Bocad(inh)os

- Posso dizer-te uma coisa?
- Claro. O quê?
- Tu és lindo.
- Oh, whatever!
- A sério, eu acho. A tua cara, o teu olhar, o teu aspecto… eu por dentro já sabia que sim, desde que começámos a falar na net.
- Na net cada um mostra-se como quer, sabemos lá!
- Também é verdade mas pronto, achei. Claro que quando há bocado te vi chegar, quase que me assustei, confesso.
- Porquê?
- Porque já te tinha visto na noite.
- E então?
- E então achava-te um bocado… ainda por cima a fumar.
- Altivo, snob, arrogante, com um ar insuportável, certo?
- Pois, isso. Um bocado, sim. Sou um bocado preconceituoso nestas cenas.
- Sim, deixa lá, eu também.
- E quando te vi chegar, passei-me. Do tipo, não acredito, é este gajo, deve ser cá uma puta?
- Sim, eu mesmo. Altivo, snob, arrogante…that’s me. Puta não sou, isso não sou. De resto sou tudo isso.
- Pois, mas não és. Parece que és mas não és. É que a roupa e a altura ajudam.
- Como assim?
- Como és muito alto e te vestes assim…e depois vi-te a chegar com esses óculos escuros… e a tua maneira de andar.
- Visto-me como?
- Vestes-te bem, com estilo.
- Olha, tu também e eu não achei que fosses snob. Mas entendo-te, já estou habituado. Eu devo dar mesmo uma ideia muito errada às pessoas.
- Pois, mas eu tenho um ar mais normalzito.
- Eu também sou normalzito.
- Não, não és. Tens pinta de modelo. Nunca pensaste ser modelo?
- Já me convidaram, um estilista da praça um dia até me perguntou qual era a minha agência… já me abordaram na rua por causa disso, mas eu nunca quis e além disso não tenho corpo e sou tímido.
- Tens atitude. Velho? Tu tens ar de miúdo com essa carinha.
- Mas não sou e teria vergonha.
- E é isso que ainda te torna mais… é teres esse ar e depois seres tímido. Tens porte, presença, com um ar todo muito decidido mas depois és… Há bocado percebi isso, coravas quando eu dizia alguma coisa. Ficas assim meio…
- Meio perdido.
- Sim. Tem tanta graça.
- Olha, tu és sempre assim?
- Assim, como?
- Assim, todo cheio de elogios para as pessoas que conheces?
- Não, nada mesmo. Fico sempre tímido também. Mas olha, não penses que já conheci muitos gajos. Já teclei com muitos mas marcar encontros e assim café, só com poucos. Sou muito esquisito e a maior parte dos gajos basta-me estar uma meia-hora e quanto muito ficam amigos. E mesmo assim não são muitos.
- Então mas o teu objectivo não é a amizade? Conhecer possíveis amigos?
- Sim, é. Acima de tudo é. Mas também há sempre aquela hipótese de conhecer alguém especial.
- E não tens conhecido, é isso?
- Pois, é. Eu preciso de sentir qualquer coisa e não aconteceu. Sou muito exigente, até demais.
- Entendo-te perfeitamente. Eu então…
- Mas agora é diferente.
- Porquê?
- Porque aqui contigo sinto-me diferente.
- Sem timidez!
- Que parvo. Não é isso. Até estou nervoso. Mas é o que te digo… tu és muito bonito. Gosto de estar aqui ao pé de ti.
- Oh homem, gente bonita é o que não falta aí.
- Mas não é só isso, és bonito por dentro e por fora.
- Desculpa a sinceridade mas estou cansado de me dizerem isso. Não leves a mal. Isto soa mal, não soa? Mas estou farto de elogios. Não é que não goste. Claro que gosto, mas acho-os sempre um bocado exagerados. E estou farto de ser assim tão maravilhoso e depois só me dou mal.
- Se te dizem é porque é verdade, não?
- 1º é um grande exagero. Diz-se para agradar. 2º não sou nem metade disso. 3º mesmo que fosse, não me serve de nada.
- Serve. Serve para eu sentir como me sinto. Quando te vim conhecer vinha muito nervoso porque me pareceu que eras qualquer coisa de diferente e, depois do primeiro impacto, vejo que és ainda mais.
- Diferente?
- Diferente, especial.
- Obrigado, a sério, mas não sou.
- Posso dar-te um beijo?
- O quê? Ok, tá bem, podes.
- Não, não é na cara.
- Pois, mas é melhor não.
- Pois, é melhor. Olha, nem na cara. Seria um desastre. Depois do que já falámos desde há horas, depois do que sinto…ainda ia sentir mais.
- E não queres sentir?
- Quero. Quero porque das vezes que falámos vejo que temos muito em comum e vemos os relacionamentos da mesma maneira…
- Sim, e sou lindo, uma maravilha. Do melhor que há!
- És, és mesmo.
- Fantástico!
- Mas porque é que agora estás a falar assim, com essa indiferença, ironismo?
- Desculpa, mas é que já te tinha dito que não ando bem, não quero, não posso e não devo começar nada com ninguém. Eu disse-te, não disse? Não vai ser bom para esse alguém. Ia estar a usar essa pessoa, a servir-me de bengala. Isso não quero.
- Sim, disseste, tens razão.
- E dizes que vemos os relacionamentos da mesma maneira…mas até quando? Vês agora assim mas daqui a uns tempos será que vais ver?
- Claro que sim. Eu já tive outras relações e sempre vi as coisas assim. Por isso é que terminaram. Porque as pessoas não lutam, preferem outras coisas. Já tínhamos falado nisto.
- Pois, eu sei. Eu também via as coisas assim.
- Já não vês?
- Disse-te que não. Já não acredito nas relações, nas relações honestas, com sinceridade a dois, sem esquemas, mentiras, merdas pelo meio. Aquela coisa bonita entre duas pessoas…já não.
- Mas eu estou-te a dizer que sou assim.
- Sim, estás agora…desculpa. Não leves a mal.
- Tu não queres tentar nada comigo, pois não? Sou assim tão feio e desinteressante? Desiludi-te?
- Tu? Não tens espelhos? Já olhaste bem para ti? Speaking about beauty. E olha que eu não acho quase ninguém muito bonito. Tu és muito atraente. Além disso pareces-me ser uma pessoa impecável e que vê as coisas como eu…mas vês agora. E depois? E depois como é que vai ser?
- Eu acredito no amor. Custa-me saber que não acreditas.
- Quem disse que eu não acredito? Acredito e muito. Nada mexe mais comigo do que o amor, nada me move mais. Acredito no amor mais do que em tudo o resto. É o mais importante para mim.
- Então acreditas ou não, afinal? Tu baralhas-me.
- Acreditar no amor é diferente de acreditar nas relações. E nessas já não acredito. Nos moldes como quero e sempre quis uma, já não acredito. Desculpa, tinha-te dito que não me sinto preparado para confiar em ninguém. Já não vejo as relações da mesma forma.
- É pena, muita pena que tenhas deixado de acreditar que é possível. Já pensaste que assim poderás estar a deitar fora oportunidades únicas? Vê-se tão bem que queres ser amado. E isso ainda te torna mais… Oh rapaz, tu estás mesmo a mexer comigo.
- Desculpa, desculpa se vieste com uma esperança e eu a deitei abaixo.
- Não tens culpa nenhuma. Tu já me tinhas dito. Eu é que te tenho aqui mesmo ao lado, ponho-me a pensar no que já tanto falámos, olho para ti e… eu já não queria alguém lindo por fora e tu ainda por cima és. Nunca pensei vir a encontrar alguém como tu, nem lá perto, e tu aqui estás. Acredita, eu não digo isto a ninguém. Mas sinto mesmo que tu és…
- Desculpa, para já não dá. Se não me quiseres voltar a ver, entendo. Talvez seja o melhor.
- Achas? Achas que eu vou desistir assim? És um docinho, sabes?
- Só faltava agora ser um biscoitinho.
- E és.
- Não digas isso, a sério, não digas. Tenho que me ir embora. Ainda não fui a casa e os gatos devem estar cheios de fome.
- Mas que disse eu? Vais-te assim embora?
- Não me chames de biscoitinho, nem nada que termine em “inho”, coisas desse género, por favor. Vá, tenho que ir ver dos gatos.
- Desculpa, então.
- Não faz mal, ora! Vá, vou.
- Tens o carro onde? Queres que vá contigo?
- Não, deixa estar. Tudo bem. Depois falamos. Logo, na net, ou assim.
- Ok, pronto. Mas eu vou contigo até ao carro.
Caminharam até ao carro. Um ainda falou algumas coisas. O outro nada disse. Apertaram a mão. Despediram-se até dali a umas horas na net.
Bateu no vidro. O outro abriu-o, já com uma mão no volante.
- Olha, sabes, gosto muito de gatos. Também tenho um.
- Sim, já me tinhas dito.
- É que estava a pensar que era giro a Camila e o…
- Bruno.
- Isso, Bruno…conhecerem o meu puto. Imagina que se davam bem.
- Oooooooo, duvido. Já estou a ver a Camila pior que estragada com o intruso.
- Não duvides. Não deixes de acreditar. Vá, pensa nisso... oh lindo, sem “inho”.

Losing my religion

That's me in the corner
That's me in the spotlight, I'm
Losing my religion
Trying to keep up with you
And I don't know if I can do it
Oh no, I've said too much
I haven't said enough
I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you sing
I think I thought I saw you try

Every whisper
Of every waking hour I'm
Choosing my confessions
Trying to keep an eye on you
Like a hurt lost and blinded fool, fool
Oh no, I've said too much
I set it up

Happy

Should be happy to be loved.

Kill Everything

Não é pelo filme (que não vi), é pela música.

Brazen (weep)

Why don't you weep when i hurt you?

You'll Follow Me Down

...'cause i don't want you to forget me...

Lost

Trashed

Just let the sun

...shine on your face.

Tatuagens

Andava há anos para fazer uma, ou duas, ou três novas tatuagens. Sempre pensou nisso mas nunca as fez. Era preciso dinheiro e, apesar de ser algo para a vida, logo talvez assim não tão caro, a verdade é que era preciso dinheiro. Quanto custa algo que se terá para o sempre? Qual o preço de algo que estará connosco para sempre?
Mas era preciso dinheiro e sempre o aplicou noutras coisas. Coisas do dia-a-dia, necessidades que foram surgindo, vontades que foi tendo, férias, mobílias, coisas. Mas a vontade de tatuagens sempre a teve. Desde pequeno. No penúltimo ano da licenciatura foi fazer a primeira. Tinha 22 anos. Na altura, não tinha por hábito apontar datas de eventos, de acontecimentos, de coisas para si importantes. Hábito que adquiriu anos depois. A tatuagem era o importante, o acontecimento do dia. O dia em que ia fazer algo que sempre quis. O dia em si, a data, um número num calendário, que importância tinha? Na altura, nenhuma. Hoje, gostaria de saber o dia exacto, mas não sabia. Naquela altura ele queria era ter no corpo aquilo que havia desenhado logo à primeira numa folha de papel branca.
Era um dia de sol, um dia de Primavera. Uma ida a Lisboa com o seu irmão, uma ida para uma vinda diferente. Diferente, com um desenho tatuado em si. Um desenho que ele mesmo desenhou. Estava feliz na ida, mais feliz na vinda.
Voltou diferente, claro. O espelho do quarto, que reflectia a novidade na pele, não deixava qualquer espaço para dúvidas. Ali estava ela.
Tinha aquela, adorava-a e sabia que queria outra, ou mesmo outras. Aquela já fazia parte de si, do seu corpo, do seu ser. Era dele, era ele, tal como um braço, uma perna, o cabelo, as unhas. Era dele o desenho, era dele a tinta, era dele o desejo, era dele o sonho, aquilo que ela representava, mais do que aquilo que se via cravado na pele. Uma tatuagem é muito do que isso, sempre achou.
Hoje, mais de dez anos passados, continuava com essa vontade, a de fazer mais tatuagens. E tinha ideias, muitas ideias. Umas da sua cabeça, outras resultantes de pesquisa na Internet. Queria fazer mais uma, ou duas, ou três.
Uns dizem que é loucura, que não faz sentido, que é demais, que uma chega, que mais do que uma é exagero, quanto muito duas, vá lá, três, mas pequeninas. Ele não se importa com isso, com essas opiniões.
A que estava consigo há anos fazia divergir opiniões. Uns achavam-na linda. Outros pediam para mostrar e calavam-se quando a viam, talvez não gostassem mas não queriam dizer, afinal, é uma parte do corpo de alguém e que não se tira como se tira uma blusa. "É chato dizer-se que não se gosta". Sorriam, só isso. Nunca se incomodou com isso.
Quem não gostava dela, sempre fez questão de lhe dizer isso. Ele, fingia que não ligava, que não era uma opinião importante, no fundo, era apenas uma opinião. Mas ligava, ligava e entristecia-o ser quase massacrado com os comentários depreciativos cada vez que se falava em tatuagens, cada vez que a dita estava exposta. Palavras como “feia, horrível, nojenta, horrorosa” começaram a interiorizar-se aos poucos.
Pensou escondê-la, camuflá-la com outra tatuagem. Alguma que tapasse a que sempre o tinha acompanhado. De quando em vez, numa qualquer reunião de trabalho mais aborrecida, lá pegava numa caneta, num lápis e esboçava algo, algo para tapar a sua tatuagem. Esconder aquela coisa, afinal, tão feia. “Ia apagá-la” e contou-o aos que sabia dela não gostarem nem um pouco, a quem a odiava, constantemente depreciava. Mostraram-se contentes, claro. Ele também.
Outra, linda, ia colocar por cima daquela antiga, feia.
É certo que hoje não a faria, hoje não se dirigiria a uma casa especializada e dizendo: “Faça-me esta tatuagem!” Cresceu, mudou de gostos estéticos. Hoje, aquelas que quer fazer, nada têm a ver com aquela que o acompanha há anos. Pensou mesmo “anulá-la”. Queria algo coerente, algo lógico, algo estético no corpo. Não algo que “destoasse” das restantes, acima de tudo, dos seus gostos recentes.
Mas haverá algo mais lógico, mais coerente do que aquilo que somos? O percurso que percorremos? Haverá algo mais ilógico do que tapar em nós algo que fez parte de um passado, logo, de nós? Algo que já foi tão importante, que já o havia feito tão feliz, só porque agora, aos seus olhos, até lhe chegava a não parecer muito bonito? Ele não era assim, ele não conseguia fazer isso. Ele não conseguia anular assim o passado. Podia não ser a ideal, podia não ser representativa do que ele agora é, mas era representativa do seu caminho, do seu percurso, do seu crescimento e aprendizagem. Não há linha evolutiva se esta tiver cortes. Passam a ser traços ilógicos, soltos, num gráfico sem nome. Sim, tornou-se, até talvez, feia, mas dentro de si, para si, por aquilo que representava, era linda! E talvez nenhuma viesse a ter, algum dia, tamanho significado.
Era uma tatuagem, feia ou bonita, estética ou não, era uma tatuagem que sempre o acompanhou praticamente desde que deixou a adolescência, uma tatuagem que, por muito feia que agora possa ser, faz parte da sua vida, da sua escalada à montanha. Uma tatuagem que tem um valor, que marcou um período, que é uma peça na sua história de vida. E esse, é um valor muito maior do que a estética só por si. “Logo, fica!” pensou. Tocou-a com a mão direita e sorriu. “Não te vou tapar. Continuarás aqui e não serás tapada por outra. Há espaço para mais. Cada uma terá o seu lugar, o seu lugar em mim, naquilo que eu sou. E tu foste a primeira. Ficas e para sempre!”
Sentiu-se estúpido por estar a falar com uma tatuagem, como se esta fosse uma pessoa, um animal, quando nem um objecto era. Mas estava a falar com ele mesmo. A ideia de deixar de vê-la ali estava a causar-lhe uma dorzinha lá bem no fundo. Como que um apagar de uma companhia, o anular uma parte de si, um dizer “Adeus” a algo que era seu desde há tanto tempo. E isso, ele tinha muita dificuldade em fazer. Se não o conseguia fazer com as pessoas, também não o conseguia fazer com uma parte de si.
“Gostem, não gostem, adorem, odeiem, comentem, silenciem, concordem ou não…não consigo camuflar o passado, cobri-lo, ignorá-lo, enfeitá-lo com outras supostas realidades, não consigo dizer adeus”.

Front of

Maybe i will find you in another place,
maybe i will find you with somebody else.

Letting the Cables Sleep

Silence is not the way...

Show

Beth Gibbons

Roads

Uma do meu top 10.

Paradise (not for me)

So isso, nada de especial.

Tinha ido comprar comida para os peixes e aproveitou para deambular um bocado pelas ruas de uma cidade à qual tinha voltado. O sol estava forte a fazer necessitar de óculos de sol. Uns óculos escuros que lhe ocupavam grande parte do rosto. Escuros como ele, naquele dia, estava. Escuro, todo de negro vestido, todo, da cabeça aos pés. Já há muito que não se vestia assim todo de preto e adorava. Adorava vestir-se de preto. Contrariamente à maioria das pessoas, não via no preto nada de negativo, pessimista, triste, carregado. O preto sempre foi, para ele, a conjugação de todas as cores. A junção das cores ditas básicas: magenta, azul cião e amarelo. Teoricamente, e em iguais quantidades, dariam o preto. Na prática, um castanho muito escuro. Mas ele queria lá saber disso. Para ele, o preto era o auge das cores. A única peça não preta, aliás, por opisição, branca, eram os fones do seu ipod, onde cantava Dolores O’Riordan, quem, nos últimos dias, tanto ouvia.
Ruas, edifícios, lojas, cafés e pessoas, muitas pessoas aquela hora, muitas pessoas… e ele.

Naquele dia tinha decidido vestir-se com uma miscelânea de cores. Estava sentada com as pernas juntas, sem saber o que fazer às mãos, para onde olhar. Se para o chão, se para aquela sala com aquele cheiro tão típico, se para o homem que, à sua frente, estava de bata branca vestido. Ali estava a querer controlar o corpo, os gestos, quando não conseguia controlar os nervos, a ansiedade.
O homem de branco olhava para o papel que ela lhe tinha levado, para o papel que tinha atirado para cima do sofá dias antes, com aparente indiferença, como se não fosse minimamente importante. Um papel dentro de um envelope que não abriu, não consegui. Era o que mais queria mas, “por vezes, não devemos fazer aquilo que mais se quer”, pensava ela. Tinha medo, sabia-o. Um papel com letras que podiam ditar a sua vida. E agora o homem de branco tinha-o na mão. “Curioso como uma pessoa de branco, uma cor tão angelical, tão alva, tão pura, tão saudável, nos pode tramar”, pensou.
O homem de branco olhou-a nos olhos, como já muitas vezes deve ter feito, desde que de branco se começou a vestir, desde que há muitos anos, se sentava naquela cadeira, naquela sala pequena. Olhou-a, suspirou e falou.

Saiu dali sem ouvir metade. Dirigiu-se ao balcão da rapariga simpática que lhe sorriu e pagou. “Na vida tudo se paga, tudo tem um preço, até para se saber de uma coisa destas. Paguei para vir aqui saber isto!” pensou. Entregou o cartão Multibanco, marcou o código e nem sabe quanto pagou. Naquele momento podiam ser 10, 100 ou 1000 euros. Que importava isso agora? Era dinheiro, só isso.
Desceu as escadas de degraus muito estreitos e desequilibrou-se. Naquela fracção de segundo tinha duas hipóteses: agarrava-se ao corrimão ou deixava-se cair. Agarrou-se. Desceu. Mas não desceu lentamente. Nuns 3 ou 4 degraus nem tocou. Abriu a porta que dava para a rua. Sentiu o ar quente a entrar até aquelas duas paredes que, de tão próximas, tornavam as escadas que tinha descido, tão estreitas.
Estava na rua. Uma rua também estreita onde não passavam carros, somente pessoas. E ali estavam elas. Muitas. Pessoas, lojas, cafés, na base de edifícios antigos, feios. Adolescentes de mochila ao ombro, aos grupinhos, senhores engravatados de barba muito aparada, velhotas com sacos vazios ou já cheios de compras, uma ou outra pessoa com o seu canídeo, enfim…pessoas. Pessoas nas suas vidas. Pessoas que ao fim do dia regressariam a casa para fazer o jantar, para dar banho e de comer aos filhos, para ver as 5 novelas seguidas, para fazer os tpc’s, para estudar, para o que for. Pessoas nas suas vidinhas que consideravam, quase sempre, medíocres. Sabiam lá elas!
Encostou-se à parede velha e descascada, com restos de papéis colados, que ali estava mesmo a pedir as suas costas. Caras tristes, discretas, velhas, novas, frescas, carregadas, divertidas, sorridentes, era o que via. Mas cores, cores era o que mais via. Não as da sua roupa, mas as que giravam à sua volta, ou melhor, andavam da esquerda para a direita e da direita para a esquerda. Cores e cores. A uns metros dela uma cor. Preto. Um homem alto, jovem, vestido de preto. Tanto preto numa só pessoa, quando minutos antes era o branco que cobria toda outra.

“Cinzento, cinzento e mais cinzento”, pensou ele. “Esta cidade é só cinzento. As pessoas são cinzentas, o chão é cinzento, as paredes dos prédios são cinzentas, as ruas são cinzentas, as pessoas são cinzentas.” Tudo assim lhe parecia. Mas a uns metros, encostada a uma parede, com os pés juntos e as mãos atrás do corpo, estava uma panóplia de cores. Aproximou-se, afinal, ficava no seu caminho, disfarçando o olhar em direcção a tanta coloração junto daquela porta. Parou em frente ao corpo coberto de cores e olhou directamente para a mulher jovem. Era uma panóplia de cores nuns olhos escuros, negros, tristes, pesados, muito tristes. Ali, naquele momento sentiu que o preto, afinal, também assim o era.

O homem jovem de preto parou à sua frente e olhou para si. Lançou a mão ao bolso do casaco, tirou um aparelho de música preto, tocou num botão. Ia fala-lhe. Naqueles 4 ou 5 segundos ela pensou: “Afinal a explicação é simples, a vida é simples. Vive-se e pronto.” Olhou para o chão. “Deve conhecer-me, só isso. Não me lembro mas só pode ser isso. Anda, continua a andar, a sério, não quero falar com ninguém. Agora não, por favor. Ande, misture-se nestas cores todas, continue a sua vida” pensou ela.

- Desculpe, está bem?
- Como? Hã!? Ah, sim, sim. Tudo bem.
- Tem a certeza? É que está com uma cara…
- Pois…isto já passa, a sério. Obrigada.
- Peço desculpa, é que olhei para si aqui encostada e achei…achei que não estava bem.
-… Vou, eu vou, eu…soube agora que estou a morrer, só isso, nada de especial.

X-Static Process

Amostra de uma exposição que teve em várias capitais do mundo.

Promise To Try

Are You Listening?

Não consigo deixar de ouvir este álbum. Se não gostasse já tanto dela de outros tempos, passaria a gostar, certamente.

Ordinary Day

She's back!!! I adore this woman.

A casa, o sexo e a cidade.

Tomou um banho rápido. Vestiu qualquer coisa e saiu de casa, sem antes dar de comer à Camila e ao Bruno. Ia conhecer a casa do irmão. Contrariamente ao que o irmão alguma vez supôs, este tinha comprado uma casa. Contratado, a pagar mota e carro, nunca pensou, mas tinha conseguido. Estava feliz pelo irmão. Um irmão tão diferente e distante e, ao mesmo tempo, tão semelhante e próximo. Era sempre estranho estarem juntos, mas sentia que se adoravam. Há anos e anos que cumprimentava o "puto" com um "Olá, tudo bem?". Há anos e anos que já não davam dois beijinhos na cara. Mas um aperto de mão era estranho entre os dois. Esboçavam um sorriso sentido e diziam qualquer coisa, pouco mais que isso. Mantinham uma certa distância no que concerne ao toque e isso, era estranho.
Os pais estavam contentes porque o filho mais novo tinha conseguido uma óptima casa, grande, espaçosa, ali perto deles, mas com alguma tristeza notória porque era o segundo filho que deixava de viver no bairro, ali tão perto do seu campo de visão, ali tão perto das saias da mãe.
Chegou a casa dos pais. O pai preparava-se para assistir a uma tourada na tv. Lá discutiram aquilo. Para ele, um espectáculo inadmissível. O pai com argumentos quase tão inadmissíveis. "As vacas leiteiras são para dar leite, os bois para puxar e os touros são para isto. É assim a vida!" Simples. Pensou: "Que pais estes! Tão diferentes de mim. Mais do que simples, são básicos, limitados." Em tempos, por vezes, chegou a ter ódio por isso, por ter uns pais tão campónios. Agora não. Eram assim, pronto. Não iriam mudar, ultrapassanda a casa dos 60. Além disso, porquê insistir em querer mudar as pessoas? Porquê desgastar-se com argumentos, justificações que sempre levavam a discussões, algumas que deixaram marcas que preferia não recordar. Eram os seus pais, amava-os e até tinha uma grande admiração por eles.
"Aquela mãe merecia uma estátua", pensava nisso tantas vezes. Por tudo, merecia. Viveu sempre em função dos outros, para os outros, a pensar no bem-estar dos outros. Fez tanto sem nunca ter obrigação. Nunca se preocupou com ela. A paga? Hoje parece uma mulher velha, desgastada, numa casa onde sempre viveu e de onde quase nunca saiu. Um esgotamento seguido de uma depressão pofunda que a acompanha há dois anos. Hoje está melhor. "A ver vamos com esta mudança de casa do irmão", pensou. Será que um dia se encontraria assim, até acabaria assim? Será que um dia estaria numa cama deitado, dias e dias, semanas e semanas a fio, no escuro, sem forças para sequer se mover, sem forças para falar, várias vezes sem sequer os filhos conhecer? Não. Não chegaria a tal. Tudo iria fazer para não chegar a tal. Além de que seria pior. Não tinha filhos e, muito provavelmente, estaria sozinho. Sem um companheiro ali ao lado, juntinho, nem que fosse para refilar. Sorriu. Ao menos o pai tinha aprendido a usar o fogão da cozinha.
Sentado no sofá, olhou para aquela mulher. Os olhos da sua mãe transmitiam: "os meus meninos, agora os dois, já aqui não estão comigo."
"Vá, mãe vamos a a casa do mano. Tu vens comigo e pronto, nada de coisas. Vens." Lá foram. O pai ficou a ver aquele espectáculo deprimente na tv.
A casa do irmão. Uma óptima casa, pensou e disse. Estava feliz pelo irmão. O irmão feliz pela sua opinião. A mãe mais feliz ainda. Antes, logo à entrada, a cadela mordeu na dona, a companheira de anos e anos do irmão. A sua primeira namorada a sério. E ele o dela. Desde miúdos. Sempre achou aquilo bonito, muito bonito.
A cadela, mínima, mordeu na dona que a segurava ao colo, para não morder na mãe dele, que sempre insistia em chegar-se à bicha, uma autêntica fera potectora dos seus mais que tudo, os donos. Sentiu-se feliz pelo casal, pelo irmão, mas sentiu-se sozinho, ao mesmo tempo.
A casa estava numa balbúrdia. Caixas, caixotes, panos, tecidos, móveis montados, outros à espera de montagem...o normal nas mudanças. Entraram no quarto do casal. A cama estava cheia de gente sentada. Amigos, mãe da companheira do irmão, a cadela sempre a rosnar e uma bebé. Novo tijolo a acrescentar ao seu muro de tristeza. Tantos amigos para ajudar. E ele que há meses, às vezes pareciam dias, se mudou sozinho, sem quaiquer ajudas. Noites e noites seguidas a tirar coisas do lugar, a encaixotar, a descer um prédio, a colocar no carro, a viajar sozinho numa autoestrada quase deserta, 3 a 4 viagens por noite, até ao sol nascer, altura em que ia para o trabalho. A tirar do carro, a subir o elevador, a colocar numa casa que já não sentia ser sua. Uma casa para a qual não queria voltar. Deixar uma casa que amava, que era o seu ninho. Noites e noites em que se sentiu um actor numa peça deprimente, triste. Aquilo que chorou durante todas aquelas noites. Ainda hoje não sabe como não teve nenhum acidente com o carro.
O irmão, esse, estava feliz. Tinha ali uma casa sonhada, a companheira que amava, a sua cadelita terrível, parte da familia e amigos. As mudanças de casa podem ser tão diferentes umas das outras, de facto.
Quando entrou no quarto lá estavam todos. A mãe da companheira do irmão levantou-se, deu-lhe dois beijinhos em forma de cumprimento e disse para a sua mãe: "Deixe-me dizer-lhe isto, já estava para lhe dizer desde a última vez que o vi. Mas que rapaz tão bonito que você aqui tem. Abençoado!" Abençoado? Ele? Não sabia se havia de rir ou dizer à senhora: "Cale-se, sabe lá o que está a dizer! Abençoado porquê, senhora?"
A cadela, que saltava constantemente para cima da enorme cama, rosnava a toda a gente, a ele não. Talvez pelas enormes parecenças com o irmão, seu dono, talvez porque nunca a chateou, como toda a gente fazia, não sabia.
A bebé, sentada em cima da cama, com um sorriso de felicidade extrema a esbracejar imenso, estendeu-lhe os braços assim que ele se aproximou. A mãe da menina exclamou: "Estranho, que giro, ela nunca faz isto a ninguém, fica sempre um bocado assustada com gente que não conheçe! Você vai dar um bom pai!" E pronto, o murro viu-se construído até quase ao tecto. De repente, dezenas de tijolos, em segundos, menos que isso, se amontaram e lhe pesaram a alma. Ele que sempre quis ser pai. Ele que já se havia quase convencido de que não o iria ser. Ele que preferia nem pensar nisso. Ele que já tinha nomes para os filhos. E ali estava a sorrir para uma menina tão pequenina que lhe estendia os braços. Não lhe pegou. Sabia que o mais certo era cair no chão ou deixar-se levar pelas lágrimas que lhe espreitavam nos olhos. Disfarçou e foi ver o wc da chamada suite. Até se vir embora não olhou mais para a bebé.
Despediu-se e saiu com a mãe.
- É uma boa casa, não é filho?
- É óptima, mãe, óptima. Eles fizeram muito boa compra.
- Pois foi. Agora estão vocês dois com a vida organizada e felizes, isso é o que me importa. eu quero é os meus filhos felizes e com saúde.
- Sim, estamos felizes e com saúde, não te preocupes.
A mãe sorriu. Ele também. Um dos dois sorrisos não era assim tão sentido.
Deixou a mãe em casa. O pai continuava a ver aquela porcaria na tv. Já um animal todo espetado se esvaía em sangue com uns paus cheios de cores a abanar no seu dorço já todo vermelho. As pessoas batiam palmas. Será que as pessoas gostam assim tanto do sofrimento alheio? Será que lhes dá mesmo prazer? Será que noutras situações, em que um animal irracional não está envolvido batem palmas interiores? Será que a infelicidade dos outros as faz sentirem-se menos infelizes?
Trocaram umas palavras sobre a casa e ele voltou para a sua.
Comprou tabaco. O café estava quase cheio de homens. Todos a ver a dita tourada em Elvas. Saiu o mais rapidamente que conseguiu. Subiu o elevador. Abriu a porta e entou em casa.
O Bruno e a Camila ali estavam. Ela com as suas miadas habituais, a espreguiçar-se com as patas dianteiras contra a parede. Ele com aquele ar querido que só dá vontade de agarrá-lo, apertá-lo e beijá-lo. Foi o que fez. Eram os seus bebés. Era uma parte da sua familia, aqueles que ali estavam sempre. Chorou com o pêlo branco encostado ao rosto e com pêlo azul-cinza a roçar-se nas calças. Eram a sua companhia, eram os seus meninos. Ainda assim sentia-se sozinho.
Despiu-se, atirou a roupa para o chão. Estendeu-se no sofá, acendeu um cigarro e preparou-se para começar a ver dvd's das 4 solteironas do "Sexo e a Cidade" e as suas aventuras com os homens, a suas buscas para encontrar um companheiro. Não era só ele que estava sozinho e isso, dava-lhe, de alguma forma, que até considerava parva e infantil, um certo conforto. A Camila deitou-se em cima do aquário, o Bruno junto ao seu peito.
E quando se achou mais descontraído e até relaxado, porque afinal, estando sozinho, podia fazer o que quisesse, podia ouvir a música que quisesse, comer o que quisesse, ver na tv ou no leitor de dvd o que quisesse, apercebeu-se que se tinha esquecido de uma parte importante: naquele episódio, e nos antecedentes, uma das moças estava noiva, outra vivia com um companheiro, tinha um cão e um gato e pensava ter um filho, outra procurava um homem rico e a outra tinha um namorado, além de que o seu "ex" queria separar-se da mulher para ficar com ela. "Porra", pensou.
Levantou-se e dirigiu-se à cozinha para preparar um capuccino.
Não vivia em Nova Iorque, não tinha um grupinho de amigos com quem estar todos os dias, não tinha um emprego que lhe desse muito dinheiro, não vestia Prada, Gucci e merdas que tais, não tinha mil eventos semanalmente, não achava as pessoas assim tão interessantes, não tinha um filho e estava sozinho.
Ao deitar água a ferver na caneca, pensou: "E agora? Já vivi o que a maioria das pessoas quer viver, já tive o que a maioria das pessoas quer ter. Já senti o que a maioria das pessoas talvez nunca tenha sentido. Ainda sou novo e já tive o que aquelas mulheres tanto querem ter, série após série... tanto procuram e eu nunca procurei, nunca desesperei para ter. Eu já tive, já vivi, já senti e já sei o que é. Talvez seja um sortudo! Serei?"
Pegou na caneca, dirigiu-se para a sala, estendeu-se no sofá novamente e teve pena daquelas 4 criaturas, enquanto ele próprio sentia uma profunda tristeza dentro de si.
Acendeu mais um cigarro e ali ficou horas e horas como se aquelas mulheres fossem suas amigas.

Ferrari Vermelho

3.46h
Entram no carro. Batem com as portas. A roupa que vestem pouco ou nada tem a ver com o aspecto do automóvel já velho que ele comprou em 4ª mão. Mas era um sonho dele. Não era carro que comprasse hoje. Não gostava do modelo, da cor, nem sequer da marca. O emprego permitia-o a outros luxos. Ainda assim, comprou-o havia 2 anos. Sentia um enorme carinho por ele. Não o largava por nada, quer fosse para se deslocar para o trabalho, quer fosse para passear os cães ao fim-de-semana, fosse para onde fosse num raio de mais de 300 metros.
Comprou-o porque era o carro que mais o fascinava naquela colecção de cromos que quase completou quando tinha 8 anos. Dizia ao avô que tinha comprado um gelado mas, em vez disso, lá ia à papelaria da Dona Amélia adquirir mais uma carteirinha, na esperança de que o Ferrari Testarrossa vermelho lhe saltasse à vista assim que puxasse o conjunto de 3 cromos para fora, quase sempre ainda sem ter recebi o troco. Nunca saltou. E faltava esse para completar a caderneta. Caderneta essa que o Ruca, um dos 2 Fox Terrier, em pequeno tinha encontrado e devorado de fio a pavio. Nesse dia sentiu-se capaz de atirar o estupor do cão pela varanda. Chegar a casa e tudo mastigado e estraçalhado espalhado pelo chão de todas as divisões.
Este carro, onde agora já se deslocava com ela, era aquele para o qual, aos 8 anos, olhava uns minutos antes de apagar a luz da mesa de cabeceira. "Um dia vou um carro destes, exactamente igual a este". Queria um carro daqueles, pronto. E hoje, 19 anos passados, tinha.
- Não me interessa, a sério, não quero saber!
- Desculpa, eu é que não quero saber, 'tás parvo ou quê?
- Sim, já sei que sou parvo, whatever!
- Sim, és parvo, não és parvo mas, às vezes, és e muito. E hoje foste, fica a saber.
- Sim, já sei...sim, ok, fico a saber. E agora, que queres que eu faça?
- Nada, não faças nada, pra variar.
- "Pra variar" digo eu. É sempre a mesma coisa.
- ...
- Tens de ver que eu...
- Não, tou farta, a sério, tou farta. Não digas nada.
- Ok, não digo nada.
- Eu ali sentada o tempo todo e tu a ignorares-me completamente, achas normal? Porra, estamos juntos há anos mas isso não é motivo para eu deixar de existir, ou é? Às vezes pareces mesmo um miúdo estúpido, tens noção disso?
- Oh, por amor de Deus, que exagero. Tu é que não entraste na conversa.
- Conversa? Chamas aquilo conversa? Só disparates pegados. Só a dizerem mal dos colegas todos como se vocês fossem superiores a toda a gente. Tens noção das coisas que disseram? Da forma como se comportaram? Ia eu entrar naquilo? E estou para ver se a polícia nos manda parar, quero só ver o balão.
- Eu não estou com os copos!
- Não!? Ainda mais triste é. Fazeres aquela figura e não estares com os copos!? Só faltou roçares-te ainda mais na parva da Carolina.
- Roçar-me em quem? Oh, por amor de Deus! E que mal tinha se o fizesse? O que é que isso tem a ver connosco?
- Somos casados, só isso. Se achas que isso não é nada, então desculpa, não percebi. Já podias ter dito, não?
- Que exagero! És mesmo exagerada, tu. Que mal tem uns abracinhos e assim?
- Que mal tem?
O carro, de um amarelo acastanhado, cor que ela odiava, parava em todos os vermelhos. Pareciam que faziam de propósito em aparecer-lhes à frente só para demorarem tempo a chegar a casa. Estava desejosa por chegar, pegar nos cães e ir passeá-los. Sair de perto dele. Desaparecer. Queria estar sozinha... e nunca mais chegavam.
Fez-se silêncio. No rádio passava uma ópera de Strauss mas nas duas cabeças imperava o silêncio, um silêncio constrangedor.
Passaram 10 minutos. Minutos que pareceram intermináveis. O silêncio continuava e tornava-se cada vez mais claustrofóbico.
Ele olhava em frente com uma mão no volante e a outra na perna. Queria mostrar-se descontraído. A cada sinal vermelho olhava para os nomes iluminados das lojas, sem prestar atenção a nenhum, mas querendo mostrar-se muito interessado. Queria mostrar qualquer coisa. Ela, com o cotovelo apoiado na porta e a mão fechada a apoiar o queixo, nunca desviou o olhar da rua. Nada via. Só não queria olhar para ele.
O Ford voltou a arrancar. Depois da 1ª, da 2ª, da 3ª e finalmente da 4ª, aproveitando estar com a mão ali tão perto, pôs a mão na perna dela. Ela mal se mexeu. Apenas um rápido mas brusco impulso muscular que odiou por não ter conseguido controlar. Ele arrasto a sua mão até à dela, colocando a sua por cima.
- Olha a estrada, vê lá se nos matas aos dois. Olha, menos mau. Era um descanço, se calhar.
- Parva. És mesmo estúpida às vezes, tu também.
- Ai eu é que sou estúpida? Nem vou comentar isso. Depois de tudo, eu é que ainda sou estúpida. Pois, de facto, sou mesmo e muito. Estou farta!
- Dá-me a mão.
- Para quê? Fazes porcaria e depois queres que te dê a mão?
- Dá-me a mão.
- És sempre o mesmo com isso do dar-te a mão.
- Sabes porquê?
- Vá, diz lá: Porque queres ficar bem comigo, porque queres fazer as pazes, porque me amas e mais não sei quê. Já 'tou haituada ao discurso.
- Dá-me a mão.
- Irra, que é chato, este gajo!
- Sou. Dá-me a mão.
- Mas porquê, já agora. Tenho razão, não tenho. É por isso, não é?
- É. Não... É porque tenho tanto medo de te perder e quando penso nisso...
- Oh please!
- Quando agora falaste de me espetar com o carro, imaginei que morrias e amanhã acordava sem ti, sem estares mais na minha vida, a meu lado...
- E? Na volta até eras mais feliz, ora! Vias-te livre de mim. Assim, tu e a Carolinhinha já podiam ficar juntinhos, lindinhos da vida. Já viste a sorte que tinhas? Perdias era o teu lindo carro, todo espatifado. Isso sim, era importante.
- Pára... e... e quero dar-te a mão para sentir que estás aqui, para saberes que estou aqui, para que se amanhã morreres eu não me arrepender de não te ter dado a mão.
- Que coisa mais parva! Qual morrer, qual quê!? Pronto, toma lá a mão! Dizes coisas tão parvas. Isso não lembra a ninguém.
- Então porque é que é essa lagriminha no canto do olho?
- ...
- Diz lá, vá.
- Olha, porque estou farta deste carro velho que é um desconforto. Uma viagem mínima e sem importância e já me dói a coluna. Quem é que já usa k7's? Quero que compres um carro novo já que insistes tanto que juntos temos que andar nesta carroça e deixe sempre o meu na garagem.
- (Risos) És mesmo... Pronto, ok, eu compro um Ferrari vermelhão, por exemplo. Que tal? Queres mais piroso? Assim completo a colecção. (Risos)
- Qual colecção?
- Não sabes?
- Sei.
4.15h

Bigger Side

You're moving on,
you're going to a bigger world
You're moving on,
you're ready for the universe.
It's meaningless to me,
'cause you're not here to see
the bigger side of me.

You're moving on to God know's where
Send me a postcard when you're there
Will i remember? What would i say?
"The wheather is nice today".

The Power Of Good-Bye

For those who think She sucks.

Haunted Home

Sente-se, guarda-se, não se comenta.

Bittersweet

Para a minha Malinha Alentejana que não estava lá em Setembro de 2004.

Somebody

Depeche Mode

Lithium

The Blower's Daughter

And so it is...

Winter

To my friend EB

"All the white horses are still in bed..."

Foolish Games

Jewel singing a jewel

No Need to Argue

...and i remember all the things we once shared.

In a New York hotel room

Can you help me find my way... (Anouk)

Paradise [Not For Me]

I've been so high
I've been so down

When a boy loves...

Two Beds and a Coffee Machine

Savage Garden

Nobody's Home

Para a minha Sister B.

Dixie Chicks-You Were Mine

Encontrei esta música por acaso. É lamechas mas acho-a bonita.

Anouk - Michel 14-05-2007

It's been nine years since that kiss...

Antony And The Johnsons - The Lake

Não era, não é, nunca foi.

Estava irritado. Estava irritado com o Eurofestival da Canção e sentia-se estúpido por isso. Afinal, porque é que aquilo era assim tão importante? É um festival. Os países da Europa de Leste votam uns nos outros. É assim há anos. That´s all! Mas estava irritado. Talvez porque a música fosse algo tão importante para si. Das coisas mais importantes, sempre o disse. Com a música sorria, ria, chorava, arrepiava, cantava... a música fazia-o sentir-se livre, preso, sensual, sexual, altivo, construtivo, destrutivo. A música feria-o. A música fazia-o chegar às nuvens. A música fazia-o sentir. E sentir era o que ele mais queria na vida.
Em tempos, chegou a sentir que a música era o mais importante da sua vida. Não era, não é, nunca foi. O amor, esse sim, é aquilo que mais ama.
Saiu de casa. Desceu o prédio por um elevador com intenso cheiro a cão. Aquele cheiro que lhe chega a dar vómitos. Algum vizinho tinha ido passear o animal. No 3º andar entrou uma rapariga. Baixa, franzina, cabelo encaracolado solto, rosto pintado de forma exagerada (ia sair à noite, claro). Apeteceu-lhe perguntar: "Não acha incrível a posição em que ficou a canção alemã? Como é que a Hungara não ficou nas 3 primeiras?" Em vez disso sorriu, a rapariga fez o mesmo.
Lembrou-se da canção das raparigas russas. Pegou no ipod, seleccionou a dita cuja e, já a caminho do carro, sentia-se snob, altivo, estiloso como que a desfilar pela praceta. O ventinho na cara vinha mesmo a calhar. Sentiu-se no video perfeito para o momento.
Entrou no carro e, mal se sentou, uma mensagem no telemóvel. Leu, respondeu. Arrancou. Outra. Leu e voltou a responder. Queria transmitir calma ao outro lado, um certo desinteresse, até. Mas não era assim que se sentia. A mensagem corroeu-o por dentro. Um aperto rondou-lhe o estômago. Tentou desviar a sua atenção, desinteressar-se pelo escrito e por aquilo que já lhe estava a moer a cabeça. Era sábado. Era noite. A noite esperava por ele.
Voltou a activar a música russa, desta vez, no máximo. Sabia que conduzir com fones nos ouvidos era proíbido, mas o rádio do carro há muito que não funcionava, portanto, paciência.
Dirigiu-se à capital. Guardou o telemóvel na mala, com medo não sabia bem de quê. Acende um cigarro. Minutos depois pega no objecto e...uma chamada não atendida. O aperto agarrou no estômago, não lhe chegou a aproximação ao órgão. Agarrou-o mesmo.
Durante todo o caminho o ipod continuou a fazer aquilo para o qual foi criado. Música, música e música. Mas essa tinha passado para segundo plano. Já nem sabia muito bem o que estava a tocar. Era uma qualquer do Eurofestival. E outra. E outra. Era o telemóvel o objecto para o qual mais olhava, o objecto que mais importava ali. A luz emanada que, a qualquer momento, podia acender no carro escuro.
Estacionou no primeiro lugar que encontrou. Pegou no telemóvel para ligar a quem lhe havia ligado. No exacto momento o telemóvel começou a tocar. Olhou-o. Atendeu. A chamada caiu. Rede mínima, bateria também. Ligou ele. Barulhos, ruídos e nada. O aparelho desligou de vez. Não conseguiu voltar a ligá-lo.
"E agora?" pensou. Podia voltar a ouvir música. Mas não o fez. Na sua alma, o toque do telemóvel tinha-se sobreposto ao que, há muitos anos, achou ser o mais importante da sua vida, a música. Não era, não é, nunca foi.

Ridiculous Thoughts

You're gonna have to hold on...

"X-Static Process"

I'm not myself when you're around
I'm not myself standing in a crowd
I'm not myself and I don't know how
I'm not myself, myself right now

Jesus Christ will you look at me
Don't know who I'm supposed to be
Don't really know if I should give a damn
When you're around, I don't know who I am

I'm not myself when you go quiet
I'm not myself alone at night
I'm not myself, don't know who to call
I'm not myself at all

I always wished that I could find someone as beautiful as you
But in the process I forgot that I was special too

I'm not myself when you're around
I'm not myself when you go quiet
I'm not myself all alone at night
I'm not myself standing in a crowd
I'm not myself and I don't know how
I'm not myself, myself right now
Don't know what I believe

I always wished that I could find someone as beautiful as you
But in the process I forgot that I was special too
I always wished that I could find someone as talented as you
But in the process I forgot that I was just as good as you

(Madonna)

Este lobo não é mau, não senhor.




“Não sei bem quem sou, mas isso interessa? Angustia-me mas também adoro a ideia de acordar com vontade de morrer e, à hora de almoço já estar a explodir de alegria por uma coisa qualquer. Logo a seguir entrar em depressão e deitar-me a chorar. É assim que vivo, é isso que escrevo, é isso que é a minha música.”


Tem 23 anos e já fez o que fez. 3 álbuns notáveis (do primeiro, "Lycanthropy" ainda só consegui ouvir 2 faixas mas, tendo em conta o que ouvi, não acredito que seja abaixo desse adjectivo). Os dois outros ("Wind in the wires" e "The Magic Position") não consigo parar de ouvir. A cada momento se descobre uma nova cor numa paleta que não parece ter fim. É pop, é electro, é elastic, é romântico, é cru, é cruel, é frio, é quente, é tanto de tanto ali condensado. Ouço e quero mais.
Patrick Wolf, para muitos um absoluto desconhecido (tal como para mim até há pouco tempo), para outros já faz parte do top de escolhas. Agrada sobremaneira aos ditos ouvidos alternativos e agrada aos que preferem o divulgado comercial. A crítica tece-lhe os maiores elogios possíveis, outros cantores o fazem também. Mika, o menino que agora todos ouvem, considera-o um génio e Madonna já disse que está de olho nele. Eu, cada vez mais.
O Irlandês, ou Inglês (cada artigo lido garante a proveniência do cantor) deu no mês passado um concerto no Lux. Quase me mordo por não ter ido. Não fui porque não sabia. Que ódio! Mas foi o primeiro de dois concertos em Portugal, em promoção do novo "The Magic Position". No Verão estará no Festival Sudoeste. Aí vou nem que a vaca tussa. Ele e Mika no mesmo dia? Vou e vou, oh se vou.
Apesar de ser ainda um outsider nos tops de vendas internacionais (onde predominam e já não se aguentam as Shakiras, as Belhoncés e as parvinhas Furtadas. A sério, já me metem raiva!), à excepção do Reino Unido e seu país natal, o moço caminha para o estrelato. Se faz por isso ou não, só ele saberá. Não interessa! Ele merece que o conheçam, que o ouçam, que o vejam e, acima de tudo, que o sintam.
A voz é marcante, as letras são marcantes, as melodias são marcantes, os arranjos são marcantes, a figura é marcante. O visual é londrino, um londrino punk, pop com misturas, por vezes, de uma aristocracia de outras épocas. Já lhe chamaram o Jean Paul Gaultier da música. Seja Gaultier, seja Galliano, seja Westwood ou uma mistura dos 3, não se fica indiferente ao look do rapaz. Extravagante, algo infantil e, ao mesmo tempo, libidinoso. Androginia, acima de tudo, e com tudo o que ela pode contemplar.
À chegada a Portugal, Wolf não se atrapalhou com o facto de o aeroporto lhe ter perdido as malas e dirigiu-se à loja “Pinkie” (loja de roupas ditas para miúdas adolescentes) para comprar a vestimenta a usar em palco. Isto leva-nos a referiar a sexualidade do moço (já também tão questionada nas parangonas dos media) e, relativamente isso, Wolf diz: “Aren’t gay people supposed to be gay (happy). Well, I’m too depressed to be gay, then. In the same way, i don’t know if my sixth album is going to be a death-metal record or children’s pop, i don’t know whether i’m destined to live my life with a horse, a woman or a man. It makes life easier." E, de facto, isso importa? É para criar dúvidas? É para que se fale dele? Não importa. Porquê perder tempo com isso?!
Vamos ao que, efectivamente, interessa.
Quando ouvi e vi, pela primeira vez, o “menino com voz de adulto” no vídeo que dá título ao mais recente álbum, vi logo que havia ali qualidade, muita qualidade. Mas quantos não conseguem só um tema excelente e depois, ao ouvir-se o resto da obra, se fica a pensar: “Porquê?” Não foi o caso. Apaixonei-me pelo “Magpie”, sem saber que é para ele o seu “pássaro preferido”, com o qual gosta de terminar os seus voos em palco. Simples, ele ao piano, com a bênção de Marianne Faithfull em fundo. A intensidade do tema é arrebatadora (já coloquei a letra aqui num post). O álbum é arrebatador, sem dúvida, unanimemente pela crítica considerado sério candidato ao melhor álbum do ano. E merece!
Cantamos, silenciamos, sussurramos, pulamos, batemos palmas, batemos pés, choramos, sorrimos e dançamos (como não dançar ao ouvir o genial "The Libertine" do segundo álbum? Há ali de tudo em 4.23 minutos).
Segundo o próprio, compôs já material suficiente para produzir mais dois álbuns. “Um deles será orquestral: extremamente bonito e uma celebração às neuroses e esgotamentos psicológicos. O outro será duro e tecno e quase que death metal." A coisa promete! Até lá, ouvirei a "posição" deste rapaz que é, sem dúvida, "mágica".

“Para mim dizer que ia desistir da música seria como dizer que ia cometer suicídio. É a coisa mais extrema que poderia acontecer na minha vida.”
Então que os extremos do lobo se fiquem pela música!

American Doll Tori


Já muito se disse, escreveu e pensou sobre Tori Amos. Grande crítica da sociedade americana, dificilmente se cala. Tem sempre algo a dizer, e ainda bem. Eu quero ouvi-la. Quero ouvir aquelas frases simples mas que tanto dizem e nos fazem pensar. Se há génios na música, ela faz parte da lista e com o nome escrito a "bold".
Eu considero-a um génio, ou melhor... génios. É das minhas compositoras preferidas. Ainda hoje me arrepio a ouvir vários temas, aquele piano, aquela voz, aquela raiva, tristeza, dor, melancolia que coabita com uma certa frieza. "Gold Dust" é o meu tema preferido. É de uma beleza indescritível. "Sights and sounds pull me back down another year, i wa..........s here, i was here." Que adjectivo se dá a alguém que compõe um tema assim?
Quem mais faz covers como ela? Quem consegue tornar suportável, até bonito, o "Can't get you out of my head" da Kylie Minogue?
Já aí está o novo álbum: "American Doll Posse". Ainda não ouvi. Um amigo, fã incondicional de miss Amos, atribui-lhe 9,85 pontos, numa escala de 0 a 10. A ver vou.
Segundo li é um álbum quase experimental, estranho, a rondar o esquizofrénico. Sim, Amos não se conforma e não se conforta. Onde esteve mais perto desse conforto talvez tenha sido no anterior "The Beekeeper" (quanto a mim o menos excelente dos seus trabalhos). Neste trabalho criou 5 diferentes personagens (daí considerá-la génios, mais do que génio), cada uma (com vida própria, com profissões, opiniões, personalidades, visuais particulares) canta uns quantos temas. Tori levou-o tão a sério que, cada uma delas, tem um site ou um blog a seu cargo. Neste álbum chega ao cúmulo de arranjar um dueto entre duas destas mulheres.
"Big Wheel", o single já disponível, é de loucos! Estranha-se e, ao mesmo tempo, é tão Tori. O video é fabuloso. A letra tem pérolas do género: "So, you are a superstar, get of the cross we need the wood".
Quem já ouviu diz que o álbum é uma autêntica provocação. Custa a entrar mas depois entra e entra muito bem. É para se ouvir lentamente, ir ouvindo, não para ouvir e descartar.
Muito tenho lido sobre o excesso de guitarradas a sobreporem-se ao piano. Excesso para uns, claro. Para outros o entendimento é bem diferente.
Quer seja soberbo, irritante, pouco audível, excessivo, barulhento, muito diferente... cá estarei para ouvir com toda a atenção que esta senhora me merece.
Se for mais do mesmo...então, viva, que seja. Será um prazer, certamente.

Then again...

O corpo é um escravo dos seus impulsos. Mas aquilo que nos torna humanos é, muitas vezes, aquilo que nós conseguimos controlar.
Depois da tempestade, depois da pressa, depois do calor do momento ter passado, nós conseguimos relaxar, acalmar e limpar o lixo que fizémos.
"We can try to let go of what was. Then again..."

If i did...

- If i did die today, i'd only be remembered as... as what? Well... who will remember me, and for what? Probably i'd die as the guy who couldn't make choices, right?

- Probably. But none of that matters, because you'll be dead.

Commitments

There are times when even the best of us have trouble with commitment, and we may be surprised at the commitments we're willing to let slip out of our grasp. Commitments are complicated. We may surprise ourselves by the commitments we're willing to make, true commitment, takes effort, and sacrifice. Which is why sometimes, we have to learn the hard way, to choose our commitments very carefully. Can we do that?

Disappearances

If something that we didn’t know we had disappears... do we miss it?

Moments

- I was swimming. I was fighting. Then I thought, just for a second, I thought: "What’s the point?" And then I let go. I stopped fighting. Don’t tell anybody.
- Okay.
- And you...how are you doing?
- Sometimes we’d be at the same place, at exactly the same time, and I can almost hear his voice. It’s like I’m touching him. I like to believe he knows I’m there. That’s all you get. That’s it. Moments with the people you love. And they’ll move on and you’ll want the moments to move on, cause it's good, but it hurts. Well, that’s all you get. Moments.

Deal with it!

People have scars. In all sorts of unexpected places. Like secret roadmaps of their personal histories. Diagrams of all their old wounds. Most of our wounds heal, leaving nothing behind but a scar. But some of them don't. Some wounds we carry with us everywhere and though the cut's long gone, the pain still lingers. So, we just deal with it!

Over and Over and Over...

O que é que é pior, novas feridas, que são tão profundas e terrivelmente dolorosas, ou feridas menos recentes que já deveriam ter sarado mas que não sararam? Muitas ainda nem cicatrizaram.
Talvez as nossas feridas nos ensinem algo. Relembram-nos onde estivémos, com quem estivémos, como estivémos, como foi, o que sentimos, o que vivemos e naquilo em que nos tornámos, quem somos hoje.
Ensinam-nos lições acerca daquilo que devemos evitar agora e no futuro.
Isto é aquilo que gostamos de pensar e no qual queremos acreditar. Mas não é bem assim, pois não?
Há coisas que temos de aprender over and over and over again.

Planos

O problema de fazer planos é esse mesmo, um problema de planos. Nunca contamos com o inesperado, nunca sabemos bem o que nos espera. A meio caminho há sempre que improvisar. Claro que uns de nós são melhores nisso do que outros. Alguns de nós têm que mudar para o plano B e fazer e melhor possível.
Por vezes aquilo que mais queremos é exactamente aquilo de que precisamos. Mas, por vezes, por vezes, aquilo de que precisamos é de um novo plano.

history

Some people believe that without history, our lives amount to nothing. At some point we all have to choose: do we fall back on what we know, or do we step forward to something new? It's hard not to be haunted by our past. Our history is what shapes us... what guides us. Our history resurfaces time after time, after time. So we have to remember sometimes the most important history is the history we’re making today.

How much, then?

- I was a jerk. Sometimes boyfriends can be jerks, but it doesn't mean you stop talking to them... You get that i'm saying i'm sorry, right?
- You yelled at me, yelled at me with a knife, did you know that? You couldn't do that, just couldn't. And then i walked away... and then you walked away... And now you show up here. Stop, please, stop.
- Of course i showed up. Why wouldn't i? You don't trust me?
- No.
- Have i ever told you that i love you?
- No.
- I do.
- Do you?
- Trust me, i do. Don't you feel that i do?
- A little bit, i suppose.
- No, not a little bit.
- How much, then?
- Forever.
- ...
- Always.

No big deal

- You're watching me sleep again?

- You're cute when you sleep. What can I say?

- Cute? Please! But don't you sleep? Why do you do that? It's 6 AM.

- Well... I'm a light sleeper. It's no big deal.

- So something woke you up?

- It's no big deal.

Morning Breath

K: Do you know what's not charming?
D: What?
K: Your morning breath.
D: Sorry, what?
K: I'm just saying that if you're always up before me, you might consider brushing your teeth.
D: [laughs] Okay. This is me brushing my teeth.
K: Thank you.

Aqui dentro.

- Este dia foi uma valente bosta!

- Porque dizes isso? Não gostaste? Eu gostei.

- É que... é que se passa qualquer coisa comigo, não sei bem. Tento perguntar-me o que se passa de errado e ele não diz nada.

- Ele? Ele quem?

- Ele tenta afundar-se e não sei porquê.

- Mas ele quem?

- Não é bem afundar-se... passa-se alguma coisa mas ele não diz nada. Confunde-me. É uma bosta! Num momento estamos bem, e agora isto... noutro momento já não o entendo, já não me entendo.

- Mas ele quem, porra?

- Ele. Aqui dentro. Eu vivo com um fantasma.

Why didn't you?

That day, when you came out of the water, i was trying to breathe for you.
I love you, and I want you, but I don't know what to do... you didn't swim.
You didn't swim and you know how to. Why didn't you swim?
And I don't know if I can... I don't know if I wanna keep trying to breathe for you.

What to Want

Too often, the thing you want most is the one thing you can't have. Most of the time, love leaves us heartbroken, it wears us out. Love can wreck your life. But, as tough as wanting, something can be. The people who suffer the most, are those who don't know what they want.

STILL WE SING

PATRICK: Magpie, was it you who stole the wedding ring? Or what other thieving bird would steal such hope away? Magpie, i am lost among the hinterland, caught among the bracken and the fern and the boys who have no name.

MARIANNE: There's no name for us.

PATRICK: Still we sing.

MARIANNE: And still we sing. little boy, little boy, lost and blue, listen now, let me tell you what to do. you can run on, run along, alone or home between the knees of her; all among her bracken and her ferns and the boy will have a name.

BOTH: We will sing.

MARIANNE: And we will sing.

MARIANNE: One for sorrow.

PATRICK: Two for joy.

MARIANNE: Three for a girl.

PATRICK: Four for a boy.

MARIANNE: Five for silver.

PATRICK: Six for gold.

MARIANNE: Seven for a secret, never to be told.

(MAGPIE, BY PATRICK WOLF)

Resolvi criar um blog. Why Not?!

Há dias, semanas, senão mesmo meses, que penso criar um blog. Afinal, quem não tem um? Como diz uma amiga minha: todo o cão e gato, acrescento rato, tem um blog. Toda a gente talvez ache que tem coisas importantes a dizer ao mundo ou, simplesmente, um espaço onde escrever. Mas então porquê mostrarmo-nos na internet? Porquê uma exposição assim a tudo e todos? Talvez, simplesmente, para deitar para fora o que não queremos apenas guardado cá dentro. Talvez para conseguirmos mostrar outra parte de nós. Talvez para dizer aquilo que somos mas que não conseguimos dizer oralmente a quem quer que seja. Talvez para que nos conheçam melhor. Talvez porque olhar nos olhos seja mais difícil. Talvez um imenso número de "talvez".
Mas resolvi criar um blog.
Algumas questões se me levantaram. O título, o conteúdo, tema ou temas... Sempre fui apologista de que mais importante do que qualquer texto exposto ao mundo, são os textos que varrem a nossa mente, aqueles que só nós conhecemos, aqueles que temos, ou não, vontade de expôr a outro, a outros, a quem seja. Também sempre achei que aquilo a que chamo "blog mental" é muito mais denso, intenso, completo e complexo do que qualquer blog cuja base é a escrita. Ainda assim, resolvi criar um blog.
O tema? Prefiro temas.
O conteúdo? Prefiro conteúdos que dependerão dos momentos.
O título? Surgiu-me este.
Os posts? Surgirão quando assim for.
A lógica de tudo isto? Talvez com o tempo surja.
Resolvi criar um bolg, ponto.