cure Cover)
(Gold Dust) Se há uma música que me deixa sempre arrepiado e com os olhos marejados é esta, sempre. Musicalmente a perfeição existe, sim.
(Winter) Outra que...enfim...
(Raspberry Swirl)
Twins News
Parece que os Brunecos que foram para a big moradia na Marinha Grande se estão a dar às mil maravilhas. Bem comportados durante a noite, asseados, dorminhocos e brincalhões.
Estava preocupado, ansioso, tristonho mas agora estou mais descansado. Ainda meio down, pela falta que sinto deles e do outro mano, mas mais descansado.
Em cerimónia "oficial", com direito a presentinho natalício e tudo, foram-lhes atribuídos nomes pelas pequenas da casa. "Atento" é o maior, o de uma manchinha na cabeça e "Só-neca" o mais pequenito com duas manchinhas.
Pronto, Yorick, Atento e Só-neca. Trigémeos idênticos com 3 nomes tão diferentes e peculiares.
Meninos singulares, tal como os pais, claro!
Estava preocupado, ansioso, tristonho mas agora estou mais descansado. Ainda meio down, pela falta que sinto deles e do outro mano, mas mais descansado.
Em cerimónia "oficial", com direito a presentinho natalício e tudo, foram-lhes atribuídos nomes pelas pequenas da casa. "Atento" é o maior, o de uma manchinha na cabeça e "Só-neca" o mais pequenito com duas manchinhas.
Pronto, Yorick, Atento e Só-neca. Trigémeos idênticos com 3 nomes tão diferentes e peculiares.
Meninos singulares, tal como os pais, claro!
Yorick info
Se alguém tiver curiosidade em saber notícias do Yorick (o primeiro Bruneco a sair cá de casa), ver fotos do pequenote... é só ir ao blog "Comyxtura" dos meninos X e Y, cujo link está mesmo aqui do lado direito.
Gostei tanto de ver.
Gostei tanto de ver.
WC
Professora 1 - Olha que há muito tempo que não estava numa reunião assim.
Professora 2 - Pois imagino. Deve ter sido uma confusão. Com essa situação dos alunos invisuais deve ser só papelada, coisas para preencher, relatórios, apreciações, cá uma confusão... Ainda bem que me livrei dessa. Este ano nem básico tenho. É um descanso.
Professora 1 - Não, não, nada disso. Sabes, achei que esta ia ser a mais complicada de todas por causa desses mesmos alunos e com todo o trabalho a mais em relação às outras turmas. Achei que ia demorar mais do que as 2h e meia e que teria de continuar noutro dia. Achei mesmo. É uma turma complicada, sabes!?
Professora 2 - E conseguiram fazer tudo?
Professora 1 - Pois, foi exactamente o contrário do que eu pensei. O Dt trouxeste tudo muito adiantado e organizou muito bem o desenrolar da reunião. Correu mesmo bem.
Professora 2 - Então isso é bom. Quem é o DT dessa turma?
Professora 1 - É o Zé.
Professora 2 - Aquele rapazinho alto? O L****? Sei, sei.
Professora 1 - Sim. Correu mesmo muito bem. A que eu tive antes dessa foi um caos e nem havia casos complicados. Mas esta que eu temia... olha que há muito tempo que não estava numa assim. Foi dinâmica, tudo correu sobre rodas.
Professora 2 - Pois.
E o Zé L**** estava no wc masculino mesmo ali ao lado do feminino onde as duas falavam.
Faz bem ao ego ouvir estas coisas.
Professora 2 - Pois imagino. Deve ter sido uma confusão. Com essa situação dos alunos invisuais deve ser só papelada, coisas para preencher, relatórios, apreciações, cá uma confusão... Ainda bem que me livrei dessa. Este ano nem básico tenho. É um descanso.
Professora 1 - Não, não, nada disso. Sabes, achei que esta ia ser a mais complicada de todas por causa desses mesmos alunos e com todo o trabalho a mais em relação às outras turmas. Achei que ia demorar mais do que as 2h e meia e que teria de continuar noutro dia. Achei mesmo. É uma turma complicada, sabes!?
Professora 2 - E conseguiram fazer tudo?
Professora 1 - Pois, foi exactamente o contrário do que eu pensei. O Dt trouxeste tudo muito adiantado e organizou muito bem o desenrolar da reunião. Correu mesmo bem.
Professora 2 - Então isso é bom. Quem é o DT dessa turma?
Professora 1 - É o Zé.
Professora 2 - Aquele rapazinho alto? O L****? Sei, sei.
Professora 1 - Sim. Correu mesmo muito bem. A que eu tive antes dessa foi um caos e nem havia casos complicados. Mas esta que eu temia... olha que há muito tempo que não estava numa assim. Foi dinâmica, tudo correu sobre rodas.
Professora 2 - Pois.
E o Zé L**** estava no wc masculino mesmo ali ao lado do feminino onde as duas falavam.
Faz bem ao ego ouvir estas coisas.
As letras que a inundavam
Abriu os olhos que tinha fechados. Fechados mas como se tivessem estado abertos mesmo durante o pouco tempo que dormiu. Ela estava ali a seu lado. Dormia profundamente, tão profundamente como três horas antes quando ele entrou no quarto fazendo o menor barulho possível. Era tão bonita. Tantos anos depois ainda a achava tão bonita. E aquele cheiro, aquele cheiro só dela. Um cheiro que só ele conhecia. Um cheiro que não se descobre no outro com abraços, cumprimentos mesmo de anos. Agora olhava para ela mas desde que tinha chegado, às 5 da manhã, despido a roupa atirada para o chão e tendo-se deitado de olhos fechados, nunca tinha deixado de a olhar mesmo de olhos cerrados e virado para o lado oposto ao que ela ocupava há anos naquela cama. Na sua cabeça estava a vê-la ali e cada vez que ela se mexia para mudar de posição ele via-a mentalmente e adivinhava-lhe a expressão terna.
Sentia uma dor a apertar-lhe o peito. Não chorou. Não queria acordá-la. Mas já não devia faltar muito para ela abrir os olhos, abraçá-lo e dizer-lhe o “bom-dia” de sempre.
Ali estava ela. Ali estava ele. Três horas depois de ali se ter deitado. Horas depois do sucedido.
Os amigos eram os certos, o bar era o certo, a bebida tomada várias vezes era a certa, aquelas raparigas eram as certas e aquela, especificamente aquela alta, loura, de olhos grandes e ousados, era a certa. Tudo certo e certeiro para acontecer o que aconteceu.
Depois dos risos, das piadas, dos copos, de umas trocas de olhares, de umas insinuações verbais e físicas certeiras, deu consigo na cama daquela rapariga jovem que parecia ter surgido naquele bar para ele, só para ele, para o tentar. E ele foi tentado. Ele cedeu. Ele quis. Ele deixou. Ele foi com ela. E ele teve sexo com ela. E foi bom, foi muito bom. E ele gostou, gostou muito.
E agora estava ali, novamente ali. Ali deitado ao lado da mulher com quem escolheu casar, ter filhos, criar uma família. A mulher que dali a minutos iria acordar, abraçá-lo e perguntar como havia sido o jantar e os copos com o pessoal do trabalho.
Iria perdoá-lo? Iriam voltar a ser o que eram? Como olharia ela para ele quando ele lhe dissesse? Como iria olhá-lo a partir dali?
E ele? Iria perdoar-se? Como é que olhava para si mesmo agora? Como é que iria olhar para ela? Para eles?
Nunca tinha acontecido mas ele sentia que ela iria perdoá-lo, conhecia-a demasiadamente bem. Sabia. Pelo menos tinha de acreditar nisso e queria tanto acreditar nisso.
Ela iria entender. A rapariga era nova, oferecida, ele estava bem bebido, os amigos estimularam a que acontecesse, criou-se o ambiente e ele deixou-se ir. Estava bêbado mas consciente para usar preservativo. A própria rapariga quis, mesmo garantindo que estava limpa, que não fazia aquilo habitualmente, ela própria quis. Foram cuidadosos e na altura da penetração ele protegeu-se. Era preciso muito azar.
Pronto, foi uma coisa de uma noite. Ele é homem, tem as suas necessidades, a carne é fraca e há muitos anos que não conhecia corpo que não o dela. Ela iria entender. Ela também tinha as suas necessidades. Ela também saía com as amigas e já havia chegado tarde a casa. Ele sabia lá o que também já podia ter acontecido.
A sua cabeça não parava. Eram perguntas atrás de perguntas, hipóteses atrás de hipóteses... e ela ali a dormir a seu lado. Os seus movimentos, cada vez mais frequentes, deixavam perceber que estava prestes a acordar, prestes a virar-se para si e a abraçá-lo.
Desejou tanto que ela entendesse, que o perdoasse, que não chorasse, que sofresse só um bocadinho, que o beijasse com aquele amor que só ela sabia dar, que tudo aquilo passasse. Desejou até que ela lhe confessasse que também já o havia feito.
Imaginou-se, dali a dias, quando as coisas acalmassem, a fazer amor com ela. Imaginou-se a cobri-la de beijos pelo corpo, ela a fazer o mesmo a si. Imaginou-se excitado com os lábios dela a tocar o seu pénis erecto. Imaginou-se a penetrá-la e o prazer que isso lhes dava.
Caiu-lhe uma lágrima, seguida de outra e mais outra. De repente quase deixou de conseguir respirar tal era o “nó” que lhe sufocava a garganta. Teve de conter um soluço e não deixar passá-lo por aquele “nó”. A sua cabeça criou um cenário aterrador. De repente viu o seu pénis a libertar um líquido branco cheio de três letras. Vários “h”, vários “i” e vários “v” enquanto ela ali tinha os seus lábios. De repente viu-se a libertar o seu fluido dentro da mulher que amava, um fluido cheio dessas mesmas três letras que dele saíam e que a inundavam. Um fluido que por ela se ia espalhando e contaminando todo o seu interior. De repente viu-se a fazer amor com ela e a matá-la. De repente olhou para o seu rosto e viu-a morta. Aquela noite tinha morto o seu amor. Ele tinha morto alguém e esse alguém era a pessoa que amava.
Sentiu um braço por cima do seu peito e ouviu da forma sussurrada que tão bem conhecia: “Bom dia! Então como foi a noite com o pessoal? Divertira-se? A que horas chegaste? Nem dei por nada.”
Ela estava ali, estava viva. Tinha sido um pesadelo de segundos. Ela estava viva e ali a seu lado como ele sempre quis que fosse e para sempre. E agora mais do que nunca o queria.
Ela estava ali abraçada a ele, como sempre o fazia quando não tinham de sair à pressa para o emprego. Ela estava ali abraçada a ele mas não sabia que estava abraçada a um criminoso. E era assim que ele se sentia. Não um marido que traiu a mulher, porque a outra rapariga pouco ou nada significou para ele. Não um marido que traiu a mulher que ama, porque nunca a deixou de amar no pouco tempo que o seu corpo esteve com o da a rapariga loura. Não um traidor, mas um criminoso.
“Então...estás a dormir? Não dizes nada? Como foi a noite? Não me digas que vieste a conduzir bêbado?”
Beijo-a na cabeça a cheirar aquele shampô que ele tão bem conhecia e apertou-a contra si com toda a força que, naquele momento, ainda conseguiu ter.
Sentia uma dor a apertar-lhe o peito. Não chorou. Não queria acordá-la. Mas já não devia faltar muito para ela abrir os olhos, abraçá-lo e dizer-lhe o “bom-dia” de sempre.
Ali estava ela. Ali estava ele. Três horas depois de ali se ter deitado. Horas depois do sucedido.
Os amigos eram os certos, o bar era o certo, a bebida tomada várias vezes era a certa, aquelas raparigas eram as certas e aquela, especificamente aquela alta, loura, de olhos grandes e ousados, era a certa. Tudo certo e certeiro para acontecer o que aconteceu.
Depois dos risos, das piadas, dos copos, de umas trocas de olhares, de umas insinuações verbais e físicas certeiras, deu consigo na cama daquela rapariga jovem que parecia ter surgido naquele bar para ele, só para ele, para o tentar. E ele foi tentado. Ele cedeu. Ele quis. Ele deixou. Ele foi com ela. E ele teve sexo com ela. E foi bom, foi muito bom. E ele gostou, gostou muito.
E agora estava ali, novamente ali. Ali deitado ao lado da mulher com quem escolheu casar, ter filhos, criar uma família. A mulher que dali a minutos iria acordar, abraçá-lo e perguntar como havia sido o jantar e os copos com o pessoal do trabalho.
Iria perdoá-lo? Iriam voltar a ser o que eram? Como olharia ela para ele quando ele lhe dissesse? Como iria olhá-lo a partir dali?
E ele? Iria perdoar-se? Como é que olhava para si mesmo agora? Como é que iria olhar para ela? Para eles?
Nunca tinha acontecido mas ele sentia que ela iria perdoá-lo, conhecia-a demasiadamente bem. Sabia. Pelo menos tinha de acreditar nisso e queria tanto acreditar nisso.
Ela iria entender. A rapariga era nova, oferecida, ele estava bem bebido, os amigos estimularam a que acontecesse, criou-se o ambiente e ele deixou-se ir. Estava bêbado mas consciente para usar preservativo. A própria rapariga quis, mesmo garantindo que estava limpa, que não fazia aquilo habitualmente, ela própria quis. Foram cuidadosos e na altura da penetração ele protegeu-se. Era preciso muito azar.
Pronto, foi uma coisa de uma noite. Ele é homem, tem as suas necessidades, a carne é fraca e há muitos anos que não conhecia corpo que não o dela. Ela iria entender. Ela também tinha as suas necessidades. Ela também saía com as amigas e já havia chegado tarde a casa. Ele sabia lá o que também já podia ter acontecido.
A sua cabeça não parava. Eram perguntas atrás de perguntas, hipóteses atrás de hipóteses... e ela ali a dormir a seu lado. Os seus movimentos, cada vez mais frequentes, deixavam perceber que estava prestes a acordar, prestes a virar-se para si e a abraçá-lo.
Desejou tanto que ela entendesse, que o perdoasse, que não chorasse, que sofresse só um bocadinho, que o beijasse com aquele amor que só ela sabia dar, que tudo aquilo passasse. Desejou até que ela lhe confessasse que também já o havia feito.
Imaginou-se, dali a dias, quando as coisas acalmassem, a fazer amor com ela. Imaginou-se a cobri-la de beijos pelo corpo, ela a fazer o mesmo a si. Imaginou-se excitado com os lábios dela a tocar o seu pénis erecto. Imaginou-se a penetrá-la e o prazer que isso lhes dava.
Caiu-lhe uma lágrima, seguida de outra e mais outra. De repente quase deixou de conseguir respirar tal era o “nó” que lhe sufocava a garganta. Teve de conter um soluço e não deixar passá-lo por aquele “nó”. A sua cabeça criou um cenário aterrador. De repente viu o seu pénis a libertar um líquido branco cheio de três letras. Vários “h”, vários “i” e vários “v” enquanto ela ali tinha os seus lábios. De repente viu-se a libertar o seu fluido dentro da mulher que amava, um fluido cheio dessas mesmas três letras que dele saíam e que a inundavam. Um fluido que por ela se ia espalhando e contaminando todo o seu interior. De repente viu-se a fazer amor com ela e a matá-la. De repente olhou para o seu rosto e viu-a morta. Aquela noite tinha morto o seu amor. Ele tinha morto alguém e esse alguém era a pessoa que amava.
Sentiu um braço por cima do seu peito e ouviu da forma sussurrada que tão bem conhecia: “Bom dia! Então como foi a noite com o pessoal? Divertira-se? A que horas chegaste? Nem dei por nada.”
Ela estava ali, estava viva. Tinha sido um pesadelo de segundos. Ela estava viva e ali a seu lado como ele sempre quis que fosse e para sempre. E agora mais do que nunca o queria.
Ela estava ali abraçada a ele, como sempre o fazia quando não tinham de sair à pressa para o emprego. Ela estava ali abraçada a ele mas não sabia que estava abraçada a um criminoso. E era assim que ele se sentia. Não um marido que traiu a mulher, porque a outra rapariga pouco ou nada significou para ele. Não um marido que traiu a mulher que ama, porque nunca a deixou de amar no pouco tempo que o seu corpo esteve com o da a rapariga loura. Não um traidor, mas um criminoso.
“Então...estás a dormir? Não dizes nada? Como foi a noite? Não me digas que vieste a conduzir bêbado?”
Beijo-a na cabeça a cheirar aquele shampô que ele tão bem conhecia e apertou-a contra si com toda a força que, naquele momento, ainda conseguiu ter.
16/Dez/2007
E partiram, rumo à Marinha Grande, os outros dois Brunecos.
Farão parte de uma família de um casal com duas filhas pequenas e viverão numa moradia muito grande onde, espero, sejam muito felizes.
Impossível esquecer estes momentos de despedida. Uma despedida apressada que se traduz numa dorzinha, não tão pequena quanto isso. Vai passar. Estão em boas mãos também.
Foi bonito ver o olhar brilhante daquela menina que pulava de alegria desde que saiu do carro enorme e os viu ali, amedrontados, dentro da transportadora. "Obrigado, obrigado, são tão lindos, tão fofinhos... Posso levá-los ao colo?"
Sorri mas voltei para casa a chorar mal virei a esquina e deixei de ver o carro que partia. Certamente nunca mais irei vê-los.
Bruno e Camila andam pela casa... ele cheira tudo, ela não pára de miar.
"Os vossos meninos serão felizes".
Farão parte de uma família de um casal com duas filhas pequenas e viverão numa moradia muito grande onde, espero, sejam muito felizes.
Impossível esquecer estes momentos de despedida. Uma despedida apressada que se traduz numa dorzinha, não tão pequena quanto isso. Vai passar. Estão em boas mãos também.
Foi bonito ver o olhar brilhante daquela menina que pulava de alegria desde que saiu do carro enorme e os viu ali, amedrontados, dentro da transportadora. "Obrigado, obrigado, são tão lindos, tão fofinhos... Posso levá-los ao colo?"
Sorri mas voltei para casa a chorar mal virei a esquina e deixei de ver o carro que partia. Certamente nunca mais irei vê-los.
Bruno e Camila andam pela casa... ele cheira tudo, ela não pára de miar.
"Os vossos meninos serão felizes".
14/Dez/2007
Chegou a altura
Chegou a altura dos Brunecos irem para junto dos seus novos donos.
Tentei um certo distanciamento, não ligar-me muito a eles, para não me custar esta fase... mas custa, custa.
Sei que estarão bem entregues, que terão óptimos donos... mas fica uma dorzinha na despedida.
Que sejam muito felizes, coisinhas lindas.
Tentei um certo distanciamento, não ligar-me muito a eles, para não me custar esta fase... mas custa, custa.
Sei que estarão bem entregues, que terão óptimos donos... mas fica uma dorzinha na despedida.
Que sejam muito felizes, coisinhas lindas.
In Repeat
O novo tema dos The Gift.
Composto para o álbum "Lisboa" de homenagem à cidade. Um álbum para o qual foram convidadas várias bandas portuguesas. Dos The Gift saiu isto.
Can you wait there for so long
Can you be there if I fall
Can you fall and stay strong
Can you dry your eyes and laugh
Can you show me your heart once more
Can you breath a new life now
Can I freeze this moment with you
Can my hand fix your heart and you
Did you ever touch the ground
Can we sing "out of time" in repeat,
and look both of us underneathor forget and reset
Cause the beat will change your life,
and the sweat will turn you on,
and your veins will shine outside.
Composto para o álbum "Lisboa" de homenagem à cidade. Um álbum para o qual foram convidadas várias bandas portuguesas. Dos The Gift saiu isto.
Can you wait there for so long
Can you be there if I fall
Can you fall and stay strong
Can you dry your eyes and laugh
Can you show me your heart once more
Can you breath a new life now
Can I freeze this moment with you
Can my hand fix your heart and you
Did you ever touch the ground
Can we sing "out of time" in repeat,
and look both of us underneathor forget and reset
Cause the beat will change your life,
and the sweat will turn you on,
and your veins will shine outside.
Indios
Quem me dera, ao menos uma vez,
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue entender:
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
E fala demais por não ter nada a dizer
Quem me dera, ao menos uma vez,
Que o mais simples fosse visto como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês -
É só maldade então, deixar um Deus tão triste.
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta prá mim,
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura para o meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Como a mais bela tribo, dos mais belos índios,
Não ser atacado por ser inocente.
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta prá mim,
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura para o meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.
(The Gift/Legião Urbana)
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue entender:
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
E fala demais por não ter nada a dizer
Quem me dera, ao menos uma vez,
Que o mais simples fosse visto como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês -
É só maldade então, deixar um Deus tão triste.
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta prá mim,
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura para o meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Como a mais bela tribo, dos mais belos índios,
Não ser atacado por ser inocente.
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta prá mim,
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura para o meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.
(The Gift/Legião Urbana)
Quase de partida...
(Os abanões do video devem-se à madre Camila que não parava quieta a roçar-se em mim, sempre com os seus miados)
Maravilhas dos transportes públicos
Hoje, ia vomitanto com as náuseas sentidas perante o que vi. No comboio de regresso a casa, hoje mais cedo que o habitual, à minha frente sentou-se um homem pequenito e magro com um aspecto absolutamente asqueroso. Mas, acima de tudo, um homem com ar de quem já trabalhou muito no duro. Um homem triste, magoado com a vida. Um homem até com um olhar terno.
Pele velha e enrugada, roupa suja e mal cheirosa (hora de respirar pela boca), cabelo seboso com caspa, dentes podres (os poucos que lhe "minavam" a boca cicatrizada) e, pior, com a mão a sangrar. Olho e vejo uma mão de pele grossa e dura, escurecida do sol, com um bom bocado de pele arrancada, certamente, minutos antes. Eu nem estava a crer naquilo. E que fez o senhor para estancar o sangue? Tapou a carne viva com a pele pendurada e, qual penso perfeito e higiénico, apertou aquilo com um saco de plástico do Jumbo. Passou os cerca de 50 minutos da viagem a espreitar para o que se passava debaixo do saco já com sangue.
Uma ferida daquelas embrulhada num saco de plástico! Por muito que me tentasse abstrair não consegui. Tive de dizer qualquer coisa. "Desculpe... peço desculpa por estar a meter-me mas não devia ir ao hospital? Isso não está com muito bom aspecto e pode infectar. Não quer descer em Vila Franca? Eu vou consigo ao hospital. Fica a caminho da minha casa. Não me importo." E a resposta inesperado foi: "Isto tá bom, caralho. Na é nada e tu na tens nada a ver com isso, ouvistes? Olha-me este gajo. Foda-se!" Nem consegui responder. Puxei do ipod e escolhi "Loser" da Dolores o'Riordan. Achei apropriado.
E não é que o homem nunca mais saía do comboio? As estações iam passado e ele...nada de se levantar.
Ansiei chegar à minha saída e "livrar-me" do sujeitinho de quem tinha tido pena. Podia ter mudado de lugar, é certo, mas não quis, não fosse ele começar a "grunhir" qualquer coisa. Queria era livrar-me do homem e daquelas pessoas que olhavam de soslaio sem nada dizer. Livrar-me daquelas pessoas que ouviram aquilo e nada disseram. Continuaram a sua viagem como se nada fosse, como se ali nada se passasse.
Finalmente, Vila Franca, ia sair. Levanto-me e nisto, o homem levanta-se ao mesmo tempo. Por pouco aquela amalgama de carne, pele, sangue e plástico não me bateu na roupa. Seria o culminar do evento. Mas não, foi quase.
Dirijo-me para a porta com ele sempre à frente, muito lento a "arranjar o "penso" já em estado lastimável e indescritível.
As portas abrem-se, eu saio e a criatura o que faz? Vira-se para mim e sai-se com esta maravilha: "Oh pá, na me arranjas aí um cigarro, caralho?"
Aí passei-me. Apeteceu-me esquartejar-lhe a outra mão e partir-lhe as amostras de dentes negros daquela boca nojenta. Levantei a sobrancelha, olhei para ele com o ar, certamente, de maior repúdio que consegui e, como que em câmara lenta, abanei a cabeça em sinal negativo. "Não tens, caralho? Arranja aí!". "Tenho, está aqui". Saquei do maço que trazia no bolso e mostrei-lhe. "Tenho mas não dou!" Afastei-me daquela figura e não olhei para trás. Era o que faltava! Ele há gente!
Ai estas maravilhas dos transportes públicos...
Pele velha e enrugada, roupa suja e mal cheirosa (hora de respirar pela boca), cabelo seboso com caspa, dentes podres (os poucos que lhe "minavam" a boca cicatrizada) e, pior, com a mão a sangrar. Olho e vejo uma mão de pele grossa e dura, escurecida do sol, com um bom bocado de pele arrancada, certamente, minutos antes. Eu nem estava a crer naquilo. E que fez o senhor para estancar o sangue? Tapou a carne viva com a pele pendurada e, qual penso perfeito e higiénico, apertou aquilo com um saco de plástico do Jumbo. Passou os cerca de 50 minutos da viagem a espreitar para o que se passava debaixo do saco já com sangue.
Uma ferida daquelas embrulhada num saco de plástico! Por muito que me tentasse abstrair não consegui. Tive de dizer qualquer coisa. "Desculpe... peço desculpa por estar a meter-me mas não devia ir ao hospital? Isso não está com muito bom aspecto e pode infectar. Não quer descer em Vila Franca? Eu vou consigo ao hospital. Fica a caminho da minha casa. Não me importo." E a resposta inesperado foi: "Isto tá bom, caralho. Na é nada e tu na tens nada a ver com isso, ouvistes? Olha-me este gajo. Foda-se!" Nem consegui responder. Puxei do ipod e escolhi "Loser" da Dolores o'Riordan. Achei apropriado.
E não é que o homem nunca mais saía do comboio? As estações iam passado e ele...nada de se levantar.
Ansiei chegar à minha saída e "livrar-me" do sujeitinho de quem tinha tido pena. Podia ter mudado de lugar, é certo, mas não quis, não fosse ele começar a "grunhir" qualquer coisa. Queria era livrar-me do homem e daquelas pessoas que olhavam de soslaio sem nada dizer. Livrar-me daquelas pessoas que ouviram aquilo e nada disseram. Continuaram a sua viagem como se nada fosse, como se ali nada se passasse.
Finalmente, Vila Franca, ia sair. Levanto-me e nisto, o homem levanta-se ao mesmo tempo. Por pouco aquela amalgama de carne, pele, sangue e plástico não me bateu na roupa. Seria o culminar do evento. Mas não, foi quase.
Dirijo-me para a porta com ele sempre à frente, muito lento a "arranjar o "penso" já em estado lastimável e indescritível.
As portas abrem-se, eu saio e a criatura o que faz? Vira-se para mim e sai-se com esta maravilha: "Oh pá, na me arranjas aí um cigarro, caralho?"
Aí passei-me. Apeteceu-me esquartejar-lhe a outra mão e partir-lhe as amostras de dentes negros daquela boca nojenta. Levantei a sobrancelha, olhei para ele com o ar, certamente, de maior repúdio que consegui e, como que em câmara lenta, abanei a cabeça em sinal negativo. "Não tens, caralho? Arranja aí!". "Tenho, está aqui". Saquei do maço que trazia no bolso e mostrei-lhe. "Tenho mas não dou!" Afastei-me daquela figura e não olhei para trás. Era o que faltava! Ele há gente!
Ai estas maravilhas dos transportes públicos...
Sentimentos intermodais
Andar em transportes públicos tem sido uma animação! Acordar antes das 6 da matina, fazer mais de um km até à estação de comboio (estou tramado se chover e nunca mais compro um chapéu de chuva), comprar o bilhete, picar o bilhete, apanhar o dito "comprido" ainda de noite, chegar a outra estação, descer as escadas a correr (coisa quase impossível perante a "manada" de utentes carrancudos), comprar e picar outro bilhete tudo à pressa, ir a correr, escadaria acima, para apanhar outro comboio, entrar nele aliviado, chegar à estação da outra margem e, pela janela, ver o autocarro das 8.02 a partir quase vazio (sim, porque o conceito de transporte intermodal em Portugal não passa de pura teoria. Estúpida e irritantemente, uns partem antes de outros chegarem, numa conjugação/interligação, absolutamente, inexistente), descer as escadas (por esta altura já subi e desci não sei quantas), sair da estação em direcção à paragem vazia do autocarro, ficar ali quase 20 minutos a "arripar" frio (todo eu uma amalgama de cachecol, luvas e gorro). Entrar no "bus", comprar mais um bilhete e olhar para o relógio com receio de ser desta que vou chegar atrasado. "Se o autocarro partisse às 8.05 era desnecessária esta ansiedade diária. Saio do barulhento meio de transporte e lá vou a pé para a escola. Novamente de passo apressado, tipo marcha olímpica, porque já tocou para a entrada e não quero levar falta. Um destes dias está-se mesmo a ver o que vai acontecer...
2 horas nisto, fora a hora do acordar.
Depois, ao fim do dia, novamente o mesmo, diria, ainda pior. Porque no regresso junta-se mais meia-hora. No regresso "apanho" uma mão cheia de alunos chatos na paragem de autocarro. No regresso faço o final percurso para casa a subir, a subir, a subir... Enfim, é mesmo bom passar 4h 30 min. diários em transportes públicos.
Sim, é muito cansativo, stressante, irritante, enervante... sim, sou alto e vou ali todo apertado com as pernas dormentes para não dar safanões em quem à minha frente se senta... sim, no regresso venho quase 1h em pé... sim, não consigo aproveitar para corrigir testes, trabalhos, preparar aulas (isto de ser grande faz com que esteja para ali apertado, quase sem me mexer, portanto, impossível tirar dossier, abri-lo e montar ali o estaminé para trabalhar. Vou começar a aproveitar para ler, se bem que de manhã o sono é tal que não me parece.
Mas nem tudo é mau, admito. Sempre gostei de andar de transportes públicos. Tirando os maus cheiros, os "chungosos", os burgessos, as conversas, assustadoramente, pobres de conteúdo, as mudanças bruscas de temparatura (já estou aqui a adivinhar uma gripezita), tirando tudo o que foi descrito, gosto de observar as pessoas, a diversidade, imaginar as suas vidas, ver quem entra onde e quando, os que dormem, os que conversam, os que criaram amizades dentro de uma "caixa andante", os que lêem e o quê, os que passam o tempo agarrados ao telemóvel, os que limpam as ramelas, os que ainda cheiram a gel acabadinho de besuntar o cabelo, os bonitos, os feios (e se há gente pavorosa, minha nossa), o que vestem, as expressões faciais (quase sempre tristes, sorumbáticas, acomodadas à vidinha), os risos, os sorrisos, os gestos... gosto.
Gosto de andar pela rua a ouvir música, de escolher o que ouvir, de me sentir num filme com banda sonora ao olhar o rio e os subúrbios "podres" da capital, de ver o trânsito parado na estrada e eu fora dele, das luzes, do nascer do sol no quentinho do comboio.
Um cruzar de sentimentos, de sensações, de cheiros, sons, cores, movimentos, pessoas, que me agrada.
Não sei se este sentir se manterá por muito mais tempo, certamente não, mas, por agora, no computo geral, tenho gostado, tenho.
2 horas nisto, fora a hora do acordar.
Depois, ao fim do dia, novamente o mesmo, diria, ainda pior. Porque no regresso junta-se mais meia-hora. No regresso "apanho" uma mão cheia de alunos chatos na paragem de autocarro. No regresso faço o final percurso para casa a subir, a subir, a subir... Enfim, é mesmo bom passar 4h 30 min. diários em transportes públicos.
Sim, é muito cansativo, stressante, irritante, enervante... sim, sou alto e vou ali todo apertado com as pernas dormentes para não dar safanões em quem à minha frente se senta... sim, no regresso venho quase 1h em pé... sim, não consigo aproveitar para corrigir testes, trabalhos, preparar aulas (isto de ser grande faz com que esteja para ali apertado, quase sem me mexer, portanto, impossível tirar dossier, abri-lo e montar ali o estaminé para trabalhar. Vou começar a aproveitar para ler, se bem que de manhã o sono é tal que não me parece.
Mas nem tudo é mau, admito. Sempre gostei de andar de transportes públicos. Tirando os maus cheiros, os "chungosos", os burgessos, as conversas, assustadoramente, pobres de conteúdo, as mudanças bruscas de temparatura (já estou aqui a adivinhar uma gripezita), tirando tudo o que foi descrito, gosto de observar as pessoas, a diversidade, imaginar as suas vidas, ver quem entra onde e quando, os que dormem, os que conversam, os que criaram amizades dentro de uma "caixa andante", os que lêem e o quê, os que passam o tempo agarrados ao telemóvel, os que limpam as ramelas, os que ainda cheiram a gel acabadinho de besuntar o cabelo, os bonitos, os feios (e se há gente pavorosa, minha nossa), o que vestem, as expressões faciais (quase sempre tristes, sorumbáticas, acomodadas à vidinha), os risos, os sorrisos, os gestos... gosto.
Gosto de andar pela rua a ouvir música, de escolher o que ouvir, de me sentir num filme com banda sonora ao olhar o rio e os subúrbios "podres" da capital, de ver o trânsito parado na estrada e eu fora dele, das luzes, do nascer do sol no quentinho do comboio.
Um cruzar de sentimentos, de sensações, de cheiros, sons, cores, movimentos, pessoas, que me agrada.
Não sei se este sentir se manterá por muito mais tempo, certamente não, mas, por agora, no computo geral, tenho gostado, tenho.
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