Rápidos segundos

Ardem-me as mãos. Dormentes os pés de caminhar por caminhos errados cheios de um chão de cardos e rosas murchas e abandonadas. São rosas, ninguém quer saber. Estão murchas. São velhas. Caminhos de alcatrão escaldante, negro plástico, que se cola e queima. Caminhos desfeitos em mil pedaços de pedras duras e cortantes. A cabeça é mas não é a mesma. Entrou em órbita, encheu-se de uma via láctea vazia de opiniões, de certezas, de saberes. Ainda assim, cheia disso mesmo e cada vez mais. Olho à volta e vejo o que não quero ver. Ouço o que grita aos ouvidos. Sinto que está tudo a ficar louco. Mas ninguém quer saber. O coração, esse está cá. Quais são os significados das palavras? Das mais idolatradas, belas, das mais rudes e odiadas? Onde estão os sentimentos que outrora via neste e naquele? É tudo rápido. Tudo se faz, tudo se diz, nada se faz, nada se diz. E o que se sente? Os rostos, as palavras, os olhares escondem-se nas máscaras que preferia não ver. Queria ser mais ignorante, o caminho custava menos assim. Gosto de montanhas russas. Cansam-me as de segundos, quando olho este e aquele e vejo o que não queria ver. é isto, é aquilo. Acha-se isto, acha-se aquilo. Tenho fome da verdade, do sonhado, do que é real. Mas o que é real agora, deixa de o ser em segundos. E os sonhos para onde vão? O mundo não pára, mas nós temos essa capacidade. Vomito as pessoas de agora. Cuspo na estupidez dos inteligentes. Estou farto dos adjectivos e nomes nos quais o mundo insiste em viver. Sei, já há muito que aprendi esta linguagem que se alastra por aí. Conheço-a. Uso-a, que remédio. Mas não faço dela condão.

Gaga... is this the same Lady?

Está na moda, dá nas vistas, vende que se farta e parece que veio para ficar. Dizem que a miúda tem talento, que canta e dança bem, que tem um vozeirão, que é uma lufada de ar fresco, diferente do que por aí anda, que tem um look espectacular e inovador, que se cansou de compor para outras celebridades e agora compõe para ela mesma, que isto e aquilo.
A mim, inicialmente, perante os videos, irritou-me um bocado e achei tudo muito chungoso, barato e fácil. Aquelas roupas de uma piroseira incrível, os acessórios e maquilhagem altamente exagerados, o visual medonho de quenga reles... Uma mocita feiosa, com cara de rata deslavada, com ar de miúdo traveca, ordinária, vulgar, carnavalesca até à quinta casa, etc e tal...
Calhou depois ver uns excertos de umas entrevistas e, além de algumas roupas de uma originalidade absolutamente fantástica, achei a moça simpática, uma miúda com uma simplicidade, timidez e até humildade que nada têm a ver com o aspecto exageradíssimo que pretende passar.
Entretanto ouvi estas versões dos seus popularuchos temas e gostei. Não esperava mesmo. A moça surpreendeu-me.



Dancing, singing, smiling

Depois da dança na Liverpool Street Station, agora foi a cantoria em Trafalgar Square.
O que se faz para um anúncio de tv. E ainda bem!



Pina Bausch



Jamais esquecerei a noite no CCB em que, na fila da frente, assisti e até participei num espectáculo da Pina Bausch.
Rest in peace, Pina. Thank you for that night. Thank you for all you've done.

The Queen about the King

E (re)começou a loucura da "velhota" e seus seguidores!
No O2, em Londres, onde Michael Jackson iria dar os seus concertos em breve, Madonna começou a segunda parte da sua Sticky & Sweet Tour, que terminará, daqui a meses, em Israel.
Há alterações, pois claro. Mudam umas imagens nos ecrãs. Mudam umas roupinhas aqui e ali. Sai a versão guitarrada do "Borderline" e entra o ainda mais guitarrado "Dress you up". Sai o "Heartbeat", com uma coreografia em que Ela goza com a sua própria provecta idade, e entra um alterado "Holiday". E, na parte final, hiper energética, forte e animada sai (para infelicidade de muitos), o "Hung Up" em versão roqueira e entra, imagine-se, o "Frozen", numa versão poderosa, misturado com o "Open your heart". Sim, isso mesmo.
Pensa-se: Ela tira o animadíssimo e popularíssimo "Hung up" que resulta sempre bem em palco e puxa pelo público até mais não e mete a calma, delicadeza, serenidade e misticismo de um "Frozen" no final do concerto? E ainda por cima misturado com o velhinho (e nada a ver com o género) "Open your heart"? Passou-se! Só se for para descansar um pouco, reabastecer energias para os pulos finais do concerto. Mas não, não mesmo. Deixou a guitarra de parte mas toca a dançar. Pronto, lá continua Ela com as versões e misturas mais improváveis. E, pelo que já vi e ouvi, não é que resultou e mesmo bem?
E, claro, a introdução de uma homenagem ao rei.





Parte 2

Depois de ser a pessoa que mais lucrou no mundo da música de Junho de 2008 a Junho de 2009 (a módica quantia de 110 milhões de dólares), é já amanhã, dia 4, que começará a segunda parte da Sticky & Sweet Tour. Consta que terá novidades. Entram umas músicas para substituir outras, uma delas será um novo tema, mudam alguns cenários, guarda-roupa... a ver vamos...
O DVD da primeira parte da Tour, gravado em Buenos Aires, sairá em breve e amanhã, no exacto momento em que a segunda parte arranca em Londres, o canal Sky1 irá passar o DVD.
Aqui fica um excerto.

M. Jackson

Nunca fui graaaaaaaaande fã mas quando era miúdo/adolescente gostava do Michael Jackson, gostava imenso de algumas músicas e vídeos.
Depois, confesso, comecei a fartar-me do estilo. Os anos iam passando e era sempre tudo muito igual. As músicas com os seus típicos guinchos (hi...hi), as expressões habituais (shamon... ou lá o que era) pelo meio, as meias brancas, os sapatinhos e calças pretas, os casacos de chumaços e lantejoulas, o chapéu, aquele cabelo a cair num dos lados da cara, a mesma forma de dançar, sempre os mesmos passos de dança... As grandes mudanças eram físicas, não artisticamente. Aí era sempre muito do mesmo. Nunca o achei nada versátil.
Pelo menos manteve-se fiel a um estilo, dirão muitos. Isso é certo. Um estilo que o tornou num icon. Uma marca que ficará para sempre.
A verdade é que mesmo antes de atingir os 40 anos já o homem estava em baixo. Na sua última tour já caía cansado em palco, chegou a desmaiar, a cancelar concertos, etc... Sempre duvidei que fosse agora aos 50 que conseguisse regressar em força. Acho mesmo que os concertos agendados iam ser embaraçosos para ele, para muitos que compraram os bilhetes. Talvez o fim desastroso da sua carreira. Ficará sempre essa dúvida...
Tivémos a saga Lady Diana, agora a saga Lady MJ. Demais mesmo! Entrevista-se tudo e todos, sobre tudo e todos os que o rodeavam... ou não. A pele estava assim, o nariz assado, o pai era isto, as irmãs aquilo, os filhos são dele, depois não são, ele estava bem, agora estava muito mal, era maluco, era uma criança adulta porque não o foi quando pequeno, era isto e aquilo e mais não sei o quê...
E isso entranha-se. E a comunicação social é perita nisso. Os miúdos que não ligavam nenhuma ao homem, que o viam como uma figura estranha do passado, porque ele era "do tempo dos seus pais" e há anos que mal aparecia, agora esgotam os álbuns nas lojas para ouvirem muitas músicas que nem sequer sabiam existir. Gritam em frente à tv, lado a lado com os que o veneram, como se o MJ tivesse sido a coisa mais importante das suas vidas, como se fosse assim tão estranha a sua morte, como se ninguém esperasse tal coisa, como se ele fosse a Britney que os acompanha desde a escola primária... Onde é que estavam há uns anitos poucos quando o último álbum do MJ saíu? Na altura falava-se do seu regresso e foi um fiasco, ninguém ligou, mal vendeu, ninguém comprou e muitos nem deram por ele. E agora compram tudo o que tenha o seu nome.
Tirando um ou outro escândalo a propósito dos filhos, das suas taras, dos casos em tribunal, nos últimos anos mal se ouvia falar do homem, nem se sabia bem onde pairava, e agora depois de morto...
É triste a sua morte.
É triste o escarafunchar exageradíssimo da comunicação social.
É triste que agora se lembrem dele quando desde há uma década quase ninguém lhe ligava.
É triste que tenha sido preciso morrer para voltar a ter sucesso.
É triste que tenha sido preciso morrer para voltar a nascer.